terça-feira, 29 de janeiro de 2008

2 Bilhetes para Jordi Savall cedem-se!

A dois de Fevereiro próximo, o meu filho comemora dois anos de vida!
A data coincide com o concerto de Jordi Savall, na Gulbenkian.
Posto isto, cedo os dois bilhetes que havia adquirido – zona balcão, lugares 15-16 da fila 5 -, contra o pagamento de €16,67 x 2, correspondentes ao preço de aquisição.

É aproveitar, caro leitor!
O primeiro a manifestar interesse será o feliz contemplado!

Go for it!
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Sábado, 2 Fev 2008, 19:00 - Grande Auditório

LE CONCERT DES NATIONS
JORDI SAVALL (direcção)

A Ouverture Francesa na Europa Musical do Barroco.

Jean-Baptiste Lully
Alceste, Suite para Orquestra (1674)

Jean-Philippe Rameau
Les Boréades, Suite para Orquestra (1764)

Johann Sebastian Bach
Suite para Orquestra Nº 4, em Ré maior, BWV 1069 (1720)

Georg Friedrich Händel
Music for the Royal Fireworks (1749)

'Das Märchen', de Emmanuel Nunes



«La ópera se presentaba con gran atractivo. Escrita por un reputado compositor, Emmanuel Nunes, durante 26 años y basada en un texto de Goethe, lleno de referencias simbólicas. El presupuesto: un millón de euros. Pero el día del estreno de Das Märchen, el pasado viernes en el Teatro Nacional de São Carlos (Lisboa), el público sólo aguantó dos horas. La mitad de la sala abandonó sus butacas.»

Desengane-se, prezado leitor! Não fui, não vou nem quero ir!
Correndo o risco de cometer uma injustiça (?!), optei por não assistir a uma récita de Das Märchen, de Emmanuel Nunes.

Disse-me a intuição que a coisa iria ser de digestão complicada...
Ora, como além de problemas digestivos, enfermo de grande singeleza, corria o risco de não poder assimilar a coisa.

Pois bem, fui comemorar o aniversário de um amigo e animar os miúdos, que se divertiram à grande!

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Mattila's crossover

Desta feita, Karita Mattila surpreende-nos com o crossover:

«Fever is Karita Mattila's long-awaited light music and jazz album, which includes popular standards by George Gershwin, Cole Porter, Rodgers & Hammerstein II, Antônio Carlos Jobim, and others.

This recording has been cut from several live performances: Finnish star soprano Karita Mattila's long-time dream of performing jazz and light music standards in a tailored show came to reality during the second half of August 2007, when Tampere Hall in Finland produced four sold-out Fever concerts featuring the Finnish "body-and-soul diva" in front of an excited audience. The programme included favourite songs from the Great American Songbook and Brazilian Bossa Nova. All songs were arranged by Finnish jazz icon Kirmo Lintinen who, together with his band and the vocal trio How Many Sisters, backed Karita Mattila as musical director, conductor and pianist throughout the evenings. Set and costumes were designed by Markku Piri who developed the original artistic concept together with Karita Mattila. Stage and choreography were devised by Tiina Lindfors. The musical performances were unanimously praised by the Finnish press.»



Bom... não se pode dizer que a crítica do The Independent seja muito favorável...

«Oh Sarah! Oh Billie! Oh sainted Shirley Horn! If you sense any turbulence in the heavens today, it's the late great jazz divas weeping with mirth. Hot on the heels of Thomas Quasthoff's bizarre Mel Tormé tribute, 'Watch What Happens', comes Karita Mattila's 'Fever': a high-camp piñata of show-tunes, standards and, dear me, bossa nova. Stripped of operatic spin, there's a hint of Cleo Laine in the Finnish soprano's high notes, and more than a touch of Manhattan Transfer in Kirmo Lintinen's hyperactive arrangements. Excepting the comedy-value of "O Pato", this is one to avoid.»

Das duas, uma: ou o trabalho de Mattila - neste caso concreto - é dispensável, ou a senhora que o critica é uma matrona ressabiada, com imensa inveja de "loiras boazudas" incandescentes!

Let's Wait and see!!!

sábado, 26 de janeiro de 2008

Preconceitos & Diapasons d'Or, ossia Dar a Mão à Palmatória (?!)

A Diapason (que não é propriamente a rainha da imparcialidade...) sempre ostracizou Angela Gheorghiu. Pessoalmente, o desdém com que a olham decorre de tudo menos das qualidades técnicas e interpretativas da criatura.

