Senso contem, à semelhança de grande parte da obra de Visconti, um inquestionavelmente rico substrato politico, histórico e sociológico.
Desde logo, esta obra fascina-me pela heterodoxia. Luchino Visconti, que até à data se submetera rigidamente aos ditames da escola neo-realista (vide Obsessão, Belíssima e A Terra Treme), justamente em Senso, impõe a sua singular marca, definida por uma estética grandiosa, opulenta e de uma ornamentação imensa, coexistindo com a decadência, dimensão particularmente explorada na fase final da obra do cineasta (Morte em Veneza, Luís da Baviera, Violência e Paixão). Contudo, a veia neo-realista encontra-se bem presente no filme, mormente na crueza do desenlace amoroso, que marca o epílogo do mesmo.
(Luchino Visconti)
Pessoalmente, dada a minha condição de psi, em Senso, detive-me nos aspectos estritamente ligados ao poder e conflitualidade associada.
Ab initio, Visconti estabelece duas equações, que se perpetuam ao longo da obra: fálico-victorioso – representada pela condessa Serpieri, bem como pela Itália -, e castrado-vencido – que o tenente Mahler e a Áustria simbolizam.
A condessa surge plenamente identificada a uma Itália cujo triunfo sobre a Áustria ocupante se avizinha a passos rápidos. Impregnada de um espírito libertário, a "emancipada" condessa nutre o emergente Risorgimento, por via do primo protégé, Ussoni de sua graça. Serpieri ama a seu bel-prazer, exibindo omnipotentemente o amante, numa clara afronta às convenções da época.
(Farley Granger, o tenente Mahler, e Alida Valli, a Condessa Serpieri)
Por seu lado, o tenente Mahler expressa uma beleza sustentada na castração, psicanaliticamente falando: cobarde e oportunista, o jovem Mahler socorre-se do amor da condessa para, paradoxalmente, assumir a sua extrema impotência, que se explana de forma aparatosa no suborno e subsequente resultado - o tenente, auxiliado pela amante, compra junto de um médico corrupto a sua condição de inapto para o serviço militar.
Privado da sua masculinidade – a inaptidão para o combate -, doravante, Mahler entra numa espiral decadente, cuja evolução é ditada pela ansiedade de castração.
Por fim, a doce e apaixonada Condessa, que o amara loucamente, depois de o castrar, qual louva-a-deus, num gesto derradeiro de poder absoluto, determina a execução do farrapo austríaco, outrora belo e luminoso...
Desde logo, esta obra fascina-me pela heterodoxia. Luchino Visconti, que até à data se submetera rigidamente aos ditames da escola neo-realista (vide Obsessão, Belíssima e A Terra Treme), justamente em Senso, impõe a sua singular marca, definida por uma estética grandiosa, opulenta e de uma ornamentação imensa, coexistindo com a decadência, dimensão particularmente explorada na fase final da obra do cineasta (Morte em Veneza, Luís da Baviera, Violência e Paixão). Contudo, a veia neo-realista encontra-se bem presente no filme, mormente na crueza do desenlace amoroso, que marca o epílogo do mesmo.
(Luchino Visconti)
Pessoalmente, dada a minha condição de psi, em Senso, detive-me nos aspectos estritamente ligados ao poder e conflitualidade associada.
Ab initio, Visconti estabelece duas equações, que se perpetuam ao longo da obra: fálico-victorioso – representada pela condessa Serpieri, bem como pela Itália -, e castrado-vencido – que o tenente Mahler e a Áustria simbolizam.
A condessa surge plenamente identificada a uma Itália cujo triunfo sobre a Áustria ocupante se avizinha a passos rápidos. Impregnada de um espírito libertário, a "emancipada" condessa nutre o emergente Risorgimento, por via do primo protégé, Ussoni de sua graça. Serpieri ama a seu bel-prazer, exibindo omnipotentemente o amante, numa clara afronta às convenções da época.
(Farley Granger, o tenente Mahler, e Alida Valli, a Condessa Serpieri)
Por seu lado, o tenente Mahler expressa uma beleza sustentada na castração, psicanaliticamente falando: cobarde e oportunista, o jovem Mahler socorre-se do amor da condessa para, paradoxalmente, assumir a sua extrema impotência, que se explana de forma aparatosa no suborno e subsequente resultado - o tenente, auxiliado pela amante, compra junto de um médico corrupto a sua condição de inapto para o serviço militar.
Privado da sua masculinidade – a inaptidão para o combate -, doravante, Mahler entra numa espiral decadente, cuja evolução é ditada pela ansiedade de castração.
Por fim, a doce e apaixonada Condessa, que o amara loucamente, depois de o castrar, qual louva-a-deus, num gesto derradeiro de poder absoluto, determina a execução do farrapo austríaco, outrora belo e luminoso...
7 comentários:
João onde é que está à venda o Senso? Até em Italia já procurei. Sempre em vão.
J. Ildefonso.
João,
Encomendei-o na FNAC! E não demorou, sequer, duas semanas a chegar às minhas mão! Mais ainda... tive-o por escassos €16!!!
Na Fnac portuguesa? Na Francesa e Italiana não há...
J. Ildefonso.
Na portuga. Por sinal, na mais horrenda de todas: Kilombo
Muito obrigado João. É um dos meus filmes favoritos.
Vi-o em criança, pouca coisa percebi, mas fascinou-me de tal forma, especialmente a Alida Valli, que anos mais tarde o reconheçi através de fotografias e fiquei assim a conheçer o título. Depois vi-o várias vezes na cinemateca e em d.v.d.. É muito curioso logo o inicio no La Fenice durante uma récita do Trovador. A Condesa Serpieri enamorada do oficial Austriaco constroi dele uma imagem romântica, nobre e heroica em sintonia com o personagem Manrico. Só que o seu deus tem pés de barro.
O João Benard da Costa encontra analogias entre o filme e a coeva Traviata do Scalla com a Callas e é bem possivel que tenha razão. Na voz escura e cavada da Condessa Serpieri imagino sem dificuldade a voz da Callas.
J. Ildefonso.
Discordo que o desenlace tenha algo de neo-realista. Antes pelo contrário: é a parte mais operática de todo o filme. Se algo há de neo-realista neste filme é a concepção histórica e filosófica subjacente onde a aristocracia (e do Império Austríaco) aparece podre e decadente, frente ao ressurgir do poder das massas.
Já tenho em casa o Senso:-)))
J.
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