Prometo, prometo, tardo, tardo... mas cumpro!
Desta feita, no bem fadado fim-de-semana que ora finda, debrucei-me sobre a La Forza del Destino, na leitura de Serafin.
Recordei a mui nobre e interessantíssima interpretação de Muti.
Por ora, apenas digo, caro leitor, que esta ópera versa sobre o inexorável.
Mais, refiro que Édipo é reconvocado, nesta trama, por demais romântica e exacerbada
Verdi, à semelhança de Aïda, Un Ballo in Maschera, Don Carlo, Ernani e Luisa Miller - para citar, apenas, algumas das mais célebres óperas -, em La Forza Del Destino, alicerça a trama numa situação conflitual, triangular.
Desta feita, Leonora debate-se entre o amor genital - por Alvaro - e o amor filial - pelo Marquês de Calatrava. De notar, contudo, que o fulcro neurótico - leia-se, conflitual - da trama, uma vez mais, não comporta uma saída saudável (ou não fora ele neurótico!).
Apreciei a força (?) do deslocamento - ao invés de matar o rival, com esse fito, Alvaro fá-lo acidentalmente. So far, so good!
Aqui para nós, a força da neurose verdiana é de tal ordem, que não possibilitou uma resolução audaciosa!
Leonora, corroída pela culpabilidade da escolha, castra-se, dando entrada numa vida de clausura...
O resto? Fica para depois!
Por qual delas opto? Espere, espere, caro leitor...
Desta feita, no bem fadado fim-de-semana que ora finda, debrucei-me sobre a La Forza del Destino, na leitura de Serafin.
Recordei a mui nobre e interessantíssima interpretação de Muti.
Por ora, apenas digo, caro leitor, que esta ópera versa sobre o inexorável.
Mais, refiro que Édipo é reconvocado, nesta trama, por demais romântica e exacerbada
Verdi, à semelhança de Aïda, Un Ballo in Maschera, Don Carlo, Ernani e Luisa Miller - para citar, apenas, algumas das mais célebres óperas -, em La Forza Del Destino, alicerça a trama numa situação conflitual, triangular.
Desta feita, Leonora debate-se entre o amor genital - por Alvaro - e o amor filial - pelo Marquês de Calatrava. De notar, contudo, que o fulcro neurótico - leia-se, conflitual - da trama, uma vez mais, não comporta uma saída saudável (ou não fora ele neurótico!).
Apreciei a força (?) do deslocamento - ao invés de matar o rival, com esse fito, Alvaro fá-lo acidentalmente. So far, so good!
Aqui para nós, a força da neurose verdiana é de tal ordem, que não possibilitou uma resolução audaciosa!
Leonora, corroída pela culpabilidade da escolha, castra-se, dando entrada numa vida de clausura...
O resto? Fica para depois!
Por qual delas opto? Espere, espere, caro leitor...
9 comentários:
João,
Primeiro mil desculpas, porque a personalidade que emana das suas palavras é a de uma excelente pessoa e de tal modo o sinto que quando discordo de si, como o vou fazer, "sinto-me mau". Mas como é isso é indispensável num blog como este, aqui vai o meu comentário.
Eu não optava por nenhuma destas duas gravações, embora reconheça muito mérito à gravação do Muti. Não optava porque há melhor.
Sou um incondicional da La Forza del Destino e para mim a segunda cena do segundo acto é das coisas mais belas que se escreveu em ópera italiana.
Nem a Freni nem a Callas são Leonoras ideais. Preze embora o "Madre, pietosa vergine" da Callas ( o melhor que conheço)isso não é suficiente para contrabalançar um elenco fraco, principalmente o Tagliabue, que está velho, e a Nicolai.
As Leonoras ideias são a Price a Tebaldi. Ouvir o esplendor vulcânico da Price no seu primeiro registo da Forza para a RCA é uma benção dos céus. Existe melhor La Vergine degli angeli (uma das mais belas linhas melódicas que os meus ouvidos sentiram) do que a da Tebaldi, quer na gravação em estúdio, quer ao vivo ou no excepcional DVD de Napoles com o Corelli, Bastianini, Cristoff, Capecchi e Oralia Dominguez ! No entanto devemos conhecer mais duas gravações: a da Cerquetti, por todos os intervenientes, e a do Marinuzzi, hoje a preço baixo na Naxos, que foi a primeira e talvez seja a melhor gravação da La Forza del Destino. Todos os cantores pertencem à nata do canto italiano, portanto muito italiana e todos verdianos da primeira água. Queria só referir que o soprano e o mezzo foram os mesmos que fizeram parte do elenco que o Teatro de São Carlos reabriu as suas portas em 1947. Como vão longe esses tempos! Ter em Portugal a cantar La Forza del Destino o Gigli, a Caniglia, o Bechi, o Neri e a Stignani é obra !
Queria também referir num disco de árias verdianas a interprertação excepcional da grande Julia Varady na 2ªcena do 2º acto.
Raul
Caro Raúl.