Gheorghiu é uma intérprete de referência, não sendo uma grande cantora. As suas colegas – rivais (Fleming, Vaduva, Swenson e Netrebko, entre muitas, muitas outras), arrumam-na a um quanto, em matéria de disciplina e beleza de timbre.

Gheorghiu é caricata, pelo narcisimo frágil, deslumbramento e – há que dizê-lo... – pela indisfarçável parolice. Dada à vida mundana, qual diva da periferia, Angela vai cavando a sua sepultura artística...

O certo é que a citada (snob) Diapason tece rasgados elogios ao último trabalho da intérprete romena, distinguindo-o com um invejável Diapason d’or!



Por ora, nada digo do trabalho em questão. O preconceito assumido impediu-me – sequer – uma aproximação mais distendida do artigo...

Vou ver se atiro o preconceito para trás das costas!

Em tempos, também eu já fui snob...

Curiosamente, a última vez que tal faceta exibi foi... com a Gheorgihu!

Antecipadamente, adquirira bilhetes para o último recital da senhora em terras lusas, na Gulbenkian. Eis senão quando, quis o destino que uma apreciável soma de vil metal me entrasse na conta bancária e... zássss! New York, aí vamos nós!

Aqui para nós, NY tem um predicado, lá para os lados do Lincoln Center, Met de sua graça!

Na época, a soberana Mattila – essa sim, em todo o seu esplendor! – preparava-se para estrear uma nova Salome.

Não hesitei um segundo e mandei a romena pastar.

As loiras sempre foram a minha perdição...

Brava Diana (?)



«C’est le disque classique le plus réussi de ces derniers mois. Par le choix du répertoire - des airs sublimes et inconnus de Salieri et Righini -, par l’approche stylistique de tubes mozartiens - les fameux airs de la Reine de la nuit dans la Flûte enchantée -, et enfin par la personnalité des deux artisans de cet Arie di Bravura qui paraît chez Virgin Classics.

Sensation. Honneur aux dames, la soprano bavaroise Diana Damrau a été signalée dans ces colonnes ces dernières années pour ses incarnations mozartiennes remarquables au festival de Salzbourg. Elle s’est, depuis, notamment distinguée en décembre 2004, dans le rôle-titre de l’Europa Riconosciuta de Salieri - dont on retrouve le grand air sur ce nouveau CD - à l’occasion de la rouverture de la Scala de Milan.»

Libération dixit.

Na Lírica, bravura supõe - antes de mais - disciplina sólida e ornamentação (ou agilidade).

Erradamente, as vozes que abordam o repertório de bravura são descritas como vozes de coloratura. Tecnicamente, a bravura está a cargo dos cantores líricos ligeiros – sopranos ligeiros (Rainha da Noite), tenores ligeiros (Tonio).

Por vezes, os intérpretes iniciam-se neste repertório e, com o tempo, fazem incursões em territórios mais expressivos – dramaticamente, claro está – e menos dados à "pirotecnia".

Dessay é disto mesmo um exemplo: iniciou-se como soprano ligeiro, estando, na actualidade, mais identificada com o repertório belcantista, que supõe – no seu caso – uma mudança de registo, onde se afirma o lirismo, associado ao spinto.

De Diana Damrau, em boa verdade, pouco ou nada sei... Confesso, ainda assim, que muito me agrada o alinhamento e selecção desta cd, que prima pela ousadia!

Logo que me chegue às mão, dir-vos-ei...

A Mestria da Ausência II

É que os analistas, embora estejam sempre presentes, estão longe do campo visual dos que beneficiam dos seus cuidados! Como na blogosfera / realidade.

Aqui como lá, apenas sou visto à entrada e à saída... mas estou lá / cá sempre. Estejam certos disso ;-)

Voltarei...

A Mestria da Ausência



O consultório cresce, a psicanálise pratica-se... e o blog é que se lixa, pois não há tempo para tudo!

domingo, 20 de janeiro de 2008

From Milan with Love - II - GIORGIO ARMANI







From Milan with Love - I - EMPORIO ARMANI

Chegado de Milão, eis Il DIssoluto Punito, inundado de esplendor e futilidade - mas muuuuuito feliz e vaidoso! -, preparado para o Fall / Winter 2008/09, by Emporio Armani, of course!



LOVE AFFAIR, take 6 ossia A leitura d'A ÓPERA

Dando continuidade ao que aqui se iniciara...

Justiça, Senhores!
Sutherland é uma grande, grande Donna Anna!


