Diz, que maravilhosos sonhos
Te exaltam o espírito,
Sem se desfazerem como espuma vazia
No desolado nada
...
Träume, träume, träume, träume...
Por redundante que seja, a mítica leitura de Träume, d´après Goerne, foi onírica...
ps por enquanto, nada mais há a acrescentar... Träume...
Ópera, ópera, ópera, ópera, cinema, música, delírios psicanalíticos, crítica, literatura, revistas de imprensa, Paris, New-York, Florença, sapatos, GIORGIO ARMANI, possidonices...
terça-feira, 31 de outubro de 2006
segunda-feira, 30 de outubro de 2006
Matthias Goerne
Actua amanhã, no grande auditório da F. C. Gulbenkian, pelas 19.00 horas, Matthias Goerne, o mais destacado barítono-liedersinger da actualidade.
Como cereja encimando o bolo, Goerne interpretará o célebre ciclo wagneriano, habitualmente entregue à voz de soprano, Wesendonck-Lieder, que terá servido de propedêutica à criação de Tristan und Isolde.
Acabei agora mesmo de adquirir 2 bilhetes para este imperdível concerto, via net!
Assim começa, para Dissoluto Punito & respectiva Prima Donna, a temporada lírica 2006/07!
Como cereja encimando o bolo, Goerne interpretará o célebre ciclo wagneriano, habitualmente entregue à voz de soprano, Wesendonck-Lieder, que terá servido de propedêutica à criação de Tristan und Isolde.
Acabei agora mesmo de adquirir 2 bilhetes para este imperdível concerto, via net!
Assim começa, para Dissoluto Punito & respectiva Prima Donna, a temporada lírica 2006/07!
Fidelio, em Valença
Para quem vaticinava a morte vocal da grande Waltraud Meier (entre os quais, assumidamente, me encontrei, em tempos), eis a prova do contrário: o trio Meier, Seiffert & Salminen - três veteranos da lírica - triunfa, em Valênça, numa obra cujo simbolismo radica na exaltação da liberdade!
By the way, pergunto-me: qual o lugar do recentemente inaugurado Palau de les Arts Reina Sofia no panorama lirico mundial?
E pensar que há quem considere a lírica de Beethoven menor...
By the way, pergunto-me: qual o lugar do recentemente inaugurado Palau de les Arts Reina Sofia no panorama lirico mundial?
E pensar que há quem considere a lírica de Beethoven menor...
domingo, 29 de outubro de 2006
Rigoletto, no Met
Nos dias que correm, depreciar a obra de Verdi é do mais chic que imaginar se pode: "É demasiado romântico... Nem tem dissonâncias... Excessivamente melodioso... Muito popular... A arraia-miúda vibra com..."
A talho de foice, recordo que menosprezar a Callas, nos idos anos 1950, era prova de maturidade intelectual e musical. O Verdadeiro melómano - intelectual odiava a intérprete grega: "Nem sequer consegue ser fastidiosa... Grangeia aplausos calorosos... Falta-lhe um toque enfadonho..."
Na actualidade, aprecio com indesmentível malícia o desprezo de que a ópera verdiana é alvo.
Confesso, sem pudor algum, que Verdi é, acima de tudo, Otello e Falstaff!
Ainda assim, votar a trilogia verdiana ao abandono é, para mim, prova de soberba e de ignorância!
Na história da lírica, os grandes deixaram conjuntos que se perpetuam: Mozart e a sua trilogia - Daponte, Verdi e a sua trilogia do período intermédio - La Traviata, Il Trovatore e Rigoletto (as três unidas pela fusão do belcanto - técnico com o romantismo - dramático, coisa tremendamente difícil, diga-se!) - e Wagner, que obviamente tinha de ter uma tetralogia, por razões de natureza narcísica e megalómana!
Vem esta prosa a propósito desta critica de Rigoletto, que se encontra em cena no Met.
Rigoletto é uma ópera extraordinariamente difícil de encenar. O mor das vezes, opta-se por uma linha hiper-realista...
Há alguns anos, assisti em Paris a um Rigoletto - realista. A encenação era fastidiosa, pecando pelo tédio - realista.
Ainda assim, no elenco, figurava o grande Juan Pons, barítono verdiano por excelência, Swenson - que sempre peca pela ligeireza, soprano mais ligeiro do que spinto - e o (então) promissor Alvarez, Duque arrojado e galã.
(Juan Pons, na pele de Rigoletto)
Anos depois, no Met, tive ocasião de assistir a uma récita desta ópera verdiana, cuja encenação era... igualmente realista.
Um desinteresse teatral.
