Há muito que nutro pelas três interpretes um particular interesse.
A Grécia dá cartas em matéria de canto lírico desde há décadas - recordo Rossi-Lemeni e Baltsa, entre outros -, sobretudo no que toca ao soprano lírico spinto ou dramático di agilitá, de que Callas, Suliotis e Theodossiou são destacadas representantes.
O que une as três interpretes que dão corpo ao título deste post - além da nacionalidade -, em meu entender, é a familiaridade com a tragédia, também ela grega. A arte das três reside na entrega absoluta à encarnação dramática, que investem com arrojo e despudor. As qualidades histriónicas das citadas gregas são de uma riqueza e densidade estrondosas: oiça-se a Anna Bolena da Suliotis (DECCA ´67), a Norma da Callas (EMI ´61) e recorde-se a Violetta da Theodossiou, nas recentes e célebres récitas de Lisboa, há duas temporadas.
Não será estranho o facto de as três exibirem uma notória afinidade com personagens românticas marcadas pelo trágico destino. Dir-me-ão - e com razão - que a heroína romântica apenas o é na medida em que perece precocemente. Em alternativa, a dita heroína é assolada pela insanidade, de forma aparatosa e trágica.
Violetta, Norma e Lucia - papeis que a Callas marcou de forma inexorável, particularmente na estratosférica dimensão dramática que lhes conferiu - têm, de antemão, um mesmo destino: a morte prematura, na flor da idade, qual Callas, qual Suliotis...
É certo que a dimensão spinto das interpretes em questão lhes abriu as portas da encarnação das grandes heroínas do Belcanto: destinadas a interpretar Bellini, Donizetti e as primeiras heroínas verdianas.
Recentemente, adquiri um cd dedicado, em exclusivo a Verdi, de uma das mais magníficas interpretes wagnerianas da segunda metade do século passado: la Nilsson (DECCA ´62). Sem concorrentes em matéria de heroínas "pesadas" wagnerianas - Isolda ou Brünnhilde - menos feliz na interpretação de personagens femininas mais ligeiras do mestre de Bayreuth - Elsa, Elisabeth e Senta - (onde Rysanek e Crespin eram insuperáveis), as personagens que B. Nilsson interpreta padecem de uma frieza arrepiante, em matéria de investimento dramático ! A técnica - perfeita - em nada auxilia, já que o timbre é de um soprano dramático e não de um spinto !
Como é saborosa a imperfeição vocal da Callas, da Suliotis e... da Theodossiou !
As fragilidades técnicas das gregas, paradoxalmente, enobrecem as respectivas encarnações dramáticas.
(continua...)
A Grécia dá cartas em matéria de canto lírico desde há décadas - recordo Rossi-Lemeni e Baltsa, entre outros -, sobretudo no que toca ao soprano lírico spinto ou dramático di agilitá, de que Callas, Suliotis e Theodossiou são destacadas representantes.
O que une as três interpretes que dão corpo ao título deste post - além da nacionalidade -, em meu entender, é a familiaridade com a tragédia, também ela grega. A arte das três reside na entrega absoluta à encarnação dramática, que investem com arrojo e despudor. As qualidades histriónicas das citadas gregas são de uma riqueza e densidade estrondosas: oiça-se a Anna Bolena da Suliotis (DECCA ´67), a Norma da Callas (EMI ´61) e recorde-se a Violetta da Theodossiou, nas recentes e célebres récitas de Lisboa, há duas temporadas.
Não será estranho o facto de as três exibirem uma notória afinidade com personagens românticas marcadas pelo trágico destino. Dir-me-ão - e com razão - que a heroína romântica apenas o é na medida em que perece precocemente. Em alternativa, a dita heroína é assolada pela insanidade, de forma aparatosa e trágica.
Violetta, Norma e Lucia - papeis que a Callas marcou de forma inexorável, particularmente na estratosférica dimensão dramática que lhes conferiu - têm, de antemão, um mesmo destino: a morte prematura, na flor da idade, qual Callas, qual Suliotis...
É certo que a dimensão spinto das interpretes em questão lhes abriu as portas da encarnação das grandes heroínas do Belcanto: destinadas a interpretar Bellini, Donizetti e as primeiras heroínas verdianas.
Recentemente, adquiri um cd dedicado, em exclusivo a Verdi, de uma das mais magníficas interpretes wagnerianas da segunda metade do século passado: la Nilsson (DECCA ´62). Sem concorrentes em matéria de heroínas "pesadas" wagnerianas - Isolda ou Brünnhilde - menos feliz na interpretação de personagens femininas mais ligeiras do mestre de Bayreuth - Elsa, Elisabeth e Senta - (onde Rysanek e Crespin eram insuperáveis), as personagens que B. Nilsson interpreta padecem de uma frieza arrepiante, em matéria de investimento dramático ! A técnica - perfeita - em nada auxilia, já que o timbre é de um soprano dramático e não de um spinto !
Como é saborosa a imperfeição vocal da Callas, da Suliotis e... da Theodossiou !
As fragilidades técnicas das gregas, paradoxalmente, enobrecem as respectivas encarnações dramáticas.
(continua...)
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