terça-feira, 30 de junho de 2009

Pina Bausch (1940 - 2009)



Em 1998, no CCB, por ocasião do saudoso Festival dos 100 dias, assisti a Mazurca Fogo, peça encomendada a Pina Bausch.

Uma criação magnífica, ousada e grandiosa, com um final apoteótico. Não podia ser mais operática: o kitsch ao serviço da grandeza e eloquência.

Recordo Pina Bausch, essencialmente, por Mazurca Fogo.

See You in Heaven, dear Pina.

Paz à sua Alma.

Lírica, Fado & Jazz, ossia Novas Aquisições Ecléticas


(Salome - Royal Opera House Covent Garden, encenação de D. McVicar)


(Ruas - Mísia)


(My One and Only Thrill - Melody Gardot)

Se pensa que este blog ainda é o que era, desengane-se, fiel e caro leitor!
Il Dissoluto Punito rendeu-se ao ecletismo, coitado...

domingo, 28 de junho de 2009

Contra o FACEBOOK, marchar, marchar!



É verdade que me inscrevi nessa ignóbil ferramenta, por pressão de várias criaturas, que muito prezo. O pior do dito utensílio? As tiradas do seguinte calibre:

"Estou a preparar as malas para a viagem!", "Está um sol fantástico na Côte d'Azur", ou ainda "Comprei estes sapatos da Prada, agorinha mesmo, na Faubourg-Saint-Honoré".

Mas, fiel leitor, todos temos direito à trivialidade...

O que vou fazer agora, precisamente? (re)Ler Os Maias!
Não me sirvo do FACEBOOK, mas antes do BLOGSPOT - que é muito mais engraçado -, para divulgar o evento.

Contudo - prometo -, mal adquira um par de cuecas da Lacoste, os utilizadores do FACEBOOK serão os primeiros a conhecer a façanha! Com foto e tudo, claro está!



"Agora, agora mêmo, mêmo??? Vou pó Banzão, quisto aqui ê uma massada, com montes de chuva i mai não sei quê! Bóra lá todx pó Banzão!"

NÃO ME LIXEM...

... COMO É POSSÍVEL NÃO COMENTAR ESTE POST?

Mais: como pode uma melómano escusar-se a visionar este momento histórico???

Estarão os meus leitores todos a banhos na CompÔÔrta, privados de acÊÊsso à net? Terão enlouquecido? Ter-se-ão ausentado a pretexto de uma actuação do nosso José Cid?

COMENTEM, COMENTEM! Ou então... ACABO COM ISTO TUDO E JOGO-ME DA BOCA DO INFERNO ABAIXO!

Hipomania & Ecletismo

... parece o título de uma dissertação, mas não é!

Pelas bandas dissolutas, a hipomania tem vindo a adquirir uma nova significação, com o passar do tempo: comprar a rodos é sinonimo de ecletismo.

Vide artigos em anexo:


(Tristan und Isolde - Sawallisch, Bayreuth 1957, com Nilsson, Windgassen, Hoffmann e Greindl; La Sonnambula - Viotti, 1988, com Devia e Canonici)



(La Cenerentola - Ferro, 1983, com Valentini-Terrani, Araiza, Dara e Corbelli; West SIde Story - The original sound track recording)



(Lady in Satin - Billie Holiday; Cat on a Hot Tin Roof)



(Édipo Rei - Pasolini)


Há uns bons dez anos, em Paris, no Châtelet, assisti a uma récita de Outis (Berio), com a ajuda de Deus Nosso Senhor, Pai de todos, etc., etc.

Da dita récita retive o brilho de um tenor magnífico: Luca Canonici.

Hoje, durante o meu episódio maníaco, descobri a La Sonnambula que acima ilustrei a um preço irresistível – cerca de €6! O melhor ainda está para vir... Os intérpretes da peça de Bellini são, nada mais, nada menos, que Mariella DEVIA e Luca CANONICI, numa live recording, captada em 1988!!!

