segunda-feira, 27 de abril de 2009

(re)Retirada Depressiva ...

... em curso.

Descobri um ponto de encontro virtual dos (muitos, muitos mesmo) que comigo cresceram e se fizeram homens. Os antigos alunos do COLÉGIO MODERNO têm agora um dispositivo na www.

Dei-me conta que desconhecia o paradeiro de grandes amigos e colegas há mais de 20 anos.
10 anos, como dizia o outro, é muito tempo. O que dizer de 20...

Um dia todos nos damos conta que o envelhecimento é uma fatalidade.



Pergunto-me se a crise dos 40 não chegou antecipadamente a estas bandas?

Posto isto, resta-me explicitar a minha total indisponibilidade para demais reflexões, operáticas ou outras. Para cúmulo, na Ler Devagar de Alcântara - espaço que, de tão alternativo, aborrece, malgré tout - optei por duas pérolas da literatura, que ilustram o meu presente momento: L´Étranger e A Condição Humana.



O primeiro é uma releitura, agora no original.


Será preciso dizer mais?


Resta adiantar que o meu segundo e último analista – também meu mestre – via, nestas retiradas, virtudes mil: “Está a dizer-me que cresceu e cada vez menos precisa de mim. Vá à vida”.

Estranho paradoxo... Crescer e envelhecer.

16 comentários:

blogger disse...

João, isto há fases para tudo. o que interessa é que se retire sempre algo de proveitoso de todas elas. neste caso, a (re)leitura desses livros que mencionou.

Raul disse...

Li outras obras do genial Camus (A Queda, A Peste). E a propósito d'O Estrangeiro, que não aconteceu eu ler, lembro o grande filme de Visconti com o Mastroani e a fantástica Anna Karina. Vi o filme há muitos anos e julgo, que pela temática foi depois do 25 de Abril. Nunca me esqueci do herói ter feito sexo no dia do funeral da mãe. Segundo o imdb.com não se percebe que este grande filme, que certamente reconstitui a ideologia do romance, não esteja editado em dvd.
Quanto a A Condição Humana, que li há uns 10 anos e movido pela minha curiosidade de se passar na China, foi uma decepção pela inverosimilhança. Malraux veste de chineses homens cujos problemas existenciais são totalmente ocidentais. Eu cada vez mais me apercebo que somos mais iguais do que diferentes, mas não haver um grão de cedência ao Homo Sinensis, não bate certo. Pelo menos para mim que já convivo com eles há 23 anos.

Mr. LG disse...

… that´s a deep one…
… eu bem lhe disse que um dia essas sensações lhe iriam aparecer... :_(
Você às voltas com o seu Camus e eu às voltas com “Mao Tsé-Tung e a história do Povo Chinês: Tomo2 – Dos Ming à Revolução”... :-)
Um abração ao Dissoluto,
LG

P.S.: é melhor ter leituras mais main stream, tipo: Lux, Caras, Vip, Nova Gente, Mulher Moderna… que estas (re)tiradas depressivas passam-nos num instante… :-D :-D ;-))

Raul disse...

Uma surpresa inesperada para combater a depressão:
http://www.youtube.com/watch?v=BwlC4mDToWY
Há melhor, mas não deixa de ser uma boa surpresa.

Mr. LG disse...

… quantas e quantas vezes na nossa vida, infelizmente (ou felizmente… :-?), a Música Clássica e a Ópera não nos salvam…
Temos que enfrentar a dureza da vida tal como ela é!!... Pegar a vida pelos cornos, como dizia a nossa Beatriz Costa!...
… é que infelizmente, para me salvar nos meus maus momentos, não tenho o número de telemóvel da Iréne Theorin,da Waltraud Meier, ou o da Mihoko Fujimura… ou o do Jonas Kaufmann…
LG

P.S.: não pensem que isto é uma tirada depressiva… vou já para o final do COSI FAN TUTTE do Karl Bohm EMI/62 e abalançar-me para o DON CARLO do Gabriele Santini EMI/54 com o Gobbi e o Christoff… oh lá lá!!… ;-)))

blogger disse...

