segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Avante Caviar, Avante!



Um concerto de música lírica na Festa do Avante, há uns anos, era impensável! Seria, no dizer bafiento e primitivo da esquerda ortodoxa e ultrapassada, "uma rendição às manifestações da burguesia gorda, afim com as tendências fascistas – fascizantes."

Sempre fui de esquerda – de caviar, evidentemente! –, pelo que não posso deixar de me vergar diante desta saudável concessão operária ao (bom-) gosto burguês, tanto mais que o programa do concerto lírico é quase integralmente dominado por compositores que há muito fazem as delícias da aristocracia e burguesia (ascendentes e descendentes).
Como se poderá ver, nem um compositor eslavo figura no programa!!!

Enfim, a esquerda-operária rende-se aos encantos da esquerda-caviar: ou estão loucos ou curaram-se!

O incauto leitor, na edição do ano que vem, encontrará as deserdadas de Zita Seabra trajadas a rigor, ossia que nem coelhinhas, se me faço entender...




É a coexistência pacífica, Senhores! Ou a Perestroika, com décadas de atraso?

10 comentários:

Anónimo disse...

E o que é mais interessante é começar com o conmpositor mais à direita possível: Rossini.
Raul

Ricardo disse...

Tenores de 21 anos a cantar Verdi, Puccini e Leoncavallo?

Duques, Rodolfos e Palhaços?

Mais um que não vai durar muito...

Que tal Händel, Mozart e bel-canto para se criar uma técnica? Assusta-me a falta de prudência dos cantores da minha geração. Estudo canto há 7 anos e manda-me a prudência não me aventurar além de Bellini e Donizetti. No entanto, o que me assusta ainda mais é que haja falta de professores que sejam capazes de compreender que independentemente daquilo que uma voz possa vir a dar, não se começa a construir uma casa pelo telhado. Isto é, se um jovem tenor pode vir a ser um tenor spinto ou mesmo dramático, não quer dizer que comece logo a fazer repertório desse Fach. Há que dar tempo à voz de amadurecer e colocá-la sob a influência de repertório que obrigue à construção duma técnica e não começar logo no território do "can-belto" em vez do bel-canto.

Moral da história? Vão todos para casa ler a biografia da Freni e do Domingo, ouvir gravações e ver como as vozes evoluíram até tarde através da medição clara e cuidada do repertório.

Anónimo disse...

Ora!...a ópera, vista por alguns como um espectáculo para as elites foi, na sua origem, um espectáculo tremendamente popular. A "nova forma musical" foi acolhida pelo povo com grande entusiasmo. Também em Lisboa ( o Coliseu...).
Trata-se apenas do "regresso às origens", deixem-se de snobeiras ;-)

Anónimo disse...

Fui muito ao Coliseu, onde vi cantores como a Scotto , a Caballe e o Gobbi, e estava sempre a abarrotar, mas muitas vezes o Wagner ficava só no São Carlos.

Il Dissoluto Punito disse...

Nada tenho contra as récitas populares, muito menos contra uma gala lírica na Festa do Avante. Não deixo de reconhecer, da parte da organização da dita, inteligência e capacidade de evolução! Há uns anos - no tempo da ortodoxia bafienta - esta liberdade seria impensável!

Moura Aveirense disse...

"inteligência e capacidade de evolução"? "esta liberdade seria impensável"? Não entendo porque consideras que há contradição entre partilhar da ideologia comunista e apreciar/ouvir ópera...

Moura Aveirense disse...

E porque é que no ano que vem hão-de estar as "coelhinhas da Playboy"?? Definitivamente, não percebi...

Il Dissoluto Punito disse...

Moura,
Para mim, não há contradição alguma! Sempre fui de esquerda e isso não me impede de frequentar sala alguma! Já a esquerda PC-Ortodoxa não me parece pensar assim!
Alguma vez te cruzaste com o Rúben de Carvalho em salas de música (dita) erudita? Eu não! Se é melómano, por que razão evita a Gulbenkian???

O preconceito parece-me ser da dita esquerda ortodoxa e bafienta.

Il Dissoluto Punito disse...

Moura,

A das coelhas é provocatória - depois de se renderem à burguesa ópera, render-se-ão à ultra-burguesa e decadente cultura que sustenta o império playboy ;-)))

Anónimo disse...

Tem tudo a ver com o clima, não há estações, como não há frenesins de punhos de renda a babar exagero.
Com magna e soberba cagança, avancem sem pudor pelos pantanais líricos do júbilo tórrido de nirvana feeling.