Agora, caro, fiel e paciente leitor, pergunto: o que é feito deste grande tenor???

sábado, 27 de junho de 2009

Vinho do Porto, ossia NUCCI!!!


Nucci lleva 42 años representando Rigoletto y en 433 ocasiones ha asumido ese papel. Demasiadas noches sobre su espalda para aceptar imposiciones de la directora de escena. Ésta le pidió que se quitase la joroba y no arrastrase la pierna para la representación. No se plegó a las exigencias, y triunfó. Ayer, la adrenalina seguía en su cuerpo. Nucci no pudo dormir. En su mente se agolpaban los rostros que han conformado el paisaje de sus 67 años de vida. Sus orígenes, hijo de minero muerto de silicosis; su trabajo de adolescente en la herrería familiar; sus estudios de canto pagados con esfuerzo y sacrificio, y los años viajando de teatro en teatro. Mientras hablaba, sus ojos grises humedecidos revelaban que la emoción seguía a flor de piel. "Esta profesión tiene muchas cosas maravillosas, entre otras que cada noche es diferente. Te ofrece la oportunidad de conocer a compañeros estupendos y enfrentarte a un público que es capaz de transmitir algo especial". El lunes sintió que en el ambiente del Real había una atmósfera distinta. "Nunca me suele ocurrir, pero justo antes de salir al escenario pedí las partituras. Había algo que me provocaba cierta zozobra y no sabía qué era. Salí a escena y me sentí reconfortado. Canté con una tranquilidad absoluta. Fue apoteósico". ¿Qué pensó? "Todavía ahora me cuesta digerirlo. No soy un divo, nunca lo he sido. Por eso ese tipo de cosas me siguen emocionando. Pensé en mi vida".

Defensor a ultranza de los compositores frente a los directores de escena, con los que ha mantenido más de una confrontación por su desconocimiento de la obra, Nucci sostiene que en la ópera "la dramaturgia está en la partitura, y cuando uno canta lo que debe hacer es leer lo que escribió el autor". No contento con explicar lo que quiere decir, realiza en prosa diferentes entonaciones para una misma frase. Ante la sorpresa de quien le escucha comienza a cantar un fragmento del dúo Sí, vendetta, tremenda vendetta. "Esto lo puedo hacer porque Verdi lo escribió. La ópera es un espectáculo loco, loco pero maravilloso. El más completo, pero el más loco. Si no está bien hecho y no se respeta la intención de su autor al final se crea otra cosa que también es espectáculo, aunque no ópera". Le ha gustado la puesta en escena de Michael Levine. "Es elegante y no me ha molestado para desempeñar mi trabajo". Leo Nucci, que hasta el lunes no había pisado la plataforma hidráulica por la que caminan los intérpretes de Rigoletto, se movió por el escenario sin problemas y con un dominio de la escena aplastante. "A lo largo de mi carrera me he encontrado con demasiados directores de escena que eran unos ignorantes de la obra que tenían intención de dirigir, y eso me parece insoportable". Confiesa que es meticuloso en su vida diaria, que tiene archivados documentos sobre las óperas que ha interpretado, programas de mano, notas de admiradores. Leo Nucci volverá a la arena de Verona este verano y después descansará. "En mi primer Rigoletto mi esposa estaba embarazada. En mi último soy abuelo de dos nietas. Ésa es la fuerza de mi personaje, la experiencia".Ha representado durante 42 años en 433 ocasiones el papel de Rigoletto»


(Nucci e Ciofi como Rigoletto e Gilda, respectivamente, Teatro Real - Madrid, Junho de 2009)

A questão do bis, em ópera, é da ordem do inusitado. Nunca presenciei nenhum.

Os derradeiros mais famosos e eloquentes foram protagonizados por Florez: primeiro no alla Scala e depois no Met, como Tonio (La Fille du Régiment), em ambos os casos.

