A carga emocional subjacente à destruição (ainda que moderada...) da interpretação de Anna Netrebko deu-me que pensar, dada a minha condição de psi. De facto, se o registo era tão desprezível, por que razão lhe consagrara eu uma tão extensa critica? Habitualmente, a mediocridade desvanece-se num ápice, não deixando marcas que perdurem!
Pois bem, claro é agora que a minha soi-disant postura critica mais não era que uma forma altamente defensiva (e eficaz!) de controlar, reprimindo, um desejo quase intolerável...
De facto, à época da publicação desta La Traviata, eu casara há apenas um mês...
A estratégia neurótica – a repressão do desejo intolerável (a ler como: o desejo por Netrebko, tout court) permitira-me manter o Super-Eu (guardião da moral) tranquilo.
A verdade verdadeira, caro leitor – e a verdade (subjectiva) é a obsessão suprema dos psicanalistas –, é que Anna Netrebko desencadeara uma conflitualidade tipicamente neurótica – luta equiparada entre desejo e defesa, erigida contra o mesmo - neste escriba.
De facto, não só a beleza da intérprete como a sua magnífica leitura emocional e prestação vocal me haviam perturbado – ou excitado, como se preferir - imensamente.
Evidentemente, na linha desta estratégia defensiva neurótica, persisti no olhar snob dirigido ao registo dvd da Violetta de Netrebko, até que o desejo triunfou sobre a defesa e, a pretexto de um preço convidativo do artigo, lá fiz o favor à Senhora e adquiri o artigo em discussão.
O resto é da ordem exclusiva do desejo, deslumbramento, encantamento e orgasmo... e será discutido de forma, tanto quanto possível, racional, em posts futuros.