As recentes discussões entre dois grandes frequentadores deste blog, a respeito do talento e virtudes de Elisabeth Schwarzkopf, têm-me feito reflectir sobre as questões da idealização e narcisismo, questões centrais e essenciais no contexto da lógica depressiva.
(Elisabeth Schwarzkopf)
Afinal, do ponto de vista compreensivo e explicativo, em que consiste a depressão?
Acima de tudo, a depressão é uma reacção à perda, ou de um objecto de amor (por morte ou desaparecimento do mesmo), ou do amor do objecto (quando este nos troca, abandonando-nos).
Tratar-se-á de uma depressão reactiva, caso a vivência depressiva seja uma resposta emocionalmente proporcional à importância que o dito objecto para nós tinha.
Quando o quadro se torna excessivamente presente e intenso, sendo o trabalho de luto irrealizável, fala-se de uma depressão patológica que, prosaicamente, mais não é do que a incapacidade de realizar um luto, isto é, aceitar a perda do objecto de amor, desinvestindo-o, por forma a poder investir amorosamente noutro objecto.
Ora, um dos mecanismos específicos da depressão patológica é, justamente, a idealização: endeusam-se as qualidades e atributos do objecto de amor perdido, dele fazendo uma criatura exemplar, repleta de virtudes, enquanto se ocultam as dimensões menos virtuosas do dito cujo.
Paralelamente, a agressividade que deveria dirigir-se ao dito objecto - a raiva e o ódio, secundários ao abandono, por exemplo - vira-se contra o próprio sujeito, que assim se deprime!
No essencial e de forma caricatural, o quadro é o seguinte: amo, venero e endeuso alguém, recusando reconhecer no mesmo defeitos, ao passo que me ataco e humilho, exacerbando as minhas fragilidades e defeitos!
É como se, esquematicamente, herdasse tudo o que o objecto detém de mau e nele depositasse o que há de notável em mim.
O que tem isto a ver com a Senhora Schwarzkopf ou com a admiração incondicional que se nutre por algumas figuras da lírica ?
Tudo, tudinho!
Com as devidas distâncias e precauções, creio que a fixação em intérpretes do passado atesta da nossa recorrente idealização, que impede investimentos em figuras contemporâneas, igualmente virtuosas!
Com este discurso, não pretendo questionar a genialidade de figuras como a citada Schwarzkopf , como a Callas, Hotter, Bergonzi, Tebaldi, Kunz, etc. Longe de mim!
Pretendo, tão só, relativizar a importância das mesmas criaturas.
(Elisabeth Schwarzkopf e Maria Callas)
Admiremo-las, sem as endeusarmos! Aprendamos a reconhecer-lhes dimensões menos virtuosas, que obviamente coexistem com as qualidades que as fizeram aceder ao estrelato!
A Callas, que era magnifica, era uma prepotente, uma autocrata !
A Schwarzkopf, cujo timbre delicado, pueril e aristocrático nos fascina, entretinha-se a achincalhar os desgraçados dos alunos!
A soberba Cossotto, antes das récitas, enviava bilhetinhos com votos de mau agoiro aos colegas!
Pela parte que me toca, procuro que a indesmentível admiração que nutro pelos meus mestres da lírica - Hotter, Callas, Schwarzkopf, Kraus, Varnay, Nilsson, Corelli, Price, Vickers, etc. - não me impeça de apreciar os grandes intérpretes da actualidade, igualmente geniais: Terfel, Stemme, Mattila (uiiiiiii!), Domingo, Meier, Heppner, entre outros.
(Elisabeth Schwarzkopf)
Afinal, do ponto de vista compreensivo e explicativo, em que consiste a depressão?
Acima de tudo, a depressão é uma reacção à perda, ou de um objecto de amor (por morte ou desaparecimento do mesmo), ou do amor do objecto (quando este nos troca, abandonando-nos).
Tratar-se-á de uma depressão reactiva, caso a vivência depressiva seja uma resposta emocionalmente proporcional à importância que o dito objecto para nós tinha.
Quando o quadro se torna excessivamente presente e intenso, sendo o trabalho de luto irrealizável, fala-se de uma depressão patológica que, prosaicamente, mais não é do que a incapacidade de realizar um luto, isto é, aceitar a perda do objecto de amor, desinvestindo-o, por forma a poder investir amorosamente noutro objecto.
Ora, um dos mecanismos específicos da depressão patológica é, justamente, a idealização: endeusam-se as qualidades e atributos do objecto de amor perdido, dele fazendo uma criatura exemplar, repleta de virtudes, enquanto se ocultam as dimensões menos virtuosas do dito cujo.
Paralelamente, a agressividade que deveria dirigir-se ao dito objecto - a raiva e o ódio, secundários ao abandono, por exemplo - vira-se contra o próprio sujeito, que assim se deprime!
No essencial e de forma caricatural, o quadro é o seguinte: amo, venero e endeuso alguém, recusando reconhecer no mesmo defeitos, ao passo que me ataco e humilho, exacerbando as minhas fragilidades e defeitos!
É como se, esquematicamente, herdasse tudo o que o objecto detém de mau e nele depositasse o que há de notável em mim.
O que tem isto a ver com a Senhora Schwarzkopf ou com a admiração incondicional que se nutre por algumas figuras da lírica ?
Tudo, tudinho!
Com as devidas distâncias e precauções, creio que a fixação em intérpretes do passado atesta da nossa recorrente idealização, que impede investimentos em figuras contemporâneas, igualmente virtuosas!
Com este discurso, não pretendo questionar a genialidade de figuras como a citada Schwarzkopf , como a Callas, Hotter, Bergonzi, Tebaldi, Kunz, etc. Longe de mim!
Pretendo, tão só, relativizar a importância das mesmas criaturas.
(Elisabeth Schwarzkopf e Maria Callas)
Admiremo-las, sem as endeusarmos! Aprendamos a reconhecer-lhes dimensões menos virtuosas, que obviamente coexistem com as qualidades que as fizeram aceder ao estrelato!
A Callas, que era magnifica, era uma prepotente, uma autocrata !
A Schwarzkopf, cujo timbre delicado, pueril e aristocrático nos fascina, entretinha-se a achincalhar os desgraçados dos alunos!
A soberba Cossotto, antes das récitas, enviava bilhetinhos com votos de mau agoiro aos colegas!
Pela parte que me toca, procuro que a indesmentível admiração que nutro pelos meus mestres da lírica - Hotter, Callas, Schwarzkopf, Kraus, Varnay, Nilsson, Corelli, Price, Vickers, etc. - não me impeça de apreciar os grandes intérpretes da actualidade, igualmente geniais: Terfel, Stemme, Mattila (uiiiiiii!), Domingo, Meier, Heppner, entre outros.