Raul, perdoe-me, mas nao consigo gostar nada desta interpretação

Raul disse...

João,
E para o restabelecimento total só mais este fabuloso anti-depressivo:

http://www.youtube.com/watch?v=213yUBHpW6I

Também uma surpresa, pois nunca pensei que ela chegasse a este nível tão bom !

Raul disse...

Caro Blogger,
Compreendo perfeitamente. Eu também digo que há melhor, mas tratando-se de quem se trata, penso que não deixa de ser uma surpresa. É principalmente por causa disso, embora ache que nada neste mundo pode ser mal cantado pela pessoa em causa.
Um abraço

Anónimo disse...

Porque é que o Raul utiliza a expressão "...nunca pensei que ela chegasse a este nível tão bom !"?
Considera a Urmana mediana ou acha mesmo ´quase impossível a excelência nela?

Raul disse...

Desambiguando. Eu vi-a na Eboli há uns cinco anos e não achei nada de extraordinário. Tenho o terceiro acto da Aida da Gala da Ópera de Viena e falta qualquer coisa. Enfim, conheço a Kundry e pouco mais e nunca concluí "mas que grande voz". Ouço-a por acaso nesta magnífica e dificílima ária do Macbeth que não perdoa a mínima fraqueza, e que por isso separa as águas, e a Urmana revela-se para mim excelente, utilizando as palavras do Anónimo das 16:30. Isto é muito bom, pois contam-se pelos dedos as grandes Ladys.

Il Dissoluto Punito disse...

Caríssimo Raul,

Os seus amáveis presentes provocaram uma viragem no meu humor, para melhor! Pena é que não os possa escutar, por ora... Estou longe de casa e o acesso à net de que disponho limita-me os vôos... Quando regressar à base, outro galo cantará ;-)

Thanks :-)))
Um grande abraço,
João

J. Ildefonso. disse...

Vi a Urmana a semana passada no Macbeth em Paris numa encenação indescritivel em que até magia fez! O habitual, tirar coelhos da cartola, ovos da orelha, etc! Uma parvoice que ela desempenhou com um profissionalismo exemplar. Se os papeis pesados que canta se encurtarem a carreira sempre pode ganhar a vida com a magia.
O cenário não permitia que as vozes projectassem bem e o elenco era muito deficiente só o tenor, que nós conhecemos de Lisboa da Medea, demonstrou alguma energia. A Urmana cantou excelentemente e projectou uma imagem atormentada e trágica muito poética porque deixou entrever desde o ínicio uma faceta mais vulnerável de quem sabe que não "não vai reinar". O resto do elenco foi francamente mediocre e o encenador devia ser exilado para a Siberia de onde nunca devia ter saído!

Raul disse...

João I.,
Estou a ver: em vez de bruxas tinha mágicos !
Como muito bem dizes, esse encenador devia ser exilado para a Sibéria a que eu acrescento para um gulague daqueles que o Camarada Estaline mandou construir.
Mas a Urmana sobreviveu, não é ? É pena o restante não ser bom. Um fraco tenor não afunda a ópera, mas sem barítono não há Macbeth.

J. Ildefonso. disse...

O baritono era bom mas definitivamente não tinha estatura para o Macbeth o que curiosamente tornou o papel da lady ainda mais atraente e possível de identificação pois para qualquer expectador era previsivel que ela não devia apostar fosse o que fosse num homem tão fraco. Interessante mas disvirtua a obra.

Raul disse...

João, desculpa, mas não acho que desvirtue a obra; pelo contrário, vai ao seu encontro. O Macbeth é um fraco ao serviço da ambição da mulher. Já o é em Shakespeare. Na ópera o dueto do primeiro acto, segunda cena, estabelece bem os dois carácteres.

J. Ildefonso. disse...

Eu percebo o que o Raúl diz mas neste caso especifico a estatura do barítono não lhe permitia criar nenhum tipo de identidade. Não era um guerreiro de personalidade fraca dependente da mulher. Simplesmente era inexistente!