Concordo perfeitamente que nem a Freni nem a callas são leonoras ideais. A Callas emite alguns dos sons mais feios que testemunham a sua gloriosa carreira e a Freni é um pouco lírica em demasia, aliás nunca abordou o papel em teatro o que é absolutamente espantoso tal é a dimensão da sua interpretação.... no entanto para mim são as únicas Leonoras que tornam o papel credivel para uma sensibilidade moderna graças ao magnetismo da sua interpretação. Destaco por exemplo a Callas em toda a cena inicial de oração e despedida com o pai e Freni no dueto e cena do convento e no terceto final com uma morte duma sensualidae refinadissima maravilhosamente sustentada pelo Muti. Considero este a melhor gravação do Muti em absoluto. A Tebaldi canta excepcionalmente bem a Leonora mas não suporto vê-la perder tantas oportunidades dramáticas de criar um personagem. Limita-se a cantar e ostentar uma voz bela e perfeitamente emitida, salvo alguns agudos. A Price está mais perto do papel graças ao seu timbre "corrusco" e sensual.. nocturno, se assim quisermos, que tanto convem ao papel no entanto é sempre um pouco "unidirecional", por assim dizer, e não tem a arte de criar um personagem multifacetado, contraditório, vivo!
A Caniglia tem muito temperamento mas sempre achei que cantava muito mal, pareçe-me muito vulgar... no entanto por vezes prefiro-a à placidez da Tebaldi! Não comento o resto do elenco por razões de espaço.
A despropósito morreu a Alida Valli! Snif. Snif.
João.
Algures já tinha referido a morte da "sua" Valli. Os meus sentimentos. E por que não? Quando morreu a Tebaldi, o meu irmão João,que oito anos mais novo viu da sua infância eu adorar aquela cantora, mandou-mos.
Raul
Raul,
Essa agora?! Discordar é fundamental! Não hesite um segundo!
Odeio consensos absolutos!
Quanto à La Forza, vou prestar atenção às interpretações que refere ;-)
Um abraço
Ainda a propósito desta ópera que eu adoro, vou transcrever o início e o fim de um artigo assinado por Stanley Henig e que apareceu na última página da revista Classic Record Collector (Summer 2003). Começa assim:I have an unusual confession to make: Verdi´s La Forza del Destino is my favourite opera. It is certainly not his greatest: the libretto, based on a convoluted Spanish tragedy, is absurd; and the plot, triggered by an unbelievable event, relies on a series of utterly implausible coincidences. Producers make cuts, but face a major problem. The music -- all of it -- is Verdi at his best and there are six wonderful singing roles (...).
Mais à frente refere-se a vários gravações, elogiando ao máximo a versão do Marinuzzi, sem dúvida um dos cinco maiores intérpretes de ópera italiana da primeira metade do século XIX (os outros: Serafim, de Sabata, Gui e, claro, o maior, Toscanini) e referindo o video de Nápoles com a Tebaldi de possuir um "unbelievable cast".
Termina o artigo desta maneira:
"The record guides enumeate performances with Arroyo, Callas, Caniglia, Gorchakova, Milanov, Plowright, Price e Tebaldi. I would not be without any of them: all are essential for those who love "Forza". None of the guides mentions Sena Jurinac, the greatest Leonora of them all."
Quem conhece ? Eu não, mas queria.
Raul
Caro João Ildefonso,
Pode-me explicar, se faz favor, o que é para si uma interpretação credível para uma sensibilidade moderna ?
Raul
Caro Raúl
Vou tentar ser breve porque estou a trabalhar. Uma interpretação "credível para uma sensibilidade moderna" seria para mim um interpretação vária, detalhada na análise da psicologia do personagem, livre de esteriótipos interpretativos por muito populares que eles sejam. Em suma, posso dar um exemplo, comparar a Gilda nas gravações dos anos 50 antes da Callas por um soprano ligeiro como por exemplo a Roberta Peters e o mesmo personagem anos mais tarde pela Scotto numa época em que a sua voz era essencialmente a dum soprano ligeiro também. Ambas são muito bem cantadas mas a primeira cinge-se a ser bonita, cativante e a fazer tanta pena enquanto a outra nos confronta com um personagem real ou pelo menos muito verossímel.
Co tempo explicarei melhor se o Raúl assim o desejar.
J. Ildefonso.
Caro João Ildefonso,
Que comparação !!!
Comparou-me a Gilda da Peters com a da Callas e a da Scotto !
A Gilda da Peters com a sua voz mecanizada, qual canário, ilustre representante, mas fraco, dos sopranos-ligeiros, é uma Gilda que pela voz, para mim, não pode subir a qualquer pódium de comparações.
Na longa lista de Rigolettos gravados há dois que se salientam e se sobrepoem a todos os outros, precisamente os do Serafim com a Callas e do Kubelik com a Scotto -- claro que não é só elas e os maestros, são-no também as fabulosas, excepcionais, interpretações do Gobbi e do Diskau, para já não falarmos dos perfeitos Duques do di Stefano e do Bergonzi --, onde estas ditas senhoras através das suas vozes excepcionais, cheias de variações cromáticas, intérpretes totais, interpretam as melhores Gildas de tudo que há gravado.
As vozes da Callas e Scotto são eternas, enquanto a da Peters, correspondendo a um público que vai à ópera para ouvir notas agudas e sopranos tipo canário, essas vozes desapareceram e foram precisamente acabadas com a chegada aos estúdios da Callas`. É de ler a introdução do especialista callaciano Jonh Ardoin na sua introdução aos seu livro "The Callas Legacy".
Por favor, arranje-me outros exemplos de comparação.
Amigos, cobloguisticamente falando, OK? :-)
Raul
Raul,
Essa da Jurinac é que me deixa sem palavras! Também a desconheço :(((
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