Concedo: há muito mais em Je vous salue, Marie do que uma obsessão iconoclasta!
Godard, na singular e ousada leitura que faz da personagem Maria, enfatiza o ódio da criatura, justamente dirigido contra o criador, que dela se serviu.
Maria d’après Godard, contrafeita, também sente uma imensa hostilidade, rebelando-se.
Esta Maria – contrariamente à que o culto mariano institui, difunde e idealiza – não é uma criatura submissa, sujeita à acção de defesas secundárias – formação reactiva (transformação da pulsão no seu contrário), nomeadamente – e outras mais arcaicas – clivagem. A Maria de Jean-Luc Godard antes vive de forma ambivalente, em pleno, não só a graça de ter sido visitada por Deus, como a desgraça de carregar no ventre um filho, sem ter sido feita mulher.
Aliás, é curioso constatar a que ponto a clivagem radical é empregue na construção de uma imagem da maternidade plenamente depurada: de um lado a mãe pura e casta ossia Maria, e de outro a fêmea, pecadora, ossia Maria Madalena.
É como se a fusão de feminino e materno fosse impensável, pelo perigo que encerra.
Ópera, ópera, ópera, ópera, cinema, música, delírios psicanalíticos, crítica, literatura, revistas de imprensa, Paris, New-York, Florença, sapatos, GIORGIO ARMANI, possidonices...
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Feminino & Materno
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