A critica a que faço referencia - 100% americana, depurada, portanto, de arrogância, sobranceria e altaneirismo -, aos olhos de um europeu, é um regalo: não há maledicência, nem desprezo, muito menos inveja!
Ainda assim, permito-me fazer um reparo, se me é permitido!
O papel de Gilda não é, nem por sombras, para um soprano ligeiro!
Roberta Peters, Sumi Jo e Ruth Ann Swenson, cujas técnicas são do melhor que há, ilustrando a categoria de soprano ligeiro (vulgo coloratura), são disso prova evidente: triunfam na ornamentação, espalhando-se na expressão do drama.
A Gilda da Callas - por ventura a mais heterodoxa, pela invulgar robustez cénica e psicológica - revolucionou as tradicionais abordagens do papel, encaminhando-o, doravante, para os complexos territórios do lírico-spinto: Scotto seguiu a proposta da grega, triunfando igualmente; Moffo, idem, idem.
A talho de foice, recordo que menosprezar a Callas, nos idos anos 1950, era prova de maturidade intelectual e musical. O Verdadeiro melómano - intelectual odiava a intérprete grega: "Nem sequer consegue ser fastidiosa... Grangeia aplausos calorosos... Falta-lhe um toque enfadonho..."
Na actualidade, aprecio com indesmentível malícia o desprezo de que a ópera verdiana é alvo.
Confesso, sem pudor algum, que Verdi é, acima de tudo, Otello e Falstaff!
Ainda assim, votar a trilogia verdiana ao abandono é, para mim, prova de soberba e de ignorância!
Na história da lírica, os grandes deixaram conjuntos que se perpetuam: Mozart e a sua trilogia - Daponte, Verdi e a sua trilogia do período intermédio - La Traviata, Il Trovatore e Rigoletto (as três unidas pela fusão do belcanto - técnico com o romantismo - dramático, coisa tremendamente difícil, diga-se!) - e Wagner, que obviamente tinha de ter uma tetralogia, por razões de natureza narcísica e megalómana!
Vem esta prosa a propósito desta critica de Rigoletto, que se encontra em cena no Met.
Rigoletto é uma ópera extraordinariamente difícil de encenar. O mor das vezes, opta-se por uma linha hiper-realista...
Há alguns anos, assisti em Paris a um Rigoletto - realista. A encenação era fastidiosa, pecando pelo tédio - realista.
Ainda assim, no elenco, figurava o grande Juan Pons, barítono verdiano por excelência, Swenson - que sempre peca pela ligeireza, soprano mais ligeiro do que spinto - e o (então) promissor Alvarez, Duque arrojado e galã.
(Juan Pons, na pele de Rigoletto)
Anos depois, no Met, tive ocasião de assistir a uma récita desta ópera verdiana, cuja encenação era... igualmente realista.
Um desinteresse teatral.
A critica a que faço referencia - 100% americana, depurada, portanto, de arrogância, sobranceria e altaneirismo -, aos olhos de um europeu, é um regalo: não há maledicência, nem desprezo, muito menos inveja!
Ainda assim, permito-me fazer um reparo, se me é permitido!
O papel de Gilda não é, nem por sombras, para um soprano ligeiro!
Roberta Peters, Sumi Jo e Ruth Ann Swenson, cujas técnicas são do melhor que há, ilustrando a categoria de soprano ligeiro (vulgo coloratura), são disso prova evidente: triunfam na ornamentação, espalhando-se na expressão do drama.
A Gilda da Callas - por ventura a mais heterodoxa, pela invulgar robustez cénica e psicológica - revolucionou as tradicionais abordagens do papel, encaminhando-o, doravante, para os complexos territórios do lírico-spinto: Scotto seguiu a proposta da grega, triunfando igualmente; Moffo, idem, idem.
sábado, 28 de outubro de 2006
Don Giovanni & Jacobs: Praga, Viena e (enfim!) Paris
Em Paris, Jacobs dirige a versão de Praga e a de Viena, em dias alternados.
Para o ano, teremos acesso à interpretação discográfica desta ópera, pela batuta do respeitável maestro, chez HARMONIA MUNDI (depois de um magnífico Così Fan Tutte e de um incontornável Le Nozze di Figaro).
Com água na boca, Dissoluto aguarda...
Para o ano, teremos acesso à interpretação discográfica desta ópera, pela batuta do respeitável maestro, chez HARMONIA MUNDI (depois de um magnífico Così Fan Tutte e de um incontornável Le Nozze di Figaro).
Com água na boca, Dissoluto aguarda...
sexta-feira, 27 de outubro de 2006
Deborah Voigt: bist du Salome???
