quinta-feira, 9 de fevereiro de 2006

Fundo de catálogo...

Dissoluto feliz por recuperar pérolas há muito perdidas!

Dimitrova, recentemente falecida (como aqui se noticiou, com mágoa), justamente homenageada pela EMI, que (re)edita árias de ópera de Puccini e Verdi.


(EMI 0946 3 41436 2 2)

Ghena Dimitrova foi O soprano dramatico de agilitá dos idos anos 1980.
De voz opulenta e grande, rica em dinamismo e força, pobre em flexibilidade e brilho, Dimitrova foi Abigaille, Lady Macbeth, Turandot, Giselda (I Lombardi), entre outras grandes figuras da ópera; destaque, ainda, para a sua Amneris, cuja interpretação fez furor, nomeadamente ao lado de Chiara e Pavarotti.

Para mim, notabilizou-se em Verdi, sobretudo.
Wagner poderia ter sido seu, se dominasse a língua de Goethe... assim não quiseram os deuses...


(EMI 7243 5 74803 2 1)

Recuando até à década de 1950, a única grande rival de Della Casa, interpreta os mais intimistas lieder de Mozart.

De voz graciosa e expressiva, de uma nobreza invulgar, Schwarzkopf era senhora de um timbre aveludado, algo pueril.

No território lírico mozartiano, a meu ver, jamais teve rival!
(gosto destas afirmações peremptórias, para ver se crio polémicas!!)


...Punito regressa à carga, mais tarde, para tecer considerações sobre a Norma (da colecção do Expresso)... e sobre o eternamente adiado Don Giovanni da dupla Muti / Allen, em dvd...

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

Má Língua

Em Paris, prossegue a louvável - embora desigual - cruzada wagneriana.

Siegfried enferma de voz e música - elenco e direcção medíocres -, afirmando-se visualmente: Wilson, fiel ao espírito de Wieland Wagner, concebe um espaço estático e depurado, num exercício de minimalismo (exacerbado?!); embora menos "majestoso" do que habitualmente, Bob Wilson mantém-se fiel a uma lógica cénica característica, que parece começar a tornar-se repetitiva...

Em Nova York, Gheorghiou encarna o seu papel fétiche, depois da novela de há oito anos, que culminou com a sua "dispensa" do Met...
(das generosas palavras do critico do New York Times, permito-me duvidar...)

Villazón deslumbrado, vencido pela mania, vai a todas (Schumann desigual, em Nova York, depois de um Massenet pouco convincente, em Nice).
Ouvi dizer que fundou uma associação de estrelas "Ursa Menoríssima", com Netrebko e Gheorghiou...
(não se ponham a pau...)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2006

Baba...

Dissoluto embevecido desvia-se do curso operático - não por muito mais tempo - em ordem a assumir / fruir da paternidade...

Entrementes, mais algumas imagens do rebento...

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

terça-feira, 31 de janeiro de 2006

O milagre da perfeição

Comovido até ao âmago, declara-vos o Dissoluto ter o complemento visual da mítica interpretação de Don Giovanni, que Giulini dirigiu em 1959.


(OPUS ARTE OA LS3001 D)

Num universo dominado pelo classicismo cénico, sob o signo do requinte e distinção, Muti confirma a sua autoridade (mozartiana) inquestionável, eternizando a mais extraordinária interpretação vídeo de Don Giovanni.

Allen aristocrático, Gruberová divina, Murray absoluta...

Outras considerações virão, depois deste rol de epítetos!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

Recentração narcísica

(ainda a propósito da nova produção de Don Giovanni, em Paris)

Dissoluto feliz, pois que sobre ele não cessam de opinar!

Quando uma mise-en-scène dá que falar...


[Repito: virtuoso aquele que aguarda estoicamente por nobres palavras, quando de ALLEN se trata...]

Dissociação wagneriana

Em Paris, em território wagneriano, prossegue a inexorável clivagem: nos antípodas do belo traçado de Bob Wilson, a (parca) voz e a (desigual) direcção de Eschenbach.

Don Giovanni e a ubiquidade

Entretanto, prossegue o amor do dissoluto pelo seu reflexo (à la Narciso...): Don Giovanni chocante, em Paris - ainda que paradoxalmente defensivo; Don Giovanni "oferecido", em Madrid (em formato semelhante às dispensáveis "oferendas" do Expresso, dado tratar-se de um Giulini de segunda, em nada comparável ao primmo!!!); Don Giovanni requintado e (muito) teatral, em Milão, podendo ser visto em reprise - é certo -, mas em qualquer lugar!

