terça-feira, 27 de julho de 2010

I Traviati - III, a derradeira apreciação


(Patrizia Ciofi)

Depois do que aqui foi dito, a respeito desta La Traviata, pouco haverá a acrescentar.

A glória da interpretação assenta, repito, na superlativa encenação de Carsen – que sublinha a conflitualidade Giorgio vs Alfredo (pela posse de Violetta), enfatizando a dimensão materialista, efémera e crua de uma trama, o mor das vezes, excessivamente romanceada –, bem como na prestação de Hvorostovsky.

Saccà cumpre, como Alfredo. A sua performance reitera a impossibilidade de ombrear com o rival: a figura é mais fraca, o timbre algo caricatural e a prestação cénica, pouco acima da mediania. Este Alfredo é um pobre neurótico – psicanaliticamente falando -, castrado e incapaz de afrontar a soberania paterna.

Quanto a Ciofi...

Patrizia Ciofi é uma actriz extraordinária, com provas dadas (o que dizer da sua Marie?!). No drama de Violetta, Ciofi leva a melhor, sublinhando a conflitualidade da sua personagem, ora mais puta (perversa), ora mais ambivalente (neurótica: ossia, balanceando entre o amor por Alfredo ou por Giorgio...). Vocalmente, há evidentes problemas de afinação, particularmente no acto I, cuja coloratura é assassina e implacável. Mais à vontade, nos derradeiros actos, a voz alia-se ao teatro, o seu forte.

Mazzel dirige uma orquestra mediana, morna e arrastada em excesso, com deslizes discretos.

Esta La Traviata reveste-se de algum interesse musical adicional, na medida em corresponde à versão original, estreada, justamente, no La Fenice, a 6 de Março de 1853. Os números desconhecidos do grande público não são assim tão negligenciáveis...

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(3,5/5)

7 comentários:

RAUL disse...

Falar da " conflitualidade Giorgio vs Alfredo (pela posse de Violetta)" é o maior disparate que tenho ouvido sobre a Traviata, como se a beleza ou não beleza de um intérprete condicionasse o trama. E por que carga de água a Ciofi tem de achar o barítono bonito e o tenor feio e com cara de imbecil? E se o Hvorostovsky tivesse o problema de saúde e fosse substituído por tipo feio como os trovões e, por acaso o Saccà, que pode ser bonito para alguns, fosse substituído pelo Kaufmann. Lá se ia a ideia do encenador que tem um cenário da casa da Violeta bem insuportável.
Próxima vez há que arranjar uma Annina boazona para criar "história".

Il Dissoluto Punito disse...

Raul,

"E se..." a minha avó não estivesse morta, estaria viva! Vá saber-se por que razão, o que imagino que Carsen concebeu, sucedeu :-)D

Raul disse...

Isto não é um problema de "ses", mas sim um problema do caro Dissoluto. Será que o tenor Saccà saberia desta ideia maquiavélica do encenador.

J. Ildefonso. disse...

Acho mais interessante a Amina "gamar" o casaco de peles da patroa, a Violeta andar a ler a Manon do Abade Prevost no segundo acto.... Esses apontamentos sim parecem apontar para uma ideia do encenador o que não invalida que o Germont se possa sentir atraido pela Violeta. Aparentemente o Dumas pai teve de facto um relacionamente breve com a Violeta historica. Seja como for acho que o que prevalece é a moralidade burguesa e hipócrita que obriga a Violeta a sacrificar-se para poder triunfar o amor conjugal lícito da irmã do Alfredo. O que é indescutivel é que o tema apelava ao Verdi e lhe permitiu construir uma obra prima. pessoalmente não lhe podia ser indiferente dado a situação da sua 2ª mulher que criou 2 filhos como mãe solteira e que terá sido vitima do estigma social que tal acarretava no sec. XIX. Se calhar não é à toa que trabalhava e habitava em Paris e não na sua Italia natal que seria muito mais conservadora. Convenções sociais rigidas ou não não impediram que Verdi fizesse dela sua segunda esposa.... mas só depois do ex-sogro e patrono dos primeiros tempos deixa-se este mindo.

Raul disse...

Que tem o Dumas pai a ver com a Violeta !? Se calhar uma antepassada dela foi a Lady de Winter! Não me consta que o D' Artagnan frequentasse os salões da cortesã, Não àquele nome feio que o Dissoluito lhe chamou.

Anónimo disse...

Por lhe ter chamado puta?
O problema não é chamar puta à Violeta mas sim reduzi-la a unicamente a essa dimensão. Era puta, provavelmente muito boa, atraente, com carisma se não não estaria no topo da profissão. Mas também era um ser humano apaixonado, abnegado, ético, terno, meigo, altruísta.... e por aí além. Não me faz confusão chamar as coisas pelo nome, mesmo que seja feio ou politicamente incorrecto, mas termos uma visão redutora que nos impeça de ver o "todo". Essa falha neste caso especifico acho que a podemos apontar ao nosso amigo Galamba.

Anónimo disse...

O último comentário é meu.
J. Ildefonso.