Com reservas, divulgo o entusiasmo desta notícia, onde se dá conta da última encarnação - triunfal - de Deborah Voigt, como Salome, de R. Strauss, em Chicago.
(Aqui para nós, caro leitor, desde que vi a colossal-vulcânica Mattila, no mesmo papel, nuinha em pelo, depois da Dança dos Sete Véus, acho que tudo foi visto, em matéria de Strauss...)
Nova Iorque (re)Castrada!!! Cai a terceira Torre...
Depois da queda dos símbolos absolutos do poderio financeiro, é agora a vez de Nova Iorque ver desaparecer, diante de milhares de melómanos atónitos, uma das mais veneradas lojas de música clássica: a Tower Records não resiste às investidas inclementes da crise.
A Tower Records era A MINHA LOJA de referência em Nova Iorque... Foi lá que encontrei parte da minha colecção de raridades... Foram bastantes as longas secas que lá dei à minha mulher, perdido no meio daquela indescritível oferta de música lírica...
É, pois, com enorme pesar que se divulga esta má nova.
Como diz o jornalista, comprar música na Virgin Megastore de Time Squares é impensável! Temos a ideia de estar à procura de Don Giovanni no meio do Feira Nova ou de A Palavra (de Dryer) em pleno Carrefour...
"Where will classical music lovers in New York shop now? The Virgin Megastore in Times Square? From what I can tell, its classical stock is weirdly spotty, though maybe I?m wrong, since that gargantuan, noisy place, with pop music blasting from overhead speakers, intimidates me."
A Tower Records era A MINHA LOJA de referência em Nova Iorque... Foi lá que encontrei parte da minha colecção de raridades... Foram bastantes as longas secas que lá dei à minha mulher, perdido no meio daquela indescritível oferta de música lírica...
É, pois, com enorme pesar que se divulga esta má nova.
Como diz o jornalista, comprar música na Virgin Megastore de Time Squares é impensável! Temos a ideia de estar à procura de Don Giovanni no meio do Feira Nova ou de A Palavra (de Dryer) em pleno Carrefour...
"Where will classical music lovers in New York shop now? The Virgin Megastore in Times Square? From what I can tell, its classical stock is weirdly spotty, though maybe I?m wrong, since that gargantuan, noisy place, with pop music blasting from overhead speakers, intimidates me."
quinta-feira, 26 de outubro de 2006
O Maior Português de Sempre...
... sem hesitar, voto nela!
ps adorei a tua opção, Alexandre! Mas era de prever...
ps adorei a tua opção, Alexandre! Mas era de prever...
quarta-feira, 25 de outubro de 2006
Plácido Domingo dixit
"Divo es aquel cuyo nombre agota localidades, que es responsable, crea buen ambiente en la compañía y atiende a los medios; ese divo es importante". Ahora bien, "el divo antipático, que protesta de todo, gracias a Dios, ese divo tiende a desaparecer"
Para aceder à totalidade da entrevista, clicar aqui.
Para aceder à totalidade da entrevista, clicar aqui.
terça-feira, 24 de outubro de 2006
Volver - Repetir, Perpetuar ou a Patologia da Trangeracionalidade: um olhar psicanalítico
Assisti ontem a Volver, de Pedro Almodovar, obra recentemente estreada entre nós.
Há muito anos que sigo a produção deste singular cineasta espanhol, quiçá o mais histriónico e divertido do momento.
Em Almodovar, antes de mais, fascina-me o humor e a graça desconcertantes.
Não querendo alongar-me em demasia, considero que este filme do cineasta merece uma reflexão psicanalítica, dado conter aspectos de inquestionável valor psicopatológico, a saber: REPETIÇÃO / TRANGERACIONALIDADE, a par de uma característico enfoque sobre o MASCULINO.
Começo por remeter o leitor para a sinopse de Volver, assinada pelo próprio Pedro Almodovar.
Na minha prosaica leitura, esta obra versa sobre três gerações de mulheres que perpetuam uma mesma problemática...
Almodovar conta-nos uma história dominada pelo feminino - materno, história essa que ilustra a patologia da repetição: Raimunda, ainda adolescente, fora violada pelo próprio pai, nascendo da relação incestuosa uma filha. Esta é perfilhada pelo homem com quem Raimunda se casa. Entretanto, a verdadeira filiação da jovem menina é mantida em segredo pelo casal.
A jovem rapariga, agora adolescente, faz brotar no padrasto um crescente desejo libidinoso, com contornos obviamente incestuosos.
