quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Erros de casting, sim senhor!

Falando como (pretenso) agente de espectáculos, se a minha opinião tivesse sido solicitada, evidentemente não recomendaria à talentosíssima Magdalena Kozená a interpretação do papel titular de La Cenerentola!!! Não, não e não, três vezes!



Há uns anos, no Met, a não menos talentosa Von Otter caiu na mesma esparrela e... deu-se mal, por razões similares às de Kozená!

A mezzo checa é uma cantora eminentemente de registo lírico, faltando-lhe agilidade e carácter buffo para incarnar a masoquista Angelina, da citada ópera de Rossini.

«Neither Kožená's voice nor, on this evidence, her personality are suited to the optimistic spunkiness of Cenerentola.»

«Not so Magdalena Kozena, making her much-anticipated debut as Angelina. Technically, she was flawless, and she rightly brought down the house with the dizzying pyrotechnics of her final aria. But while her wide eyes and gangly gait conveyed a certain vulnerability, she lacked personality. The voice is beautiful, but somewhat anonymous, and I missed the warmth that her joyous final number should convey. Not even her fairy godfather, Alidoro (the excellent Lorenzo Regazzo), could change that.»

E mais não digo (salvo em troca de cobres ;-) )!!!

O Tannhäuser de Paris - II

Pois é, pois é! Não costumo enaltecer artistas líricos – nem outros! – "por dá cá aquela palha!"


(Stephen Gould como Tannhäuser, da ópera homónima)

Aqui há uns anos, nos primórdios deste blog, recomendei vivamente um registo do grande – agora muito grande – Stephen Gould.

Progressivamente, o senhor tem vindo a triunfar... Escrevam o que digo: dentro de alguns anos, depois da retirada de Heppner – esse, enormíssimo! -, o papel titular de Tristão não terá rival (além de Torsten Kerl)! Já para não mencionar o tremendo Siegfried, seja o da ópera homónima, seja o d’O Crepúsculo dos Deuses.

A verdade verdadeira é que o Tannhäuser que Gould interpretou em Paris, na Bastilha – à semelhança do que por aqui se referiu – triunfou! Tivesse eu uns cobres a mais e, em lugar de comprar uma assinatura no Teatro Colon, rumaria à minha segunda casa, Paris!

«On est heureux d'être revenu, car le chanteur Stephen Gould, si raide et si peu musicien à la première, le 6 décembre, donnée en version semi-représentée, s'est métamorphosé (Le Monde du 8 décembre). Après deux actes où le rôle exige un tonus vocal exceptionnel, il est parvenu à chanter sa rédemption finale avec fraîcheur et finesse.»

Posto isto, pergunto-me por que razão não me dediquei eu a outro labor, que não o de perscrutar (e transformar) mentes sofridas???

Fora eu um agente e estaria rico da Silva!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Últimas Aquisições

Mário Crespo...



...ossia, o Regresso dos Heróis !

O grande senhor da informação voltou ao trabalho, depois de complicações de saúde, felizmente ultrapassadas! Estou muito, muito feliz pelo regresso de Mário Crespo!

O Tannhäuser parisiense

A mise-en-scène de Robert Carsen pôde, enfim, ver a luz do dia, depois de récitas e mais récitas condicionadas pela greve!

Que o elenco era superlativo, já todos sabíamos. Da encenação, ficámos agora a saber mais!

«Allégorie du compositeur tiraillé entre dionysiaque et apollinien, chair et sublimation, et du coup victime de l’incompréhension d’une société hypocrite, Tannhäuser parle de l’artiste en général. Carsen en fait donc un peintre, au risque de se faire huer au moment des saluts, ce qui ne manquera pas d’arriver. Ce déplacement n’en est pas moins fécond.

