(RCA VICTOR OPERA SERIES 60172-2-RG)
Esta interpretação, que data dos anos 1950 - idade de ouro do canto lírico e... do Met, que então produzia cantores de craveira, a uma velocidade incrível -, conta com um dos mais famosos elencos, à época: Robert Merrill, no papel titular, Roberta Peters, como Gilda (sua filha), e... o tenoríssimo escandinavo Jussi Bjoerling, na pele de Duque de Mântua.
Um Cast à la Met, ainda que a gravação tenha sido realizada em Roma.
Já agora, coincidência espantosa, adquiri esta leitura, justamente, no Lincoln Center, no edifício da Julliard School, a dez metros da Metropolitan Opera House!
Em meu entender, este registo de Rigoletto é um dos mais paradoxais, merecendo ser discutido, exactamente, por essa circunstância: o grande mérito desta leitura provém dos solistas, sendo os mesmos responsáveis, em ampla escala, pelos deméritos da mesma interpretação!
Vamos a detalhes.
Roberta Peters - Olympia de sonho e Rosina destacada - compõe, provavelmente, a melhor Gilda cantada da discografia. De voz pequenina, muito redonda, embora não particularmente extensa, a soprano americana canta uma espantosamente disciplinada Gilda, vocalmente estonteante.
Soprano ligeiro, por excelência, a intérprete falha, por isso mesmo! Hélas, mostra-se absolutamente opaca na caracterização da abnegada e masoquista Gilda.
Bjoerling, sem surpresa, forma uma bela parelha com Peters, para o bem e para o mal: estilista invejável, brilha pelo timbre luminoso e pela disciplina inabalável.
A personagem que compõe, por mero acaso, é o Duque de Mântua, figura vil, egoísta e desprezível! Pena é que ninguém reconhece estas facetas à dita personagem, partindo da interpretação do sueco...
Sem a mínima modulação emocional, teatralmente ausente, Jussi Bjoerling espalha-se ao comprido!
Devo confessar que não me surpreendeu...
Dos três principais solistas, Merrill tem o mérito de mais se destacar, em termos dramáticos, sobretudo. Ainda assim, compõe um bobo assaz hesitante: mais convincente do que os citados colegas, Robert Merrill frustra por, sistematicamente, bordejar as diferentes tonalidades emocionais da figura que constrói, não passando daí... ; compreendendo-as - é certo -, falha na expressão convincente e declarada das mesmas.
Que pena...
A direcção de Perlea mostra-se correcta, mas sem brilho, nem alma, além de apressada e fugidia.
Em síntese, diria tratar-se de um interpretação que prima pela correcção técnica - invejável e plena de estilo -, frustrando, amplamente, na expressão - sem pathos, estranha a qualquer progressão dramática, teatralmente inconsistente... -, estando, a este nível, bem aquém da mediocridade.
Numa obra marcada pela tragédia (tradicionalíssima, tipicamente romântica, na sua abordagem), que se vislumbra desde o soar dos primeiros acordes, a descrita lacuna dramática é indesculpável, comprometendo e corroendo qualquer leitura séria e coerente.