A história repete-se, sendo que o final da mesma conta com uma variação: a jovem adolescente assassina o padrasto, pondo assim termo às suas investidas sexuais.
Prontamente, num gesto de duvidoso altruísmo, Raimunda assume a autoria do crime.
Obviamente, o gesto de Raimunda - aparentemente protector, dado que pretende retirar a mácula da filha - deve ser visto a um nível mais ousado!
Ao assumir a autoria do crime, Raimunda vinga a honra manchada: triunfa fantasmaticamente sobre o pai - pedrasta.
A filha - símbolo sumo do ódio pelo pai - constitui, agora, a derradeira e mais eficaz arma de Raimunda, cumprindo um destino inexorável: mata, de facto, o padrasto, assassinando por via fantasmática o próprio pai, que por artes perversas era, simultaneamente, o pai da própria mãe...
Tempos volvidos, após o regresso da mãe de Raimunda, vem a saber-se que, afinal, o pai desta fora assassinado, de facto, pela mulher, ultrajada por sucessivas infidelidades com as conterrâneas.
A meu ver, o próprio regresso da matriarca da família merece uma reflexão, pois que se encontra envolto num clima de omnipotência...
A matriarca regressa, depois de "morta", como que por obra da ressurreição!
Todos a consideravam morta. Todos! Pois bem... Eis que a dominadora figura - a grande Carmen Maura -, em toda a sua omnipotência, não só triunfa sobre a morte, como sobre o marido: este perece, assassinado pela mulher que, uma vez mais, o descobrira nos braços de outra.
Dito isto, o que resta do MASCULINO, pobre sombra diante de tamanho universo?
Curiosamente - ou talvez não, arrisco eu... -, Almodovar esboça um universo masculino / paterno paradoxal, ainda que periférico, para não dizer (muito) secundário.
De facto, invariavelmente, neste filme, o masculino aparece identificado ao hediondo - pederasta - incestuoso, ao abandonico (vide Sole - irmã de Raimunda -, personificação do masoquismo depressivo, largada pelo marido), mas sempre num clima dominado pela castração: os homens que não violam, partem e desistem, movidos pelo infortúnio da desventura - o dono do restaurante, por exemplo -, perdem o emprego, fraquejam diante do álcool...
Lamentavelmente, não há espaço para uma representação psíquica do masculino pleno, nesta criação de Pedro Almodovar, pois aquele encontra-se submerso num ambiente dominado pelo feminismo, na sua expressão mais perturbada, que se firma, afirma, triunfa e brilha por via da dissolução do paterno, do masculino, do homem, enfim.
Volver - o título do filme -, no meu entender, mais não é do que uma revisitação!
Volver condensa, de forma simultaneamente eloquente e literária, mas igualmente prosaica, a patologia da repetição.
Volver - voltar, regressar - rima com (eterno) retorno, com repetição de uma mesma história, de um mesmo destino. Como tive ocasião de explicitar, se quisermos, rima com trangeracionalidade: o trauma repete-se, em várias gerações, perpetuando-se o ciclo do vício...
Há muito anos que sigo a produção deste singular cineasta espanhol, quiçá o mais histriónico e divertido do momento.
Em Almodovar, antes de mais, fascina-me o humor e a graça desconcertantes.
Não querendo alongar-me em demasia, considero que este filme do cineasta merece uma reflexão psicanalítica, dado conter aspectos de inquestionável valor psicopatológico, a saber: REPETIÇÃO / TRANGERACIONALIDADE, a par de uma característico enfoque sobre o MASCULINO.
Começo por remeter o leitor para a sinopse de Volver, assinada pelo próprio Pedro Almodovar.
Na minha prosaica leitura, esta obra versa sobre três gerações de mulheres que perpetuam uma mesma problemática...
Almodovar conta-nos uma história dominada pelo feminino - materno, história essa que ilustra a patologia da repetição: Raimunda, ainda adolescente, fora violada pelo próprio pai, nascendo da relação incestuosa uma filha. Esta é perfilhada pelo homem com quem Raimunda se casa. Entretanto, a verdadeira filiação da jovem menina é mantida em segredo pelo casal.
A jovem rapariga, agora adolescente, faz brotar no padrasto um crescente desejo libidinoso, com contornos obviamente incestuosos.
A história repete-se, sendo que o final da mesma conta com uma variação: a jovem adolescente assassina o padrasto, pondo assim termo às suas investidas sexuais.
Prontamente, num gesto de duvidoso altruísmo, Raimunda assume a autoria do crime.
Obviamente, o gesto de Raimunda - aparentemente protector, dado que pretende retirar a mácula da filha - deve ser visto a um nível mais ousado!
