Teresa Cascudo e Sérgio Azevedo, nos respectivos blogs, citaram António Pinho Vargas. Coloquei um comentário ao dito artigo... APV reagiu...
Eis a minha resposta
------------------
Quanta Honra ! António Pinho Vargas retomando um comentário aduzido por um dissoluto !
Cumpre-me, desde já, fazer uma rectificação: não sou, nem psiquiatra, nem psicanalista. Sou, apenas, psicólogo.
As minhas desculpas ao António Pinho Vargas... Li, no blog da Teresa Cascudo, um excerto - penso eu - do que APV havia escrito...
Em todo o caso, se reagi à melancolia e à depressão, não foi por acaso ! Obviamente que procurei reagir num registo antagónico ao afecto depressivo que o seu artigo desencadeou em mim - objectiva e subjectivamente ! Se faço uma exaltação à euforia, é porque senti a tristeza patente no seu texto... Ela ecoou em mim !
Sou muito sensível à depressão e suas variantes, pois lido com elas diariamente: travail oblige...
Deixe que lhe diga que a mania - onde predomina o afecto eufórico -, no essencial, é uma resposta à depressão ! Fala-se, inclusive, em pirueta maníaca: um valente ataque de riso, em pleno funeral, é disso um exemplo !
Quanto à importância das palavras para os psi... Bom, é verdade que os psicanalistas lacanianos as colocam numa posição de grande destaque. Os seguidores de outras escolas psicanalíticas - onde me posiciono - conferem ao verbo importância, apenas e só, na medida em que veiculam, de forma privilegiada, um afecto ! No adulto, a comunicação emocional faz-se, em grande medida, através do símbolo palavra ! Se seguirmos uma criança em psicoterapia, as palavras, grosso modo, são acessórias !
Para encerrar este esclarecimento, diria que o simbólico - que é polissémico, como bem sabe ! -, na lógica da clínica psicológica de base psicanalítica, deve estar ao serviço da comunicação emocional ! Mas, atenção... Por vezes, as palavras servem para nos defendermos de uma efectiva expressão afectiva !!!
É interessante a destrinça feita, no seu comentário, entre Real e Psicológico...
Em tom provocatório, apetece-me dizer que não sei o que o real é...
Enquanto psi, interessa-me, tão somente, o que o que o indivíduo faz daquilo que lhe é exterior...
O mesmo é dizer, há uma realidade externa - que designamos como objectiva - (uma peça musical) e uma realidade interna - subjectiva, relativa ao sujeito e, psicológica - (a resposta emocional desencadeada pela audição da peça).
Diga-me, António: o que sente quando ouve a 6ª sinfonia de Beethoven ? Concebe a possibilidade de alguém entristecer... E de outrém rejubilar ?
Já me comovi às lágrimas a ouvir o Kraus interpretar uma ária de Verdi, quando grande parte do restante público bordejava a euforia...
Em meu entender, é irrelevante a distinção feita entre melancolia física e psicológica... O que me anima, nas suas palavras, é a capacidade de se zangar, de se irritar, que constituem uma saudável reacção à desolação depressiva !
A depressão é a incapacidade de fazer lutos.
Esta é uma máxima de um dos meus mestres (António Coimbra de Matos).
Vamos imaginar que a minha mulher se encanta por outro homem... Troca-me... Ou seja, desama-me... Perco-a (ou ao amor dela por mim)...
Fico triste, deprimo-me... Acho-me o pior dos sujeitos...
Doravante, duas alternativas, em termos psicológicos, me restam: idealizo-a - coloco-a num pedestal e culpabilizo-me, em exclusivo, pela situação; em alternativa, revolto-me contra ela ! Zango-me com ela ! Reajo ao abandono dela, desidealizo-a e... abrem-se as portas de um investimento amoroso noutra mulher !
Face ao panorama que descreve, a meu ver, restam duas posturas: a do nacional conformismo - onde triunfa o paradigmático "é o destino" - ou a zanga, que constitui o motor da revolta !
Á luz de um singelo olhar psi, a nossa identidade nacional carrega o fardo da depressão, da perda...
Não querendo ter a pretensão de sugerir receitas, penso que a inversão da situação de precaridade que descreve - no tocante à música nacional - está numa estratégia que se inspire na sua postura ! A constatação da precaridade está feita ! Mãos à obra !!! Valha-nos a criatividade !
Recomendações musicais, susceptíveis de desencadear as mais diversas reacções... Não quer avançar ?
Aqui vão algumas: Fidelio (Klemper, EMI ´61), Pélleas et Mélisande (Haitink, naïve´02 - Eu estava lá ! Assisti a esta lenda interpretativa !!!), Ariodante (Minkowski, Archiv´97), Giulio Cesar (Minkowski, Archiv ´03), Don Giovanni (Mitropoulos, Sony´56), Mitridate (Rousset, DECCA´99 - Também assisti a uma récita que se seguiu a esta gravação!!!), Salome (Sinopoli, DG´91), Otello (Toscanini, RCA´47), Tristan und Isolde (von Karajan, ORFEO´52 - não confundir com a interpretação de 71!!! - e Kleiber, DG´82... Termino com um monumento: Parsifal (Kna TELDEC´51)
Um abraço à Teresa Cascudo, ao Sérgio Azevedo e ao António Pinho Vargas
João Galamba de Almeida
p.s. vou colocar este comentário no meu blog
Eis a minha resposta
------------------
Quanta Honra ! António Pinho Vargas retomando um comentário aduzido por um dissoluto !
