terça-feira, 10 de junho de 2008

Don Carlo, Royal Opera House – Covent Garden

O Don Carlo ora em cena em Londres, no ROH, tem dado muito que falar, sobretudo pelo elenco, muito brilhante:

«Playing opposite Marina Poplavskaya as Elisabetta – regal in voice and bearing – Rolando Villazon's febrile Don Carlo is the utterly believable protagonist. Spinning out his lines with soaring grace in the cloudlessly happy opening scenes, he seems to shrink and freeze as fate's hammer-blow falls and his Oedipal plight is revealed: he then switches convulsively from crazy elation to pleading, head-banging despair.

But the other side of Carlo is the crusader for freedom, shoulder to shoulder with his blood-brother Rodrigo, the revolutionary Marquis of Posa, sung here with vibrant passion by Simon Keenlyside. Their rousing hymn to liberty reverberates through the evening.

But the drama's centre of gravity is Ferruccio Furlanetto's King Philip, a commanding presence conveying as much by his stillness as by his gloriously resonant voice. Presented here as a bookish prince of darkness surrounded by the coffins of his ancestors, he is one of Verdi's most convincingly complex characters, more than half in love with death, but also locked in a hopeless battle with his deceased father, the Emperor Charles V. As Furlanetto sings it, underscored by its lovely cello solo, the tortured but exquisite soliloquy in which he faces up to his political and sexual impotence becomes the majestic performance we have all been hoping for.

But what gives this work its dialectical power is how Verdi balances and contrasts voices. Rodrigo's baritone becomes the ideological foil to Philip's deep bass, while the death-dealing Grand Inquisitor (the excellent Eric Halfvarson) and the monk who welcomes Carlo into heaven are basses of highly contrasting stripes. Meanwhile Elisabetta's radiant soprano is offset by mezzo Princess Eboli, sung by Sonia Ganassi with all the fury of a woman scorned.»

Bom, bom, nestas coisas, a subjectividade é rainha! É ver como, de acordo com um outro olhar, o Carlo de Rolando Villazón roça a mediocridade:

« The casting of Rolando Villazón in the title role attracted much of the advance publicity, but the glitzy tenor is the only disappointment. Some of his singing is outstanding but there's never a hint of emotional engagement and with an acting style that begins and ends at his eyebrows, mixing in a few semaphore-like flailing arms for good measure, Villazón reduces the character of Carlo to little more than a stroppy, lovesick adolescent, hardly hinting that there is also a political dimension to his personal tragedy. The object of his obsession, Marina Poplavskaya's Elisabetta, is sometimes beautifully sung too, but she projects such a permafrost-like froideur that the attraction between Carlo and his stepmother is hard to believe.

Paradoxically, that vacuum at the romantic heart of the work makes the dramatic balance far more interesting. The unresolved struggle between church and state in Philip II's Spain, which is embodied in the king's crucial confrontations, first with Rodrigo, the Marquis of Posa, and then with the Grand Inquisitor, is the engine that drives Hytner's intelligent, unshowy production. It helps immeasurably too that those three roles, like Sonia Ganassi's unusually sympathetic Eboli, are so superbly sung. Ferruccio Furlanetto's profoundly troubled Philip dominates. Simon Keenlyside's dauntlessly hyper-energetic Posa raises the dramatic temperature onstage whenever he appears, and Eric Halfvarson's black-toned Inquisitor is the perfect incarnation of evil masquerading as divine truth. »

Como sempre, cada cabeça, sua sentença!

Não sei se prefiro a versão italiana à francesa, desta mesma ópera. O que sei – indubitavelmente - é que, há uns bons dez anos, em Paris, no Châtelet, Luc Bondy assinou uma produção absolutamente histórica de Don Carlos. Pappano dirigiu, então, uma troupe transcendente: Mattila, Alagna, Hampson, Van Dam e Meier.

Ainda hoje, para mim, não há melhor Don Carlos que o da dupla Bondy – Pappano!


(NVC ARTS 0630-16318-2)

7 comentários:

Anónimo disse...

