segunda-feira, 26 de dezembro de 2005

Odisseu: Canto V

Regresso à Odisseia de Ulisses, na escrita homérica. Canto V.
Tem aí início o regresso à pátria, Itáca.

Fascina-me a humanidade da criatura, cuja vulnerabilidade é infinita.



Não cessa Homero de sublinhar as qualidades e dotes, que de Ulisses fazem um herói: abundam os atributos fálicos (força, valentia e bravura), a que se alia uma beleza invulgar; não cessa Homero, de igual modo, de elencar a sua humanidade (temor, receio, vulnerabilidade), em tudo antagónica à omnipotência divina de Posídon e Zeus!

Bordejando a idealização, esta figura é MAIOR, imensamente humana.

Pergunto: terão os deuses - dada a sua natureza singular, onde se mesclam omnipotência e omnisciência - a possibilidade de experimentar as diferentes modalidades de expressão da ansiedade humana?

Ulisses - que é um herói, uma figura de síntese, algures entre o céu e a terra - experimenta com inegável poesia a ansiedade de separação / perda (chora, inconsolável, a ausência dos seus objectos de amor), tal como expressa com grande abertura a ansiedade de castração (frágil, apesar de possante, sofre duros golpes, que o admoestam física e mentalmente e reconhece, sem temor, a sua falha)...

A (re)ler, com indesmentível fascínio e prazer.

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