segunda-feira, 4 de maio de 2009

Il Ritorno di Pinamonti in Patria ossia O Lobby de Paolo



Paula Moura Pinheiro entrevistou ontem, a pretexto de tudo e nada, em exclusivo, o ex-director artístico do Teatro Nacional de São Carlos (TNSC). O Ministro Pinto Ribeiro, em toda a sua irrelevância, à vol d’oiseau – assim Pinamonti fez constar… -, pediu amiúde a opinião do italiano, a respeito da pretérita gestão do TNSC.

Dois, mais dois são…

É óbvia a interminável movimentação palaciana: o último dos dignos directores do TNSC insinua-se e o lobby Pinamonti actua, com eficácia. É bem verdade que a actual conjuntura se revela favorável ao retorno do senhor: a presente direcção artística do São Carlos não tem paralelo, em matéria de incompetência. E mais não digo sobre o labor de Christoph Dammann.


Com a distância possível, não deixo de constatar uma evidência inabalável: Pinamonti é por (quase) todos idealizado. Os que contra ele praguejavam na blogosfera – os mais antigos nestas andanças da net – são os mesmos que o enalteceram, por ocasião da não recondução do italiano, à frente dos destinos do TNSC. A natureza humana tem destas incongruências.

Pela parte que me toca, mantenho a minha posição de há anos. Paolo Pinamonti foi o mais relevante director artístico que o São Carlos viu nas últimas décadas. Fez o possível e impossível com o curto orçamento de que dispunha. Revelou criatividade e ousadia – Der Ring, Werther, Wozzeck, Il Trovatore, La Traviata, Otello -, entre outras virtudes. Mas, a bem da verdade (!?), há que reconhecer o outro lado da moeda: inúmeras foram as suas opções mediana (algumas bem medíocres): Cosi fan Tutte, O Turco em Itália, Manon Lescaut, Ariadne auf Naxos, etc.

Evidentemente, o retorno de PP à ribalta agrada-me sobremaneira, mas não sejamos tão provincianos…


26 comentários:

J. Ildefonso. disse...

O curto orcamento de que o Pinamonti dispôs foi superior ao que qualquer outro diector antes dele dispôs. E ao contrário do que o Dr. Pinamonti afirma herdou uma Instituição sem problemas financeiros o que sucedeu pela primeira vez em toda a sua história.
Desculpem mas parece que não houve Ópera em Portugal antes do Pinamonti!

Anónimo disse...

Se o Pinamonti foi o mais relevante director artístico que o São Carlos viu nas últimas décadas, então, temos, de facto o que merecemos, actualmente.
Em Portugal come-se demasiado queijo, razão pela qual já se considera o Pinamonti o maior e o Paulo Ferreira de Castro até nem existiu...

Il Dissoluto Punito disse...

Anónimo,

O Paulo Ferreira de Castro existiu e recordo-me muito bem dele, como um mero anónimo: irrelevante, mais para o deslavado...

J. Ildefonso. disse...

Galamba estás a ser muito injusto. Para quem se diz apreciador de ópera e belas vozes despachar com esse comentário quem fez o melhor Fidelio, Troianos, Lucia, Puritanos, Jenufa que vimos por Lisboa e contratou o Merrit, Voigt, Gergiev, Gruberova, Milo, Tomowa Sintov, Studer, Terfel, etc realmente concordo que "deve comer muito queijo"! Quando é que nos últimos tempos ouvimos cá uma voz comparável às referidas?

Il Dissoluto Punito disse...

João Ildefonso,

Sim, sim... Não te esqueças é de elencar as tragédias: uma Norma de fugir, uma Butterfly de provincia, um Orfeo nos Infernos digno da ópera da Reboleira, um Os Mestres Cantores de bradar aos céus, um Don Giovanni mediocremente cantado.

Quanto às imensas virtudes que enumeraste, nada tenho a objectar! Acrescenta à lista o Parsifal e a Ariadne, a Sonâmbula. Mas, por favor, retira a Lucia! Dizem que a Jo parecia um rouxinol e nada mais!

Um abraço

Anónimo disse...