Na leveza e categoria das vocalizações (
Non mi dir), é divina! No teatro, nem tanto...

By the time, as consoante ainda figuravam no seu repertório. Mais tarde, sucedeu o que todos sabemos: passou a dispor, apenas e só, de vogais...

No confronto com Grümmer, obviamente Sutherland perde em tudo, excepto na ornamentação, sem o mais discreto sinal de esforço ou fadiga.


Joan Sutherland, sendo inultrapassável na pirotecnia vocal, vai muito além do trabalho dos sopranos ligeiros – dota a sua personagem de alma -, embora não triunfe pela via da expressão... Sutherland sempre foi mais cantora do que intérprete, mas Giulini, no caso desta leitura, animou-lhe a criação cénica!



(Joan Sutherland)

sábado, 19 de janeiro de 2008

LOVE AFFAIR, take 5 ossia A leitura d'A ÓPERA

Dando continuidade ao que aqui se iniciara...

Donna Elvira será sinonimo de Della Casa e Danco, rimando ainda com Te Kanawa e Isokoski... mas, acima de tudo, na discografia, Elvira escreve-se com E!

Elisabeth Schwarzkopf compõe, nesta mesma interpretação, o modelo definitivo de Donna Elvira. Já antes o ensaiara, com Furtwängler, mas a seriedade excessiva do maestro cerceou as veleidades buffas da intérprete!

Giulini – e Legge, seguramente! – deram-lhe carta branca para fazer o que bem entendesse... e Schwarzkopf fez um milagre: Elvira, doravante, na ópera, é a representante suprema da "credulidade ridícula"! Genuína, dócil, algo irascível, eternamente esperançosa, mas sempre, sempre ciente da sua linhagem!

Por via da leitura de Schwarzkopf, Elvira afirma a sua nobreza de carácter, que constitui o seu cavalo-de-batalha.

O mais extraordinário do trabalho de Elisabeth S. radica na versatilidade – no Mi Tradì, as inflexões da voz fazem história, pelas modulações dramáticas que produzem! Numa mesma frase, são tantas e tão dispares as emoções que brotam...


(Elisabeth Schwarzkopf)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

LOVE AFFAIR, take 4 ossia A leitura d'A ÓPERA

Dando continuidade ao que aqui iniciara...

Frick compõe um Comendador majestoso (talvez Talvela lhe faça alguma sombra, não sei...)

De início é contido (duelo); na cena final, no confronto em que as contas se ajustam, Frick é triunfal, abrilhantando a cena – que é inigualável, pela grandiosidade e carga dramática, em todas as interpretações rivais que conheço – com um timbre grandioso, cheio, heróico, escuro e profundo.

Graças a Frick, a consciência moral leva a melhor, enterrando em definitivo a dissolução!

Seja como for, G. Frick é O meu Comendador!


(Gottlob Frick)

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

LOVE AFFAIR, take 3 ossia A leitura d'A ÓPERA

Dando continuidade ao que aqui iniciara...

Wächter seria o Don da discografia, não fora o alemão mal disfarçado, que parasita o italiano (apesar disso) nobiliárquico.

A voz é belíssima, altaneira, lírica e muito segura.

A interpretação é de antologia, apenas tendo como rivais os incontornáveis Don’s de Siepi (na vertente da corrosão moral) e Allen (na linhagem). Wächter constrói um personagem de uma riqueza teatral quase sem precedente: sedutor, corrosivo, temerário, interesseiro e manipulador, sempre na senda do egoísmo e gozo pessoal!


(Eberhard Wächter)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

LOVE AFFAIR, take 2 ossia A leitura d'A ÓPERA

Dando continuidade ao que aqui iniciara...

Taddei é o melhor Leporello da discografia (Ramey aproxima-se dele, mas perde aos pontos, por ser demasiado nobre!).

Este servo possui uma prosódia de invulgar riqueza expressiva, com uma articulação miraculosa (vogais abertas, consoantes firmes): tendencialmente irónico e malicioso, vil e interesseiro, por vezes pueril... aqui e ali cobardola... mas profundamente humano.

Em matéria de beleza do timbre, são muito os que o vencem, mas no histrionismo e consistência cénica da personagem, nenhum lhe chega aos calcanhares


(Giuseppe TADDEI)

domingo, 13 de janeiro de 2008

Pelléas et Mélisande ossia Édipo revisitado

A peça Pelléas et Mélisande, de Maurice Maeterlinck, tem sido, como refere este artigo, fonte de inspiração para diversos autores, sendo a opera homónima de Debussy a mais célebre adaptação musical – lírica, no caso – do drama original.

