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segunda-feira, 28 de março de 2011
Lucia di Nuova York! (III) - 19 de Março de 2011, Met Opera House, via Fundação Calouste Gulbenkian
quarta-feira, 23 de março de 2011
Elisabeth Taylor (1932 - 2011)
segunda-feira, 21 de março de 2011
sábado, 19 de março de 2011
Lucia di Nuova York!
domingo, 13 de março de 2011
sábado, 12 de março de 2011
sexta-feira, 11 de março de 2011
terça-feira, 8 de março de 2011
O Aleph: a obra-prima e a prima-do-mestre-de-obras
News?
segunda-feira, 7 de março de 2011
Boys don't Cry, ossia BORDERLAND
(Hilary Swank como Teena Brandon, em Boys don't Cry)
Em Boys Don’t Cry, aborda-se a problemática da transexualidade, através da recriação da história de Teena Brandon.
No filme, Teena Brandon apresenta uma impressionante perturbação da identidade de género / sexual, que se manifesta – clinicamente - sob a forma da transexualidade. Num corpo feminino, encontra-se uma alma identificada com o masculino.
A personagem, de vida errante – aqui e ali marginal –, decide mudar de terra, instalando-se no Nebraska, onde pretende assumir, em pleno, a sua identidade masculina. Evidentemente, a mudança de terra coincide com um desejo (mágico) de mudança de identidade de género.
Nesta obra notável, de Kimberly Peirce, a perturbação da identidade (nas suas múltiplas expressões: subjectiva, sexual e ou de género) constitui o principal eixo, que organiza toda a trama.
A esmagadora maioria dos demais personagens – particularmente os que constituem o círculo onde Brandon se move, no Nebraska – apresenta características muito afins com a perturbação da identidade, lato senso.
Desde logo, deparamos com dois indivíduos da linha psicopática – John Lotter e Tom Nissen -, cadastrados, errantes e genuinamente anti-sociais, avessos a qualquer sintonia com a mais singela humanidade.
O clima humano restante – potencialmente auto-destrutivo, com muito álcool, fumos, teste de limites, dominado pela impulsividade (corridas de automóveis, que ultrapassam o razoável), errância – poder-se-ia inscrever numa lógica borderline, em termos psicopatológicos.
A dinâmica borderline tem no seu âmago a grave perturbação da identidade subjectiva. O sentimento de ser alguém, estável, inscrito num grupo ou identidade, é profundamente estranho ao indivíduo, que se vive como um eterno estrangeiro, invariavelmente à procura do seu território. Um condenado à procura do seu mundo, dir-se-ia, mais prosaicamente.
O paralelismo da perturbação borderline com a América profunda que o Nebraska – território de fronteira, onde habitam os que se encontram aquém e à margem da normalidade humana - representa, nesta obra, é absolutamente memorável. O Nebraska é uma borderland, terra de desesperança e errância, onde a falta de perspectivas e sobre-vivência dominam. Do mesmo que há uma desinserção essencial na personagem de Brandon, na terra onde decorre a maior parte da trama, a desinserção expande-se e instala-se nos mais recônditos universos: todos experimentam a frustração, o desenquadramento e a insatisfação básica; todos se arrastam e vegetam, procurando(-se) sem sucesso...
Essencial!
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(5/5)
domingo, 6 de março de 2011
Un Siegfried plutôt musical...
(Siegfried - Opéra Nationale de Paris, encenação de Günther Krämer, Março de 2011)
O Siegfried de Paris – d’après Günther Krämer – reacende a velha querela entre encenação e música. No tempo da outra senhora – vide Richard Strauss, em Capriccio, nomeadamente -, a questão centrava-se na primazia da música sobre a palavra (ou vice versa).
Presentemente, a controvérsia é outra, fruto de um novo paradigma. A verdade é que, nos nossos dias, o chamariz de muitas produções radica, justamente, na concepção cénica. Estupidamente – ou não! -, os intérpretes foram considerados secundários. O Anel d’après Lepage reitera esta tese, não?
Seja como for, pour une fois, a crítica francesa, unanimemente, considera o actual Siegfried um prodígio musical. O mesmo não se pode dizer da encenação de Güntker Krämer... Até o s(on of)nob(ody) Renaud Machart enaltece as qualidades musicais da produção – não sem antes vomitar um chorrilho de considerações possidónias, como é seu timbre!
«Le troisième volet du Ring déçoit, malgré le triomphe de l'orchestre.
