A propósito do ciclo Heroínas Trágicas da Antiguidade proposto pela Gulbenkian (tendo incluído Elektra e Medée), que amanhã apresenta em versão de concerto Norma (Bellini), eis a minha revisão das interpretações de referência desta mesma ópera:
(Callas - Serafin, 1954; Sutherland - Bonynge, 1965; Callas - Votto, 1955)
(Callas - Serafin, 1955; Callas - Gui, 1952; Callas - Serafin, 1961)
(Caballé - Patané, 1971)
Sem margem para dúvidas, Callas é a mais dramática, Sutherland a mais ágil e Caballé a mais lírica.
Em todo o caso, Norma e Callas fundem-se, em pleno.
Corelli, Vickers e Del Mónaco serão os Pollione de referência: o primeiro lírico – heróico, o segundo brutal – dramático e o terceiro másculo.
Quanto às grandes Adalgisa, entre Stignani e Simionato, a primeira sobressai. No que se refere às não italianas, a disputa centra-se em torno de Horne e da inusitada (neste papel) Ludwig.
E agora, pergunta-me o leitor: qual delas levaria para uma ilha deserta?
De caras, a de Callas – Serafin (7 de Dezembro de 1955), captada ao vivo no Scala.
A grega, numa das mais fabulosas récitas com que nos presenteou, compõe a Norma modelar: visceral, corroída, sofrida, humilhada... tudo isto servido por uma voz ampla, imensa, de uma potência arrepiante. Ladeiam-na dois outros colossos, Simionato (Adalgisa) e Del Mónaco (Pollione). Votto incendeia a orquestra.
O final do acto I – um dos mais belos trios que a lírica conhece – é, a todos os títulos, antológico.
(Callas - Serafin, 1954; Sutherland - Bonynge, 1965; Callas - Votto, 1955)
(Callas - Serafin, 1955; Callas - Gui, 1952; Callas - Serafin, 1961)
(Caballé - Patané, 1971)
Sem margem para dúvidas, Callas é a mais dramática, Sutherland a mais ágil e Caballé a mais lírica.
Em todo o caso, Norma e Callas fundem-se, em pleno.
Corelli, Vickers e Del Mónaco serão os Pollione de referência: o primeiro lírico – heróico, o segundo brutal – dramático e o terceiro másculo.
Quanto às grandes Adalgisa, entre Stignani e Simionato, a primeira sobressai. No que se refere às não italianas, a disputa centra-se em torno de Horne e da inusitada (neste papel) Ludwig.
E agora, pergunta-me o leitor: qual delas levaria para uma ilha deserta?
De caras, a de Callas – Serafin (7 de Dezembro de 1955), captada ao vivo no Scala.
A grega, numa das mais fabulosas récitas com que nos presenteou, compõe a Norma modelar: visceral, corroída, sofrida, humilhada... tudo isto servido por uma voz ampla, imensa, de uma potência arrepiante. Ladeiam-na dois outros colossos, Simionato (Adalgisa) e Del Mónaco (Pollione). Votto incendeia a orquestra.
O final do acto I – um dos mais belos trios que a lírica conhece – é, a todos os títulos, antológico.
21 comentários:
Dissoluto, não é Serafin quem dirige a miraculosa Récita Norma 7 de Dez.55, mas sim Antonino Votto… ai que o menino anda distraído e não aprende as lições!! :-D :-D
Nos idos de 90 tive esta mesma Norma na mão (Edição ARKADIA GOLD)… e deixei-a escapar… ( não a comprei). Nunca mais a vi, nem noutras edições de outras etiquetas. Se hoje a conseguisse apanhar… :-# … não me escapava!!!
Mas o som… Deus meu… :-( ...
as remasterizações destas gravações piratas e radiofónicas dos anos 50 revelam-se muito medíocres, ainda hoje (EMI, Best Sound Engineers? Where are you?)
