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Ópera, ópera, ópera, ópera, cinema, música, delírios psicanalíticos, crítica, literatura, revistas de imprensa, Paris, New-York, Florença, sapatos, GIORGIO ARMANI, possidonices...
Rimsky-Korsakov e Tchaikovsky – dois dos mais ilustres representantes do Romance (equivalente russo do lied alemão) – são, neste artigo, homenageados por Netrebko e Barenboim.
Enquanto Rimsky-Korsakov nos propõe um conjunto de melodias de cunho claramente oriental, Tchaikovsky, por vias das canções aqui abordadas, evidencia a sua veia ocidental.
Netrebko, de timbre escuro, erótico e quente, impregna-se neste universo russo, pouco conhecido do ocidente dito erudito. As suas interpretações envolventes são de uma generosidade e calor irresistíveis. O seu sentido dramático e fervor com que defende este território arrebatam os mais cépticos. Há uma sensualidade inusitada na articulação e uma graciosidade magnética nas abordagens da intérprete.
Hélas… a técnica, aqui e ali, evidencia alguns deslizes. A linha melódica, nem sempre suficientemente apoiada, revela-se instável e algo comprometida, sem grande liberdade. O registo agudo – porventura o mais comprometido – pouco dado a atrevimentos, expande-se de modo contido.
Barenboim, esplêndido – particularmente inspirado nos arrebatamentos magnânimos de Tchaikovsky –, mostra-se um parceiro notável, com uma classe impressionante.
Pela sensualidade e encanto de uma das mais irresistíveis intérpretes…
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(4/5)
Uma A Bela Moleira dramaticamente rica, em expressividade, cor e anima!
Kaufmann e Deutsch propõem uma interpretação fina, plena de subtilezas e pujante.
Jonas Kaufmann, de voz baritonal, ampla e grandiosa, aborda este ciclo de Schubert imbuído de teatralidade dramática: fiel aos estados de alma veiculados pelos poemas de Wilhelm Müller, com a sua imensa capacidade histriónica, revisita o esplendor da euforia, a raiva dilacerante e o desespero melancólico.
A sanidade vocal – voz aberta, plena e ampla, com um vigor heróico singularíssimo – alia-se a uma interpretação amadurecida, menos camarística porventura…
Neste magnífico registo, há teatro e drama a rodos, apoiados numa das mais belas vozes de que há memória, viril, segura e grandiosa, paradoxalmente pueril e bucólica.
Para a eternidade!
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(5/5)