Moral da história: "DON GIOVANNI É QUANDO UM HOMEM QUISER" !



[Allen fica para depois, qual cereja encimando um bolo, prometo!]

domingo, 29 de janeiro de 2006

O Don Giovanni

Il Dissoluto Punito apresenta-vos O Dissoluto Punito!



"Espelho meu, espelho meu, haverá Don mais Don do que eu?"

Sir Thomas Allen é o maior Don Giovanni que o final de século viu (depois de Siepi, claro está!).

Uma afirmação deste calibre, tão peremptória, carece de fundamento, não?

Carmen, la Sapatona

Segundo volume da colecção GRANDES ÓPERAS, esta semana, o EXPRESSO propõe um desastre...

A Carmen da Obraztsova é horripilante!
A evitar, a todo o custo! A menos que o público alvo seja da linha lésbica...


(Elena OBRAZTSOVA)

Há meia dúzia de anos, assisti a uma Carmen, na Bastilha, com a magnífica Borodina na pele da heroína. Apesar da soberania vocal desta criatura, a interpretação foi desastrosa... Não imaginei que pudesse haver pior!

Pois... eis que Elena Obraztsova prova que o mau é (quase) sempre transponível e ultrapassável, no pior dos sentidos!

Nunca ouvi uma Carmen deste calibre! Mais parece um camião sonoro: bruta, áspera, máscula e feia, sem brilho, nem sedução.

Bem sei que a mezzo russa era senhora de uma pujança e potência vocais estrondosas. Provavelmente, em Verdi, fez sucesso!

Pergunto-me em quem a dita senhora se inspirou para interpretar uma das mais magnéticas e sedutoras figuras da ópera?!

Confesso que a Carmen não é uma obra da minha predilecção - longe disso! Ainda assim, raramente resisto à lascívia e sensualidade que adornam e envolvem a personagem titular da ópera...

Felizmente, Carmen´s com os atributos descritos, não faltam: Berganza, De Los Angeles, Baltsa e Price, entre outras.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

Mozart Lírico puro

Severamente Punito seria um anónimo Dissoluto, se ousasse passar em claro sobre as comemorações do 250º aniversário do nascimento do seu criador, mestre MOZART.

Mestre, mestre, como te venero!

Como contribuir para as ditas comemorações, que perpetuam o génio singularíssimo de um criador que marcou, como poucos, o curso da história da lírica?

Na ausência de rasgos criativos, aqui vai uma reflexão sobre a voz mozartiana.


A ópera mozartiana, na sua essência, é uma arte de câmara, sendo avessa a grandes espaços; trata-se, portanto, de uma criação em tudo antagónica à ópera romântica, que convoca vozes grandes, potentes e ágeis.

Sendo uma ópera clássica, dos seus intérpretes, exige-se equilíbrio, harmonia, rigor e elegância. Nada de potência, extensão ou grande ornamentação!

Falíveis que são as generalizações, arrisco identificar a interpretação vocal mozartiana com o registo lírico puro que, aqui e ali, demanda um carácter, ora mais buffo, ora mais serio; eis, apenas, alguns exemplos: soprano lírico (Donna Elvira, Fiordiligi, Contessa, Susanna, Pamina, Zerlina, Blonde, Ilia), tenor lírico (Ferrando, Don Ottavio, Tito, Lucio Silla, Mitridate, Tamino, Pedrillo, Idomeneo), barítono lírico (Don Giovanni, Fígaro, Conte, Guglielmo, Leporello, Papageno, Don Alfonso).

Fora destas categorias permanecem personagens de tessitura mais grave, actualmente enquadráveis no domínio mezzo (Sesto, Dorabella, Cherubino, Cecilio) e baixo (Commendatore, Sarastro. Osmin).

Ainda à margem do lírico puro, encontram-se sopranos líricos ágeis (Konstanze, Giunia, Donna Anna, Elettra) e sopranos ligeiros (vulgo coloratura, como sejam a Rainha da Noite e Aspasia).

quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

Tiraram-nos o tapete!

Eis uma péssima notícia para os amantes da lírica wagneriana que, como eu, tencionavam assistir à soberana produção de TRISTAN UND ISOLDE, da dupla Sellars / Viola, no Lincoln Center, em New York, eventualmente por escassos dólares...

Ao invés, as récitas terão lugar em Manhattan's Seventh Regiment Armory on Park Avenue.
A justificação é absolutamente anedótica!!!

Os bloggers americanos estão em fúria.

Solidário com a fúria e ira americanas, exprimo a minha luso-francófona indignação!!!

275 USD para assistir a uma récita???

ARE YOU NUTS?!