O D. Carlo em qualquer das versões é uma das minhas óperas favoritas. O D. Carlo do Chatelet é uma referência pela qualidade do cast, fluência do francês e qualidade da produção. É especialmente recomendável a versão d.v.d. pela qualidade da dramática da interpretação dos principais cantores. Todos eles actores de boa qualidade e de aparência coerente com os personagens da acção. Peca a gravação pela qualidade da gravação, som distante e opaco, pela edição da ópera, no estudio do Filipe II conseguem-se misturar 3 versões diferentes do número músical e este é só um exemplo, e pela modéstia da orquestra e maestro. Realmente o Pappano é muito melhor a dirigir Puccini do que Verdi.
A minha edição favorita continua a ser a da Myto que documenta a abertura da temporada do Scalla em 1976 na versão italiana em 5 actos mais o coro introdutório do 1º Acto, dirigida pelo abbado com o carreras, Freni, Ghiaurov, Capucilli, Obratsova.

J. Ildefonso.

Anónimo disse...

Fico satisfeitíssimo com as críticas tão favoráveis ao Ferrucio Furlanetto, pois era um cantor de que gostava muito - vi um recital dele nos início dos anos noventa -, mas, por causa de uma gravação de La Gazza ladra, comecei a ter uma péssima opinião. Não acho, no entanto, que seja o Filipe II ideal da versão italiana. Fomos habituados a baixos sonoros e profundos e F.F. é um Leporello, não um Sarastro.
Outro pormenor: imagino a interpretação da Sonia Ganassi próxima do ideal.
Quanto ao dvd da versão francesa, todos os elogios são poucos. Talvez a Waltraut Meyer não seja a voz ideal, mas o restante elenco é tão bom que não consigo escolher um melhor. A versão francesa é como sabemos a mais completa e é uma pena para mim que não seja vertida para italiano nas partes em que não há coincidência de texto. Nada supera, para mim, sublinho, a beleza da língua italiana quando a música saiu de uma cabeça italiana. No entanto, isto não significa que não goste da versão francesa: muito pelo contrário quando está entregue, por exemplo, ao Filipe II do grande e muito grande Jose Van Dam.
Raul

Anónimo disse...

Quanto a mim o D. carlos do Pappano peca essencialmente por ser um D. Carlos que o compositor nunca escreveu e que teria dificuldade em identificar como seu. E inadmissivel que com varias versoes autorizadas pelo compositor se opte por criar uma versao que dentro do mesmo numero musical salta da versao de Paris para a versao de Modena e vice-versa.
da pena porque o elenco e muito bom e de outro modo poderia ser uma versao exemplar.

J. Ildefonso.

Anónimo disse...

"Um D. Carlos que o compositor nunca escreveu". Então quem o escreveu?
Se pensássemos assim, nunca conheceríamos o Boris Godunov que geralmente ouvimos e continuávamos a ouvir a Turandot da estreia, dirigida pelo Toscanini, que termina com a morte de Liú.
RAUL

Anónimo disse...

Lamento... mas se existem versões completas da autoria do compositor porquê utilizar uma versão "produzida" pelo maestro que mistura essas versões ás vezes dentro do mesmo nº musical? O Pappano sabe melhor do que o Verdi qual deve ser o encadeamento musical e dramático do D. Carlos?

J. Ildefonso.

Anónimo disse...

Joannus Ildefonsus, in Lusitania Operae Inquisitor Maximus


Eu não tenho aqui materiais para poder responder. Daí que recebo o seu comentário "sob reserva" :}
Mas - há sempre um "mas" -, se toda a música foi produzida pelo Verdi, nós adorámos o produto, não existe outro meio de o conhecer, como por exemplo a presença do futuro Lacrimosa do Requiem na voz de Filipe II, qual é o problema ? Deixemo-nos de fundamentalismos que faz de nós escravos mentais.
RAUL

Anónimo disse...

Faz todo o sentido conhecer a lacrimosa do futuro Requiem na voz de Filipe II numa versao integral do D. Carlos que o inclua, tal como ha varias disponiveis no mercado. Nao faz sentido "compor" uma versao do D. Carlos que aproveita excertos das diferentes versoes do referido D. carlos sem criterio estilistico e cronologico.
Ou se faz a versao de Paris em 5 actos (com ou sem os exertos retirados antes da estreia), ou a versao Italiana em 4 actos, ou se faz a versao Italiana dita de Modena em 5 actos.

J. Ildefonso.