domingo, 7 de março de 2010

See You very sooooooooon, Karita!




À beira de completar 50 primaveras, o maior soprano lírico-dramático das últimas décadas é alvo de (mais) um best of.

Karita Mattila – absolutamente divina – iniciou os seus registos na extinta PHILIPS. Pouco idiomáticos, os ditos registos nunca vingaram. As leituras, embora soberbas vocalmente, enfermavam de um certo anonimato interpretativo.

Com o passar dos anos, Mattila foi enriquecendo as suas notabilíssimas interpretações com uma veia dramática sem rival à altura.

Desde os 40 anos que Karita se encontra numa apoteose longa e lânguida.

Estupidamente, das majors, apenas a Erato revelou interesse por perpetuar as sublimes incarnações da grande cantora. Desde as superlativas As Quatro Últimas Canções (Richard Strauss), dirigidas por Abbado, ao vivo, em Salzburgo, que Mattila se entregou a uma relação de fidelidade quase absoluta com a mencionada etiqueta.

A escassas semanas de reencontrar a Diva, sugiro ao leitor esta colectânea, que acaba de ser comercializada além fronteiras.

6 comentários:

Anónimo disse...

"o maior soprano lírico-dramático das últimas décadas" !!!
Quantas décadas ?
E desde quando é lírico-dramático? Só recentemente tentou esse reportório e com cuidado. Onde estão a Gioconda, Aída, Leonora,...?
Eu compreendo, mas ....
RAUL

Il Dissoluto Punito disse...

Raul,

Desde há duas - três décadas, sensivelmente. Jenufa, Tosca, Elsa, Salome - onde Mattila não tem rival - são exemplos do terreno lírico - dramático, não?

Não veja a coisa, apenas, pelo prisma italiano ;-)

Um abraço

Anónimo disse...

João,
Esse lugar pertence a Julia Varady ao avançarmos por duas ou três décadas.
Jenufa não é papel lírico-dramático.
A Tosca é uma conquista desta década e é boa, não excepcional.
Quanto à Elsa e Salomé prefiro a Cheryl Studer e a Nina Stemme.
Não, na minha opinião ela não pode ser o maior soprano lírico-drmático de qualquer década, porque a sua voz não tem a particularidade dramática, embora muito inteligente para a substituir, sendo mais um soprano lírico do que outra coisa.
Um abraço
RAUL

Il Dissoluto Punito disse...

Raul,

O problema da Varady é que começou tarde no lírico-dramático e são poucos os testemunhos desse percurso... Nunca a vi, live. Já a Mattila tem inúmeras provas dadas no registo Lírico-dramático - esquecera-me da Elisabete de Valois ;-) , além das já citadas.

A Jenufa, mnão sendo um típico l-d, é tudo menos um lírico puro!

Quanto às salomés das Studer & Stemme... A da Studer é fabulosa, mas em laboratório, como sabe... Da Mattila vi duas Salomés (Bastilha e Met) e foi EXTRAORDINÁRIA!!!

Anónimo disse...

Mais pormenores sobre a vinda dela.
O especialista de música disse à M.H. que gostou do que viu em Lyon mas disse que a Karitta era demasiado "cerebral" para aquele papel. Mas gostou e confirmou a vinda dela com esse espectáculo para a Temporada 2011/2012 da FCG.
RAUL

Hugo Santos disse...

Caro João,

na minha opinião, Karita Mattila é possuidora de uma voz de soprano lírico-spinto, muito mais próxima do lírico do que do spinto ou, se preferir, do jungendlich-dramatischen, caso optemos pela terminologia germânica, embora esta categoria não corresponda integralmente ao soprano spinto. Partindo do rol de papéis que invocou - Jenufa, Tosca, Elsa, Salome -, identificamos um conjunto que requer, pelo menos, um instrumento na ordem do lírico-spinto, com maior ou menor pendor para qualquer um destes dois pólos.

Neste caso, a questão primordial reside em dois factores. Por um lado, a relevância que a mutação dos paradigmas interpretativos assume na relação entre vozes e reportórios. Por outro, o facto de as categorias vocais não serem estanques, contribuindo para a existência de uma catalogação que busque termos com alguma abrangência como lírico-coloratura, lírico-ligeiro ou dramático de agilidade. Ao rotular Mattila de lírico-dramático acaba por, num sentido lato, fazer eco de todo um historial interpretativo que congrega leituras tão dispares como as Toscas de Nilsson ou Jurinac ou as Elsas da primeira e de Elisabeth Grummer.

No caso da Tosca, última interpretação que ouvi com Mattila, pareceu-me o soprano ter o volume minimamente necessário para o papel, aliado a uma óptima projecção vocal e um fraseado cuidado, no sentido beneficiar a linha de canto. Contudo, não nos podemos esquecer que nestes papéis pucciniano-veristas (perdoem-me o péssimo neologismo), o centro da voz acaba por ficar algo exposto em vozes como a de Karita Mattila. A necessidade de se fazer ouvir sobre a orquestra leva à procura de maior volume nesta região, comprometendo o registo agudo, no qual a emissão acaba por ser mais forçada, logo, menos segura. Aqui, Mattila lembra-me Sena Jurinac, que mencionei anteriormente.