sábado, 13 de dezembro de 2008

A Kabanová de Carsen: Madrid, Teatro Real


(Karita Mattila ossia Kat'a Kabanová)

Ao que tudo indica, a nomeação de G. Mortier para a direcção do Teatro Real promete grandes mudanças. Pelo que conheço do senhor, são duas as suas predilecções: repertório contemporâneo (pós-romântico, mais exactamente) e encenações arrojadas.

À margem do dedo de Mortier, Robert Carsen encenou uma Kat'a Kabanová promissora, cuja protagonista é, sem dúvida de espécie alguma, o soprano lírico-dramático mais destacado dos últimos 15 anos, Mattila de sua graça.

Na temporada passada, em Amesterdão, tive a felicidade de assistir a uma magnífica récita de Kat'a Kabanová, com Amanda Roocroft na pele de dasafortunada protagonista. Mas, convenhamos, Roocroft está uns pontos abaixo da fabulosa finlandesa!

Karita Mattila – cuja carreira operática sigo de perto desde finais do milénio (A Dama de Espadas – Bastille, Fevereiro 2000; Otello – Châtelet, Abril 2000; Salome – Met, Março 2004; Arabella – Châtelet, Maio 2005; Jenufa – Met, Fevereiro 2007) -, entre outras sobejamente conhecidas virtudes, é uma destacada e reputadíssima intérprete de Janacek.

Logo agora, que a tenho aqui ao lado, na grande Madrid, a senhora escapa-me... por dificuldades de agenda, minhas, claro está!

Em jeito de vingança, na abertura da temporada 2009 / 2010 do Met, lá estarei!

Entrementes, aqui fica a revista de imprensa desta (mais que não seja...) belíssima produção:

«En el panorama de la escena internacional abundan la boutade y alguna que otra extravagancia. Pero falta provocación. De la buena. Por eso, cuando uno asiste a la magia suele quedar perplejo. Ocurre poco, pero cuando se da la circunstancia, al espectador le cuesta, para bien, recuperarse de la experiencia. Uno de los escasos directores de escena que suelen hacer explotar a menudo el milagro es un canadiense pequeño, discreto, con tono de voz bajo y pausado, que se llama Robert Carsen: uno de los mayores poetas escénicos con los que puede toparse el espectador hoy en un teatro.

(...) Ahora, Carsen regresa con toda su profundidad poética de la mano del enigmático Leos Janácek y su ópera Katia Kabanova.

(...) "El tiempo en Janácek es lo que más me fascina de él. Nuestras vidas son una carrera contra el reloj. Ese avance se lo traga todo como una apisonadora. Por eso el hombre es vicioso, porque las drogas, el alcohol, el sexo, detienen el tiempo. Janácek también. Lo congela, lo consigue siempre, y en medio no dejan de ocurrir cosas", afirma Carsen.

(...) En las funciones del Real, la batuta está en manos de Jiri Belohlavek, y en el reparto destacan Karita Mattila, Miroslav Dvorsky y Oleg Bryjak.

No sólo es el tiempo elemento esencial en la escena de Carsen. El espacio, el movimiento, también desempeñan un papel primordial. Junto a eso, este artista juega con la física, la precisión, la matemática. Pero a todo lo citado le añade los ingredientes que conforman la emoción: el color, la dramatizaación, el símbolo... En Katia Kabanova, basada en la obra La tormenta, de Alexander Ostrowski, existe uno esencial sobre todos los demás: el agua.

"El agua en este montaje es elemento, personaje y sobre todo metáfora de los sentimientos que atormentan a esta mujer. Provoca claustrofobia y ansia de libertad, se comporta como un espejo", asegura Carsen. Un espejo en el que todos se reflejan rodeados de líquido, movimiento y color. "Fue arriesgado elegirlo, porque uno no puede hacerse idea de lo poco práctico y lo peligroso que es en escena, pero era fundamental para explicar muchas cosas de la obra. Quise utilizarla de forma poética".»


(cena de Kat'a Kabanová, d'après Robert Carsen)

Pela bandas lusas, na temporada passada, tivemos ocasião de assistir ao notável trabalho de Carsen. Evidentemente, a intelectualidade nacional revelou desprezo pela sua obra!
É natural, está a dita intelectualidade habituada a uma fasquia elevada.

6 comentários:

Paulo disse...

E que tal mudarmo-nos todos para Madrid?

Il Dissoluto Punito disse...

Paulo,

Eu já ando com um pé lá e outro cá ;-)

Anónimo disse...

Tens razão João. A maioria da critica desprezou a encenação da Tosca do Carson enquanto enalteceram outras encenações no mínimo constrangedoras.

Anónimo disse...

Há muito tempo que não escutamos Janacek em Lisboa e é pena porque tivemos em tempos a Raposinha e a Jenufa em produções bastante belas e adequadamente dirigidas e cantadas que foram muito bem recebidas pelo público que demonstrou grande empatia com a obra do compositor. Infelizmente razões politicas e artisticas impediram que esse conhecimento se aprofundasse.

Anónimo disse...

Eu tenho um DVD de uma óptima Kata Kabanova, ópera de que gosto bastante, interpretada pela excelente cantora Angela Denoke. Como não o tenho aqui à mão não me lembro quem é o encenador, mas gostei muito do seu trabalho. A trama que tem muito a ver, digamos, com um drama de saguão, está muito afastado de uma hidrofilia. Que fará a grande Matilla a atravessar estas pedras do riacho. A fugir da sogra ?

Hugo Santos disse...

Espero que o Teatro Real sobreviva ao Mortier.