Desta feita, Leo Nucci, famoso e ultra-sénior (com 67 anos) barítono italiano, bisa (juntamente com a magnífica Ciofi, sua conterrânea) o dueto Si vendetta, tremenda vendetta, de Rigoletto (Verdi), no Real, em Madrid.

O vídeo comprova o magnetismo e brilho de um momento histórico, singularíssimo. Levou-me às lágrimas.


Cada vez mais me convenço do seguinte: sempre que um artista lírico ultrapassa com pujança a barreira das cinquenta e cinco primaveras – mantendo-se em forma, com as devidas reservas -, é certo que triunfará até que a morte o leve – vide Rysanek, Kraus, Domingo, Gruberová e (agora) Nucci.

É que a vida lírica pode muito bem recomeçar aos 60 anos, caro leitor.


(Leo Nucci)

Já agora, fique o leitor a saber que Leo Nucci interpretará Rigoletto, na próxima temporada, no alla Scala. Por ora, Verona será o seu próximo porto de abrigo. E mais não digo, pois os bilhetes escasseiam!

segunda-feira, 22 de junho de 2009

La Traviata - Royal Opera House - II


(Renée Fleming, ossia Violetta Valéry - La Traviata: Covent Garden, Londres, Junho de 2009)

«Renée Fleming is in complete command as Verdi's courtesan, facing down the awesome difficulties of her big first act solo scene with assurance and maintaining a strong tone inflected with appropriate colours. Dramatically, she is never short of initiative, occasionally of a stagey kind but more often delivered with a sense of conviction that goes to the heart of Violetta's emotional truth. In previous revivals, Joseph Calleja's Alfredo proved the complete vocalist but an indifferent actor. Here, in his newfound engagement with the character of Violetta's young lover, he takes several steps forward. Formerly stiff, he now presents an ideal combination of the vulnerable and the headstrong; when he hurls his winnings at Violetta in the gambling scene, his violence is genuinely shocking. Thomas Hampson's Germont retains some stock gestures when his arms take on a life of their own. But much of his performance is dramatically thought-through, and his singing is consistently empowered. Germont's big second-act aria, Di Provenza, can seem anticlimactic; here it is a genuine emotional highlight. Music director Antonio Pappano takes charge of this revival, searching out the meaning of Verdi's score in a supple, sentient reading that sweeps you along.»

Se dúvidas houvesse, quanto às qualidades interpretativas do trio & maestro...

domingo, 21 de junho de 2009

Brilho qb


(RCA 88697318712)

Há uns bons dez anos, Kasarova era um destacadíssimo mezzo ligeiro. Animava Rossini como poucas. A voz era pequenina, mas nervosa, ágil e com uma inequívoca veia buffa.

Com o passar dos anos, Vesselina Kasarova tem vindo a ganhar terreno no domínio mais lírico.

Neste registo handeliano, a intérprete búlgara, totalmente travestida (Ottone, Teseo, Mirtillo, Ariodante e Ruggiero) - ou não fossem as árias deste trabalho criadas para o castrato Carestini -, revela uma profundidade interpretativa inabalável, evidenciando certa insegurança na ornamentação. O timbre – esse – é o de sempre: encorpado, quente, envolvente e assumidamente andrógino.

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(4/5)

La Traviata - Royal Opera House


(Joseph Calleja e Renée Fleming, como Alfredo e Violetta, respectivamente - La Traviata, Royal Opera House Covent Garden, Junho de 2009)

Renée Fleming, senhora da mais bela voz de soprano lírico dos últimos vinte anos (desde o ocaso de Cheryl Studer, para ser mais exacto) nunca me impressionou como Violetta Valéry, ossia La Traviata.

Vi-a no Met, há uns bons seis anos, neste tremendo papel. Tudo seria perfeito, não fora a falta de anima...

A suburbana mise-en-scène de Marta Domingo, concebida para Fleming, estreada na ópera de Los Angeles, veio sublinhar as minhas dúvidas, quanto às fragilidades de Fleming.

