terça-feira, 9 de março de 2010

Andrea Chénier - Teatro Real, Março de 2010









O que dizer deste (seguramente) magistral Andrea Chénier, que o Real apresenta, em nova produção, com Álvarez no papel titular? Desde o ocaso de Domingo que não emergia um protagonista desta envergadura!

Em quen linha se increverá Marcelo Álvarez: elegante-spinto, à la Corelli, ou mais bruto-spinto, à la Del Monaco?

É esperar para ver...

33 comentários:

blogger disse...

promete, promete.
Andrea Chenier pode ser uma ópera que nao agrade a muitos mas a mim comove-me bastante. E as cenas são sempre tao intensas que faz com que a opera passe a correr.

Hugo Santos disse...

Caro João,

a propósito deste Chenier:

http://www.youtube.com/watch?v=KrIP447hja8

A récita de 25 de Fevereiro, que estava a ser transmitida pela rádio, foi interrompida dez minutos após o começo da ópera. Posteriormente, o espectáculo foi retomado do inicio e terminado com a conclusão do primeiro acto.

José Quintela Soares disse...

Não me parece que Alvarez possa ser catalogado como Corelli ou Del Monaco.
Os "Chenier" de ambos são brutais, pelo que li o de Alvarez foi muito bom, mas como tenores...são completamente diferentes.

Hugo Santos disse...

Caro José,

antecipou-se uma vez que ia justamente responder à questão lançada pelo nosso Dissoluto no final do seu texto. Na minha óptica, a resposta é lírico-spinto com especial ênfase no lírico. Marcelo Alvarez ainda não me convenceu muito no território spinto. Parece-me que abusa um pouco do instrumento, cantando sobretudo em mezzo-forte ou forte. O tenor perde alguma da expressividade e elegância do fraseado possibilitada pelo jogo das dinâmicas.

José Quintela Soares disse...

Caro Hugo

Concordo consigo.
Sente-se muito o esforço na voz, em interpretações baseadas na "raça" com que canta, que podem agradar a muitos mas não convencem todos.
É a minha opinião.

Anónimo disse...

Sou totalmente contrário ao "insulto" bruto-spinto ao grande tenor Mario del Monaco. Só quem não conhece o seu Andrea Chenier na gravação da Decca com a Tebaldi e o Bastianini é que pode dizer tal temeridade. Amigo Dissoluto e todos os que me possam vir a ler, ouçam o Quarto Acto, tanto a ária como o dueto final. Para mim em nada é inferior ao Corelli, pelo menos em estúdio, daí que não conheça melhor Andrea Chenier que Mario del Monaco. Quanto à filiação do grande tenor Marcelo Alvarez, terei primeiro que o ouvir no papel, embora o espere em papeis mais puramente líricos, como o Rudolfo, o Cavaradossi, Werther, o Duque, ...
Por outro lado, não acho Franco Corelli um típico tenor spinto. Até tenho dificuldade em "rotulá-lo".
RAUL

Hugo Santos disse...

Caro Raul,

aquele Chenier de Tóquio com Del Monaco é fantástico.

Anónimo disse...

Caro Hugo,
Precisamente, para não ir tão longe. Eu tenho esse dvd e, Deus meu, pode vocalmente esperar-se melhor récita desta ópera ? Eu citei o cd, pois conheci ainda muito jovem em casa dos netos de um famoso barítono português, Fernando Macieira, um disco de 45 rotações contendo o quarto acto da Andrea Chenier del Monaco/Tebaldi e ouvíamos sempre a ária inicial, onde o del Monaco atingia o sétimo céu. Depois comprei o LP e finalmente o cd. Quem quer conhecer as proezas de Tóquio deste par único tem muitíssimas partes no Youtube. Também convém não esquecer o fabuloso par Tebaldi/Corelli, ao vivo, em Viena. Estas duas gravações estão acima de tudo o que se fez a seguir, incluindo a excelentíssima gravação Pavarotti/Caballé.
Raul

Il Dissoluto Punito disse...

Raul e demais companheiros,

Bruto, neste capítulo, é sinónimo de elevação e grandiosidade! Nada de confusões! Bruto pela visceralidade e nada mais!

Se me exprimi mal, as minhas desculpas! Del Monaco é dos dos grandes, muito grandes, que muito prezo!

Hugo Santos disse...

Caro Raul,

a récita de Viena dirigida por Lovro von Matacic é um grande momento, sobretudo de Tebaldi. Digo isto não porque Corelli se encontre em má forma ou dramaticamente ausente mas porque ainda não havia atingido o auge dramático-vocal neste papel. Para mim, este último encontra-se registado numa gravação efectuada ao vivo no MET em 1966, novamente com Tebaldi e ainda Anselmo Colzani, sob a batuta de Lamberto Gardelli.

portasabertascadeirasaosoco disse...

Boa noite.Alguém me pode dizer por favor o que é um tenor-spinto?ou melhor,quem poderei ouvir,nesse registo?já li sobre o assunto,mas não é fácil chegar lá.

Anónimo disse...

