Eis o mais precioso e louvável registo belcantista das últimas décadas!
Natalie Dessay, em definitivo, rompe com o território puramente ligeiro, abrindo caminho ao domínio do belcanto.
É bem verdade que em Verdi – Violetta e Gilda -, a herança ligeira condiciona a ousadia interpretativa. Em ambas as incarnações, Dessay desenha personagens algo desabitadas, vergando-se diante da disciplina vocal, que privilegia sobre a teatralidade.
Contudo, no território do belcanto mais ortodoxo – Bellini e Donizetti – a soprano francesa atinge a genialidade, particularmente na revisitação da insanidade – Elvira (I Puritani) e Lucia (Lucia di Lammermoor).
A voz, de timbre claro, elegante e aristocrático, encontra-se no apogeu das suas capacidades, sendo governada por uma disciplina de invulgar mestria: os pianissimi são um sonho, as cadenzas perfeitas, o vibrato controlado até à exaustão, a respiração soberana…
Desde os anos 1960 / 1970, em que Sutherland, Caballé e Sills triunfaram (seguidas, de imediato, por Gruberová, nas idas décadas de 1980 e 1990) que não se assistia a uma revialização tão perfeita e extraordinária do belcanto italiano.
Dessay começou por se afirmar na linha do repertório ligeiro – Rainha da Noite e Olympia -, tendo passado, desde há cerca de uma década, a interpretar papeis mais pesados e complexos, do ponto de vista interpretativo.
Muito recentemente, ousou o belcanto italiano, nomeadamente através de Amina (de A Sonâmbula, de Bellini, cuja interpretação é mítica) e Lucia de Lammermoor, antevendo-se as heroínas Tudor, de Donizetti, num futuro muito próximo.
O Verdi de Natalie Dessay – cuja Violetta parace estar para muito breve -, a avaliar pelos excertos deste registo, inspira-me alguns cuidados e reticências. Contudo, estou seguro de que, tanto em Bellini, como em Donizetti, não haverá concorrência à altura da soprano francesa!
Sem rodeios, aconselho a aquisição deste registo, que apelido de histórico, sem mais!
(0094639524327 Virgin Classics)