Dusapin: Faustus, the Last Night

O obra maior de Goethe - Fausto -, ao longo da história da lírica, tem servido de base a inúmeras criações (Gounod, Schumann e Spohr, entre outros autores).



O compositor francês Pascal Dusapin (1955 - ), que acaba de estrear a sua quinta composição lírica - Faustus, the Last Night -, em Berlim, na Staatsoper, ao invés de se basear em Goethe, apoiou-se em Marlowe, cujo Fausto antecedeu o do mencionado Goethe, para além de contar com contributos extraídos de outros textos.

A concepção heterodoxa da figura de Fausto, d´après Dusapin, parece enfatizar a dimensão mais catastrofista e negra da natureza humana.

A imprensa francesa tem dado algum relevo a este acontecimento operático, como atestam estas páginas do Le Monde, Le Figaro e L´Express.

Os curiosos poderão assistir à estreia francesa em Lyon (Março 2006) e na Ville Lumière (Novembro de 2006), no Châtelet.

Depois de oito minutos de aclamação, na estreia, outras reacções se seguirão. Presumimos...

À suivre.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

No Met, uma vez não são vezes!!!

A excepção que confirma a regra (da quase-perfeição) da mítica sala nova-iorquina.

Des nouvelles prises de rôle


(Nathalie DESSAY, au-delà de la colorature)

À tout moment, les amants de la lyrique sont prêts à se plier devant un talent de cette mesure.

Quel bonheur, d´apprendre ses nouvelles incarnations scéniques, parmi lesquelles figurent, notamment, Marie (La Fille du Régiment), Pamina, Lucia (pas Lucie !) et Violetta (rôle titre de La Traviata), la plus risquée d´entre elles, d´après moi !

demais desinteresses

- O que pensa dos resultados eleitorais?

- Rés-vés Travessa do Possolo, responde um blogger enlutado, com poucos motivos de Alegria.

domingo, 22 de janeiro de 2006

Defesas Maníacas

As ditas defesas constituem uma hábil e eficaz estratégia de luta contra a depressão.

Numa clara antecipação ao afundamento depressivo (político) que se avizinha, mercê de uma viragem que se adivinha, enveredou este blogger por uma linha de hipomania, em que o bem-estar se aliou às compras...

Vamos a factos: o surto saldou-se em mais um par de sapatos (botas, desta feita, de refinado corte!) e uma extensa e eclética lista de cd´s, que atingiram a cifra de 1005 - após a aquisição da dita lista... -, além de um (dispensável) jantar, chez Olivier à Bairro Alto, plutôt médiocre.

Dado que as águas teimam em não rebentar, o saldo de boa disposição mantém-se mediano, sendo que a dita lista de cd´s pesa em favor do humor eufórico, com o precioso auxílio das citadas botas (que não cessam de me envaidecer!).

Eis a repetidamente mencionada lista de cd´s:


(Le Nozze di Figaro, Levine)

(La Grotta di Trofonio, Rousset)

(La Clemenza di Tito, Kertész)

(Boulez conducts Ligeti)

(Sylvia Sass - Classical Recital, Gardelli)

(Die Ägyptische Helena, Botstein)

(Frederica von Stade Sings Mozart & Rossini Arias)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

Wagner vanguardista...

Aqui há tempos, por altura do (meu subjectivíssimo) balanço operático de 2005, aludi a esta proposta de Der Fliegende Holländer.

Agora, vamos a impressões mais detalhadas!




(Der Fliegende Holländer - DG 00440 073 4041, dvd)

Nesta produção, Senta assume uma centralidade polémica e discutível, em tudo inovadora.
Desde a primeira hora, esta personagem afirma-se como epicentro de toda a trama, personagem de fronteira entre o mundo real, terreno e vil - o de Daland e seus súbditos - e o espiritual, dos valores supremos, a que o Holandês aspira ansiosamente, representando-os.

Kupfer coloca-a num registo absolutamente desrealizado, entre espírito e matéria, com um mandato impossível: consubstanciar a redenção do Holandês.

Impossível porque, invariavelmente, na psicologia wagneriana - que constitui o paradigma da problemática ultra-romântica - a morte, a tragédia e o pessimismo triunfam, num cenário marcado pela inexorabilidade da perda.

À excepção de Die Meistersinger, chez Wagner, a estrutura da trama é algo inflexível...

A este propósito, diriam os psicanalistas que a elaboração da posição depressiva constitui uma miragem, num universo marcado pela ansiedade de perda, bordejando a melancolia, que Wagner veste e adorna magistralmente, com roupagens românticas, longas, pesadas e dilacerantes.

