segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Un'altra Donna: Caroline Henderson



Caroline Henderson

As imagens seguem a ordem de edição dos respectivos registos – da mais recente (no. 8), até à mais antiga (Made in Europe); a qualidade segue a ordem inversa.

Imperdível!

Don Carlo, première alla Scala: (escassos) 8 minutos de graça



Ensombrado por ameaças de greve, substituições de última hora e o espectro de cortes orçamentais radicais, o Don Carlo milanês lá viu a luz do dia, entre apupos e desagrados.

«Critics' reaction to the gala premiere at La Scala can be summed up in one word: Boring.

The last-minute decision to substitute the lead "Don Carlo" tenor with his understudy created tension that spurred many in the audience to open rebellion against conductor Daniele Gatti, emitting whistles and catcalls at his every entrance.

A critic for Corriere della Sera called the level of hostility "almost scary."

But for all of the backstage drama that seemed to poison the audience's reception, American tenor Stuart Neill, received sympathetic, if lukewarm, reviews for the performance he gave after Giuseppe Filianoti was unexpectedly removed.

(...)

Alfredo Gasponi of il Messagero agreed that Neill demonstrated "confidence," but noted that the last-minute switch had taken its toll with the orchestra overwhelming the singers in some places "because the new tonal relationships were not yet defined."

Despite the difficult circumstances, Neill told reporters afterward that he felt comfortable in the role.

Neill wasn't singled out for criticism by Corriere's long-time critic, Paolo Isotto, who said he found the whole execution "boring."

Most of the cast — with the full exception Dolora Zajick as the princess of Eboli and partial exception of bass Ferruccio Furlanetto as Philip — "sang their roles as though they were reading the phone book," Isotto wrote.

Isotto expressed disapproval for the catcalls mid-performance, the likes of which he said he hadn't seen in nearly 30 years covering opera. "It is tantamount to tampering with a sporting event," Isotto wrote.

While Gatti was "courageous and resisted with apparent serenity," the tension came through "in a dry sound that in some parts seemed like the orchestra drowning out the singers like an illegal streetband."

In the end, "Don Carlo" received just eight minutes of applause — a modest showing for a La Scala premiere.
»

No final, sublinho, os escassos 8 minutos de aplausos – manifestamente pouco, no caso de uma première - resumem a coisa: pouco acima da indiferença.


(Stuart Neill, como protagonista de Don Carlo, em substituição de Giuseppe Filianoti)

sábado, 6 de dezembro de 2008

La Lirica


(ARTHAUS MUSIK 101 343)

Célebres e sábias são as considerações de Anna Moffo a respeito das especificidades e exigências do papel titular de La Traviata: soprano ligeiro no acto I, lírico no acto II e lírico-spinto no derradeiro acto. Nem mais, nem menos, sublinho, em total acordo com a intérprete americana, também ela uma notável Violetta Valery.

Pessoalmente, creio que as intérpretes que reuniram nas suas prestações os descritos quesitos foram uma escassa
meia dúzia: Callas, Moffo, Caballé, Scotto e Cotrubas, eventualmente Theodossiou. O resto são Violettas mancas, ora técnicas e vazias (Sutherland), ora líricas em demasia (Freni), ora meramente teatrais...


Esta La Traviata, estreada em 2007, foi acolhida no alla Scala com certa indiferença e frieza. No centro de todas as avaliações encontrava-se a performance da famigerada Gheorghiu, pretensa derradeira Violetta do mundo lírico contemporâneo.

Angela Gheorghiu será tristemente célebre pela fragilidade do seu narcisismo e incontornável parolice. É de lamentar... Ainda assim, sejamos justos, em palco, Gheorghiu é muito mais do que uma mera estrela.

Em abono da verdade, há que reconhecer a notável Violetta que a intérprete romena nos oferece nesta La Traviata. Nem o timbre, nem a técnica da senhora são de primeira apanha, como bem se sabe. Em contrapartida, na interpretação proposta, Gheorghiu roça o sublime. Não fora o exagero (a ler como histrionismo gratuito) que inunda a sua personagem no acto III e seria perfeita!