Ao assumir a autoria do crime, Raimunda vinga a honra manchada: triunfa fantasmaticamente sobre o pai - pedrasta.
A filha - símbolo sumo do ódio pelo pai - constitui, agora, a derradeira e mais eficaz arma de Raimunda, cumprindo um destino inexorável: mata, de facto, o padrasto, assassinando por via fantasmática o próprio pai, que por artes perversas era, simultaneamente, o pai da própria mãe...
Tempos volvidos, após o regresso da mãe de Raimunda, vem a saber-se que, afinal, o pai desta fora assassinado, de facto, pela mulher, ultrajada por sucessivas infidelidades com as conterrâneas.
A meu ver, o próprio regresso da matriarca da família merece uma reflexão, pois que se encontra envolto num clima de omnipotência...
A matriarca regressa, depois de "morta", como que por obra da ressurreição!
Todos a consideravam morta. Todos! Pois bem... Eis que a dominadora figura - a grande Carmen Maura -, em toda a sua omnipotência, não só triunfa sobre a morte, como sobre o marido: este perece, assassinado pela mulher que, uma vez mais, o descobrira nos braços de outra.
Dito isto, o que resta do MASCULINO, pobre sombra diante de tamanho universo?
Curiosamente - ou talvez não, arrisco eu... -, Almodovar esboça um universo masculino / paterno paradoxal, ainda que periférico, para não dizer (muito) secundário.
De facto, invariavelmente, neste filme, o masculino aparece identificado ao hediondo - pederasta - incestuoso, ao abandonico (vide Sole - irmã de Raimunda -, personificação do masoquismo depressivo, largada pelo marido), mas sempre num clima dominado pela castração: os homens que não violam, partem e desistem, movidos pelo infortúnio da desventura - o dono do restaurante, por exemplo -, perdem o emprego, fraquejam diante do álcool...
Lamentavelmente, não há espaço para uma representação psíquica do masculino pleno, nesta criação de Pedro Almodovar, pois aquele encontra-se submerso num ambiente dominado pelo feminismo, na sua expressão mais perturbada, que se firma, afirma, triunfa e brilha por via da dissolução do paterno, do masculino, do homem, enfim.
Volver - o título do filme -, no meu entender, mais não é do que uma revisitação!
Volver condensa, de forma simultaneamente eloquente e literária, mas igualmente prosaica, a patologia da repetição.
Volver - voltar, regressar - rima com (eterno) retorno, com repetição de uma mesma história, de um mesmo destino. Como tive ocasião de explicitar, se quisermos, rima com trangeracionalidade: o trauma repete-se, em várias gerações, perpetuando-se o ciclo do vício...
sábado, 21 de outubro de 2006
Anna Caterina Antonacci
Há bem pouco tempo - aqui - falei de Anna Caterina Antonacci, protagonista da última Ermione de Glyndebourne.
Pessoalmente não a achei extraordinária...
Bela, é seguramente. Talentosa, idem...
Seja como for, Antonacci tem vindo a destacar-se no panorama lírico internacional - nomeadamente em Les Troyens, de Berlioz, segundo Gardiner.
Nesta entrevista (que não vai muito além dos clichés habituais - "A Callas do nosso tempo", etc.), ficamos a conhecer alguns aspectos das aspirações de Anna Caterina Antonacci, que passam por Monteverdi, Bellini (Norma!?), já para não mencionar a promissora Carmen, da ópera homónima, que estreará em Covent Garden, nesta mesma temporada!
Veremos...
Pessoalmente não a achei extraordinária...
Bela, é seguramente. Talentosa, idem...
Seja como for, Antonacci tem vindo a destacar-se no panorama lírico internacional - nomeadamente em Les Troyens, de Berlioz, segundo Gardiner.
Nesta entrevista (que não vai muito além dos clichés habituais - "A Callas do nosso tempo", etc.), ficamos a conhecer alguns aspectos das aspirações de Anna Caterina Antonacci, que passam por Monteverdi, Bellini (Norma!?), já para não mencionar a promissora Carmen, da ópera homónima, que estreará em Covent Garden, nesta mesma temporada!
Veremos...
sexta-feira, 20 de outubro de 2006
O Regresso de O Mago
Histriónico em demasia, Glenn Gould (ressuscitado) é sempre notícia!
Um ícone é um ícone.
Long live Gould (o mesmo é dizer Long live Bach)!
Um ícone é um ícone.
Long live Gould (o mesmo é dizer Long live Bach)!
Obsessões (in)Decentes... ou Excitações Confessáveis!!! (II)
Find the differences ...
Serão realmente iguais?