Cumpre-me, desde já, fazer uma rectificação: não sou, nem psiquiatra, nem psicanalista. Sou, apenas, psicólogo.
As minhas desculpas ao António Pinho Vargas... Li, no blog da Teresa Cascudo, um excerto - penso eu - do que APV havia escrito...
Em todo o caso, se reagi à melancolia e à depressão, não foi por acaso ! Obviamente que procurei reagir num registo antagónico ao afecto depressivo que o seu artigo desencadeou em mim - objectiva e subjectivamente ! Se faço uma exaltação à euforia, é porque senti a tristeza patente no seu texto... Ela ecoou em mim !
Sou muito sensível à depressão e suas variantes, pois lido com elas diariamente: travail oblige...
Deixe que lhe diga que a mania - onde predomina o afecto eufórico -, no essencial, é uma resposta à depressão ! Fala-se, inclusive, em pirueta maníaca: um valente ataque de riso, em pleno funeral, é disso um exemplo !
Quanto à importância das palavras para os psi... Bom, é verdade que os psicanalistas lacanianos as colocam numa posição de grande destaque. Os seguidores de outras escolas psicanalíticas - onde me posiciono - conferem ao verbo importância, apenas e só, na medida em que veiculam, de forma privilegiada, um afecto ! No adulto, a comunicação emocional faz-se, em grande medida, através do símbolo palavra ! Se seguirmos uma criança em psicoterapia, as palavras, grosso modo, são acessórias !
Para encerrar este esclarecimento, diria que o simbólico - que é polissémico, como bem sabe ! -, na lógica da clínica psicológica de base psicanalítica, deve estar ao serviço da comunicação emocional ! Mas, atenção... Por vezes, as palavras servem para nos defendermos de uma efectiva expressão afectiva !!!
É interessante a destrinça feita, no seu comentário, entre Real e Psicológico...
Em tom provocatório, apetece-me dizer que não sei o que o real é...
Enquanto psi, interessa-me, tão somente, o que o que o indivíduo faz daquilo que lhe é exterior...
O mesmo é dizer, há uma realidade externa - que designamos como objectiva - (uma peça musical) e uma realidade interna - subjectiva, relativa ao sujeito e, psicológica - (a resposta emocional desencadeada pela audição da peça).
Diga-me, António: o que sente quando ouve a 6ª sinfonia de Beethoven ? Concebe a possibilidade de alguém entristecer... E de outrém rejubilar ?
Já me comovi às lágrimas a ouvir o Kraus interpretar uma ária de Verdi, quando grande parte do restante público bordejava a euforia...
Em meu entender, é irrelevante a distinção feita entre melancolia física e psicológica... O que me anima, nas suas palavras, é a capacidade de se zangar, de se irritar, que constituem uma saudável reacção à desolação depressiva !
A depressão é a incapacidade de fazer lutos.
Esta é uma máxima de um dos meus mestres (António Coimbra de Matos).
Vamos imaginar que a minha mulher se encanta por outro homem... Troca-me... Ou seja, desama-me... Perco-a (ou ao amor dela por mim)...
Fico triste, deprimo-me... Acho-me o pior dos sujeitos...
Doravante, duas alternativas, em termos psicológicos, me restam: idealizo-a - coloco-a num pedestal e culpabilizo-me, em exclusivo, pela situação; em alternativa, revolto-me contra ela ! Zango-me com ela ! Reajo ao abandono dela, desidealizo-a e... abrem-se as portas de um investimento amoroso noutra mulher !
Face ao panorama que descreve, a meu ver, restam duas posturas: a do nacional conformismo - onde triunfa o paradigmático "é o destino" - ou a zanga, que constitui o motor da revolta !
Á luz de um singelo olhar psi, a nossa identidade nacional carrega o fardo da depressão, da perda...
Não querendo ter a pretensão de sugerir receitas, penso que a inversão da situação de precaridade que descreve - no tocante à música nacional - está numa estratégia que se inspire na sua postura ! A constatação da precaridade está feita ! Mãos à obra !!! Valha-nos a criatividade !
Recomendações musicais, susceptíveis de desencadear as mais diversas reacções... Não quer avançar ?
Aqui vão algumas: Fidelio (Klemper, EMI ´61), Pélleas et Mélisande (Haitink, naïve´02 - Eu estava lá ! Assisti a esta lenda interpretativa !!!), Ariodante (Minkowski, Archiv´97), Giulio Cesar (Minkowski, Archiv ´03), Don Giovanni (Mitropoulos, Sony´56), Mitridate (Rousset, DECCA´99 - Também assisti a uma récita que se seguiu a esta gravação!!!), Salome (Sinopoli, DG´91), Otello (Toscanini, RCA´47), Tristan und Isolde (von Karajan, ORFEO´52 - não confundir com a interpretação de 71!!! - e Kleiber, DG´82... Termino com um monumento: Parsifal (Kna TELDEC´51)
Um abraço à Teresa Cascudo, ao Sérgio Azevedo e ao António Pinho Vargas
João Galamba de Almeida
p.s. vou colocar este comentário no meu blog