Axiome. Dans l’ouverture, Vénus pose nue pour Tannhäuser et Carsen fait de la bacchanale prévue par Wagner un rituel narcissique et masturbatoire : les danseurs masculins, doubles dénudés du peintre, copulent convulsivement avec leur toile pour finir maculés de rouge sang. L’intelligence de l’axiome de départ se confirme ensuite lorsqu’Elisabeth, symbolisant le monde moral des hommes, et Vénus, celui amoral des dieux et des artistes, posent imbriquées ensemble pour le peintre. Et enfin, au terme du troisième acte, lorsque le tableau du héros rejoint sur un mur géant des dizaines d’autres ayant fait scandale, de l’Origine du monde de Courbet aux Demoiselles d’Avignon de Picasso. Sauf que celui de Tannhäuser est accroché à l’envers, exhibant la croix du châssis barbouillée de sang : la réconciliation a eu lieu mais le message est loin d’être sulpicien.»

5 filmes...

O Heitor, do desNorte, simpaticamente, incluiu-me na corrente dos 5 filmes...

Ainda que considere efémera a citada lista - alguns dos filmes que aí coloco foram visionados muito recentemente... -, aqui vão os do meus top 5:


(Ordet)


(Persona)


(Bellissima)


(Ludwig)


(Ladri di biciclette)

Entretanto, não sei se é suposto dar continuidade à corrente...

sábado, 15 de dezembro de 2007

Rigoletto, Teatro Nacional de São Carlos, récita de 14 de Dezembro de 2007

Na ópera, como em quase tudo, faço minha a máxima de S. Tomé, Ver para Crer.
Dir-me-á o atento leitor que, no respeitante à produção de Rigoletto ora em cena no São Carlos, unanimidade tem sido a palavra-chave, em termos de crítica: a dita cuja enferma de uma inimaginável mediocridade.

O certo é que, muito dos que agora idolatram e enaltecem o trabalho do anterior director do Teatro Nacional de São Carlos, Paolo Pinamonti, são os mesmos que, ao longo de inúmeras temporadas, questionaram de forma vil o trabalho do mesmo Pinamonti. O senhor que se seguiu, para o bem e para o mal, tem a infelicidade de ser comparado com o grande (?!) Paolo Pinamonti! Deus na no céu, Pinamonti na terra...

Pois bem, com bilhetes adquiridos de antemão e guiado pela máxima de S. Tomé, fiz-me à estrada, embora com os ouvidos e olhos parasitados pela critica avassaladora.

Desde já confesso a minha surpresa diante de tudo aquilo a que assisti, na récita de sexta-feira, 14 de Dezembro de 2007. O impensável e inconcebível, num teatro nacional, aconteceu...

Ao menos uma vez na minha existência de quase 37 anos, senti-me um Vasco Pulido Valente, uma Maria Filomena Mónica, uma Clara Ferreira Alves – isto para não citar alguns bloggers...
-, posto que me vi num mundo dominado pela maior das misérias que a humana criatividade pode conceber. A experiência de viver rodeado de merda deve ser abominável. O certo é que assim me senti, ao longo da récita de ontem à noite.


Pois bem, vamos a factos.
Em meu entender, de uma coisa não pode a presente produção de Rigoletto ser acusada: a de falta de coerência. O equilíbrio, a harmonia e a coerência dominaram a coisa, evidentemente nivelados pela fasquia mais reles que imaginar se pode.

A encenação de Sagi, apesar das veleidades, é medíocre e abortada, não escapando aos habituais lugares-comuns: um Rigoletto balanceando entre o vermelho – pecaminoso e o não-vermelho – humanizante, uma predominância das clivagens – Gilda-diáfana, pura e clara, vs homens-desalmados-a-negro e putas-escurecidas -, por exemplo.

Quanto ao resto... luzes ineficazes (Eduardo Bravo); figurinos de gosto deplorável e escravizados pelos habituais clichés – dourados, veludos, mangas de balão, etc. – (Miguel Crespi); cenografia feia e raramente eficaz – a cama, a estalagem -, quando não imperceptível – a segunda cena do acto I (Ricardo Sanchéz Cuerda); direcção de actores abominável, primando pela movimentação estéril e trôpega – todos gesticulam sem sentido, gratuitamente, assim pretendendo exprimir os respectivos estados de alma!!!