A dita encenação é medíocre. Os colegas de Fleming são o ultra-decadente Bruson (cujo vibrato dá dó...) e o Alfredo atontalhado de Villázon.



Consta que a maturidade dos cinquenta em muito enobreceu a interpretação de A Transviada, d'après Renée Fleming. Uma vez mais, cada cabeça, sua sentença, como segue:

«The latest and most mature to do so is the American superstar Renee Fleming and what she has that singers like Gheorghiu and Netrebko before her did not is a wealth of experience and stylistic know how. Alright, so the words are too often sacrificed to the sound and the sound, borne as it is on extraordinary and effortless breath control, is, one could argue, so glamorous as to seem self-regarding. But what a sound it is and how – in true bel canto fashion – it shapes and defines the emotion. The little hairpin dynamics, the wistful portamenti, the way in her climactic act one aria she takes time to savour the “mysterious”, “exalted” tone of the music culminating in a real (and properly ecstatic) trill. Her chest register has more attitude now, too, and there is rage in her demise, the words “It’s too late” rasping with defiance.

Experience and authority fleshed out act two more than one can say with even the young head on old shoulders of Joseph Calleja displaying fabulous maturity. What a distinctive quality this warm and engaging voice has, the flutter of rapid vibrato lending a wonderfully inviting quality to his ample middle range. Then the gaunt and commanding father figure of Thomas Hampson (Giorgio Germont) whose confrontation with Violetta achieved an agonising intensity. Fleming’s numbing pianopianissimo as she agreed to leave Alfredo for the sake of his sister was quite simply great dramatic singing – and how it heightened the impact of the great release “Amami, Alfredo” minutes later.

None of this would have been possible without Pappano’s extraordinary instincts: the sheer range of colour he coaxed from his orchestra in the accompagnamenti, from airy light to robustly sprung, was in itself a source of great insight. The fifth star is his, because this is quality as befits a major international house.»



«In her most recent appearances at Covent Garden, Renée Fleming sailed effortlessly through the ripe romanticism of Rusalka and Thaïs, producing some of the most exquisitely beautiful singing I have ever heard in an opera house.

But La traviata is something she finds tougher, as anyone would – it's often been said that Verdi had a different vocal type in mind for each of the three acts, and the emotional variety packed into the role of Violetta isn't easy to unravel.

In the party fizz of the first scene, Fleming certainly sounded uncomfortable and underpowered: she was outsung by her Alfredo in both duets, and the coloratura of "Sempre libera" put her under pressure, not helped by a conductor, Antonio Pappano, with whose tempi she clearly disagreed.

But the duet with Germont in the second scene was sublimely phrased and sensitively dramatised – there was far more musical and emotional nuance in her interpretation than in Anna Netrebko's, wildly acclaimed here last year – and the great statements of "Donna son io, signore" and the farewell to Alfredo (during which she poured camellias like blessings over his head) were delivered with blazing passion and authority.

At Flora's soirée, Fleming spun "Alfredo, Alfredo" on golden thread before collapsing in an alarmingly authentic stage faint. In her final hour, the voice became whiter, as though life was being bleached out of it, with the last ascending phrases of "Addio del passato" like agonising twists of breathless pain. What other soprano today can match such superlative craft?

This Violetta doesn't suggest the petite poule de la campagne Marie Duplessis of Dumas' original: Fleming plays her more like Scarlett O'Hara, a spirited Southern belle, and why not? But ultimately I missed the noble soul and tender vulnerability that my most beloved Violetta, Ileana Cotrubas, embodied so unforgettably.

Joseph Calleja was the most endearing of Alfredos, singing with fresh, forthright, vibrant tone, and as Germont Thomas Hampson gave a masterly account of that dreary old aria "Di Provenza il mar".

