Lars Von Trier é um realizador deplorável que, sob a capa de uma estética ousada e de uma racionalização permanentemente falhada – no sentido psicanalítico do termo –, impregna as suas criações de fantasmas sadomasoquistas.
Breaking the Waves, perto de Dogville, é de um amadorismo e inocência impressionantes.
Dogville – seguramente o mais abjecto e desprezível filme a que assisti – é uma criação perversa, trespassada por um fantasma primitivo, que apenas ilustra a dinâmica sadomasoquistas: o gozo secundário à humilhação e submissão, tão próprio da masoquismo, transforma-se numa destrutividade absoluta, vingativa e sádica.
Sou, por natureza e dever de ofício, pouco dado a reacções emotivas e fáceis manifestações de grande sensibilidade. Por norma, procuro no aparentemente insólito e chocante uma outra significação. Melhor dito: o meu ofício é a resignificação. Contudo, Dogville não é susceptível de uma significação outra: um puro exercício perverso, o mais miserável e pobre que o psiquismo humano pode conceber.
Abaixo de cão, portanto.
* * * * *
(0/5)
7 comentários:
Carissimo
Concordo em absoluto! Sei que não é uma opinião popular mas estou disposto a assumir os riscos.
pois eu entao gostei muito! da evolução das personagens e da interpretação da Nicole.
Pois eu ainda não o consegui ver...
nem nutro assim muita simpatia por Lars Von Trier, a bem da verdade.
Não chegou a fazer o Ring em Bayreuth. Desistiu e deu lugar a Tankred Dorst, o actual encenador.
O que dali sairia?... Uma Brunnhilde de meias rotas?... B-0 ??... :-?
Se calhar, ainda bem que se ficou pelo cinema!...
Acabou de ser muito falado em Cannes. Charlotte Rampling, grande senhora actriz, acabou de levar a Palma de Ouro Melhor Actriz pelo ANTI-CRISTO deste mesmo Sr. Von Trier.
Será desta??... :-?
LG
Dissoluto,
Que exagero !
Raul
Brother,
Não terá mérito um filme capaz de gerar no espectador um sentimento equivalente ao que ele próprio descreve? Os adjectivos que diriges ao filme "o mais abjecto e desprezível filme a que assisti" podiam ser usados por um qq habitante da aldeia em direcção a Nicole.
Há mais filmes neste registo, alguns verdadeiras referências - Funny Games, Breaking The Waves, Crash e Spider (ambos os de Cronenberg), A Festa; outros, filmes dispensáveis - Dancer in the Dark, A Pianista, Os Idiotas, A Grande Farra e o Saló (que não me atrevo a ver).
Para mim, Dogville não tem 5*, mas 3 1/2 . Lembro-me que na altura a história tb chocou muito, mas que a interpretação e a originalidade formal do filme me maravilharam.
Abraço
Tiago
Brother,
Evidentemente, a tua opinião era a mais aguardada, dado o objecto do post. Quanto à forma, não podemos estar mais de acordo: é sublime. Mas o conteúdo é miserável, como só a perversão consegue ser - pura e pobremente repetitiva, sempre em torno de quem subjuga mais e é mais subjugado.
Apesar de tudo, no Cronenberg a coisa é mais diversificada, nem sempre constituindo uma digressão pelo sadomasoquismo - vide Spider.
Um grande abraço,
jon
(Teclado de internet cafe no sul da China)
Igualmente achei interessante a forma, a maneira como as personagens se desenham numa l'ogica, que parecem um pouco tontinhas, mas para aquele cen'ario de outra forma n~ao poderia ser. Para mim a construcao do trama conduzindo ao inesperado, embora a milhas da Patricia Highsmith, 'e outro elemento do filme que acho interessante. Para **.
Raul
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