O mesmo se passa coma versão Gui que tive há dias na mão, e só não a comprei exactamente por causa do som… apesar de ser etiqueta oficial EMI…
Alguém deste Blog me pode opinar sobre o som Norma Gui Covent Garden52 e… como encontrar a Norma55 Alla Scala Votto, Del Monaco, Simionato…?? :-)
MR LG,
Foi um lapso meu ;-( q já corrigi! Sei bem ser Votto! Aliás, sob a capa do cd, como se vê, coloquei o nome de Voto ;-)))
A Norma de Gui nada tem de indispensável, nem mesmo a Callas se encontra no seu melhor !
Quanto às demais, gravo-lhas, se quiser.
Não posso concordar. Não posso, pronto.
Vou ver esta Norma que já sei ser uma nódoa daqui a umas horas.
A Norma suprema, para mim, é Dame Joan Sutherland (a Caballé era boa, mas uma estaca em palco).
Callas cantava uma oitava abaixo. Admito que vê-la em palco fosse electrizante... sou demasiado nova.
A parceria Sutherland-Horne não tem igual.
Uma outra Norma da Callas que recomendo é a captada em Trieste em 1953 com Corelli, Nicolai e Christoff. Seria um interessante termo de comparação com a versão de Covent Garden (1952). No entanto, julgo que a Norma a levar para uma ilha deserta seria a do Scala 1955.
Caro Dissoluto,
Muito obrigado pela sua amabilidade e disponibilidade. Na realidade queria ouvir na íntegra a NORMA55- tenho só desta Récita um disco vinil muito antigo: década de 80 (AH, SAUDADES!... :`-( )e foi a minha introdução (inesquecível!!) à NORMA de Vincenzo Bellini… e logo com quem e com que momento de sublimidade musical!
A NORMA52Covent Garden tenho muita curiosidade em ouvi-la. Callas no seu apogeu vocal! Acho que evolui da Callas desesperada dos Anos 60 para a Callas vaillante e sanamente vocal dos inícios de 50.
Mas… o som das captações piratas e radiofónicas dos anos pretéritos… Ah, o som… (Piangi… Piangi, ahi misera…)
Eu preferia dar-lhe o meu e-mail. Pode ser?
Thank you, thank You… ;-)
P.S1 – Hugo Santos: também tenho uma curiosidade de morrer pela Norma53 Trieste. Corelli, Christoff, Nicolai… My God! Que sede de fogo no Palco!
PS.2 – Teresa e Raul. Atenção a respostas minhas (infelizmente atrasadas… :-( ) em anterires Posts/Debates de ideias lançados pelo nosso caro Dissoluto.
A Callas para cantar "Norma" uma oitava abaixo só se fosse um "basso profondo"!
LG,
Pode enviar o e-mail (só eu o lerei ;-) )
Bingo! Dissoluto.
Caro Hugo Santos, há extractos no You Tube da NORMA Trieste53:
http://www.youtube.com/watch?v=1FpVGA0VlQM
E... Callas earliest video
http://www.youtube.com/watch?v=5GG8jBROH1c&feature=related
Se alguém se identificou 100% com um papel em ópera foi a Callas com a Norma e falar de outra cantora superior à Callas ou mesmo igual neste papel, para mim, resulta de duas coisas: não conhecer a personagem em termos melodramáticos ou não perceber a revolução «Callas». Quanto às interpretações da cantora, tenho essas quatro referidas pelo João, todas geniais, e concordo que a versão do Scala ao vivo seja vocalmente a ideal, mas não era essa que eu levaria para a ilha deserta. A que eu levaria seria a última em estúdio com o Corelli e Ludwig, pela simples razão que a análise da personagem passa da compreenção para a lição. Embora a voz na zona aguda acuse alguns pequenos problemas, inexistentes nas outras gravações, a zona média e principalmente a zona grave servem o drama de uma maneira para a qual não encontro adjectivação. É todo o Sediciozi voci (aquele grave !), o «madrina», o «nominare non oso» , o «in mia man». Sãos sons que, a mim pelo menos, ficaram gravados para sempre bem dentro da minha sensibilidade. Outras Normas? A Caballé, evidentemente pela beleza da voz e força dramática e porque é Norma dos pés à cabeça, a grande Cerquetti, pela voz de soprano dramático, porque tem a autoridade de Norma, pelo timbre, pela italianidade. A Sutherland, voz excepcional, não é a Norma que idealizo. Não tem graves, a voz não tem cor dramática, o italiano não serve os recitativos, embora tenha autoridade e canta a Casta Diva, um canto elegíaco, como nenhuma outra, mas a ária não Norma a pensar ou a agir.
