La Bohème (Puccini) constitui uma das mais populares e representadas peças líricas de sempre. Com inúmeras interpretações registadas – Beecham (EMI) e Von Karajan (DECCA), apenas para citar duas das mais aclamadas -, em finais da década de 1990, La Bohème voltou a inspirar maestros, intérpretes e majors.
Pappano (EMI), apoiando-se numa dupla feminina de sonho – Vaduva e Swenson -, em Hampson e no ascendente Alagna, ofereceu-me uma das mais tocantes leituras da peça.
Em resposta ao êxito de Pappano, dois anos depois (1998), é a vez de Chailly (via DECCA) reunir o casal maravilha da última década do século: o reincidente Alagna e sua consorte, Angela Gheorghiu.
(La Bohème, direcção de Riccardo Chailly - DECCA)
A interpretação de Chailly fez correr tinta e mais tinta, arrebatou prémios e distinções (Diapason d’Or, Gramophone, Pinguin Guide, etc.). Et alors!?
INJUSTIFICADAMENTE, digo eu!
Apesar da majestosa direcção de Chailly e da linhagem dos intérpretes vocais, esta La Bohème é uma rotunda decepção.
É certo que o quarteto vocal prometia, mas… Alagna fixa-se na banalidade e superficialidade – um Rodolfo sem graça, nem charme, obcecado com o arrebatamento, despropositado -, Keenlyside (Marcello) mal sai do anonimato – teatralmente é nulo -, Elisabetta Scano propõe uma Musetta desastrosa, de voz pequenina e maioritariamente apoiada na agilidade – Moffo e Swenson, por exemplo, mostram-nos que a coloratura apenas anuncia a personagem, sendo o essencial veiculado pela ousadia e histrionismo – e… E Gheorghiu ?
Gheorghiu constitui a excepção, neste panorama decepcionante. Uma vez mais, a romena revela mestria, particularmente na interpretação de Puccini – uma Magda de sonho, uma Tosca interessantíssima, uma Butterfly aclamada e uma soberba Mimi.
Rica em subtilezas, a sua Mimi revela uma inequívoca progressão dramática – charmosa e cativante (acto I), graciosa (acto II), destroçada e sofrida doravante, até que a tísica a consuma. A sua leitura da personagem – sem sombra de dúvidas, a mais animada, prolixa e vitalizada -, apoiada numa voz segura e impregnada de drama, constitui o único argumento verdadeiramente favorável à aquisição deste dispensável artigo.
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(3/5)* A Decepção