«Ce n'est pourtant pas le pire de ce qu'on voit dans ce troisième volet de la "Tétralogie" (un prologue et trois "journées"), de Wagner, en cours d'intégrale à l'Opéra Bastille. On avait coulé sec pendant L'Or du Rhin, cru avoir atteint le fond avec La Walkyrie. Mais on patauge dans la vase avec Siegfried. Mime est une folle furieuse habillée façon Deschiens, qui cultive de la marijuana dans sa cuisine ; Fafner un chef de gang narcotrafiquant sud-américain (on a échappé de peu à Brünnhilde en Ingrid Betancourt) ; Siegfried un bonhomme Michelin ; L'Oiseau, une randonneuse en treillis qui s'exprime en langage des signes ; Erda, en robe de grand deuil, un rat de bibliothèque au design façon Jean Nouvel. Etc. Une vraie fatralogie.
Comme l'écrivait si justement Romain Rolland en 1908, dans un extrait cité par le programme de salle : "On pourrait dire (...) que la meilleure façon de suivre une représentation de Wagner, c'est de l'écouter, les yeux fermés. Si complète est la musique, si puissante est sa prise sur l'imagination, qu'elle ne laisse rien à désirer ; et ce qu'elle suggère à l'esprit est infiniment plus riche que tout ce que les yeux peuvent voir." Ce soir, l'écrivain avait plus que jamais raison.
On a aimé l'essentiel de la distribution en dépit d'une Brünnhilde (Katarina Dalayman) ordinaire et d'un Mime (Wolfgang Ablinger-Sperrhacke) plus ridicule que grotesque. Il manque au pâle Wotan de Juha Uusitalo le "creux" harmonique (quelles résonances !) de Stephen Milling, fantastique Fafner. Torsten Kerl (Siegfried) tient ce rôle exigeant en dépit d'une voix un peu étroite et fermée dans l'aigu. Mais il est bon musicien et son deuxième acte était exceptionnel.
Les vrais héros de la soirée étaient l'Orchestre de l'Opéra de Paris et son directeur musical, le jeune chef suisse Philippe Jordan. Il dirige, apparemment de mémoire, en contact visuel intense avec ses musiciens dont la tenue, la concentration, exceptionnelles, témoignent du respect et de l'amour qu'ils portent à leur patron. Si, comme le dit Romain Rolland, Siegfried est une "symphonie épique", Jordan la conduit avec une intelligence et une maîtrise extraordinaires, mais qui ne sont pas particulièrement "épiques". Certains dénoncent même une façon un peu sèche et analytique de jouer Wagner. Pour notre part, ce Siegfried aura été, orchestralement, d'un raffinement idéal, d'un équilibre miraculeux. Et, pour tout dire, l'une des plus belles soirées wagnériennes qu'on ait connues.»
Da pequena burguesia...
Através de dois grandes e muito queridos amigos dos tempos do Colégio Moderno – Maria e Joaquim -, tomo conhecimento de um facto absolutamente histórico: os ultra-geniais Homens da Luta limparam o festival da canção 2011! Quase me comovo com esta façanha!
Para quem não sabe, o Festival da Canção é a mais reles manifestação artística com que a pequena burguesia se lambuza, animando alguns serões pré-primaveris. A pequena burguesia, por sua vez, é a mais tacanha e perigosa força social portuguesa. Estão por todo o lado! Gostam da ordem a qualquer preço e de Cancun, votam no Cavaco, odeiam os gays, arrepiam-se com os apoiantes da descriminalização do aborto; à boca pequena, acham que os pretos deviam era voltar pá terra deles. No passado, temiam os comunistas. Hoje em dia, a mais sofisticada já arma ao queque, tratando os piquenos por Voci, e vestindo na Massimo Dutti. De quando em vez, compram um Calvin Klein, com que ornamentam o pulso em ocasiões festivas. Bebem as palavras do Professor Marcelo – este e o outro, o que botava uma faladura bafienta, falsa e moralista, no estertor do antigo regime. É uma gente horrorosa, que devemos evitar.
Segundo consta, os ditos Homens da Lutam perverteram a insuportável lógica do miserável Festival da Canção. Que bom!
Nascido em inícios dos anos 1970, cresci com aquela efeméride cultural. A dada altura, dei com um bando de meninas aputalhadas – boazudas, é certo -, de uma vulgaridade provinciana, berrando e desafinando “Bem bom”. Davam pela graça de Doce. Aí, não aguentei mais. Doravante, o Festival mencionado passou a ser um acontecimento a evitar.
E não é que – pasme-se! -, em inícios de 2011, o refinado humor, inspirado na música e ideologia de intervenção vinga, enterrando o que de mais reles espelhava o execrável festival?!
Ainda há quem insista na nossa condição miserável e decadente! Nada disso! Se os Homens da Lutam chegam ao poder é porque uma certa irreverência domina, brotando!