Pese embora a banalidade da coloratura (acto I) e maneirismo teatral (acto III), no que concerne ao lirismo e drama, Angela apenas é ladeada pela Callas e poucas mais. De facto, o segundo acto desta récita é absolutamente avassalador, revelando uma progressão dramática de antologia. Fidelíssima a Dumas, a sua Violetta transpira elegância e graciosidade, conflito e dilaceração. Onde Netrebko é lasciva, Gheorghiu é aristocrata – mais pela nobreza romântica da sua condição, sofrida, frágil e altruísta, não tanto pela linhagem, evidentemente.

Totalmente engagée, numa entrega absoluta e invulgar, a intérprete funde-se com a personagem. Dá-nos tudo, verdadeiramente tudo o que tem, sem a mínima reserva, vocal ou interpretativa, enfrentando os inúmeros riscos com assinalável ousadia. E depois há a delicadeza e respeito pela palavra, que estima e preserva como poucos...
É obra, digo eu!

Quanto ao resto, aparte o brilho, suma elegância e requinte megalómano da mise-en-scène, é de segunda água: um Alfredo sempre à defesa, actor medíocre - já para não falar da figura... – (Vargas), um Giorgio soberano na voz mas tendencialmente estático (Frontali) e uma direcção musical indiferente, apagada e – não raras vezes – inimiga dos intérpretes (Maazel).

Por Ghoeorghiu, indubitavelmente.

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(3,5/5)

A Escolha de Birgit


(Nilsson como protagonista de Turandot, de Puccini)

Por falar em Birgit Nilsson, a sua fundação anunciou a atribuição de um prémio a um artista lírico destacado. O dito prémio será atribuído de três em três anos, sendo que a escolha do primeiro galardoado esteve a cargo da soprano sueca. Obviamente, a identidade do felizardo encontra-se no segredo dos deuses...

"The Birgit Nilsson Foundation said it would begin awarding a $1 million prize, which it is calling the largest such prize in classical music. The foundation, established by Ms. Nilsson, the Swedish soprano who died in 2005, will award the prize every two to three years to reward the outstanding achievement of a concert or opera singer, a classical or opera conductor, or a specific production by an opera company. In a statement, the foundation said that the name of the first winner had been chosen by Ms. Nilsson herself and would be announced early next year. For future prizes, the foundation plans to appoint a jury for a three-year term, which will make recommendations to the board."

Questiono-me sobre a escolha da Senhora, incessantement...

Polaski ossia Elektra


(Polaski como protagonista de Elektra, de R. Strauss)

Em Janeiro de 2009 - a 15 e 19 -, na Gulbenkian, Deborah Polaski interpretará um dos seus papeis líricos fétiche, Elektra, da ópera homónima de Richard Strauss.

A grande intérprete rondará os 60 anos...

Hesitei muito antes de adquirir bilhetes para uma das duas récitas da citada ópera, sobretudo pela idade avançada da protagonista. É certo que Birgit Nilsson terminou a carreira com uma notável récita de Elektra, no Met, bem depois das 60 primaveras...

Seja por que razão for, arrisquei!

Ora, a avaliar por esta notícia, Polaski ainda tem muito para dar, não só ao universo lírico, em geral, como ao papel titular da mais extraordinária peça lírica de Richard Strauss, ossia Elektra:

"The title role is one of the most vocally punishing in the dramatic soprano repertory. The American-born Deborah Polaski, who triumphed as Elektra at the Met in 2002, was even better on this night at the Philharmonic. Hearing her sing the role in a concert performance without, in a way, the distraction of staging, allowed you to focus on the intimacy of her work and her nuanced sensitivity to the German text (projected in English supertitles).

There is an earthy, sometimes hard-edged quality to Ms. Polaski’s sound. Still, she is a superb vocal artist, and she filled Strauss’s phrases with gleaming power, nailed the chilling top notes and shaped lyrical lines with captivating tenderness, including courageously sung pianissimo high passages."

A ver vamos...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Angela DUMAS (filho)



A primeira La Traviata protagonizada por Gheorghiu deslumbrou o mundo. Visual e artisticamente convenceu-me, sem mais; vocalmente, nem tanto...

A segunda incursão de Angela Gheorghiu no mais belo papel lírico da mulher transviada conta com outros pontos de interesse, merecedores de uma discussão mais sistemática.

Para abrir o apetite, esta última Violeta é, seguramente, a mais fiel ao espírito da A Dama das Camélias. Para além disso, na mesma, Gheorghiu exibe os mais elegantes e sensuais ombros que uma criatura feminina pode possuir...

Folie, folie...