Serão realmente iguais?
Pourquoi faire simple quand on peut faire compliqué?
(Por quê simplificar quando se pode complicar?)
Eis um magistral provérbio francês, que ilustra de forma despudorada o pretensiosismo que o gozo pelo complexo oculta!
O desejo de tornar eloquente e rebuscado o que é, na sua mais pura essência, simples, nada mais do que simples, enerva-me!
Pelas nossas bandas lusas, a jornalista - barroca Paula Moura Pinheiro (que muito tem de meritório!) constitui o paradigma da obsessão pelo complexo, elaborado, tanto-mais-excitante-quanto-ornamentado.
Entre o rococó e o barroco - hiperbólico (?!), PMP elabora e ornamenta até à exaustão.
O entrevistado discorre, PMP reformula, sempre em busca do grau máximo da eloquência.
Dir-me-ão "É apenas uma questão de estilo"; estarei de acordo...
Em todo o caso... quando eu for crescido e letrado, quero ser assim!
Eis um magistral provérbio francês, que ilustra de forma despudorada o pretensiosismo que o gozo pelo complexo oculta!
O desejo de tornar eloquente e rebuscado o que é, na sua mais pura essência, simples, nada mais do que simples, enerva-me!
Pelas nossas bandas lusas, a jornalista - barroca Paula Moura Pinheiro (que muito tem de meritório!) constitui o paradigma da obsessão pelo complexo, elaborado, tanto-mais-excitante-quanto-ornamentado.
Entre o rococó e o barroco - hiperbólico (?!), PMP elabora e ornamenta até à exaustão.
O entrevistado discorre, PMP reformula, sempre em busca do grau máximo da eloquência.
Dir-me-ão "É apenas uma questão de estilo"; estarei de acordo...
Em todo o caso... quando eu for crescido e letrado, quero ser assim!
quinta-feira, 19 de outubro de 2006
A Evitar...
Por muito que me custe, a minha convicção é absolutamente inabalável: evite o recital de Dame Te Kanawa & F. Von Stade, em Paris, no próximo dia 21 de Outubro.
A primeira e única vez que tive ocasião de assistir a um recital da dita Senhora - outrora uma incontornável da lírica Mozartiana - foi em Paris, justamente, corria o ano de 2001.
Uma catástrofe, nem mais, nem menos.
Te Kanawa recordou-me Amália Rodrigues, nos últimos tempos: a reforma teimava em sofrer sucessivas interrupções.
Se - como eu! - pretende preservar a gloriosa Te Kanawa, não assista a este monumento à decadência!
A primeira e única vez que tive ocasião de assistir a um recital da dita Senhora - outrora uma incontornável da lírica Mozartiana - foi em Paris, justamente, corria o ano de 2001.
Uma catástrofe, nem mais, nem menos.
Te Kanawa recordou-me Amália Rodrigues, nos últimos tempos: a reforma teimava em sofrer sucessivas interrupções.
Se - como eu! - pretende preservar a gloriosa Te Kanawa, não assista a este monumento à decadência!
segunda-feira, 16 de outubro de 2006
NAXOS - Novidades
Para além desta A Valquíria, o catálogo desta editora conta agora com mais dois (entre outros) interessantíssimos artigos!
Começo por um recital de Flagstad, datado de 1937, que ilustra o auge da carreira da grande cantora.
E termino com um Tannhäuser, cuja referência se deve à presença da sumptuosa Studer, então em plena afirmação.
Elisabeth, da citada ópera, a par de Elsa (de Lohengrin) e Senta (de O Navio Fantasma) correspondem ao soprano wagneriano de feição lírico-dramático. Como ninguém (na época!), Cheryl Studer, encarnou este subtipo wagneriano, com uma luminosidade impressionante, a par de um elevado sentido dramático.
Começo por um recital de Flagstad, datado de 1937, que ilustra o auge da carreira da grande cantora.
E termino com um Tannhäuser, cuja referência se deve à presença da sumptuosa Studer, então em plena afirmação.
Elisabeth, da citada ópera, a par de Elsa (de Lohengrin) e Senta (de O Navio Fantasma) correspondem ao soprano wagneriano de feição lírico-dramático. Como ninguém (na época!), Cheryl Studer, encarnou este subtipo wagneriano, com uma luminosidade impressionante, a par de um elevado sentido dramático.
sábado, 14 de outubro de 2006
Terfel & Mozart
A propósito de Tutto Mozart! (a que aqui fiz vénias mil), diz-nos o Telegraph:
"Tutto Mozart!
