terça-feira, 19 de agosto de 2008

La Berganza



Há uns bons dez anos - para mais! -, tive ocasião de assistir a um recital de Teresa Berganza.

Na época, Berganza já jogava muito à defesa. Contava com seis décadas de vida. No dito recital, investiu muito em Falla, que pouco me emociona. Contudo, já nos encores, ousou o papel da sua vida, que enlouquecera, muitos anos antes, o público de Edimburgo: Carmen ossia a rainha da sensualidade (na ópera).
Em território luso, também a sua Carmen ("entradota") brilhou, muitíssimo.

No final, não resisti e lá fui cumprimentar a Senhora. A Grande Senhora. Deu-me um autógrafo e afagou-me a cabeça com um ar maternal, mas muito decidido.

Ao ler esta entrevista de Teresa Berganza ao El Pais, recordei com ternura a visita da velha Senhora. Não é que a dita entrevista diga grande coisa... mas diz muito de La Berganza, espontânea e latiníssima:

«(...) No soporto ya la vida en sociedad, esas señoras que te han visto cantar en la Scala una Traviata. ¡A mí, no! Será a Maria Callas.
P. ¿Tenía enchufe?
R. Era la más grande. Yo creo que en mí, lo que vio, es que no era mala. Me quiso tanto... Me llevaba a todas las fiestas y me sentaba en sus rodillas. Me adoptó.
P. ¿Qué copió de la Callas?
R. Copiar, nada. Aprender, lo aprendí todo. Sobre todo que los más grandes son los más humildes. Después, a mí me han querido copiar mucho, pero no han salido como yo. No hay artista igual.
»

Bom, bom... que a Callas era imensa, não há a mais pequena dúvida! Quanto à sua humildade...

Já agora, para que conste, não só a Carmen de Berganza deslumbrava! Teresa Berganza foi uma magnífica rossiniana - Angelina, Rosina, Isabella - e uma deslumbrante mozarteana - Dorabella, Sesto, Cherubino, Zerlina, etc.

7 comentários:

Fernando Vasconcelos disse...

Pois quanto à humildade estamos falados ... Concordo que diz muito sobre a espontaneidade da Teresa Berganza. Grande Senhora Sempre.

Anónimo disse...

Eu vi Teresa Berganza há uns 18 anos em dois recitais inesquecíveis e num deles na intimidade de um jardim chinês de Macau que possui um pavilhão improvisado para levar umas cem cadeiras. Por segundos ia sendo apresentado à grande cantora. Não sendo já a voz rossiniana de quando andava nos 30-40, ainda possuía muita voz, sendo uma estilista impecável.
Quando apareceu a Bartoli, alguns chamaram-lhe a "nova Berganza" (imprensa portuguesa) talvez pelo reportório. SE me derem a escolher, eu não hesito: a Berganza.
Raul

Il Dissoluto Punito disse...

Fernando,

;-)))

Il Dissoluto Punito disse...

Raul,

Cada uma en su sitio ossia Berganza no Belcanto e Bartoli no clássico e Barroco! Que lhe parece?

Anónimo disse...

Gosto também muito do Sexto da Berganza em qualquer uma das versões. É uma cantora que me emociona muito.

J. Ildefonso.

Anónimo disse...

Gosto também muito do Sexto da Berganza em qualquer uma das versões. É uma cantora que me emociona muito.

J. Ildefonso.

Anónimo disse...

O João tem razão, mas mesmo assim ao ouvir certas árias de Vivaldi da Bartoli eu não gosto. Se a nota é mais longa, a Bartoli faz maravilhas, mas quando "acelera" perde-se a linha de canto e só há técnica. Esta é a minha impressão. Isto nunca acontece na Berganza, cujo timbre é lindíssimo.
Raul