All the supporting roles were sharply characterised, evidence that Richard Eyre had returned in person to refresh his durable 1994 staging, which still looks splendid in Bob Crowley's sumptuous designs. And his differences with the diva aside, Pappano conducted with a warmth and vitality which made for a happy orchestra. A richly rewarding evening.»

Fleming: as time goes by...


(Fleming como Violetta Valéry - Met Opera House)

A prósito da estreia de Renée Fleming como protagonista de La Traviata, na Europa - Covent Garden, em Londres -, em entrevista, a fabulosa soprano dá-nos más e boas novas:

«Time, alas, cannot be suspended outside Four Last Songs. Fleming turned 50 this year and has bid farewell not only to Mozart but also probably Manon and, after Zurich next year, Violetta. “It’s not really so much that you can’t sing a role any more as ’I’ve said what I have to say in this and let’s leave it to someone else.’ I’m moving into slightly heavier repertoire.” Strauss’s Ariadne beckons, as does Elsa from Lohengrin. Her autumn tour will feature arias by Puccini, Mascagni, Leoncavallo and others from her forthcoming Decca release, Verismo. “I kind of looked at my whole discography and thought, ’What’s missing?’”»

Disse-me um passarinho...

... que a rehabilitação dos fundos de catálogo soma e segue!

A DECCA / PHILIPS prossegue a sua cruzada
mid-price. Esgotados que estão os artigos de primeira água, as major recorrem aos dispensáveis. Em tempo de crise...

Nenhum dos seguintes artigos constitui um
must - eventualmente, o Fidelio, com a Nilsson. Diria tratar-se de um conjunto de curiosidades, e pouco mais.



segunda-feira, 15 de junho de 2009

O Ocaso de Elektra


(DG 00440 073 4111)

O interesse deste registo é, eminentemente, histórico. Nele, Nilsson – a maior protagonista de Elektra (R.Strauss) do século – despede-se do papel titular da mesma ópera, no palco do Met, uma das suas residências predilectas. Ladeia-a uma das mais fabulosas Crisótemis de sempre, a extraordinária Rysanek.

À época, Nilsson contava com mais de 60 primaveras. Dito isto, aparentemente, pouco haverá a acrescentar...

Birgit Nilsson inicia a récita titubeante, com indisfarçáveis problemas de afinação. Pouco-a-pouco, à medida que a voz aquece, a soprano recupera o controlo sobre a dita, obviamente endurecida e com falta de flexibilidade. O folgo, a pujança e o volume vocais mantêm-se intactos. A interpretação permanece lendária, apesar de certos tiques histriónicos que, pessoalmente, dispenso – o olhar esbugalhado, por "dá cá aquela palha", a mímica exagerada. O reconhecimento de Oreste é mítico, pela carga e dinamismo teatral.

Rysanek permanece modelar, tanto na voz, como na leitura dramática da personagem – infinitamente feminina, dilacerada, pueril e de uma fragilidade graciosa. Ao vê-la em cena, ninguém adivinha o combate que Leonie travava com 39º de febre assassinos!

Termino com três referências adicionais: Levine, pela majestosa direcção orquestral, de uma imensidão e grandiosidade asfixiates, McIntyre (Orestes), pelo vigor físico e espessura interpretativa, e Dunn (Clitemnestra), artisticamente irrepreensível, perfeitamente à altura das treme
ndas Nilsson e Rysanek

O resto é da ordem do banal - encenação inclusive.


Caso o leitor procure a Elektra em dvd da minha eleição, ei-la, com Rysanek no papel titular... Divina!
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(4/5)

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Lohengrin d'après Bychkov

(Wagner - Lohengrin: Botha, Pieczonka, Lang, Youn, Struckmann e Schulte; WDR Radio Chorus & O Cologne, direcção de Bychkov. Profil)