Bryn Terfel (bass-baritone), with Miah Persson (soprano), Christine Rice (mezzo), Scottish Chamber Orchestra, cond Sir Charles Mackerras
DG 00289 477 5886, £13.99
Taking time out from his Wagner forays, Bryn Terfel joins the Mozart celebrations with a recital that includes not only his signature roles ? Figaro, Leporello, Don Giovanni, Guglielmo ? but also several he has not yet sung on stage.
Terfel's physique will probably always deter him from doing Papageno in the theatre. But he sings the birdcatcher's songs with mingled robustness and breezy charm ? and just the right hint of pathos. Moving up the social scale in Figaro, his Count is suave, sexy (in the duet with Miah Persson's Susanna) and, in the big aria "Vedrò, mentr'io sospiro", truly dangerous. And is there another Wotan who could despatch the volley of triplets at the end with such panache?
The range of colours in Terfel's voice remains astonishing
The range of colours in Terfel's voice ? a one-man bass-baritone orchestra ? remains astonishing. His Count, Giovanni, Leporello (a sly and salacious "Catalogue Aria") and Figaro (more hard-bitten than most) are all marvellously vivid, distinctive personalities. The Mozart soprano-of-the-moment, Miah Persson, makes an enchanting accomplice in various duets, and Mackerras's accompaniments are models of style and point. A clutch of rarities, including a comic "cat duet" ? "Nun, liebes Weibchen", not by Mozart at all but by his first Tamino, Benedickt Schack ? complete a charismatic recital. "
"Tutto Mozart!
Bryn Terfel (bass-baritone), with Miah Persson (soprano), Christine Rice (mezzo), Scottish Chamber Orchestra, cond Sir Charles Mackerras
DG 00289 477 5886, £13.99
Taking time out from his Wagner forays, Bryn Terfel joins the Mozart celebrations with a recital that includes not only his signature roles ? Figaro, Leporello, Don Giovanni, Guglielmo ? but also several he has not yet sung on stage.
Terfel's physique will probably always deter him from doing Papageno in the theatre. But he sings the birdcatcher's songs with mingled robustness and breezy charm ? and just the right hint of pathos. Moving up the social scale in Figaro, his Count is suave, sexy (in the duet with Miah Persson's Susanna) and, in the big aria "Vedrò, mentr'io sospiro", truly dangerous. And is there another Wotan who could despatch the volley of triplets at the end with such panache?
The range of colours in Terfel's voice remains astonishing
The range of colours in Terfel's voice ? a one-man bass-baritone orchestra ? remains astonishing. His Count, Giovanni, Leporello (a sly and salacious "Catalogue Aria") and Figaro (more hard-bitten than most) are all marvellously vivid, distinctive personalities. The Mozart soprano-of-the-moment, Miah Persson, makes an enchanting accomplice in various duets, and Mackerras's accompaniments are models of style and point. A clutch of rarities, including a comic "cat duet" ? "Nun, liebes Weibchen", not by Mozart at all but by his first Tamino, Benedickt Schack ? complete a charismatic recital. "
Terfel e Gardiner, em Paris...
Inveja e mais inveja, em Lisboa!
Uma vez mais, O INTÉRPRETE e O MAESTRO escapam-me...
Lágrimas e mais lágrimas, inveja e mais inveja invadem o coração de Dissoluto Punito, privado de ver os seus ídolos :-(((
Uma vez mais, O INTÉRPRETE e O MAESTRO escapam-me...
Lágrimas e mais lágrimas, inveja e mais inveja invadem o coração de Dissoluto Punito, privado de ver os seus ídolos :-(((
Les Troyens, na Bastille
Parece que não foi em vão que vi esta récita por um canudo...
A avaliar por esta crítica, pouco ou nada se perdeu!
À semelhança do jornalista, pergunto-me se o tão badalado trajecto desta produção - de Salzburgo até Paris - mereceu a pena?!
Ufff!!
A avaliar por esta crítica, pouco ou nada se perdeu!
À semelhança do jornalista, pergunto-me se o tão badalado trajecto desta produção - de Salzburgo até Paris - mereceu a pena?!
Ufff!!
Rousset, Les Talents Lyriques & Handel
(C. Rousset)
Christoph Rousset, ilustre cravista e exímio maestro, comemora os 15 anos de actividade dos seus Les Talents Lyriques (agrupamento que se dedica, em exclusivo, à exploração e divulgação do repertório barroco, mais coisa, menos coisa), levando à cena uma nova produção de Giulio Cesare, de Handel, no meu teatro de referência, em Paris: Théâtre des Champs-Élysées.
segunda-feira, 9 de outubro de 2006
Encenações VICKtoriosas
Se é verdade que interpretar é recriar, encenar é revitalizar.