Quantas produções teve o Ferreira de Castro?
Sei que foram em número significativo, embora não saiba precisar. Parece-me natural haver alguns falhanços. Nem a vida daqueles que se gabam de sucessos está isenta de fracassos.
A máquina de marketing que rodeia o Pinamonti só é ignorada por quem quer, creio.

Maria Helena

J. Ildefonso. disse...

Não é bem assim. A Sumi Jo pareceu o que é. Um soprano lirico/ligeiro musicalmente irrepreensivel. E pergunto eu quem poderia cantar a Lucia melhor do que ela nessa época. O D. Giovanni, já o disse, recordo como uma das maiores experiências musico/dramáticas de que me recordo. Continua a ser utilizada a produção em Basel e Lyon sempre com muito boas criticas. Cá não gostaram. Lembro-me também do Tritico. E dos concertos. A Bartoli, estava a sala a meio! A Kasarova, Simon, o Geda, a Los Angeles....
Porque é que ninguém fala dos desaires do Pinamonti. Gostaram da Adina? E do Abu-Hassan? Gostaram do Macbeth? Gostaram do Simão e do Otello? Eu não gostei mesmo nada! Gostei muito do Boris, do Cavaleiro Avarento e da Feiticeira. Mas fazendo o balanço ganha sem duvida nenhuma a antiga direcção.

Hugo Santos disse...

Qual a ópera que a Cheryl Studer cantou no São Carlos na era Paulo Ferreira de Castro?

Raul disse...

Essa Lucia eu vi-a e toda a representação foi muito positiva. Lembro a presença muito razoável do Fardilhe, para não falar na Sumi Jo que não é a Dessay, mas faz uma boa Lucia convencional.
Quanto ao Don Giovanni, não sei se estão a falar da encenação absolutamente idiota do Teatro de Genebra e que remetia para um mundo de marionetes, com as personagens aos saltinhos. Mas lembro-me também que o que eu lamentei mais foi o facto de esta encenação estar a desvirtuar uma boa prestação vocal de que se destacava o Natale de Carolis, o José Fardilhe, a Alexandrina Pendatchanska e a muito conhecida Barbara Frittoli.

Il Dissoluto Punito disse...

Hugo,

As 4 últimas canções de R. Strauss

Il Dissoluto Punito disse...

João,

Eu falei das fragilidades vocais do Don Giovanni, não da encenação - A. Freyer , de que muito gostei!

Paulo disse...

Finalmente consegui ver a entrevista do Pinamonti.

Esta discussão tem graça. Agimos como se o despedimento com justa causa do sr. Dammann já estivesse garantido. Bom, no contexto actual, considero que seria melhor ter o Pinamonti de volta à frente do TNSC que manter aquela direcção.

Contudo, não consigo endeusar o Pinamonti e tendo a concordar com o J. Ildefonso. Antes de Pinamonti houve Ferreira de Castro e antes dele houve Ribeiro da Fonte. Mas para não irmos tão atrás fiquemo-nos por Ferreira de Castro, que, ao contrário de Pinamonti, não dava a primazia aos encenadores. Não havendo dinheiro para tudo, optava-se pelas vozes. E foi com ele que pudemos ouvir alguns excelentes cantores (incluindo a Sumi Jo na Lucia e numa Zerbinetta inesquecível) já mencionados nos comentários acima.

Diz Pinamonti na entrevista que o limite para as actualizações é o bom gosto. O dele parece-me muito discutível (ler G. Vick: a "Manon Lescaut" foi tenebrosa, o "Werther" dos anos '50 perdeu a aura romântica e do "Anel" nem é preciso falar). E insisto, não é para ver a criatividade de um encenador que vou à ópera, mas sim para ouvir bons cantores e música bem interpretada. Se isso falha, não há encenador que salve a noite. E quanto maior o disparate, pior.

Raul disse...