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Don Carlo alla Scala


Link
Já só faltam 5 dias para a mítica noite de 7 de Dezembro.
Como é de prever, lá estaremos (nem que seja espiritualmente, dado que a desculpa da agenda nem sempre pega)!


(detalhe de Don Carlo, encenado por Stéphane Braunschweig)

Disse-me um passarinho...

... que a DG tem na forja dois interessantes artigos, que verão a luz do dia em inícios de 2009!

Um registo de ária de bel canto, por Garanca, e (o não menos belcantista) I Capuleti e I Montecchi (Bellini), por Netrebko & Garanca:



Ver-se-á...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Barenboim's Tristan und Isolde (II)

Por dificuldades de agenda (!), não pude estar presente no début de Daniel Barenboim no Met, com Tristan und Isolde.

Para consolo de todos os que – como eu – estiveram ausentes deste singularíssimo evento (por dificuldades de agenda, evidentemente!), eis uma lista dos Tristan und Isolde de antologia que o maestro argentino tem vindo a perpetuar:







nota: o último registo (a que aqui, aqui e aqui fiz referência) será comercializado em breve!

Barenboim's Tristan und Isolde



Por fim, Daniel Barenboim estreia-se no Met, com Tristan und Isolde, peça em que tem mostrado infinitas virtudes interpretativas:



On Friday night he was at his best. The expansive episodes of the score, starting with his raptly beautiful account of the orchestral prelude, had breadth and radiance yet never lost a thread of lyrical tension. During the Act II duet for the star-crossed lovers — as Tristan, here the German tenor Peter Seiffert, and Isolde, the Swedish soprano Katarina Dalayman, seek comfort for their burning and illicit passion in the enveloping night (“O sink hernieder, Nacht der Liebe”) — the yearning music seemed to hover in some undulant, timeless realm that was beyond meter and bar lines. Yet in the arduous Act III scene in which the wounded, delirious Tristan mistakenly believes that he has seen Isolde’s boat approaching the shore, Mr. Barenboim drove the performance to a feverish pitch, while keeping the textures clear and without ever lapsing into bombast.









(Seiffert e Dalayman, como Tristão e Isolda, Met Opera House, Novembro de 2008)

sábado, 22 de novembro de 2008

L'Autre Fille du Régiment


(VIRGIN Classics 50999 519002 9 8)

Dessay – cujo timbre é uma lenda, de uma elegância e graciosidade memoráveis – revela um discreto desconforto na abordagem vocal desta Marie, surpreendentemente! Em boa verdade, se algo de mítico há na interpretação de Natalie Dessay, esse algo decorre de uma comicidade inusitada, que se materializa numa personagem Maria-rapaz, com um toque gingão e vulgar, absolutamente desconcertantes.

Flórez, de igual modo, exibe uma agilidade mais contida do que por ocasião desta prestação. Palmer é notável, particularmente na substância dramática que confere à Marquesa, apresentando-nos Corbelli o mais completo e convincente Sulpice de que há memória.

No fosso, Campanella – um dos mais reputados maestros belcantistas – dirige uma orquestra rotineira, ainda que disciplinada, sem brilho particular.

As comparações são inevitáveis: à excepção da prestação teatral de Dessay - pela vertente cómica, sublinho - e mais alguns desempenhos cénicos, no balanço final, a La Fille du Régiment da DECCA sobressai.

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(3,5/5)

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Un'altra?

Mais uma La Traviata?

Nunca fui grande adepto de Renata Scotto. Pese embora os indesmentíveis dotes interpretativos e notável expressividade da senhora, em matéria de agudos, a coisa irrita-me os tímpanos!

Já estou preparado para as avalanches de incondicionais Scottistas, que me apuparão!
Não, Senhores, a dita cuja não é das minhas eleitas!!!

Quanto a esta Violeta, nada digo. Mas antevejo uma grande prestação - mais que não seja, cénica!

Depois... há Bruscantini e Carreras (antes, muito antes da investida nas "feiras")



quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Reticências...

... reticências e mais reticências...



Qualquer destes três registos - escutados, é certo, à vole d'oiseau - suscitou neste escriba sérias reservas quanto à qualidade dos mesmos... Talvez esteja a ser injusto com Didonato, quanto às demais senhoras...

Dir-me-á o leitor mais prudente que não se fazem avaliações com base em impressões, não sem razão. A verdade é que os breves trechos que escutei evitaram que adquirisse os citados artigos, quiçá erradamente!

