A célebre Tosca de Herr Von Karajan, contrariamente às minhas expectativas, é uma decepção, mal-grado os pontos de interesse.
Em hora de balanço, a meu ver, De Sabata leva a melhor, seguido de Chailly.
Sem hesitações.
Ópera, ópera, ópera, ópera, cinema, música, delírios psicanalíticos, crítica, literatura, revistas de imprensa, Paris, New-York, Florença, sapatos, GIORGIO ARMANI, possidonices...
Em hora de balanço, a meu ver, De Sabata leva a melhor, seguido de Chailly.
Sem hesitações.
Previsivelmente, Diana Damrau foi inexcedível como Rainha da Noite. Damrau é o soprano coloratura do momento.
«The Queen of the Night in Mozart’s “Zauberflöte” is a fiendishly difficult and dramatically exasperating role. It’s a crucial but short part.»
De acordo! Mas… a que se refere o jornalista, ao apelidar o papel em questão de “dramatically exasperating”??? Tanto quanto sei, a Rainha sempre fez parte do repertório ligeiro, pela agilidade que demanda!
Bom, seja como for, Damrau brilho e arrebatou, como atesta a mesma notícia:
«As required, the German soprano Diana Damrau stopped the show twice on Tuesday night in the Metropolitan Opera’s production by Julie Taymor, with Kirill Petrenko conducting. Just three nights earlier she had sung the last of several performances as Pamina in the Met’s “Zauberflöte” run. Pamina is a very different vocal assignment, requiring lighter and more poignantly lyrical singing.
Depois de um Cosi de referência e um Le Nozze notável, René Jacobs encerra a sua visão da trilogia mozartiana com chave de ouro, revitalizando Il Dissoluto Punito.
O equilíbrio é difícil, facilmente se entende.
Pois bem, Jacobs recria um Don Giovanni totalmente idiomático, ousado, livre e original, sem nunca ceder a malabarismos duvidosos, nem tão pouco a liberdades excessivas. A obra original é respeitada, sendo recriada em clima de câmara, de forma magistral.
Jacobs investe nesta abordagem em dois sentidos, que se conciliam na perfeição: na teatralização do drama e na liberdade da leitura. Indubitavelmente, este trabalho tem subjacente uma concepção. Poucos registos desta ópera obedecem a uma orientação prévia, devidamente sustentada…
De facto, uma das glórias deste registo assenta na sua qualidade teatral. Jacobs é plenamente jocoso, mordaz, gracioso, dramático e irónico, instigando os demais intérpretes a segui-lo… e todos alinham na proposta!
Pessoalmente, diria que Jacobs é gracioso e eufórico, onde Furtwängler é dramático e sombrio.
A verdade é esta, fiel leitor: por mais que procure no meu baú, não encontro um Don Giovanni tão rico e vigoroso, no tocante à riqueza teatral, com recitativos animados, vibrantes, impregnados de dinamismo, ironia, malícia, graça e tragédia.
Nenhum outro lhe chega aos calcanhares, neste ponto particular!
A outro nível, o maestro propõe-nos uma leitura muito livre da obra, particularmente expressa nas ornamentações vocais, na gestão dos tempi e no acompanhamento dos recitativos.
Quanto aos solistas, o maestro belga socorreu-se de cantores maioritariamente jovens, e ainda com poucos vícios. Arriscou muitíssimo – Weisser e Pasichnyk -, previsivelmente brilhou – Regazzo -, tendo surpreendido gloriosamente – Tarver, Borchev e, sobretudo, Im.
Weisser é um jovem barítono, ainda pouco oleado no papel titular da ópera. O timbre é agradável, a técnica bem sustentada e a composição cénica sólida – particularmente convincente na malícia e seus desdobramentos. A meu ver, decepciona apenas pela falta de legato. É uma pena!
A digna e correcta Donna Anna de Pasichnyk afirma-se pela qualidade das vocalizações e pelo dinamismo interpretativo. Vacila no Or sai chi l’onore mas brilha no Non mi dir.
Fiquei literalmente arrasado com o Leporello de Lorenzo Regazzo, no melhor dos sentidos: o timbre escuro – cada vez mais na linha do baixo – combina na perfeição com a ironia vil e corrosiva do servo que compõe. A sua interpretação é de uma ousadia triunfal!
Até à data, Taddei era o meu criado dilecto; doravante, já não sei…
Sunhae Im – Zerlina - constitui o melhor e mais sólido argumento vocal desta gravação. A voz nervosa e ágil – belíssima - é muito redonda, melodiosa e de uma correcção estilística impressionante. Relembra Streich, a maior Zerlina da história.
Apreciei ainda muitíssimo as prestações de Tarver – Don Ottavio – e Borchev – Masetto. O primeiro afirma-se pelo lirismo pueril (além de um Il mio tesoro de sonho!) e o segundo pela robustez da interpretação.
Quanto aos demais solistas – Pendatchanska (Donna Elvira) e Guerzoni (Il Commendatore) -, diria que cumpriram, sem evidência de brilho digno de referência.
Este é, pasme o leitor, o meu 38º Don Giovanni. Pois bem, sem hesitar um segundo que seja, coloco-o na prateleira dos maiores – Giulini’59, Mitropoulos, Furtwängler (dvd), Muti (dvd) e Muti.
Dito isto, os puristas e ortodoxos vão chocar-se com as liberdades e ousadias da troupe, enquanto os vanguardistas se regozijarão! No final, creio que todos farão vénias ao trabalho de René Jacobs, que faz um milagre com um elenco desconhecido, em terras há muito dominadas por antigos – e respeitáveis, há que reconhecê-lo! – fantasmas!
São inúmeras as Violettas falhadas, mais pela fragilidade técnica do que pela ausência de talento dramático.
No capítulo das notáveis, pessoalmente, há três. A da Callas, que era monumental, a da Cotrubas, de uma fragilidade notável e a da Scotto, arrebatadíssima.
Depois há as pirotécnicas, onde figura a da Sutherland, absolutamente desabitada, a da Caballé e a da Swenson.
Noutro quadrante, há as grandes, grandes… actrizes: Stratas, Moffo e Theodossiou.
Medíocres há para todos os gostos! Gheorghiou é uma de entre muitas, inexplicavelmente célebre… A Cura dos sopranos, claro está.
No meio de tudo isto, não sei onde colocar a da Fleming...
Embora nunca a tenha visto, neste papel, ouvia-a e deleitei-me!