Neste capítulo, o melhor de tudo foi a barulheira que acompanhou as mudanças de cenário, digna de um teatro itinerante. Ainda acalentei a esperança de ouvir um martelo pneumático...


No capítulo das vozes, contrariamente ao que previra – Pirgu e Agache -, atingiu-se a calamidade.

Agache, outrora um grande barítono verdiano – Amonasro, Rigoletto, Conte di Luna e Simon Boccanegra, entre outros -, revelou uma decadência confrangedora, ilustrativa de um final de carreira há muito anunciado: sem folgo, com uma voz envelhecida e (des)governada por um vibrato selvático, sem cor nem sombra de elasticidade. O Cortigiani foi desastroso, decrépito...

A isto acrescente-se uma ausência de dotes histriónicos mínimos, materializada numa incarnação dramática inexistente, entre outras, apoiada numa mímica ridícula. Um cantor acabado, num actor de pacotilha, eis, em síntese, a prestação do cantor romeno.

A Gilda de Schill – a primadonna do TNSC!!! – desencadeou em mim o mais horrendo dos sentimentos: pena e compaixão. Ainda pensei pateá-la, mas a piedade assim não o quis...

Actriz esforçada e minimamente dotada – há que reconhecê-lo -, cantora medíocre, a criatura exibiu uma técnica... inexistente. No Caro Nome, baixei a cara, tapei os olhos e tive a pontos de abandonar a sala. Notas falhadas, agudos estridentes e berrados, ornamentação caótica... falhou redondamente no lirismo, no spinto, na emissão...

Salmir Pirgu – o grande, grande e promissor Ferrando do Così da temporada passada -, pese embora a densidade da interpretação – compôs um Duque vil e pavão, bem caracterizado – decepcionou na voz: apesar de ampla e bem projectada, revelou falta de estilo e craveira verdiana. Sob o signo da inconstância...

Quanto aos demais solistas, primaram pela mediocridade, particularmente o Sparafucile de Lynkovsky - não vou tão longe quanto a máxima "um baixo sem ré de porco não é um baixo", mas ao menos que o dito tenha graves!!! -, à excepção do digno e esforçado Monterone de Luís Rodrigues.

E para encerrar, o caos!

A direcção de Polianitchko revelou um desgoverno inadmissível, com naipes à rédea solta, sem a mínima coesão. O mestro foi o maior dos inimigos dos solistas, abafando-os, desenquadrando-os.

Já no coro, a regra foi cada um por si.


Enfim, diria que este cénica, vocal e musicalmente trágico Rigoletto augura uma temporada previsivelmente desastrosa.

Verdi foi vilipendiado, e bem assim os espectadores que, contrariamente ao que por aí se diz, não papam tudo! Apesar de um ou outro bravo – certamente proveniente de persistentes ignorantes, militantes -, da profusão de peles e madeixas, a gélida recepção com que se brindaram os artistas foi deveras clara.

Há muitos anos que não me sentia tão defraudado...

Rigoletto, TNSC

O kit de sobrevivência, indispensável para a récita:



Há limites para tudo! A mediocridade é inesgotável, tal como a falta de vergonha!
Para mais tarde - assim que a medicação anti-depressiva começar a produzir efeito -, tecerei os meus comentários, mais secundarizados (e menos heterodoxos)...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Rigoletto

Amanhã à noite, o casal Dissoluto irá à récita de Rigoletto, no TNSC.

Manda a prudência e o bom-senso que, por enquanto, não teça eu comentário algum a respeito desta produção, que muita tinta já tem feito correr, por razões pouco edificantes.

