(EMI 0724356642829)
Esta é a minha quinta e derradeira Norma d’A Callas.
Adquiri-a plenamente consciente das enfermidades inúmeras de que padece, maioritariamente secundárias à prestação vocal da grega.
São incontornáveis as comparações com as incarnações dos mid-fiftes, quando a sanidade vocal de Maria Callas se encontrava inabalável.
A meu ver, esta será uma das Norma mais interessantes, no tocante à distribuição e qualidade sonora – trata-se de uma gravação em stereo, contando com um elenco luxuoso, jovem e homogéneo.
No que se refere à protagonista, Callas desenha uma sacerdotisa majestosa, plenamente dramática, inigualável na ira, na cólera, na dor e no porte altaneiro.
É verdade que os agudos titubeiam e a plasticidade da voz se encontra inexoravelmente comprometida. Em compensação, os graves apresentam uma pujança imperial!
Corelli concebe um Pollione arrebatado, com uma insolência na voz de cortar o folgo. Ladeia-o uma inusitada Adalgisa, mais à-vontade em territórios mozartianos e straussianos do que no belcanto, é certo. Ainda assim, no final da segunda cena do acto I, Ludwig triunfa, transpirando arrependimento! Zaccaria, que fora o primeiro Oroveso da Callas, em estúdio, reimpõe a sua autoridade, esboçando uma figura ainda mais escura e substancial.
Por fim, Serafin, em final de vida, sábio e conhecedor como poucos desta soberba peça lírica (e demais repertório belcanista italiano), reinterpreta Norma sob o signo do drama, não sem uma ponta de artificialismo e ausência de espontaneidade...
Enfim, uma Norma alternativa, pela envergadura teatral da protagonista, pela frescura dos demais solistas e pelo som stereo, superlativo!
Adquiri-a plenamente consciente das enfermidades inúmeras de que padece, maioritariamente secundárias à prestação vocal da grega.
São incontornáveis as comparações com as incarnações dos mid-fiftes, quando a sanidade vocal de Maria Callas se encontrava inabalável.
A meu ver, esta será uma das Norma mais interessantes, no tocante à distribuição e qualidade sonora – trata-se de uma gravação em stereo, contando com um elenco luxuoso, jovem e homogéneo.
No que se refere à protagonista, Callas desenha uma sacerdotisa majestosa, plenamente dramática, inigualável na ira, na cólera, na dor e no porte altaneiro.
É verdade que os agudos titubeiam e a plasticidade da voz se encontra inexoravelmente comprometida. Em compensação, os graves apresentam uma pujança imperial!
Corelli concebe um Pollione arrebatado, com uma insolência na voz de cortar o folgo. Ladeia-o uma inusitada Adalgisa, mais à-vontade em territórios mozartianos e straussianos do que no belcanto, é certo. Ainda assim, no final da segunda cena do acto I, Ludwig triunfa, transpirando arrependimento! Zaccaria, que fora o primeiro Oroveso da Callas, em estúdio, reimpõe a sua autoridade, esboçando uma figura ainda mais escura e substancial.
Por fim, Serafin, em final de vida, sábio e conhecedor como poucos desta soberba peça lírica (e demais repertório belcanista italiano), reinterpreta Norma sob o signo do drama, não sem uma ponta de artificialismo e ausência de espontaneidade...
Enfim, uma Norma alternativa, pela envergadura teatral da protagonista, pela frescura dos demais solistas e pelo som stereo, superlativo!
9 comentários:
Tudo o que diz é bem verdade. Eu ainda comprei esta versão em LP, em 1975, e ainda me lembro da compra, do lugar e de uma pessoa que encontrei logo após a compra. Quando apreceram os CDs, substituí-a logo.
Com os anos foi comprando outras versões, sendo que as "minhas " Normas são:
Gui: Callas,Stignani,Picchi,Vaghi
Votto:Callas,Simionato,delMonaco, Zaccaria
Santini:Cerquetti,Pirazzini,Corelli Neri
Serafim: Callas,Ludwig, Corelli, Zaccaria
Bonynge: Sutherland,Cossoto,Craig, Vinco
Muti: Eaglen,Mei, La Scola, Surjan
Em DVD:
Patane: Caballe,Veasey, Vickers, Ferrin
F. Heider: Gruberova,Ganassi,
Todorovich, Scandiuzzi
Para além da ópera completa tenho a Casta Diva em recitais cantados por:
Adelina Patti, Rosa Ponselle, Gina Cigna, Zinka Milanov, Maria Callas, Joan Sutherland, Anita Cerquetti, Renata Tebaldi, Leontyne Price, Montserrat Caballé, Edita Gruberova, Mara Zampieri, Jean Eaglen, Inessa Galante, Angela Gheorghiu, Giulietta Simionato, Shirley Verrett e Cecilia Bartoli.
A melhor Norma? A Callas, seguida da Caballé.