Car Raúl,
100% do meu apoio neste seu Post.
See You.
LG
Caro Mr. LG, sem querer duplicar a oferta do nosso caríssimo Dissoluto (desculpe, João), também lhe posso arranjar as ditas gravações. Que me recorde, a do Scala é directamente remasterizada do LP. A de Trieste apresenta um qualidade sonora entre o mediocre e o razoável.
Grato pela atenção e cuidado no seu Post, Hugo Santos.
Sem desprezar a sua oferta e como o nosso Dissoluto avançou primeiro, estou em vias de negociação com o respectivo dono deste Blog.
(Lembrei-me e comparei... sem nada a propósito... mas o cérebro tem destas coisas...) se o conflito israelo-árabe se resolvesse como nós resolvemos com uma simples troca de Gravações da Suprema Maria na NORMA...
O mundo seria o Jardim do Eden, com as Marias, as Karitas e as Varnays a emprestarem as suas vozes contribuindo para a harmonia humana...hmmm ... Sinfonia nº9 de Ludwig van Beethoven, op.125, dita a "Coral"...
Não sei porquê, passei-me de repente e deu-me para estas reflexões...
Desculpa lá Hugo... é da idade... :-D :-D ;-)
Acrescentando...
Eu enganei-me quando disse que possuía as 4 Callas referidas pelo João. A versão com a Stignani e o Del Monaco não possuo.
Sobre a gravação do Covent Garden apenas pode haver o preciosismo da Callas na Casta Diva transmitir um cuidado excessivo, fruto de um certo nervosimo. O que se segue é a Norma da Callas no que tem de único. Sobre a Stignani ainda há poucos anos relembrou o grande crítico John Steane, presente na récita, o «frisson» que foi quando a voz da Stignani se soltou pela primeira vez percorrendo a sala. O dueto do primeiro acto com a Callas é para mim o melhor que há gravado. À voz opulenta da Stignani responde a Callas na sua mais perfeita sintaxe belcantista. Mirto Picchi é um estilista e grande cantor e Giacomo Vaghi, baixo de voz bem sonora é um grande Oroveso. Quanto ao maestro Vittorio Gui, estamos a falar de um dos maiores maestros de ópera italiana do século XX, da exclusiva prateleira do De Sabata, do Serafim e do Marinuzzi, os seguidores de Toscanini. Não é por acaso que a EMI editou esta gravação ao vivo colocando-a a par das outras duas da Callas em estúdio.
Nesta lista de CDs uma Norma não foi referida e que é de altíssimo nível, a da Caballé com a Cossoto e o Domingo, todos intérpretes ideais: a Caballé já sabemos; a Cossoto é a perfeita Adalgisa, superior à Horne e à divina Ludwig, que tem um pouco falta de italianitá; o Domingo é perfeito não devendo nada aos outros Polliones, excepto ao Corelli, para mim, a personificação da personagem, Aliás todos as personagens romanas (Pollione, Licinio de La Vestale e o Poliuto) assentavam-lhe como uma luva. Ouví-lo na versão da Cerqueti é uma experência única.
Não tenho muito a acrescentar à discussão. Tudo o que haveria a dizer acerca das Normas da Callas já foi dito.
No entanto, deixem-me lançar uma discussão ;)
Acham que hoje em dia há Normas no activo?
Na minha opinião, e de todas a tentativas recentes que ouvi, acho que não (Gruberova, Guleghina, Papian).
Bom lembrete, Raúl.