Seja como for, ninguém abalará O meu Rigoletto de eleição:


(EMI 0724355632722)

Para que conste, na prateleira da (vasta) discoteca cá de casa, há mais cinco interpretações da citada ópera: Bonynge, 1971; Gavazzeni, 1969; Kubelik, 1964; Perlea, 1956 e Solti, 196..

Para mais tarde, fica prometida a crítica da récita.

Espera este escriba que o melhor da noite não seja um simpático repasto, na Brasserie de l’entrecôte, comme d'habitude...

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Bolas de sabão



A noite fora deveras turbulenta: tosse interminável, entrecortada por um choro sofrido, que reclamava a presença repetida, ora do papá, ora da mamã.

A fadiga, crescente, levou o pai a adiar a ida da criança para a escolinha, naquele dia de inverno mal assumido.

Surpreendentemente, o miúdo despertou cedo, com uma boa disposição inusitada, para quem apenas tivera escassas horas de repouso. De imediato, o pai fez seu o sentimento de bem-estar que o pequeno mostrara.

Juntos, seguiram para a escolinha.

Ao chegar ao destino, o pai, apressado, justificou o atraso: “Sabe... ele dormiu mal.. passou a noite mal... Ele e os pais!”.

O milagre deu-se então.

Ao fundo do pátio, encostada a uma parede, uma criatura adulta fazia magia: soprava bolas e mais bolas de sabão, que os miúdos procuravam alcançar, num clima de absoluta euforia e interminável excitação.

Num ápice, o miúdo largou o colo do pai, lançando-se na caça às bolas de sabão.

Perplexo, o pai seguia a pequenada com indisfarçável gozo. Os providencias óculos de sol disfarçavam as rebeldes lágrimas que lhe brotavam dos olhos.

O filho ensinara ao pai a primeira lição.


Desmancha-prazeres

Só para que conste, este não é um Tristan und Isolde de eleição, apesar de Barenboim, apesar de Meier e apesar de Jerusalém...


(ainda) O Tristan und Isolde milanês

Embora a imprensa americana não embarque totalmente na onda entusiasta, a Europa mantém a sua toada de deslumbramento, em resposta à histórica produção da citada ópera de Wagner, que o alla Scala revelou ao mundo, a 7 de Dezembro, Ano da Graça do Senhor...

«The offstage distractions instantly ended once Mr. Barenboim picked up the baton. He led a grave and shockingly intense performance, one all the more remarkable considering that half of the opera’s starring duo was a disappointment.

The veteran mezzo Waltraud Meier was Isolde. She was marvelous. A poised, unflaggingly intelligent musician able to call upon reserves of power, she sang without glamour but with her familiar drama and intensity. Tristan was Ian Storey, a British tenor favored by Mr. Barenboim who must have been suffering from nerves in his first time singing the part at La Scala.


It’s an impossible role, it’s true, but Wagnerites know not to expect perfection. With a pleasant, warm voice Mr. Storey struggled to rise above the orchestra and to heights of passion. Grizzled and enormous, he looked the part, at least, and he acted decently.

Mr. Chéreau, the distinguished director, proved how much acting counts. He stripped away all the usual silly Wagner theatrics and had the cast make every little movement count too. The chorus stayed in the background, stirring unobtrusively. Shifts of gaze and small gestures conveyed deep emotions. After the doomed lovers drank the fateful potion in Act I, they separated, lingering nearly motionless for several minutes, waiting to die, before Tristan, approaching Isolde, slowly fell before her, bowing his head, which she gently touched as Wagner’s famous love theme swelled.

That subtle exchange of gestures was then echoed hours later, at the instant that Tristan really does die, a moment whose authenticity stunned the audience. There was another moment like it, when Tristan admitted to King Marke his betrayal with Isolde, and the two men silently embraced, a clench that would have seemed inexplicable had it not already been made clear, in all sorts of unspoken as well as spoken ways, just how much they still loved each other as virtual father and son.


