A carreira da romana Bartoli é absolutamente singular.
Os seus registos, invariavelmente, são envoltos em grande mistério, primando pela originalidade e ousadia, na selecção do repertório, e arrojo, nas interpretações.
Iniciou-se em Rossini e Mozart (mais discretamente em Haydn), brilhando no registo lírico-coloratura.
Na época - final dos anos 1980, início da década de 1990 -, com uma reduzida capacidade reivindicativa, interpretava o que lhe propunham.
Graciosamente, vestiu a pele das heroínas rossinianas: Angelina, Rosina e, mais tarde, já Diva, Fiorilla (d´O Turco em Itália); nunca percebi como resistiu à mais fabulosa de todas elas... Isabella, d´A Italiana em Argel!
Em Mozart, começou por brilhar no registo puramente lírico: Cecilio (Lucio Silla, sob a direcção de Harnoncourt) e Sesto (A Clemência de Tito, com Hogwood); era a fase dos papeis travestidos. Seguiram-se as primeiras interpretações mozartianas, femininas - Dorabella e Despina -, figuras destacadas mas, claramente, de segunda linha.
O final do século coincidiu com a expressão absoluta da glória da cantora.
Literalmente, borrifou-se para os limites das tessituras.
Lançou-se em Mozart, sem pudor algum.
Zurique assistiu, estarrecida, à D. Elvira, que cantou de muletas (havia partido um tornozelo e, estoicamente, recusou-se a cancelar); é obra !
Encarnou Susanna, no Met, ladeada por Fleming e Terfel, num conjunto de récitas absolutamente históricas e inesquecíveis - ainda se falou na gravação de um integral d´As Bodas de Figaro, com os mesmo intérpretes; hélas, tal não passou de um projecto.
Seguiu-se, ici et là, a Fiordiligi, do Così...
Papel de tessitura intermédia, onde os graves são imprescindíveis, La Bartoli transcendeu-se! Inigualável!
É pena não haver um integral, em audio, desta fabulosa encarnação - contentemo-nos com excertos da mesma ópera, e de outras, reunidos numa obra incontornável, imprescindível, em absoluto, da editora DECCA (Mozart Portraits - 443 452-2).
(cont.)
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