1ºs dias de Janeiro de 1958, Scandalo a Roma: a Norma/Callas dá lugar à tigreza, a tigreza dá lugar à titã vocal Cerquetti que tem que enfrentar os não menos titãs Corelli e Neri. Faço ideia a sanidade vocal que fazia abanar as paredes da Ópera de Roma…
Meus senhores, Pretéritos vocais em plena acção!!... :-)
A etiqueta MYTO acabou de lançar esta gravação pirata? radiofónica? dos tempos da glória passada... :`-(
Quanto ao som…. Raúl??...
No norte não se arranja a MYTO, em Lisboa onde?...
A preço Top, estou mesmo a ver… :-(
Resposta a este Post… alguém…??
All the Best ;-)
LG,
Eu comprei essa Norma da Cerquetti no Corte Inglês de Vigo (!) há uns 15, 16 anos. O som é aceitável. A gravação de de 4 de Janeiro de 1958 dá-nos uma ideia da atmosfera reinante, que é o mais anti-Callas possível. No fim da Casta Diva, maravilhosamente cantada, o teatro vem abaixo, com os aplausos a misturarem-se com as «bocas» do público. Já perto do fim alguém solta um «grazie» seguida de mais uma onda de aplausos.
Ricardo,
No século XX grandes Normas só a Ponselle, a Callas, a Caballé e de uma forma cometa a Cerquetti. Podemos juntar outras Normas que não são ideais mas vale a pena escutar: Cigna (berrava), Souliotis, Scotto, Sutherland, Verrett e a Gruberova, cuja abordagem depois dos 60 me deixou impressionado. Outras já estão longe dos requesitos. Vamos ver se a Nina Stemme, com o seu potencial de voz o põe ao serviço da gluckbelliniana Norma.
Em resposta ao Ricardo
Sim existe uma excelente Norma no activo, mais Cerquetti que Callas, como comprovam dois extractos no youtube. Vimo-la em Lisboa no Guilherme Tell ainda muito jovem, aliás em estreia absoluta, e na Aida em circunstâncias bastante dificeis e chama-se Ana Maria Sanchez. Que vir os links abaixo poderá avaliar por si própio.
http://www.youtube.com/watch?v=ZzdSMMajS5E
http://www.youtube.com/watch?v=E_DWDN4YeRA
Outra Norma do séc. XX que vale MESMO a pena descobrir é a holandesa Christina Deutekom! Absolutamente fantástica. Não há gravações comerciais das suas Normas mas para quem quiser posso arranjar umas gravações pirata relativamente boas!
Ricardo,
Sim, tem razão. Grande voz.
Eu tenho a Norma da Deutekom ao vivo em São Francisco (1975) com a Troyanos, o Robleto Merolla e o Clifford Grant, dirigidos pelo Carlo Felice Cillario. Outra gravação com a diva holandesa que devo ter algures é de Bregenz (1970) e conta com o Aldo Bottion, a Bianca Maria Casoni e o Paolo Washington. Seja como for, a Deutekom tem a "stamina" que lhe permite abordar o papel embora a densidade dramática da Callas não se vislumbre. Outra intérprete longe do ideal que me agrada como Norma é a Grace Bumbry. Existe a gravação de Covent Garden (1978) com Veasey e Pedro Lavirgen, Rio de Janeiro (1980) com Florence Quivar e Ruben Dominguez e aquela com a melhor qualidade sonora: Martina Franca (1977) com Giacomini, Cuberlli e Lloyd. Demais Normas que vale a pena ouvir incluem a Gencer (Buenos Aires, 1964 / Scala, 1965), a Radmila Bakocevich (Trieste, 1968; quem sabe, um dia, surjam as récitas de São Carlos com a Cossotto em 1967), a Elinor Ross (Veneza no La Fenice ou em Berlim, 1966/67 com Cossotto/Vighi e Del Monaco) e ainda a Marisa Galvany (Caracas, 1975 / MET, 1979). Relativamente ao papel de Pollione, a virilidade e relativa flexibilidade do material vocal, transformam o Corelli num intérprete ideal, embora o "desplante" com que o Del Monaco aborda o papel o torne irresistível.
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