«The play's inspiration was in part autobiographical. Born in Ghent, Maeterlinck spent many of his formative years in the family home at nearby Oostacke, surrounded by a windswept landscape of canals and mist. As a young adult, he shared a mistress with his own father, and the idea of a three-way relationship between a woman and two related men of differing ages eventually found its way into the play. Oostacke was transformed into the imaginary, watery kingdom of Allemonde, where Pelléas forms a catastrophic erotic attachment to Mélisande, the supposedly childlike wife of his jealous, much older half-brother Golaud.»

Pela parte que me toca, a justificação de tanto interesse radica na revisitação – ou actualização – da trama edipiana, que Freud celebrizou, sob a formulação de Complexo de Édipo.

A situação edípica – ou triangular, como se preferir – constitui um incontornável marco no desenvolvimento psicossexual: lança o sujeito no encalço da exogamia, permite a elaboração da ambivalência – a possibilidade de, face à mesma figura, se experimentar amor e ódio -, determina as identificações secundárias – a identidade de género -, estabelece a organização do Super-Eu – o juiz interno, que fixa interditos, nomeadamente a interdição do incesto, além de instituir a culpabilidade -, entre muitas outras questões.

LOVE AFFAIR, take 1 ossia A leitura d'A ÓPERA

A ópera d'A Ópera é, evidentemente, Don Giovanni!

Obsessivamente, segue-se uma dezena de posts que fundamentam o meu amor pela interpretação da minha vida, da ópera da minha vida que, é bom dizê-lo, esteve na génese deste blog.

Na sábia e majestosa leitura de Giulini (1959), o buffo e o serio fundem-se, sob o signo da aristocracia teatral: os recitativos e árias encontram-se inundados de drama, que constitui a matriz desta absolutamente extraordinária interpretação de Don Giovanni.

Carlo Maria Giulini dirige uma leitura da peça modelar: rica em expressão, à la fois graciosa, vulcânica, lírica, majestosa, dócil, recatada e contida. Sem ponta de excesso, sem lugar ao maneirismo! Nesta interpretação, não há espaço para o gratuito.


(Carlo Maria GIULINI)

Da Identificação

«Cecilia Bartoli just may have found the role of a lifetime: the diva Maria Malibran, who was born in 1808 and died in 1836.

(...)

«“He told me that she was a great mezzo-soprano of the 19th century whose career had started with Rosina,” she said. “And I thought: ‘Oh, nice. Nice picture. Interesting story.’ ”»

Evidentemente, o desejo de Cecilia Bartoli se identificar à Malibran é manifesto!
Aqui para nós, caro leitor, antes assim! Pobres são os que, em lugar da identificação, promovem a imitação!



Já agora, apreciei a clarificação de Bartoli, a respeito das famigeradas interpretações belcantistas do pós-guerra:

«“I wanted to give back to the bel canto what we have forgotten,” Ms. Bartoli said. “In some ways the most difficult thing about this project was really to focus on the dynamics, the orchestration, and not to listen to what we think of as tradition. Bellini didn’t have 80 players in the orchestra; he had 35 or 40, maximum. Singing was more of a dialogue with the players and not a fight.

“All of us have grown up with the recordings of the great Joan Sutherland, Montserrat Caballé, Maria Callas, who were born right around the time Puccini died. His style, the style of verismo, continued to influence the musical fashions of the 1940s and ’50s. But bel canto isn’t the next step after Puccini. It’s the next step after Mozart.”»

26 Filmes, 26 Génios (?!), ossia Outros Interesses !

É já no próximo Domingo que o El Pais inicia esta colecção: um Domingo, um número de El Pais, mais €9,95... E a possibilidade de adquirir alguns clássicos do cinema de renome.

O primeiro número - gratuito! - é Citizen Kane!

«Orson Welles, Jean-Luc Godard, Jean Renoir, Eisenstein, Chaplin, Luis Buñuel, Stanley Kubrick. Ciudadano Kane, Al final de la escapada, Una partida de campo, El acorazado Potemkim... y así hasta 26 nombres propios y 26 títulos. Los de los mejores directores de cine de la historia y sus películas más importantes. EL PAÍS ofrece desde el próximo sábado a sus lectores la colección Cahiers du Cinéma (Cuadernos de Cine). Cada semana podrán conseguir junto al diario, por 9,95 euros un libro con la historia, filmografía... de un realizador y un DVD con una de sus obras más emblemáticas. Desde Charlie y la fábrica de chocolate, de Tim Burton, a Sólo se vive una vez, de Fritz Lang. La primera entrega, excepcionalmente, se efectuará el próximo domingo y será gratuita con la compra diario. Se regalará Ciudadano Kane y el libro sobre su director, Orson Welles.»