A melhor Casta Diva? A Sutherland e a Caballé.
RAUL
Sobre a Casta Diva vale a pena ler o seguinte tirado do Avant-Scène Opéra:
"C´est um moment élégiaque, une mélodie typiquement bellinienne qui s´envole puis se pose, s´enroule en volutes souples. Par sa doucer étale qui semble arrêter le temps, il a happé le public décennie après dècennie, pour devenir plus qu´un air connu: l´archétype même de láir d´opéra dans son sens plus fascinant, véritable chant d´hypnosa que sidère l´auditeur. Suspendus aux lèvres de Norma dont la voix entre insensiblement, nous nous laissons porter par la vague centrale qui s´enfle, puis décroît, pour nous abandoner dans une extase apaisée."
Raul
Carissimo Raul,
Mantir-lhe-ia se dissesse que não aguardava ansiosamente a sua reacção à Norma!
Um abraço,João
Na edição anterior de L´Avant-Scène Opéra da Norma o mesmo autor, Pierre Brunel, analisava assim a Casta Diva:
"Le prélude de Casta Diva fait appel à des formules belliniennes éprouvées: l´accompagnement élégiaque des arpèges, le chant éperdu de la flûte soliste. Mais il trouve sa justification interne: après la contestation, le retablissesement de la sérénité et de la ferveur; après le fermeté du discours, le lent déploiement du geste religieux. On passe de sol bémol majeur à la tonalité prtincipale de fá majeur, mais le jeu de modulations ne cesse pas por autant jusqu´au moment où, le fa majeur rétabli, la voix s´empare du chant et le fait rayonner, dans le silence de la foule d´abord, puis au-dessus du choer. "De la voix de Norma", écrit Guido Pannain "comme baignée d´une mer argentée la lune monte une invocation de paix. C´est um chant doux e léger, un vol sans battements d´ailes. Le chant se décharge du poids de la matiére, devient tout esprit dans la sérénité de la comtemplation. Autour d´un point central il s´incurve, rassemble sa force d´expansion, s´élargit en spirales et monte. Aucun trouble, aucun tremblement n´apparaissent. C´est une étendue calme et sereine et la vie émotive est toute concentrée à l´intérieur. C´est la sûre précision d´un dessin qui vibre et tout se résouten musique. Cette harmonie de sons ruisselants, d´une suavité indicible se dénonce en mouvements compositesd´une continiuté mélodique parfaite. C´est une architectute animée qui force l´admiration. On y sent cette volonté de communiquer la palpitation d´une vie cachée dans son intimité ingénue et puissante, le désir trépidant de dire des choses jamais dites. Casta Diva est une mélodie scuklptée dans du marbre de Paros, inondée d´un torrent de clair de lune. "
Interrompo aqui. Depois concluo.
Raul
Caro Dissoluto,
na primeira gravação da Norma que a Callas fez em estúdio, o papel de Oroveso era cantado por Nicola Rossi-Lemeni.
Hugo,
Pois é verdade! Acontece que o tenho duas vezes, justamente com a Callas, mas não em estúdio!
A minha Norma favorita, apesar do som deficiente, é a da Callas ao vivo no Scalla com a Simionato. Não sei o ano estou de férias e não tenho o c.d. comigo mas o público esclarecido saberá certamente qual é.
A da Caballé é excelente tanto a gravação em estudio como a de Orange.
Tenho também a Verret infelizmente num contexto longe do ideal mas pareçe-me uma experiência muito interessante confiar o papel da Norma a um meio-soprano agudo com experiência belcantista. A Pasta cantava também papéis de meio-soprano, no Tancredi cantava o papel titular e nos Montechios e Capuletos cantava o Romeo, e o papel da Adalgisa foi atribuído a um soprano mais ligeiro que foi a caso da Giulia Grisi, como convinha ao papel duma jovem, se bem que esta mais tarde tenha cantado o papel titular com sucesso. Ou seja desde o inicio tivemos duas tipologias vocais distintas a cantar o papel. Vozes escuras e vozes claras, por assim dizer. Relativamente à tessitura soprano/contralto é díficil dizer porque era usual adaptar os papéis e transpor os trechos necessários segundo a necessidade do cantor.
J. Ildefonso.
João,
A Norma de que falas, cujo final do acto I é dos momentos mais impressionantes que escutei na história da lírica, data de 55.
A minha Norma preferida ? Não sei. Gosta das 3 Callas como um pai das suas 3 filhas :) Uma tem uma melhor Casta Diva (Milão), outra tem melhor dueto, outra tem uma frase ou palavra que entre no fundo da sensibilidade para nunca mais de lá sair. E neste caso a gravação em estúdio com o Correli não tem rival.
Das 3 Callas, a Simionato e a Stignani são mais Adalgisas, Corelli é imbatível e os baixos equivalem-se.
Raul
Raul
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