«This is a gloriously played and sung account of Wagner's first unqualified masterpiece. It was taken from concert performances in Cologne a year ago, and is now released in Britain presumably to coincide with the revival of the Royal Opera production of Lohengrin, which has the same conductor and four of the same principals. Semyon Bychkov's handling of the huge score takes pride of place on these discs, for its dramatic sweep and power, the delicacy and finesse with which the more lyrical passages are teased out, and for the superlative performances he extracts from the Cologne Radio Orchestra and its chorus. The ceremonial set pieces that are studded through the opera have a grandeur that never overwhelms their dramatic function, and Bychkov shapes the crucial confrontations, such as that between Petra Lang's Ortrud and Adrianne Pieczonka's Elsa in the second act, with a clear sense of purpose. Most of the solo singing is outstanding, too, right down to the luxury casting of Eike Wilm Schulte as the Herald. As Lohengrin, Johan Botha combines all the necessary vocal heft with a wonderfully musical shaping of every line. And if Pieczonka's tone is sometimes a bit pinched under pressure, there is a radiance to much of her singing that more than compensates. You have to go back quite a few years to find a new Lohengrin as accomplished as this on disc

O Crepúsculo dos Deuses - Palau de les Arts, Valência

(cena de O Crepúsculo dos Deuses, Palau de les Arts - Valência, 30 de Maio de 2009)

«La Fura dels Baus ha culminado la puesta en escena de la Tetralogía de Wagner con una visión que plasma la destrucción de la naturaleza, el sojuzgamiento de unos seres por otros, el altísimo precio del poder y la mentira como procedimiento. Carlos Padrissa ha declarado que recoge así la lectura del gran wagneriano que fue el crítico Ángel Fernando Mayo. En cualquier caso, el poliédrico Anillo del Nibelungo puede verse desde muchos ángulos. El propio Padrissa, por ejemplo, ha dulcificado en los minutos finales la visión angustiosa de nuestro destino, proyectando un texto que Wagner escribió para Brunilda -y que luego eliminó-, donde se propone el amor como redención para el desastre acontecido. En la versión definitiva del compositor, sin embargo, el futuro queda tan sombrío como abierto: no se sugieren soluciones. Habrá que buscarlas. Dioses y héroes han caído. También gigantes y nibelungos. Todas las leyes se han roto. Preciso será comenzar desde el principio.

Los cimientos, sin embargo, continúan siendo la orquesta y las voces. En cuanto a la primera, dirigida por Zubin Mehta, sólo cabe admirarse ante su largo y concienzudo trabajo, su capacidad de narración, el lirismo, el aliento épico y la profesionalidad al servicio de la voz y de la escena. Entre los solistas, todos ellos de alto nivel, precisa destacarse el Hagen del bajo Matti Salminen, que no cantaba únicamente: también decía. Gustó asimismo la brillantísima Brunilda de la soprano Jennifer Wilson, algo disminuida, sin embargo, en el acto tercero. Catherine Wyn-Rogers estuvo ejemplar en la parte más lírica de su relato. Elisabete Matos encarnó bien a Gutrune. Lance Ryan -bonita y potente voz- anduvo quebrado (Siegfried, como Brünnhilde, exigen resistencia extrema) desde el do del tercer acto, pero encontró a partir de ahí, paradójicamente, resortes expresivos que no se plasmaron antes. Puso así la base emocional que impregna la Marcha fúnebre, con su cuerpo transportado solemnemente por la sala y la orquesta proyectándose en el escenario. Este momento será difícil de olvidar para quien estuvo allí. Consiguió restarle importancia, incluso, a la tontería de poner a Siegfried cantando boca abajo, o a la inventada (y dulzona) reconciliación entre Brunilda y Gutrune, que no figura en el libreto.
»

Há uns bons anos – em inícios da década de 1990 -, em Lisboa, tive a infelicidade de assistir a alguns trabalhos dos Fura dels Baus: uma estética psicótica, marcada por perseguições e insultos dirigidos ao público, amiúde gratificado com vómitos e fragmentos de corpos de animais, brutalmente esquartejadas. Enfim, deplorável! Nunca mais me apanharam.