A few Italian critics grumbled during intermission about that embrace, and also about Richard Peduzzi’s gray-on-gray sets, which actually dovetailed nicely with Mr. Chéreau’s moody, uncluttered direction. This is one of those operas that prosper without too many stage pictures, and the pocked, whitewashed ancient brick wall that was the production’s scenic leitmotif, along with a few cypress trees and a rusty, fog-shrouded freighter, sufficed to evoke an industrial, remote northern clime of indeterminate modernity. The mood vaguely brought to mind an Ingmar Bergman movie. Wearing long dusters, black and white respectively, Tristan and Marke strode around like a pair of stoic, depressed Scandinavian sailors.


As Marke, Matti Salminen, his mature voice sometimes hoarse, befitting the part, performed magnificently. The audience yelped and stomped during his curtain call. Michelle DeYoung, the gifted American mezzo, brought tenderness to Brangäne, Isolde’s attendant
.
» (in The New York Times)


(Daniel Baremboim, o Maestro)

«(...) mais la plupart à l’instar des grands de ce monde, ont été subjugués par la prestation de l’orchestre et la direction du chef israélien qui fait couler avec une rare intensité cette lave musicale incandescente.

Un classicisme épuré

Les applaudissements s’adressaient bien entendu à l’incomparable Waltraud Meier, interprète encore insurpassable d’Isolde qui, au fil des ans, gagne en émotion ce qu’elle perd en puissance. La distribution faisait entendre Matti Salminen, magnifique basse chantante, interprétant un roi Marke bouleversant d’humanisme. Ian Storey campait un Tristan moins à l’aise dans les affres de la mort que dans le duo d’amour. La soprano américaine, Michelle DeYoung, et le baryton, Gerd Grochowski, ont fait des débuts honorables à la Scala dans les rôles de Brangäne et Kurwenal.
» (in Le Figaro )


(Patrice Chéreau, o encenador)

«Since then, concept productions of Tristan have become so much the norm that Chéreau's naturalism comes almost as a shock. Richard Peduzzi provides an industrial-era set of tall, wharf-like brick walls; the king's bride-to-be arrives on a barge, like any other cargo. The characters, drably costumed by Moidele Bickel, are very much real people, and none more so than Waltraud Meier's magnetic Isolde, radiant-sounding except at the very top. The love potion is less a lightning bolt, more an excuse for she and Tristan to reveal their feelings. It's an honest production that only falters when it brings an unwanted sense of domesticity to the love duet.» (in The Guardian)


(Ian Storey e Waltraud Meier, respectivamente Tristão e Isolda)


Entre as leituras que destacam a veia naturalista da produção, e as que insistem no classicismo (?!) da mesma, vale tudo! O melhor é esperar ansiosamente pela edição da obra em dvd...

Ao que vejo, a coisa parece mais na linha do naturalismo que, como se sabe, pretende retratar o real com "luvas de borracha", em contraponto ao realismo, que o faz... com "luvas de pelica"! Voilà, voilà!

domingo, 9 de dezembro de 2007

Teatro alla Scala: a estreia de Tristan und Isolde

Tristan und Isolde, encenado por Chéreau e dirigido por Baremboim, (re)glorificam a noite milanesa de 7 de Dezembro.

Sob o signo do triunfo, o trabalho da dupla é unanimemente enaltecido pela imprensa mundial:



«Oltre cinque ore, pause comprese, per tre atti che hanno raccontato l'idea dell'amore come forza capace di vincere ogni ostacolo. E alla fine, il trionfo: tredici minuti di applausi e lancio di fiori per Waltraud Meier (Isolde), per Ian Storey (Tristan) e soprattutto per il maestro Barenboim. Anche il regista francese Patrice Chereau e lo scenografo sono stati accolti da applausi, nonostante fra il pubblico si fossero registrate alcune critiche. » (in Corriere della Sera)



