sexta-feira, 30 de junho de 2006

J. Norman e a Omnipotência ou la reprise des vignetes cliniques

A omnipotência constitui uma das mais esplendorosas defesas narcísicas.

Face à angústia de perda, no sentido mais lato, defensivamente, o sujeito ergue uma carapaça pincelada de um poder pretensamente absoluto.



Eis Jessie Norman, diva incontestada de outrora, negando as evidências: o declínio vocal, sobretudo.

Qual toute-puissante, a intérprete persiste em apresentar-se como nos tempos áureos: cabeça de cartaz, forever...

Norman, assim, nega a finitude, o ciclo de vida, a decadência...

Se quisermos, esta defesa - que atesta da falta de limites, e mais não digo... - constitui uma forma de luta tenaz contra a depressão...

L. Rysanek (ou A.Silja...), por exemplo, soube assumir a decadência: passou a mezzo, encarnando figuras aquem das prime-donne. Porém, o frágil narcisismo de Norman - cego e muito, muito frágil - nega o que para todos nós é evidente.

quarta-feira, 28 de junho de 2006

Parsifal, por Thielemann:

Kna está para Parsifal como Giulini para Don Giovanni.
Absolutamente incontornáveis, as duas leituras dos maestros constituem modelos: a veia pueril do primeiro e o brilho do segundo (na interpretação das respectivas óperas) provam-nos que, também na leitura musical, a metafísica e a transcendência não são miragens...

Vem esta prosa a propósito de uma recentíssima interpretação de Parsifal, que muita tinta fará correr.

Pese embora a minha incondicional admiração pelas duas leituras de Kna, de Parsifal - TELDEC 1951 e PHILIPS 1962 -, a bem da diversidade estética e da liberdade interpretativa, procuro incessantemente alternativas.

É assim que, no que à mencionada ópera de Wagner concerne, vou adicionando outras interpretações - Boulez, Barenboim e Von Karajan, por exemplo.
Procuro, assim, insurgir-me contra a idealização e o monolitismo!

Perguntará o leitor mais exigente se existe espaço para mais uma interpretação de Parsifal... Creio que sim, sem hesitar, sobretudo se se tratar da proposta de Thieleman.



A meu ver, a glória desta recente proposta radica na parelha Thielemann / Orchester der Wiener Staatsoper, em Domingo e Meier.

A leitura orquestral proporcionada pela Staatsoper de Viena é inegavelmente poética: ora diáfana e pueril, ora robusta e soleníssima, a orquestra movimenta-se com igual à vontade no recolhimento e na exaltação mística
Devo ainda destacar, neste âmbito, o genial labor das cordas - porventura as melhores do mundo... -, delicadas, majestosas e com um nível de afinação primoroso!

Domingo - que aqui interpreta o papel titular, uma vez mais - quis apagar a medíocre prestação dos mid-90´s, sob a batuta de Levine (também na casa DG): o alemão é agora mais aberto, cuidado, firme e seguro.

É verdade que o tenor insiste no arrebatamento... A envergadura vocal mantém-se inabalável, com folgo e pujança a rodos! Primoroso na exaltação e na expressão do êxtase, Domingo revela-se menos eficaz no lirismo - i.e., no lado mais pueril do herói -, pois Parsifal, apesar de inegavelmente heróico, é também inocente e casto... Há que recordá-lo!

W. Meier é a última grande Kundry da história; prova-o esta soberana interpretação. Apesar de negligenciar o lado erótico e sedutor da personagem, a Kundry desta intérprete é particularmente expressiva no domínio da insanidade, indo muito mais longe do que, por exemplo, Mödl, cuja louca Kundry (Kna´1951) atormentava o maior dos afoitos!

Como ilustração artística destas minhas considerações, destacaria, caro leitor, o final do segundo acto.

A prestação do casal Parsifal - Kundry, nesta fase da trama, é mítica: ambos ilustram com indesmentível mestria o debate entre carne e espírito.
Doravante, ela deprime-se, entregando-se à melancolia; ele faz uma magistral pirueta maníaca, tornando-se num salvador asceta, convicto e singular.

