Ópera, ópera, ópera, ópera, cinema, música, delírios psicanalíticos, crítica, literatura, revistas de imprensa, Paris, New-York, Florença, sapatos, GIORGIO ARMANI, possidonices...
segunda-feira, 31 de maio de 2010
Venha mais um!
domingo, 30 de maio de 2010
Gulbenkian 2010 / 2011
Da próxima temporada da Gulbenkian – porventura a mais operática -, destaco as onze transmissões live from the met, como segue (conforme programa da temporada, pp 130 - 133):
O Ouro do Reno (16/10)
Boris Godunov (23/10)
Don Pasquale (13/11)
Don Carlo (11/12)
La fanciulla del West (08/01)
Iphigénie en Tauride (26/02)
Lucia di Lammermoor (19/03)
Le Comte Ory (09/04)
Cappriccio (23/04)
Il Trovatore (30/04)
A Valquíria (21/05)
Aqui e ali, saliento a presença de Ute Lemper, Measha Brueggergosman, Thomas Quasthoff, lado a lado com imperdíveis versões de concerto de Da Casa dos Mortos (Janácek), Così fan Tutte (Mozart) e A Flowering Tree (Adams).
Pessoalmente, não tenho razões de queixa...
Venham mais dois...
Direitinhos para a lista dos recomendáveis.
From NYC with love...
sábado, 29 de maio de 2010
Tosca – Met Opera House, 20 de Abril de 2010
Alinhavo esta crítica ao som da inspiradora Gala Bing, captada live from The Met, em 1972... De humor normalizado, refeito do orgástico périplo por New York City, eis-me de regresso ao meu espaço blogosférico!
A Tosca de Bondy é um assombro teatral, entre outras virtudes!
Abandonando os insuportáveis clichés de Zeffirelli, Luc Bondy investe numa concepção sombria, onde se mesclam sórdido, luxúria e trevas. Em lugar dos grandes cenários, saturados de realismo, o encenador suíço impõe espaços recatados, de dimensões mais reduzidas.
Os cenários são primordialmente grandes, apenas em altura, conservando-se os ambientes de câmara. Em permanência, há lugar à intimidade do teatro, sublinhando-se a mímica, o toque, o cruzar cúmplice de olhares...
Não sendo particularmente bela, a cenografia (Richard Peduzzi) revela-se teatralmente muito eficaz.
Definitivamente, Bondy é um dinamizador de tramas: dota Scarpia de uma luxúria incomensurável, enquanto Cavaradossi é feito poeta do grafismo. Tosca, essa, balanceia entre o recato do negro e o voraz do escarlate... O vermelho do vestido de Floria, no acto II, confunde-se com o do sofá déco, onde as putas do barão Scarpia se esparramam, obscenamente.
Vocalmente, como se previa, o brilho foi obra máscula... A sumptuosa Mattila cancelara, – arrisco – receosa do confronto com os titãs Terfel & Kaufmann...
Jonas Kaufmann compõe um Mario Cavaradossi absolutamente modelar. Cenicamente, a sua personagem expande-se entre o lirismo e o idealismo.
Movido pelo valores nobres, Kaufmann canta um Cavaradossi perfeito. Baritonal, a sua voz, de uma beleza infinita e considerável extensão, afronta os agudos com uma ousadia sem paralelo.
Entra em cena, interpreta uma Recondita armonia extraordinária, correndo os mais incríveis riscos. No acto II, os seus Vitoria, vitoria são a tal ponto arrojados e destemidos que desencadeiam uma incontrolável ovação. Termina tocado pela mão de Deus, inundando E lucevan le stelle de poesia...
Terfel fora, como é sabido, um dos responsáveis directos pela minha viagem.
Bryn Terfel está para a lírica actual como Visconti, Bergman e Buñuel estão para o cinema do século XX: figuras absolutamente singulares, que se demarcam da mundanidade pelas suas divinas qualidades. Desde o magistral Jochanaan, de Covent Garden (1992), cuja encenação contém o dedo genial de Bondy, que venero o barítono galês. Este intérprete único alia, como ninguém, a mais viril pujança vocal a uma delicadeza, versatilidade e subtileza teatrais extraordinárias!
A voz é um deslumbramento, rica em cor e matizes, sendo infinita em nuances...
A versatilidade e riqueza do seu Scarpia são assombrosas. Impregnado de sadismo, a sua personagem pavoneia-se, vomitando luxúria e lascívia a rodos. Sempre de peito erguido, qual pavão, o seu barão consegue atingir momentos de uma tal delicadeza – nomeadamente, quando investe sobre Floria -, que nem os passos se lhe ouvem! E como caminha, na sua majestade... como se movimenta...
Acredite o paciente leitor nas minhas rendidas e apaixonadas palavras: morre-se estúpido, antes de se assistir a uma – que seja apenas uma... – performance deste animal cénico!
Por fim, coube à corajosa Patricia Racette substituir aquela que seria o terceiro pilar de ouro desta produção, Karita Mattila, co-responsável pela constante delapidação das minhas parcas economias. Previsivelmente, Racette foi o elo mais fraco da récita.
A intérprete americana é uma cantora competente, sendo senhora de um timbre pouco acima do banal. Em esforço – fortissimo -, rapidamente tende para a estridência. Contudo, uma vez em cena, tudo muda: habita a sua personagem com uma ambivalência monumental! Sempre em conflito, em permanente debate interior, entre a volúpia, o recato... e a crueza absoluta.
Termino com uma justa referência à grandiosa direcção de Fabio Luisi, que propõe uma Tosca expansiva e teatral, porventura menos lírica... Mas ópera é, acima de tudo, teatro, grandiosidade e arrebatamento!
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(5/5)