Eu nem entro na discussão dos directores, pois para mim houve um: João de Freitas Branco. O resto, é como em relação aos encenadores, dou-lhes pouca importância. Sobre as óperas que vi, falo, sem saber quem dirigia o S.Carlos na altura.
Eu vi o Simão e o Maestri foi muito bom, lembrando muito, pelo timbre, o Gobbi. Não é nenhum exagero e sei o que estou a dizer. Quanto ao resto do elenco, houve certo equilíbrio. Lembro o tenor que cantou muito bem, a soprano, de que gostei, ao contrário de uma Liu posterior. Só o Fiesco e o Paolo é que deixaram muito a desejar, principalmente o Paolo.
Sobre o Don Giovanni, só gostava que me explicassem por que é que o encenador tem de transformar o cenário num palco de marionetes. Odiei.

J. Ildefonso. disse...

A Studer não cantou ópera no S. Carlos. Em plena forma vocal cantou um recital de Brhams, Malher, Schubert e talvez Schuman também. Não estou em casa não posso confirmar e consultar o programa.

J. Ildefonso. disse...

Os 4 últimas canções da Studer foram mais tarde e já noutra época e se bem que bastante dignas a Studer já tinha perdido parte da magia da sua voz. Ficaram aquém das 4 últimas canções da Voigt e Polaski que por cá as tinham cantado nos dois anos anteriores.

J. Ildefonso. disse...

Só me começei a interessar por ópera nos anos 90 e por isso só sou espectador do S. Carlos a partir dessa época e só posso comentar com conhecimento de causa da direcçaõ do Paulo Ferreira de Castro em diante. Lembro-me da primeira vez que assisti a um concerto no S. Carlos. Dois cantores miticos. O Gedda e a Vitoria de los Angeles! Foram tempos dificeis. Lembram-se do regime dos duodécinmoa? Deve ser terrivel programar uma temporada com meses ou anos de antecedência nessas condições. Só por isso!
E também houve espaço para os portugueses. A Ana Ferraz no Tell, a Ana Paula Russo no Rouxinol, a Matos no D. Giovanni e Bhoéme, a Elsa Saque no Falstaf, a Elevira Ferreira no Fidelio, o omnipresente Carlos Guilherme que muito admiro e estiveram todos muito bem a cantar paeis dentro das suas possibilidades e caracteristicas vocais.

Raul disse...

Meu caro Paulo,
Sábias palavras as suas:
" E insisto, não é para ver a criatividade de um encenador que vou à ópera, mas sim para ouvir bons cantores e música bem interpretada. Se isso falha, não há encenador que salve a noite. E quanto maior o disparate, pior."
Se assim fosse, o mercado de CDs seria irrelevante.

Raul disse...

Embora, como já disse, não me interessar muito por directores e sendo absolutamente neutral, penso o seguinte, partindo de que as duas opiniões estão ao mesmo nível:
se um dos directores gasta mais nos cantores do que nos encenadores e ainda por cima é português, faz todo o sentido que seja preferido em relação ao outro que sobrevaloriza a encenação (vá para o teatro) e é estangeiro.

Paulo disse...

Ora aí está, caro Raul. A questão é que são os directores quem decide e quem define a estratégia do teatro. Também me seriam indiferentes os nomes deles se não tivesse que sentir na pele os estragos que eles podem causar.

Mr. LG disse...

