Por defeito ou virtude, sou pouco dado a elogios fúnebres. Também por defeito ou virtude, evito o culto e / ou enaltecimento de uma qualquer personalidade.
Com a psicanálise, aprendi que, quanto mais um objecto – no sentido psicanalítico do termo (a ler como o outro) – é idealizado, mais se oculta uma faceta persecutória do mesmo.
O caso de João Bénard da Costa (JBC) é disso mesmo ilustrativo: as intermináveis vénias e tapetes escarlates estendidos escotomizaram o óbvio, ossia o despotismo da criatura, entre outros vícios.
Jamais privei com o Senhor, apenas o conhecendo por via da escrita – Os Filmes da minha Vida, volumes I e II. Li-os com inegável interesse, tendo ambos constituído verdadeiras bússolas nas recentes (mas apaixonantes) incursões que venho fazendo pelos clássicos do cinema. Também graças a Bénard da Costa, aprofundei a minha admiração pelo cinema de autor, mergulhando cada vez mais fundo em obras de mestres como Dreyer, Welles, Visconti, Bergman, Buñuel, Truffaut e Antonioni, entre muitos e muitos outros.
Na escrita, o estilo de JBC sempre me desagradou. A pose ainda mais antipatia desencadeava em mim. Quanto à sua gestão da Cinemateca Portuguesa, não me pronuncio. Por incrível que possa parecer, nunca a frequentei, sendo que vivo a escassos três minutos das suas portas.
Verdadeiramente, o que é relevante é o desaparecimento de alguém que, ao seu jeito, nutriu e enquadrou apaixonadamente o meu amor pelo cinema.
O resto é da ordem do fait divers.
Paz à sua Alma.
ps JBC era, como eu próprio, um apaixonado pela música lírica, tendo escrito com propriedade, nomeadamente, sobre alguns dos seus expoentes máximos. Recordo um notável artigo sobre o desaparecimento da magistral Stich-Randall e uma fascinante leitura da última (superlativa) La Traviata do São Carlos, com Theodossiou no papel titular. No capítulo da crítica musical, sempre o achei mais contido e sóbrio, nada dado aos seus excessos habituais. Calados & Companhia, vera classe de gente que procura ocultar a sua condição plebeia com trôpegos adornos puramente snobs, deveria reler o JBC melómano! Faziam boa figura e prestavam melhor serviço aos leitores.
Com a psicanálise, aprendi que, quanto mais um objecto – no sentido psicanalítico do termo (a ler como o outro) – é idealizado, mais se oculta uma faceta persecutória do mesmo.
O caso de João Bénard da Costa (JBC) é disso mesmo ilustrativo: as intermináveis vénias e tapetes escarlates estendidos escotomizaram o óbvio, ossia o despotismo da criatura, entre outros vícios.
Jamais privei com o Senhor, apenas o conhecendo por via da escrita – Os Filmes da minha Vida, volumes I e II. Li-os com inegável interesse, tendo ambos constituído verdadeiras bússolas nas recentes (mas apaixonantes) incursões que venho fazendo pelos clássicos do cinema. Também graças a Bénard da Costa, aprofundei a minha admiração pelo cinema de autor, mergulhando cada vez mais fundo em obras de mestres como Dreyer, Welles, Visconti, Bergman, Buñuel, Truffaut e Antonioni, entre muitos e muitos outros.
Na escrita, o estilo de JBC sempre me desagradou. A pose ainda mais antipatia desencadeava em mim. Quanto à sua gestão da Cinemateca Portuguesa, não me pronuncio. Por incrível que possa parecer, nunca a frequentei, sendo que vivo a escassos três minutos das suas portas.
Verdadeiramente, o que é relevante é o desaparecimento de alguém que, ao seu jeito, nutriu e enquadrou apaixonadamente o meu amor pelo cinema.
O resto é da ordem do fait divers.
Paz à sua Alma.
ps JBC era, como eu próprio, um apaixonado pela música lírica, tendo escrito com propriedade, nomeadamente, sobre alguns dos seus expoentes máximos. Recordo um notável artigo sobre o desaparecimento da magistral Stich-Randall e uma fascinante leitura da última (superlativa) La Traviata do São Carlos, com Theodossiou no papel titular. No capítulo da crítica musical, sempre o achei mais contido e sóbrio, nada dado aos seus excessos habituais. Calados & Companhia, vera classe de gente que procura ocultar a sua condição plebeia com trôpegos adornos puramente snobs, deveria reler o JBC melómano! Faziam boa figura e prestavam melhor serviço aos leitores.
2 comentários:
gostei de ler o seu comentário....
sempre
ouvi falar dele mas nunca o ouvi falar (raramente uso a TV)
mas também adoro o Visconti e o Bergman sempre............
quanto à Cinemateca..........
era um sítio que muito frequentei e que ainda , de quando em vez, me dá muito prazer revisitar......
por isso, pela Cinemateca e "pelos" Visconti o recordo e lastimo sempre quando estas figuras carismáticas (simpáticas ou não ... mas dignas de respeito mesmo com o seu modo de ser...) desaparecem, tornando o mundo cada vez mais cinzento ......
Pois eu tive a sorte de privar com JBC. Sabe que discordamos quanto à sua escrita embora confesse que na maioria dos casos os textos que me ficaram na memória são precisamente aqueles em que falava de música. Quantos aos elogios fúnebres bem - tenho uma regra diferente. Apenas não os faço se não os tiver já feito em vida ...
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