Saudei, desde início, o facto de ambas as obras terem inaugurado uma nova era no contexto da edição discográfica.
A ARCHIV - extensão barroca da DG -, além de editar óperas pouco divulgadas, (cosa rara!), enveredou por outra estratégia comercial, ditada pela famigerada crise do mercado editorial. Neste sentido, optou por rever os invólucros e embalagens dos seus packs.
Qualquer das duas obras mencionadas, no plano estrito das aparências, assemelha-se às edições mid-price, dado não serem envolvidas nas tradicionais caixas de cartão ! Par conséquent, os preços desceram, drasticamente !
Moral da história: que se danem as aparências !
Mas, na minha subjectivíssima opinião, as semelhanças não terminam aqui...
Pelo que me foi dado perceber, as duas interpretações, que contam com maestros habitués destes territórios musicais - McCreesh e Curtis - giram em torno de duas grandes estrelas do firmamento lírico actual: Kozená e Mijanovic.
Detalhemos a coisa.
(ARCHIV 00289 477 5415)
Em Paride ed Elena, abunda a controvérsia, salvo no que à prestação de Magdalena Kozená diz respeito !
Esta interprete checa - de timbre claro e aberto -, na actualidade, é a mais inebriante mezzo lírica da sua geração, capaz de expressar dor, sofrimento e volúpia com o mesmo empenho, convicção e - sobretudo -, com a mesma elegância dramática ! Comove o mais bestial dos mortais.
A voz é de uma beleza invulgar, singularíssima, encontrando na ópera barroca o seu espaço privilegiado de expressão !
Recordo que, em tempos idos - quiçá movida pela pressão editorial - esta cantora acedeu a gravar, entre outras peças, excertos da Carmen... Um desastre, à l´époque...
Em paralelo, em Salzburgo, há cerca de três anos, interpretou Zerlina, do Don Giovanni, sem grande brilho...
Quando bem dirigida - por Minkowski, em Handel, Swierczewski, em Mozart e Glück ou Goebel, em Bach - Kozená é luminosa, senhora de uma inusitada graciosidade, envolvendo-nos num subtil e discreto jogo de sedução...
Nesta gravação específica, perdi o folgo diante de Le belle immagini, no início da ópera, e de O del mio dolce ardor... Que pureza ! Que nobreza... A declamação flui com tal graça...
Quanto aos demais interpretes, que dizer...
Carolyn Sampson compõe um Amore cuidado e correcto, sendo que o papel não conta com grandes desafios.
Quanto à Elena de Susan Gritton, por mais boa vontade que se tenha, não se aguenta !
Não havendo nada de assinalável, do ponto de vista vocal, a composição dramática é muito polémica, para não a apelidar de caricata...
Verdadeiramente, há uma acidez patética na figura de Elena, que jamais supus ser possível ! Diante de tal criatura, parece-me altamente implausível alguém se apaixonar, sobretudo se se tratar de Paride, figura nobre e rica em sentimentos elevados e generosos !
Back to Kozena, eis parte da sua mais destacada discografia:
(DG 471 334-2)
(ARCHIV 00289 474 1942)
(cont.)
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