Ver-se-á...

domingo, 16 de novembro de 2008

Kasarova vs DiDonato

Vasselina Kasarova e Joyce Didinato, duas das mais distintas mezzo’s da actualidade, confrontam-se em Handel.



Eis as opiniões de Tim Ashley (Guardian):

«Her programme focuses on arias written for Giovanni Carestini, one of Handel's favourite castratos. It gives her the finer music, the greater opportunities for subtle dramatic display, and allows her both to do what she does best and to avoid the mannerisms that have marred her recent performances. (…) There's a preponderance of slow arias, which were Carestini's forte, but this is singing of great nobility and expressive power, accompanied by instrumental work of exceptional dignity from Il Complesso Barocco. Deeply
touching and highly recommended.» (Sento Brillar, Kasarova, RCA)

«The problems derive from the fact that one Handelian tantrum sounds very much like another. Anyone approaching DiDonato for the first time by way of this disc would take away the impression that her principal abilities consist in hurling coloratura around like weaponry and snarling a lot. We know her to be capable of more than that, though on the rare occasions when she sings something slow and reflective, the results are curiously bland. Ariodante's Scherza Infida, for instance, though beautiful, is short on grief and pain.» (Furore, Didonato, Virgin Classics)

A avaliar pelas impressões do citado senhor, Kasarova leva a melhor sobre Didonato!

Ou muito me engano ou estes dois registos jamais serão comercializados neste jardim à beira mar plantado, desafortunadamente periférico (pelo menos musicalmente).

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A (mera) Curiosidade ossia La Sonolenta


(L'OISEAU-LYRE 478 1084)

Segundo o editor, dois argumentos justificam esta singular La Sonnambula: a circunstância de a mesma seguir a partitura original - que pressupunha um papel titular atribuído a um mezzo-soprano (Pasta e Malibran eram as Amina de eleição de Bellini) - e o facto de a dita interpretação ser tocada com recurso a instrumentos da época.

Por outras palavras, esta interpretação reivindica um estatuto singular no panorama discográfico e interpretativo, decorrente da sua fidelidade à composição de Bellini.

A verdade verdadeira, caro e fiel leitor, é que sempre me habituei à Amina soprano, ornamentada, ágil, ousada, certeira, tecnicamente segura, naïve, profundamente feminina e, claro está, sobre-agudíssima. Aliás, nem só de spinto vive Amina, como bem saberá o leitor! Os sopranos ligeiros evitam este papel, sobretudo, pela vertente lírica do mesmo: a título de exemplo, a cena do sonambulismo ultrapassa o mero domínio da coloratura, como bem se reconhecerá, convocando um desempenho puramente lírico.

A história – discográfica e performativa - tem revelado grandes, grandes intérpretes do papel titular, todas elas sopranos lírico-spinto: Callas, Sutherland, Moffo, Scotto Swenson e Dessay... Neste contexto, convenhamos, a abordagem mezzo do papel titular faz antever reacções pouco entusiásticas, ainda que o mezzo seja La Bartoli!

Pois bem, surpreendentemente - muito além das descritas especificidades musicais (bem desinteressantes...) - a maior fragilidade desta La Sonnambula decorre da sua inconsistência teatral e dramática. Bartoli socorre-se da pirotecnia, falhando redondamente na feminilidade da personagem que interpreta. A sua Amina será uma acrobata, indubitavelmente, mas pouco subtil, parcamente ingénua, insuficientemente dócil e – sobretudo – nada donzela. Flórez, pior um pouco: o cristalino sobreagudo resume a sua prestação, que redunda num Elvino apatetado e tonto. Salva-nos a honra do convento o extraordinário D’Arcangelo, Conde de inusitado brilho: fraseado aristocrata, articulação refinadíssima, elevação de carácter e, last but not least, a mais bela voz de baixo do mundo contemporâneo, rien que ça!

Pergunto-me se o público mais plebeu - onde me situo, naturalmente -, pouco sensível a argumentos académicos, que enaltecem o rigor histórico e a fidelidade às origens, valoriza a especificidade desta leitura?! Não creio...

Em jeito de balanço, creio que esta interpretação se afirma, em exclusivo, pela originalidade, constiuíndo, apenas, uma mera curiosidade.