À época, uma certa Lisboa sofisticada, ávida de experiências – limite (onde se inclui, creio, pagar para levar no focinho) foi ao rubro, rejubilando com aquela “ousadia estética”.

Doravante, os catalães Fura dels Baus enveredaram pela encenação operática. Consta que a La Damnation de Faust (Berlioz) que encenaram em Salzburgo foi memorável. Nunca a vi…

Desta feita, os Fura assinaram a mise-en-scène de O Crepúsculo dos Deuses (R. Wagner), em Valência, no Palau. Ao que se diz, o melhor de tudo foi a música e as vozes...

Graças a(os) Deus(es)!

Lulu - Royal Opera House, Covent Garden



«At the centre of it all, of course, is one of the great star roles of opera. With its terrifyingly high range and seemingly unstoppable coloratura, Lulu is not just a role that will challenge even the most indefatigable of singers, but also one that demands real acting from its star. The opera will always make its mark musically, but the action demands that we believe Lulu can seduce anyone she chooses. In my experience, the only Lulu who has ever completely achieved this was Christine Schafer at Glyndebourne in 1996. Schafer had no truck with winking, bumping or grinding, but simply stood there, imperturbably.»

É verdade, sim senhor: Christine Schäfer é a protagonista absoluta de Lulu
(A. Berg). Pela agilidade, corrosão moral e inequívoco sentido dramático. Vi-a no Met, em 2001, numa inolvidável récita, com Levine dirigindo a orquestra. Doravante, a grande Schäfer entrou para o meu top 10.

Anos antes, havia deslumbrado o público de Glyndebourne, numa produção que não cesso de referenciar, por todas as razões e... por Schäfer, evidentemente.

Londres – ossia o Royal Opera House, Covent Garden – não levava à cena a magistral Lulu desde 1983. Inacreditável...

Claro está, a peça lírica do austríaco não é um produto mainstream. So what?!


(Anja Silja como Lulu)

A critica – inglesa, a única, for the moment – enaltece as qualidades de Pappano & Orquestra. Os intérpretes - Agneta Eichenholz e P. Langridge, a par da magnífica J. Larmore - também são dignos de vénias.

«Antonio Pappano conducted a superb performance which eloquently made that very case, with voluptuous, incisive playing by the ROH orchestra, and a first-class ensemble cast including Jennifer Larmore, Michael Volle, Klaus Florian Vogt, Philip Langridge and Gwynne Howell.

Lulu herself, murderous, man-eating and "the root of all evil" in the decidedly unliberated view of her young creator, the playwright Wedekind, was sung with bristling, vocal athleticism by Agneta Eichenholz, an ironic, icy half-smile constantly playing on her stunning, porcelain features. Musically, there was no lack of conviction. The production was another matter. Loy's stripped down anti-vision - men in suits against a grey screen, with one chair as a prop - must have been baffling to anyone lacking prior knowledge, and the amplified German dialogue intensified the sense of alienation and dislocation. Perhaps that was the point. It's a hard evening - some of the audience looked weak with the effort and there were empty seats after the interval. It's worth it for the extraordinary music of the last act, but afterwards you feel in need of something sweet and frothy with an umbrella, a straw and a cherry on top.»

«What we get is a wonderfully detailed account of this rich, teeming score from conductor Antonio Pappano. He, the cast and the orchestra have obviously prepared this formidably difficult music with great care, and the hard work shows in the diaphanous orchestral textures and the security of the singing. Perhaps Pappano's approach could have been more dramatically incisive, especially in the final scene where the music almost congeals as the tension ratchets up. Yet with so little intent, let alone intensity, coming back from the stage, it's easy to understand why he seemed to be holding back.»

Já a mise-en-scène... não leva a melhor:

«Some directors have sought to soften its edges with comedy or lard it with visual glamour, but Christof Loy's new production rigorously refuses any such sentimental concession or moral compromise: his interpretation is bleak, raw and ice-cold.»