Nesta produção, que à época fez furor e escândalo em Bayreuth - antecedendo a lógica de ruptura de Chéreau n´O Anel -, apreciei muitíssimo a dimensão plástica, que se encontra totalmente submissa ao traçado da insanidade de Senta.

O mor das vezes, esta figura paira, evitando fixar-se na terra ou no céu... A saída, que se vislumbra desde a primeira hora, é a morte, materialização possível - ainda que paradoxal...-, mas insuficiente, da almejada redenção.

Ao longo da representação, todo o cenário sofre mutações, conservando Senta a sua posição central.
As cores carregadas e o corte abrupto dos cenários sublinham um clima de asfixia e temor indesmentível...
Apenas Senta irradia luminosidade, numa clara alusão à sua missão...

A meu ver, esta produção afirma-se, ainda, pela soberba direcção de actores, absolutamente convincente.

Musicalmente, este O Navio Fantasma triunfa pela soberania - embora algo monocromática - de Simon Estes, baixo americano de aparência viril e robusta.
A voz escura e ampla irradia um colorido emocional muito próximo do desespero. A mímica, não sendo muito rica, é convincente.


(Simon Estes, na pele de Holandês)

O Daland de Salminen é primoroso dramaticamente!
Não entendo o que fez este notável baixo finlandês virar-se para Mozart, anos mais tarde, quando as suas interpretações wagnerianas se afirmavam pela excelência...
Salminen evidencia, com inegável mestria, a ganância vil e escabrosa que domina o pai de Senta. Até no riso é soberano!


(Matti Salminen, como Daland)

Quanto à Senta de Balselev... será, a meu ver, a mais paradoxal das intérpretes.
Se é verdade que triunfa na materialização da centralidade que o encenador lhe atribuíra, compondo uma insana de antologia, que domina toda a trama, vocalmente a sua prestação ronda a mediania.
A voz, que não é particularmente bela, conta com uma técnica hesitante e com meios limitados - falta de extensão e flexibilidade, sobretudo, além de um vibrato mal controlado.
Ainda assim, o seu colossal talento cénico coroam de glória a sua prestação.

As prestações de Nelsson e da orquestra pareceram-me correctas, sem mais.
Se é certo que a fluidez e a homogeneidade pautaram a prestação de ambos, certa é também uma notória falta de brilho e robustez dramática.

Em meu entender, não sendo este O Navio Fantasma primoroso no que à musicalidade concerne - haverá algum melhor do que o de Dorati (DECCA 455 904-2) ou mesmo o de Reiner (NAXOS Historical 8.110189-90), com Hotter e Varnay nos papeis titulares ? -, merece um lugar ao sol pela ousadia de uma produção absolutamente vanguardista (à época...)

***
Uma palavra de apreço a Henrique Silveira (do Crítico), pela simpática referência a este blog!
Quanto a Wagner, meu caro... temos a vida toda para dele falar...
Pode ser que nos encontremos pelas bandas de Bayreuth, Glyndebourne... ou Lisboa (por ocasião d´O Ouro do Reno, esta temporada), porque não!?

Ligeti perseguido pela terceira criatura, na Big Apple

Entrementes, Il Dissoluto Punito, irremediavelmente vitimado por francesite e operite crónicas, parte rumo a New York, na peugada de Ligeti...

O magnânimo húngaro, homem assaz experimentado em fugas, escapa-lhe, levando consigo a cenoura sonora, chamariz irresistível, que desencadeia na dissoluta criatura manifestações incontroláveis, além de absolutamente imprevisíveis...

Moral da história: ainda não é desta que o insano punito coloca as ganfias na mais-que-apetecível interpretação realizada por Salonen de Le Grand Macabre...

Punito enlouquecido - mas não vencido! -, por ora, resigna-se.

Melhores dias virão...


Jean Reno à l´opéra !!!



Ma tête n´arrête pas de tourner: Jean Reno, artiste d´un talent immense et incontestable, semble changer de métier, que pour une courte période.
Ouuuuuuuuf ! J´en suis soulagé !!!



Lui qui s´est consacré au grand écran, soit comme protagoniste de Léon, soit dans un rôle secondaire, certes (mais pas pour autant moins remarquable !), sur Le Grand Bleu, notamment, de nos jours, signe la nouvelle mise-en-scène de Manon Lescaut, de G.Puccini, à l´affiche à Turin.

Surprenante incursion dans un métier autre que le sien, d´autant plus que l´acteur se lance dans un terrain tout à fait différent de l´industrie du cinéma!!!

Comment s´en sortira-t-il ? Bientôt, on verra ce que la critique en dit!