Glyndebourne tem dois grandes amores: Rossini e Graham Vick
Pela parte que me toca, apesar de, em doses (muito) moderadas, apreciar um certo Rossini, Graham Vick fascina-me!
O que mais aprecio no trabalho de Vick é a sua inquestionável afinidade com a noção de eficácia: com o mínimo, faz o máximo.
Longe do feérico - Zeffireli -, embora capaz de representar o festivo, avesso ao minimalismo cénico, ortodoxo e depurado - Wilson -, Vick surpreende, sempre, sempre, à semelhança de Bondy.
Refiro-me explicitamente às produções de Ermione (1995) e Lulu (1996), ambas apresentadas no Glyndebourne Festival Opera.
Qual delas a mais recomendável!!!
(WARNER MUSIC VISION 0630-14012-2)
(WARNER MUSIC VISION 0630-15533-2)
Plasticamente muito diferentes, as duas produções são filhas do mesmo pai: 100% eficazes, explorando com notável inteligência os comedidos recursos (sobretudo em Lulu).
É certo que em Ermione há luxo e requinte, mas com inquestionável contenção e recato.
Em ambos os casos, o fito é um só: representar a versatilidade, apoiando-se, apenas, em escassos dispositivos.
Glyndebourne tem dois grandes amores: Rossini e Graham Vick
Pela parte que me toca, apesar de, em doses (muito) moderadas, apreciar um certo Rossini, Graham Vick fascina-me!
O que mais aprecio no trabalho de Vick é a sua inquestionável afinidade com a noção de eficácia: com o mínimo, faz o máximo.
Longe do feérico - Zeffireli -, embora capaz de representar o festivo, avesso ao minimalismo cénico, ortodoxo e depurado - Wilson -, Vick surpreende, sempre, sempre, à semelhança de Bondy.
Refiro-me explicitamente às produções de Ermione (1995) e Lulu (1996), ambas apresentadas no Glyndebourne Festival Opera.
Qual delas a mais recomendável!!!
(WARNER MUSIC VISION 0630-14012-2)
(WARNER MUSIC VISION 0630-15533-2)
Plasticamente muito diferentes, as duas produções são filhas do mesmo pai: 100% eficazes, explorando com notável inteligência os comedidos recursos (sobretudo em Lulu).
É certo que em Ermione há luxo e requinte, mas com inquestionável contenção e recato.
Em ambos os casos, o fito é um só: representar a versatilidade, apoiando-se, apenas, em escassos dispositivos.
Les Troyens à Paris
Antevisão de uma reprise - Salzburgo, 2000 -, que se encontra comercializada sob esta forma.
quinta-feira, 5 de outubro de 2006
Maria João Pires em entrevista ao El Pais
MJP dixit: "Las cosas están muy difíciles en todo el mundo y en Portugal, un poquito más".
Para aceder à entrevista, clique aqui.
Para aceder à entrevista, clique aqui.
quarta-feira, 4 de outubro de 2006
Heppner, Wagner & Mozart
Quem disse que um grande tenor wagneriano não pode ser um grande tenor mozartiano?
Embora num papel mozartiano algo singular - muito longe do lirismo puro da trilogia -, que demanda bravura e heroicidade (um pouco no domínio dramático), o papel titular de Idomeneo foi defendido com nobreza e brilho por Ben Heppner, no Met.
Nada que me surpreenda!
Embora num papel mozartiano algo singular - muito longe do lirismo puro da trilogia -, que demanda bravura e heroicidade (um pouco no domínio dramático), o papel titular de Idomeneo foi defendido com nobreza e brilho por Ben Heppner, no Met.
Nada que me surpreenda!
segunda-feira, 2 de outubro de 2006
De Retour de Paris...
Dissoluto Punito regressa à pátria, depois de um fim-de-semana parisiense, em que vi Berlioz - Les Troyens - por um canudo!
Felizmente, tempo não me faltou para alguns souvenirs, entre os quais se encontra literatura psicanalítica, música (muita!), um casaco e sapatos, como não podia deixar de ser!
Quanto aos sapatos e casaco - côté mais fetichista do périplo - não encontro fotos disponíveis (vá-se lá saber por que razão...); j´en suis désolé...
Felizmente, tempo não me faltou para alguns souvenirs, entre os quais se encontra literatura psicanalítica, música (muita!), um casaco e sapatos, como não podia deixar de ser!
Quanto aos sapatos e casaco - côté mais fetichista do périplo - não encontro fotos disponíveis (vá-se lá saber por que razão...); j´en suis désolé...
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