Segundo consta, um bando de ofendidinhos, por ocasião da vitória dos Homens da Luta, abandonou a sala em protesto. Miseráveis! Devem ser dignos representantes da já descrita pequena burguesia. Já se esqueceram do tempo em que usavam meinha branca, de turco!
Ao nosso jeito, seguramente mais insignificante, também eu, a Maria, o Joaquim, a Susana e a Guida, fomos homens da luta, noutro tempo e lugar :)
Anna Nicole: da Miséria...
(Anna Nicole Smith)
Anna Nicole Smith era uma pobre de Deus, desafortunada e prima representante da decadente sociedade plástica em que vivemos. Loira, tonta, nascida pobre e tornada estrela graças a (excitantes mas de péssimo gosto!) atributos sucedâneos do silicone.
Na mais absoluta miséria (não material, presumo), entregou a alma a Deus a 8 de Fevereiro de 2007. Nesse dia, eu encontrava-me em Nova Iorque, preparando-me para assistir a uma reprise de I Puritani, que – escassos três dias antes – me havia estarrecido. Já a minha mulher não alinhou no meu entusiasmo, presumo que por razões estranhas à artistry...
A cobertura noticiosa dada ao desaparecimento da miserável criatura deixou-nos perplexos! Horas e horas de emissão consagradas a um fait divers...
Anos mais tarde – mais atonito ainda – dou com a notícia de uma ópera que versa sobre a vida de Anna Nicole Smith!!!!! Aí, estrabuchei! Há limites para tudo. Para mais, o acontecimento teria lugar na selecta Royal Opera House!!!
Muitos terão embarcado n'a coisa, que – segundo consta – resvala para o musical de reles categoria. Outros – lúcidos? – desprezam a mesma coisa.
Serei preconceituoso, sim. A mim, não me apanham nesta! Nem que a vaca tussa! Para mais – tão certo como dois e dois serem quatro -, pelas nossas bandas, a obra terá honras de estreia no Teatro Politeama, pela mãozinha sabuja e chica-esperta do insuportável La Féria.
Há quem goste de pão com ranho!
Ide bardamerda com esta trampa!
Domingo: 1941-2041??? As Quatro Últimas Canções, para tenor?!
Récemment, Domingo s'est même offert le luxe d'aborder à la scène un emploi de baryton, le rôle-titre de Simon Boccanegra, de Verdi. Non parce que sa voix ne lui permettait plus de soutenir la tessiture de ténor (il a certes renoncé aux rôles les plus aigus, mais il est toujours un vrai ténor), mais parce que, dramatiquement,Boccanegra l'attirait.
On l'a vu, une autre fois, au Metropolitan Opera de New York, chanter l'après-midi dans Fedora, d'Umberto Giordano, et diriger, le soir, Carmen, de Bizet. Entre les deux, Domingo avait sûrement réglé quelques affaires liées aux deux maisons d'opéra américaines dont il était directeur artistique, à Washington (il vient de renoncer à ce poste) et à Los Angeles. Peut-être s'était-il aussi enquis des nouvelles du concours de chant Operalia, qu'il a fondé en 1993, ou, tout simplement, avait-il pris le temps d'appeler un ami en difficulté. Car Domingo conserve, en dépit de ce rythme effarant et de son statut de vedette, du temps, de la disponibilité et de la gentillesse.
S'il fait ses débuts en 1959 à Mexico dans Rigoletto, de Verdi, il devient une vedette internationale dix ans plus tard. Le chanteur a non seulement une voix d'or, dense et brillante, dotée d'harmoniques graves et d'une musicalité exceptionnelle, mais il est aussi excellent comédien. Il aime la vie, perd bientôt la ligne mais reste sexy et ne perd jamais cette rare présence animale.
Seul le coffret Sony propose le retour de récitals intégraux, réédités avec les pochettes d'origine. Beaucoup de ces titres étaient disponibles en intégralité ou en extraits dans des anthologies, mais il faut souligner la première parution sur disque laser d'un programme magnifique de duos avec Renata Scotto. A quoi s'ajoutent un nouvel enregistrement en studio de Fedora (DGG) et de nombreux DVD. Parmi les derniers parus, il ne faut pas manquer sa prise de rôle de Bajazet, exceptionnelle, dans Tamerlano, d'Haendel (Opus Arte), ou son phénoménal Simon Boccanegrade Covent Garden (EMI).
Les Français auront rendez-vous avec Domingo au Théâtre du Châtelet, à Paris, pour la création d'Il Postino, de Daniel Catan (du 20 au 30 juin), d'après Le Facteur(1994) le film de Michael Radford. Domingo, né en 1941, devrait être, comme à son habitude - il déteste annuler - fidèle au poste et pas le moins du monde rouillé.»