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(3/5)

domingo, 2 de novembro de 2008

O Último Imperador


(CLASSIC D'OR ALFREDO KRAUS - ROYAL CONCERTS III - Teatro Real - Madrid 1984
Massenet, Paisiello, Gounod, Donizetti, Rossini, Chopin, Verdi, Barrera y Calleja, Roig e Quintero)

Um Kraus igual a si próprio: eterno, estilisticamente irrepreensível, de uma elegância aristocrática e senhor de uma técnica quase infalível – agudo certeiro e firme, de uma ousadia impressionante.

O problema é o reverso da medalha… a pose, o cabelo armado, a postura rígida, o francês de pacotilha e a vacuidade da interpretação (pela obsessão técnica).

Ainda assim, o crepúsculo só se anuncia pelo semblante carregado.

Neste registo, tudo o mais – além da grande Senhor – é datado e cheira a bafio, a começar pelo horrendo revestimento do palco do Teatro Real.



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(3,5/5)

A Decadência estética

No último quartel do século XX, o papel titular de Salome (Richard Strauss) esteve a cargo de seis grandes intérpretes: Rysanek, Behrens, Caballé, Stratas, Studer e Malfitano.


(NVC ARTS 9031-73827-2)

Comercialmente, Malfitano é a única a ter perpetuado a sua singular interpretação em registo vídeo, em duas ocasiões. O presente dvd corresponde à sua primeira Salome, captada ao vivo, em 1990, em Berlim.

A encenação desta produção roça a mediocridade e mau gosto, maugrado o realismo e qualidade de alguns elementos (nomeadamente o guarda-roupa). Os cenários indignos – porventura toleráveis num teatro de província – dão conta de uma estética cega e trôpega. A direcção de actores é amadora – Simon Estes esbraceja de modo confrangedor e estéril e Malfitano oscila entre o patético (na acepção mais pejorativa da coisa) e o eloquente (cena final), teatralmente falando.

Malfitano impõe-se pela solidez vocal – ainda aquém da estridência evidenciada na magnífica produção de Bondy, de 1992 -, compondo uma personagem credível, mas algo inconsistente. A cena d’A Dança dos Sete Véus – cuja coreografia é horrenda… -, e que termina com um nu integral, é deplorável: Salome é sinónimo de decadência, mas não ao ponto a que Malfitano a revela!

Simon Estes segue o trilho da protagonista, impondo-se pela voz. Quanto à figura e interpretação, é difícil imaginar algo pior. Haverá alguma mulher na face da terra que deseje ardentemente um João Baptista orangotango, desprovido de carisma, barrigudo e que esbraceje sem o mínimo de sentido?

Para consolo, restam-nos a Herodias de Rysanek (outrora uma protagonista de antologia) e o Heródes de Hiestermann, ambos magistrais na expressão da decadência, na sua acepção mais ampla: psicológica, moral, física e estética.

Sinopoli, que registou uma das mais sublimes Salome que conheço, propõe-nos, desta feita, uma interessantíssima leitura, eminentemente dramática e catastrófica.


A decadência e sua representação não têm necessariamente de se impor pela via do mau gosto!

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(2/5)

sábado, 1 de novembro de 2008

Prémio Brilhante Weblog

O Com Blogs de Ver atribuiu a este espaço o Brilhante Weblog 2008, que desde já agradeço.

Dando continuidade a semelhante distinção, cabe-me nomear (outros) sete blogs da minha predilecção: La Gazzetta Belcantista, Opera Chic, Paris - Broadway, Parterre, Sounds and Fury, The Rest Is Noise e La Discoteca de HispaOpera.

Prémio Dardos

O singular e incontornável desNORTE distinguiu este blog - entre outros - com o Prémio Dardos.

O que é o prémio Dardos?


"Com o Prémio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras.Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.Quem recebe o "Prêmio Dardos" e o aceita deve seguir algumas regras:

1. - Exibir a distinta imagem;
2. - Linkar o blog pelo qual recebeu o prémio;
3. - Escolher quinze (15) outros blogs a quem entregar o Prémio Dardos."

Agradecendo a distinção ao HVA e dando continuidade à corrente, eis o meu best of blogs (por ordem alfabética): contemporá/nêas, Da Literatura, De Ópera e Concertos, Digitalis, Esta Noche Barra Libre, Guia de Música Clássica, ionarts, Linha dos Nodos, Mostly Opera, Moura Aveirense, P.Q.P. Bach, Parsifal's, Sieglinde's Diaries, Um Blog s/ Kleist e Valquírio.