«Datato 2008 e non 1981, quello che va in scena alla Scala è un Tristano naturalistico, stilizzato, «fatto», dice Chéreau, «di persone e di corpi». Il muro su cui si apre il sipario, racconta Peduzzi, è stato ispirato, anche, dall’Origine del mondo, lo scioccante quadro di Courbet che raffigura senza censure o infingimenti un sesso femminile. Waltraud Meier ha evocato Scene da un matrimonio di Ingmar Bergman, cioè un uomo e una donna che verbalizzano in maniera minuziosa la propria crisi coniugale. «Bergman, certo, e anche gli addii e le crisi delle nostre vite personali», ammette Chéreau. «Ma la storia che raccontiamo è già tutta nella musica e nel testo di Wagner: quella di due persone che, dieci anni prima, si erano scambiate un lungo sguardo indecifrabile. Poi lui si trasforma nel peggior nemico di lei, uccidendole il promesso sposo e conducendola con la forza in moglie a un altro uomo: nella mia lettura, per una vocazione masochistica, spinto dal proprio bisogno di autoannullamento. Lei subisce l’offesa ed è, insieme, attratta da Tristan e furiosa con lui. Tutto l’atto è una preghiera perché lui venga verso la prua ed esca dall’isolamento». Il filtro d’amore che bevono entrambi al posto del veleno scatena una forza erotica inarrestabile che però, nel secondo atto, diventa «una pulsione più adulta. È venuto il tempo di parlare, di ragionare. Non si è più adolescenti». » (in La Stampa)



«(...) une histoire d'amour absolu transformée en drame sacré. Le philtre bu par les amants est aussi celui de la coupe du Graal et c'est un Tristan expiatoire qui ira s'empaler sur la lance de Mélot pour avoir trahi son roi, cependant qu'Isolde, saignant par les stigmates de son amant blessé, mourra sur son corps mort dans une transfiguration mystique.
Magnifiques, les scènes d'amour sont des extases, qui ploient les corps des amants et les affaissent comme sous le poids d'un harassement plus haut. La première et unique étreinte les a dépossédés d'eux-mêmes. Ils ne se touchent pas car ils sont unis, ne se regardent pas car ils se voient. Leur vie n'est plus qu'une agonie (au sens étymologique de "combat"). Pas un mouvement, pas un déplacement qui ne soit inscrit dans la musique. Chéreau a multiplié les allusions christiques et la découverte des amants ressemble à une arrestation au Jardin des oliviers ; les marins veillent la mort de Tristan comme des disciples.» (in Le Monde)

Patrice Chéreau concede ao El Pais uma entrevista, onde discorre sobre o trabalho de mise-en-scène de Tristan und Isolde: «En mi visión de Tristán no hay amor sexual. Es amor de otra naturaleza, más profundo, con una gran carga de misterio. Hay una exaltación erótica desde la música, sobre todo en dos momentos: el dúo final del primer acto y el principio del segundo. Es el momento en que los personajes se reconocen. La energía sexual que subyace no dura mucho. No hay relación mortal. Se introduce la fascinación de la noche y de la muerte. Hay fusión y no destrucción. En ningún caso se produce una anulación de la individualidad, sino una nueva identidad de los dos en uno.»



(fotos disponíveis no site do Corriere della Sera)


Bem vistas as coisas, do ponto de vista da encenação, a tónica de Chéreau parece ter sido posta na exaltação de um amor humano, pouco afim com os excessos românticos, que tendem a idealizar o mais misterioso e complexo dos sentimentos. Ao que parece, Patrice Chéreau explora dimensões como masoquismo, fusão-simbiótica, erotismo (ainda que sublimado), ambivalência e culpabilidade, entre outros. Ainda assim, é certo que, neste trabalho, há misticismo qb, além de múltiplas alusões crísticas.

Pessoalmente, regozijo-me com a viragem de agulhas: ao invés da enfatização da perda inexorável (noite, morte, maldição, redenção pela morte, etc.), a encenação sublinha a humanidade, apesar de adornada com laivos de divindade...