A coisa promete...

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Love Affair

I'm having a love affair with my first Don Giovanni.



Mais de dez anos volvidos sobre a minha iniciação na lírica mozartiana, regresso ao meu primeiro amor, com uma firme e inabalável convicção: É A INTERPRETAÇÃO DA MINHA VIDA, DA OBRA LÍRICA DA MINHA VIDA.

As justificações - serão necessárias??? - virão depois, oportunamente.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Tristan und Isolde

Ou muito me engano ou esta produção de Glyndebourne, de Tristan und Isolde, foi a rampa de lançamento de Nina Stemme, a maior Isolda da actualidade! Doravante, Wagner foi o seu território de eleição, a par do Verdi lírico / lirico-spinto.



Em boa verdade, ao que parece, neste feliz ano de 2008, teremos duas produções (disponíveis em dvd) superlativas de Tristan und Isolde: a de Glyndebourne... e a mais recente, que marcou a abertura do alla Scala!

O que vale é que os puristas – depressivos continuam a insistir na tecla: "não há meios (vocais e demais) para exprimir Wagner, em toda a sua magnitude!"

Pretextos...

ossia razões (líricas), de sobra, para uma deslocação ao hexágono!

domingo, 6 de janeiro de 2008

Calixto Bieito: Um Certo Wagner ossia Para além do Narcisismo

Calixto Bieito é, nos nossos dias, um dos mais célebres encenadores, particularmente no tocante à ópera. Ainda assim, não me recordo de ter assistido a trabalhos seus, nem ao vivo, nem via dvd.

Em todo o caso, dada a envergadura da criatura, li com atenção esta entrevista, recentemente concedida ao El Pais.

Entediaram-me as considerações em torno do carácter de Wagner. Embora o encenador não utilize a minha nomenclatura, são feitas referências ao infinito narcisismo de Wagner, e bem assim à sua perversidade – aqui para nós, esta decorre, justamente do carácter narcísico! A moral do narcísico é A sua - a única que conta - sendo que o outro (e respectivo código de conduta) é, invariavelmente, menosprezado!

Verdadeiramente, incomodam-me a hipersensibilidade de grande parte dos apreciadores de música ao sui generis carácter de Richard Wagner! É como se o nosso próprio narcisismo fosse posto em causa pelo do criador... A meu ver, é aí que está o ponto!

Ou será que temos dificuldade em tolerar a ideia de genialidade que os trabalhos de Wagner contêm? A inveja – que é apenas mais um sentimento dos humanos, entre tantos outros! – tem destas coisas... Ataca-se a criatura, por inveja da criação!

Estranhamente, vejo mais linhas consagradas à personalidade de Wagner do que às suas criações líricas. A falha pode ser minha...

Pessoalmente, a conduta - e personalidade - de Richard Wagner é absolutamente da ordem do fait divers. Admiro muitíssimo a sua lírica, sendo o resto perfeitamente acessório.

Bom... adiante!

Pese embora este repisar do repisado, Calixto Bieito tece algumas considerações interessantes sobre a actualidade do drama contido em O Navio Fantasma, cuja encenação está prestes a estrear em território alemão.



«Un ejecutivo que ha perdido la identidad, los valores, la fe. Tuve una sensación muy fuerte no hace mucho cuando me sentí durante dos días perdido en dos aeropuertos europeos porque habían cancelado mis vuelos. Sólo tenía ganas de que alguien se me acercara y me dijera si quería tomar algo caliente. Y pensé que El holandés podría estar mucho más próximo a esto que a un ser vagando como un espectro por los mares en busca de la redención del amor de una mujer.

P. ¿Trata de humanizar al fantasma que es el holandés?

R. Sí, lo humanizo. Estoy haciendo una producción en la que me centro en el personaje del holandés por encima
de los demás. Y lo veo en esta especie de purgatorio pseudodepresivo y melancólico al que la sociedad actual echa a los que considera como residuos económicos, personas inservibles que crea la economía actual. Entonces leí La corrupción del carácter, de Richard Sennett, y vi al holandés de la ópera en ese ejecutivo que ha perdido sus referencias, que busca esperanza, solidaridad, ternura y amor. Trato de mostrar de una forma humana el mito del personaje.»