Para os que – como eu, infelizmente – não podem deslocar-se a Londres, movidos por esta Lulu, aqui ficam duas indispensáveis leituras da ópera: a áudio, completada post mortem por F. Cerha, com a fantástica Stratas, sob a direcção de Boulez, e a vídeo, por Schäfer, Schäfer, Schäfer, Schäfer e G. Vick.


domingo, 7 de junho de 2009

sábado, 6 de junho de 2009

O Triunfo de Flórez - Teatro Real, 2 de Junho de 2009


(Juan Diego Flórez e Alfredo Kraus)

Como Flórez, creio que o canto é um dos mais singulares meios de difusão e / ou expressão da felicidade.

Triunfal em Madrid – como em Lisboa, há uns bons anitos –, Juan Diego Flórez presta homenagem a um dos maiores tenores da história da lírica: Kraus, falecido há dez anos.

Flórez é tão superlativo como o Alfredo Kraus. Ambos cultivam a disciplina e contenção. Ambos são exímios na agilidade, amando e respeitando o belcanto como poucos. Um é moreno, o outro é loiro. O peruano tem um repertório mais alargado que Kraus – não é grande feito, como se sabe...

As diferenças, caro leitor, são mínimas!

«"Cuando llegas a entender que el canto es aire, es cuando comienzas a cantar bien". Lo dijo Juan Diego Flórez en la sobremesa de una cena hace unos meses, mientras saboreaba un pisco sour. Recordé la frase ayer en varios momentos de un recital primoroso, con un canto sin contaminaciones, pletórico de elegancia en el fraseo, inmaculado en el registro agudo hasta rozar lo extraterrestre. Juan Diego ha comprendido hace mucho tiempo que el canto es aire. Y no se ha conformado. Ha llenado ese aire de luz, de serenidad, de belleza sonora. Lo hace todo con una extraordinaria naturalidad y transmite una sensación de placer atemporal, extraño, de otra galaxia. En la sociedad actual del espectáculo y las ocurrencias con pretensiones de genialidad Juan Diego representa la pureza. En vez de recrearse en los efectos especiales los humaniza. Su canto fluye con una sensibilidad alimentada por la inteligencia. Tiene tanto corazón como cabeza, desprende tanta calma como alegría.

Dedicó el recital al inolvidable Alfredo Kraus, fallecido hace diez años. Fue un detalle de un gusto exquisito. Las huellas del tenor canario flotaban en el ambiente. Estaban en El guitarrico, una obra que por recomendación del tenor Juan Antonio de Dompablo, Juan Diego incorporó a su repertorio escuchando una grabación de Kraus. Y estaban también en Adiós Granada, en cuya pista le puso el foniatra krausista Eduardo Lucas, ayer presente, cómo no, en el recital. Las evocaciones se multiplicaban en el repertorio de zarzuela y se movían asimismo por el territorio belcantista.

Las páginas de Rossini, tanto las procedentes de las óperas como las de los Pecados de vejez fueron antológicas. "Melodía sencilla, ritmo claro", en primer lugar, como le gustaba indicar al compositor. Pero, en la voz más rossiniana de las últimas décadas, o quizás de la historia, el canto del Cisne de Pésaro se elevaba a cotas estratosféricas, con una sensualidad sosegada, una elegancia sobrenatural y un sentido del humor sutil. En este repertorio Flórez es imbatible.

Le gritaron desde la sala "qué majo eres" y nos sentimos identificados con el espontáneo. Puso Juan Diego al público en pie con la exhibición de sobreagudos de arias de El barbero de Sevilla o La hija del regimiento y llegó al corazón con una versión apasionada de Júrame o, ya en la calle, desde el balcón, dirigiéndose al público de la plaza de Oriente, con La flor de la canela. Juan Diego Flórez demostró una vez más que el canto puede ser un vehículo idóneo para transmitir la felicidad posible.»

ps a 7 do corrente, JD Flórez volta a atacar ;-)