domingo, 5 de dezembro de 2010

Eu & a Cinemateca



Em Camille, filme baseado em A Dama das Camélias (Dumas Filho), Garbo constrói uma Margarida Gautier algo fria e distante. Qualquer das grandes Violetta Valery (Callas, Cotrubas, Netrebko, Caballé, Theodossiou, Gheorghiu, Stratas e Scotto, de entre as mais destacadas) assume uma incandescência dramática que ofusca a interpretação de Greta Garbo.
Será uma comparação pouco legítima, anacrónica (entre outras razões)?

O génio de Verdi também se revela em La Traviata, que se baseia, de igual modo, em A Dama das Camélias. O fulgor e passionalidade de Violetta destronam Mlle Gautier, seja ela Garbo ou a original.

Já em O Anjo Azul, o genial Stenrberg, coadjuvado pela dupla Dietrisch – Jannings, constrói uma impressionante metáfora da decadência, uma das mais poderosas e impressionantes do cinema. O professor (Un)Rath entrega-se ao amor objectal, que constituirá a génese da sua destruição narcísica. Haverá imagem da humilhação mais grandiosa?

11 comentários:

Raul disse...

Possuo estes filmes e os principais de Greta Garbo: Grande Hotel, Rainha Cristina (penso que seja o melhor), Anna Karenina e Ninotchka. G.G. possuía magia na sua maneira de actuar, no seu olhar, na sua infinita beleza e fabulosa fotogenia. Uma grande actriz? Sem dúvida, mas na época não tão boa como a Katharine Hepburn ou Bette Davies, embora todas estas grandes actrizes deixem sempre a sua marca, o que não faz delas 100% versáteis. Se me perguntarem que actrizes em prefiro, eu avanço com Anna Magnani e para mim a maior de todas: Giulietta Masina.

blogger disse...

Tenho de ver estes filmes.
Andei entretido com uns do Visconti, entre os quais o Leopardo continua a ser o que mais me impressiona, agora a par com o Senso (por razões mais que óbvias :))

Relativamente às actrizes que o Raul mencionou, devo salientar a Bette Davies, uma das que mais admiro. Outra que nao foi mencionada é a Audrey Hepburn, que com aquele olhar e ternura é capaz de fazer o mais insensivel dos maxos suspirar.

Agora, relativamente a outro assunto:

João, vamos lá combina o encontro na Gulbenkian para este fim de semana! orienta aí o esquema para a malta se encontrar!

Raul disse...

Caro Blogger,
Não mencionei a Audrey Hepburn nem a Ingrid Bergman, duas artistas únicas, porque não eram da década em questão, ou seja, anos trinta.
O amigo Blogger já viu filmes como a Rosa Tatuada, Belissima ou Roma,Cidade Aberta com Anna Magnani ou As Noites de Cabíria ou La Strada com Giuletta Masina? Outra coisa: se quer ver um filme bom e com muita ópera veja ofilme La Luna do Bertoluci.

blogger disse...

Raul,

sugestão anotada!

Já agora, já se dedicou às sugestoes que lhe fiz relativamente a Massenet?

Raul disse...

Caro Blogger,
Não porque não encontrei nenhma edição à venda. Se quiser sugiro-lhe mais sobre cinema, a minha sugunda paixão depois da música clássica.

Hugo Santos disse...

Caro Raul,

contemporânea de Garbo, uma das minhas absolutas favoritas é Barbara Stanwyck.

Raul disse...

Caro Hugo Santos,

Sem dúvida. Tenho alguns filmes dela, mas um eu aprecio muito, The Furies, (1950) onde para além do grande actor Walter Huston, pai do John Huston e oscar secundário no grande filme o Tesouro da Sierra Madre, tem o confronto com a igualmente grande actriz Judith Anderson, a inesquecível governanta de Rebecca de Hitchcock. O desempenho de Barbara Stanwyck é notabilíssimo. O filme contem uma cena -- e vi-o na televisão há décadas -- que nunca mais esqueci e há uns anos vi o dvd e comprei-o logo. Recomendo muito este filme cheio de personagens de carácter muito forte.

Raul disse...

Tenho sido injusto, pois agarrei-me a Greta Garbo (Quem não se agarra?) e esqueci-me do Anjo Azul. Filme que infelizmente não possuo, mas também há muitos na televisão. Do filme, para além da mítica presença de Marlene Dietrich, retenho a interpretação excepcional (alguns consideram a melhor de sempre) de Emil Jannings. Deste excepcional actor, primeiro Óscar de Hollywood possuo três fimes alemães mudos:
Der Letzte Mann ( The Last Laugh ), 1924
Der Tartuff ( Tartufo ), 1926
Faust ( Fausto ), 1926
Todas as interpretações são esmagadoras. O filme Faust é uma obra-prima.

Anónimo disse...

Queria dizer "vi há muitos anos na televisão"

Hugo Santos disse...

Caro Raul,

a nossa sintonia, por vezes, afigura-se notável :) Uma das interpretações de Stanwyck que mais estimo é, precisamente, em "The Furies" de Anthony Mann (Almas em Fúria, na tradução portuguesa), película na qual a tensão entre a sua Vance e o leonino patriarca soberbamente interpretado por Walter Huston é perfeitamente comparável a um duelo de titãs.

O filme em questão merece, igualmente, referência por se tratar, na minha óptica, de uma espécie de "western-noir" (sub-género pouco explorado por Hollywood) com uma acentuada carga psicológica inerente à evolução dramática da narrativa.

J. Ildefonso. disse...

Sou mais Dietrich do que Garbo!