Pois bem! Nem mais, nem menos! Bieito tocou no busílis!

A verdade é que, no meu entender, a nossa atenção tende a fixar-se no manifesto, evitando o contacto com o latente!

Dito de outro modo, exacerbamos o "envelope" – a
megalomania narcísica, a grandiosidade e soberba de Wagner -, escapando à "mensagem" nele guardada – a dor depressiva mais horrenda, secundária ao desamparo primário - o que dilacera, tudo condicionando: a identidade, a possibilidade de vinculação, actual e futura...

As defesas narcísicas do criador de Bayreuth – génio, sem mais – são proporcionais à fragilidade do senhor, fragilidade essa bem afim com a ansiedade de perda, que constitui o traço fundamental da organização borderline (patologia lmite).



O Holandês Errante mais não é que o representante supremo do desamparo, no sentido psicopatológico, o que nada tem: condenado à errância, desamado... sem vínculos alguns... Com uma identidade difusa, seriamente comprometida - Quem sou? De onde vim? A quem pertenço? -, escravo eterno da instabilidade.

Há dor mais insuportável que esta?

Posto isto, que cesse a obsessão com o Pavão Wagneriano! É que há muito mais por trás dessa aparência!

A dor primária - expressão de um narcisismo primário, que se apoia no modelo relacional mãe-bebé, nutrido no seio da relação precoce -, por vezes, leva-nos a desviar o olhar. A empatia com a mesma é complexa...


(Calixto Bieito)

Posto isto, fiel e paciente leitor, mentiria se dissesse que o trabalho do encenador catalão não me interessa! Seguirei, atentamente, a sua trajectória, doravante.

Do Género (masculino)...

Este artigo põe a nu uma questão que sempre importunou (alguns) apreciadores de música lírica: qual o estatuto do contra-tenor, em termos de género?

A dita questão - que teve a sua razão de ser na época dos castrati -, na actualidade, apenas se (re)coloca por força do preconceito!.


Tanto quanto sei, Deller e Jacobs - à semelhança de Scholl – têm caracteres masculinos bem evidentes. Se são homo ou hetero, não sei e, para o caso, pouco interessa.

A verdade é que, a dada altura do artigo, o jornalista revela a sua surpresa diante da virilidade do contra-tenor alemão:

«Scholl is even taller than he seems in the photos, broad-shouldered, with a very firm handshake, (…)»

Pois é, meu caro! Eu, que meço 1,87m, perto do dito senhor, senti-me uma criatura de mediana estatura! Quanto ao vigor do aperto de mão, confirmo-o!

A páginas tantas da desoladora entrevista, Scholl põe os pontos nos iis:

«(…) "I'm the story-teller, I'm the shepherd, and I'm the nymph. But I don't have to behave in a feminine way for the nymph, that would be ridiculous. When the nymph arrives you just step to one side, and you use a different set of vocal gestures.

Moral da história: à semelhança do jornalista, nos nossos dias, deparamos com muita frequência com o efeito protector do preconceito que, o mor das vezes, oculta questões problemáticas do / para o próprio!

No caso presente, o escriba projecta no intérprete as suas dúvidas relativas ao género – leia-se, à sua própria identidade masculina!

De facto, é mais fácil duvidar da virilidade de alguém que, apesar da masculinidade evidente, exibe uma voz pueril... "Questionar-se, a este respeito, nem por sombras!"


sábado, 5 de janeiro de 2008

Loucura!!!

Só um doido como Il DIssoluto Punito (re) compra o mesmo artigo, a pretexto de uma remasterização!!!



(Il Dissoluto Punito, ossia Giovanni Le Fou)

37º Don Giovanni

A psicanálise – uma das minhas damas – ensinou-me a duvidar cientificamente das coincidências.

Margarida Rebelo Pinto – que não é minha dama, nem por coincidência!!! -, a todo o instante, recorda-nos, por via dos seus escritos, que Não há coincidências...

Pois bem... acredite o leitor ou não nas ditas cujas, a verdade é que, sem me ter dado conta, no dia do meu 37º aniversário, adquiri o meu 37º Don Giovanni!

Nem mais, nem menos que a remasterização do meu primo Don, o de Giulini, bem entendido!

O que outrora exibia este fácies (já na era do cd!)...


... desde 2002, graças a um lifting, assumiu este rosto


Coincidência ou não, aqui para nós, tem uma imensa graça! Ou, como é próprio da adjectivação corrente, de uma certa Lisboa,"É F'NTÁXXTICO"!

+1

... e 37!