(DG 00289 477 5886)
Pouco dado a epítetos, ainda em estado de choque pela audição deste monumental registo, aqui vão as minhas primeiras impressões, claramente dominadas pela indisfarçável comoção...
Para lá do antitético, nesta obra - maior, Mozart e Terfel fundem-se: o espírito e a carne, o dentro e o fora, conteúdo e forma, a razão e a fé...
Esta fusão é da ordem do divino!
Bryn homenageia Wolfgang, como ninguém o fizera neste ano de comemorações, recriando a lírica mozartiana em toda a sua plenitude, num exercício de versatilidade raramente observável: buffo, pueril, lírico, recatado, singelo, corrosivo, malicioso, tremendo, colossal...
Mas, invariavelmente melodioso, metódico e disciplinadíssimo!
Símbolo absoluto do apogeu e maturidade de Bryn Terfel, este registo revela um intérprete genial, capaz de revitalizar o universo mozartiano, que requer, sem concessões, recato e sentido de câmara, singeleza, lirismo, brio, ironia e malícia...
A voz - agora solar, dourada... - mantém o corpo e densidade de sempre, convocando o pudor e o descaramente, sempre que necessário! Como (quase) ninguém, Terfel materializa o histrionismo: na mesma linha, revela-se dócil e terno, matreiro, pérfido, explosivo, colérico...
Em matéria de Mozart lírico (desde este memorável e deste incontornável), na actualidade, o resto é acessório!
Cada vez mais, creio que Mozart, no tocante à voz masculina média e grave (ou média - grave, a ler como baixo-barítono, rigorosamente) escreve-se com T.
Correndo o risco de pouco mais ter a acrescentar, prometo re-visitar este registo, assim que a razão tomar a dianteira...
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