Acrescentaria duas palavras, antes de terminar, a propósito de Amfortas e Gurnemanz.
Ambas as interpretações padecem de uma relativa fragilidade artística: enquanto o Amfortas de Struckmann se revela algo translúcido, dramaticamente, o Gurmenaz de Selig padece de falta de heroicidade e autoridade. Quanto ao Klingsor de Bankl, diria que cumpre a sua missão, com relativa eficácia, sem contudo se destacar.

Posto isto, caro e fiel leitor, recomendo esta interpretação aos heterodoxos e, muito particularmente, aos amantes da orquestra da Ópera de Viena.

domingo, 25 de junho de 2006

Die Meisterspieler von Nürnberg*

Walter von Stolzing triunfou...


...sob a sábia orientação de Hans Sachs, claro está!


*Os Mestres-Jogadores de Nuremberga

quinta-feira, 22 de junho de 2006

Demais Interesses xyz



Perco-me na leitura d´O Aleph.
Procuro, em vão - por ora -, a saída do tortuoso labirinto...
Lancei-me na teia.
Temo o encontro com o Minotauro; receio a tenacidade da aranha...

Entretanto, deslumbro-me no / com o singularíssimo universo borgeano.

Termino O Aleph, sem contudo ter lido o conto homónimo.

Novas Aquisições!!!

Uma das manifestações clínicas da mania é, justamente, o gasto demedido de dinheiro em compras...

Eis algumas das aquisições musicais secundárias ao meu furor maníaco :-)))

quarta-feira, 21 de junho de 2006

As Cordas de Viena (Wiener Staatsoper)...

...são as mais magníficas que conheço (ainda mais belas que as Contas-de-Viana, que tanto embelezam a minha mulher, já de si belíssssssssima)!

Exemplos? Oiçam o Parsifal de Thielemann!!!
Mais argumentos pro Thielemann´s Parsifal? Por ordem de relevância: Thielemann lui-même, Domingo & Meier, claro está!



ps logo que possível, explico por que razão não dispenso esta bela interpretação!
Sim, bem sei, bem sei : Kna´51 e ´62 são monumentais...

terça-feira, 20 de junho de 2006

Do Fundo-de-Catálogo...

... da EMI, decidiram revitalizar maravilhas como esta, esta, esta, esta, esta e... ESTA (a cereja-em-cima-do-bolo!).

But, the best is yet to come: tudo, tudinho a mid-price!!!

Ain´t that greaaaaaaat???

segunda-feira, 19 de junho de 2006

Recomendações Curtas - I


(DG 439 896-2)

Pela batuta de Boulez, eis um Debussy além do sensorial e aquém do figurativo / representativo: as impressões sugerem, evocam...

A música, sem contornos, é um continuo: fluida, discorre, algures entre a impressão e o etéreo.

Alta...


Após uma curta convalescença psiquiátrica, Dissoluto Punito regressa recomposto (?)...
Ver-se-á...

sábado, 10 de junho de 2006

Baixa...


Dissoluto Punito & Família, vencidos pela fadiga extrema, ausentam-se até 19 do corrente.
Incapaz de tecer considerações sobre O Ouro do Reno e Mattila´s performance, Punito Dissoluto regressará à sua nobre tarefa, finda a baixa.

quinta-feira, 8 de junho de 2006

Recital de Karita Mattila, F. C. Gulbenkian, 9 de Junho, 19:00 h

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Se és jovem de espírito, ousado, aventureiro e gostas de loiras, junta-te aos bons e serás como eles !

Amanhã, dia 9 de Junho, a mais incandescente loira lírica finlandesa ? Karita Mattila - apresenta-se em recital, na F. C. Gulbenkian, pelas 19:00h.

Se estás interessado num bilhete de segunda plateia, com uma redução de 30%, e te agrada a ideia da companhia de Il Dissoluto Punito e respectiva mulher, contacta-me para o 967 620 170, ou deixa contacto ;-)

quarta-feira, 7 de junho de 2006

A Paternidade e suas vicissitudes...

Vicissitudes da paternidade têm mantido o meu pai distante da blogosfera...
Creio que ele voltará "à carga", muito em breve...


(Dissoluto Punito Jr debutando na Feira do Livro de Lisboa)