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

(o meu) Eugene Onégin

Em Fevereiro deste ano, no Met, assisti à récita que a DECCA ora publica de Eugene Onégin.

Na altura, por egoísmo declarado e assumido, não partilhei as minhas impressões com os leitores deste blog.

Pois bem, eis que a editora me passou a perna...



Longa se torna a espera...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

O anonimato de Tristan... ossia o milanês Tristan und Isolde

A escassos dias da abertura da mais mítica das salas líricas – o milanês Teatro alla Scala -, que invariavelmente tem lugar a 7 de Dezembro, eis uma notícia bombástica: o papel de Tristan será interpretado por um tenor absolutamente inexperiente, não apenas no papel titular... como em Wagner...


(Chéreau orienta Storey e Meier, durante os ensaios)

«This Friday, Ian Storey from Chilton, County Durham - son of a coal miner, grandson of a coal miner, descended as he says from "generations of miners" - will step on to the stage of La Scala to sing Wagner's Tristan on the glitziest night in the Italian operatic calendar, the traditional December 7 opening performance of the Milan opera season.»


(Daniel Baremboim)

Na première de Tristan und Isolde, dentro de dois dias, Ian Storey ladeará a experiente e formidável Waltraud Meier, será dirigido pelo grande Baremboim, sendo que a produção conta conta com um nome incontornável, na encenação operática, particularmente no que toca a Wagner: Patrice Chéreau.


(o tenor britânico Ian Storey)

«It is impressive enough that Storey should have landed such a key role in such an event. What makes it even more extraordinary are three other facts: first, that Storey has never sung Tristan before; second, that until April this year, he did not know the role at all; and, third, that this English singer rarely sings major operatic roles of any kind in his own country.»

No lugar do senhor, eu estaria a consumir ansiolíticos em barda, desde há meses...


Para o bem e para o mal, não sou cantor lírico! A única coisa que partilho com os cantores líricos – além da paixão pela voz humana – é a interpretação: eles, os líricos, revitalizam criaturas, enquanto eu apenas dou sentido ao discurso latente... Eles, na boca de cena, eu, nos bastidores, o mor das vezes atrás de um divã...

Moral da história: cada um em su sitio!
Sim, porque os analistas não estão na ribalta!

Resta-me, pois, fazer votos de sucesso: que o alla Scala e a sua trouppe voltem a brilhar como outrora!

sábado, 1 de dezembro de 2007

Luz celestial

Haverá voz mais pueril, luminosa e elegante do que a de Gundula Janowitz?

Pessoalmente, admiro as vozes femininas com sex appeal. Vozes límpidas e diáfanas, sem mácula, são para os castrados!

Janowitz é A excepção!

Por detrás da voz sublime, de timbre celestial, há uma mulher, indubitavelmente... mas não das que mais me perturbam...

Pelo vibrato dominado, pelo agudo imaculado, pelo legato de sonho, pela graciosidade e elegância:


Norma vs Fleming (!?)

Oficiosamente, há muito que sabia do desejo de Fleming interpretar o mais mortífero dos papeis belcantistas: Norma. O projecto veria a luz do dia na temporada de 2010-2011, no Met, evidentemente.

Pois bem, Renée abandonou tal intuito, não sei se com se sem razão... Lá terá os seus motivos!

«‘This is just not for me. There’s a lot of other repertoire to do.’”»

Se lamento? Claro que sim!

Se tal ideia me atemorizou? Evidentemente! Pela intérprete e respectiva gloriosa carreira.

É certo que Fleming não é uma intérprete do belcanto: falta-lhe agilidade vocal e estaleca, sobretudo. Mas... so what?! Seria uma das mais líricas e puras Normas...

Pode ser que mude de ideias, ou adie o projecto, à la Gruberová, que aos sessenta e tal anos nos ofereceu uma das mais (tecnicamente) perfeitas leituras do papel titular desta ópera de Bellini.



Go for it, Renée!!!