… e se olhássemos a nossa vizinha Espanha? Como o próprio Pinamonti referiu aqui ao lado há uma RIVALIDADE SAUDÁVEL ENTRE AS DIVERSAS PROVÍNCIAS. HÁ POLÍTICA CULTURAL, ESTADO, MECENAS QUE FAZEM VIR MCVICAR, CARSEN, CHEN KAI GE, DOMINGO, MEIER, URMANA, BECZALA, SALMINEN, GULEGHINA, BOTHA, HERLITZIUS, ABDRAZAKOV, FIORILLO, ARMILIATO, DESSI, DEAN SMITH, CAROSI, CORNETTI, KOMLOSI, FURIA DEL BAUS que encena o RING no Maggio Musicale Fiorentino e que depois o vêm mostrar a Valência… que é só a 3ª cidade maior de Espanha!...
…Maestros??: MAAZEL, MEHTA, WEIGLE…
Festivais??: a Ópera de Bilbao está a realizar um Festival TUTTO VERDI…
Porque é que Elisabete Matos faz carreira lá, porque é que lá há o mínimo de projecção internacional para um cantor lírico português??...
Etc., etc., etc....
Porque este país continua a ser um país de segunda ou Terceira categoria! Porque este país continua a considerar a cultura como uma coisa desnecessária e não rentável para todo o tipo de Orçamentos possíveis e vindouros, porque Música clássica é música secante e com gajas gordas aos berros… mas muito chique de se referir em conversas do social!...
Enquanto o Status Quo vigente for este, este país que só se revê nas glórias futebolísticas do CR7 e em como ser famoso, aparecer nas Revistas e na Televisão,Freeports e notícias corruptas afins, PORQUE (acham!) QUE ISSO É QUE É CULTURA, FORMAÇÃO E INFORMAÇÃO!!… TEM BEM O TEATRO LÍRICO QUE MERECE!!
… Christoph Dammann ou Pinamonti, muito lobby Graham Vickiano??...
Meus caros Bloggers, isto não interessa a ninguém!!... vão ser os nossos políticos (leia-se PULHÍTICOS) da nossa provincianíssima praça a decidir por nós, em nome dos lobbies políticos que representam e não da CULTURA E GOSTO! Que nós representamos. Metamos isto na cabeça: o problema é político e social, MAI NADA!!...
Enquanto esta QUERELLE DES BOUFFONS continua, na nossa vizinha Espanha…
Desculpe qualquer coisinha Dissoluto.
O seu costumeiro,
LG

Sr. José Mlinsky disse...

Nem mais!!!!!!!
Certíssimo caro LG.
A ignorância continua a reinar e o pilim a faltar.
Os pulhíticos(eh!eh!eh!essa é boa!!!!) continuam analfabrutos e enquanto assim fôr...!!!
Vocês que gostam de música clássica e ópera em particular andam preocupados e desgostosos com o estado das coisas, imaginem os que trabalham no S. Carlos e que têm de apanhar todos os dias com incompetências,gestões mediocres,desorganização geral,maus maestros e piores cantores,más condições de trabalho,etc.Qual a orquestra que pode resistir a isto?Como se pode assim fazer simplesmente...Música?
Por isso o xanax é tão popular!!!!!

Saudações Musicais

Anónimo disse...

Raul,

João de Freitas Branco, um SENHOR, UM ARISTOCRATA!!!
Que saudades...

Raul disse...

Sim, graças a João de Freitas Branco vi a Nilsson em S. Carlos em 1976 e na quarta fila da plateia, mas isso já não tem nada a ver com aquele eruditíssimo homem. O lugar que ele deixou, infelizmente, ninguém ainda o ocupou.

Anónimo disse...

Há muito que o mercado de cd em ópera é irrelevante, a ópera não é música, é espectáculo, não perceber logo isto é começar mal qualquer raciocínio.

M.BOY disse...

Todas as pessoas que frequentam este blog ficaram felizes com uma possível volta do antigo director. Sobre o senhor, devo de confessar que não tenho uma opinião formada! mas existe uma coisa que todos devemos ter em consideração!

O director não é nomeado por um de nós! (a não ser que o Pinto Ribeiro venha cá) E a culpa de termos um director muito mau (eu também não tenho uma opinião formada sobre o senhor) é do ministro que despediu o antigo! A verdade é que é necessário mudar o ministro e colocar uma "criatura" com uma verdadeira sensibilidade artística e que reclame dinheiro para as instituições culturais deste país! O actual director até pode ser bom (mas uma vez digo que não tenho capacidade para avaliar o seu desempenho), mas a falta de capital é um entrave a realização de uma temporada de sonho! Se deixarmos de olhar para o São Carlos por um momento vemos instituições (Palácio da Ajuda, Museu Nacional de Arte Antiga, etc) com vidros partidos, com infiltrações, com salas fechadas, começamos a ter uma noção de que provavelmente o problema sejas das políticas culturais do governo (não só deste, mas também) e porque? Por uma simples razão, cultura em Portugal não traz votantes!!!

Raul disse...

Só hoje vi o disparate do Anónimo do dia 8. É como aquelas criancinhas da Escola Moderna que só aprendem através de actividades lúdicas. E mais não digo.