A melhor explicação, segundo a Wikipedia: Spinto tenor
This voice has the brightness and height of a lyric tenor, but with a heavier vocal weight enabling the voice to be "pushed" to dramatic climaxes with less strain than the lighter-voice counterparts. (They are also known as "lyric-dramatic" tenors.) Some spinto tenors may have a somewhat darker timbre than a lyric tenor as well, without being as dark as a dramatic tenor. However, other spinto tenors, such as Giancarlo Guerrero have brightly colored and lyrical sounding voices, but are nevertheless able to perform spinto roles due to large vocal size or high volume. Spinto tenors have a range from approximately the C one octave below middle C to the C one octave above middle C, and, like the lyric tenors, they are often capable of reaching D5 and sometimes higher. Similarly, their lower range may extend a few notes below the C3.

Spinto Tenor Roles In Opera & Operettas:

Andrea Chénier, Andrea Chénier (Umberto Giordano)
Des Grieux, Manon Lescaut (Puccini)
Don Carlos, Don Carlos (Verdi)
Don José, Carmen (Bizet)
Erik, Der fliegende Holländer (Wagner)
Ernani, Ernani (Verdi)
Manrico, Il trovatore (Verdi)
Mario Cavaradossi, Tosca (Puccini)
Maurizio, Adriana Lecouvreur (Cilea)
Riccardo, Un ballo in maschera (Verdi)
Turiddu, Cavalleria rusticana (Pietro Mascagni)


Spinto Tenor Singers:

Carlo Bergonzi
Enrico Caruso
Antonio Cortis
Charles Dalmorès
Giancarlo Guerrero
Jonas Kaufmann
Mario Lanza
Giacomo Lauri-Volpi
Francesco Merli
Giovanni Martinelli
Aureliano Pertile
Daniel Rodriguez
Helge Rosvaenge
DavidMichael Schuster
Harry Theyard
Georges Thill
Richard Tucker

RAUL

portasabertascadeirasaosoco disse...

Obrigado caro Raul,dá para ter uma ideia mais aproximada,mas é demasiado técnico para mim.Do que apresenta,ouvirei o Bergonzi e o Lanza,que é o que a minha parca discoteca dispõe.Depois verei o que o meu ouvido tem para me dizer :) Thanks a lot

Anónimo disse...

O Mario Lanza! Vá ao Youtube.
Abraço
Raul

Il Dissoluto Punito disse...

Portas,

Já ficou com uma ideia, não? À lista, acrescento Del Monaco e Domingo, que o Raul não evocara...

No capítulo dos papéis, acrescento Radamés, Otello, Edgardo (Lucia), por exemplo.

Prosaicamente: agudo ágil e penetrante, com robustez dramática e volume, ossia o mais machão dos tenores ;-)

Anónimo disse...

O Otelo para lirico spinto!!! Nunca.
Domingo e del Monaco não podem estar na mesma lista do Bergonzi.
Dêem-lhe nomes mas para mim há este tipo de tenores:
- Luigi Alva, Juan Diego Florez,...
- Alfredo Kraus, Alan Vanzo,Titto Schipa,...
- Beniamino Gigli, Carlo Bergonzi,...
- Giuseppe di Stefano, Jose Carreras, ...
- Mario del Monaco,Placido Domingo,Jussi Bjorling,..
- Ramon Vinay, Jon Vickers,...
- Lauritz Melchior, Wolfgang Windgassen
Embora eu seja muito aristotélico e gosto de catalogar, a divisão de tenores é a mais difícil e alguns são mesmo difíceis de catalogar (Corelli, Caruso, tenores russos). É um problema em aberto e, por isso, trouxe o que a Wikipedia diz sobre o assunto. Há que ver o que dizem outras referências como, por exemplo, Renato Cellini.
RAUL

Il Dissoluto Punito disse...

Raul,

Talvez o Otello seja mais um Tenor di forza... EM todo o caso, não é aberrante categorizá-lo como spinto!

Não vejo por que não considera Domingo e Del Monaco como lirico-spinto's?!

Acrescento à lista Jon Vicker, também confortável como heldentenor.

Anónimo disse...

Para se ser heldentenor só mesmo os wagnerianos puros. Vickers Vinay são aquilo a que eu chamaria verdadeiros tenores dramáticos que cantam papéis wagnerianos. Mario del Monaco será entre o lírico e o lírico-dramático, a pender mais para o dramático; o Domingo e aquele que muitos consideram o melhor tenor de todos os tempos, o Bjorling, serão mais tenores líricos, que é uma noção mais abrangente.
Bjorling cantava tudo excepcionalmente bem, como nenhum outro tenor na história do canto. O Otelo não me parece. Era um pouco frio e na sua biografia, escrita pela sua viúva quarenta anos após a sua morte, era-lhe recomendado que fosse menos frio e que cantasse um pouco mais à Gigli.
RAUL

J. Ildefonso. disse...

Este é o André Chenier cuja récita foi interronpida pelos protestos do público devido a suspeita de amplificação dos cantores?
Li a "justificação" do Teatro Real e não parece totalmente convicente....

portasabertascadeirasaosoco disse...

sim Dissoluto,uma ideia e várias ao mesmo tempo :) estou a apanhar!afinal tambem tenho um cd do Alva,do Kraus e do Del Monaco tenho aquela caixa das operas todas do pucini,onde ele entra como sabem.
Então e o Dmitri Hvorostovsky,não entra nessa categoria?não tem esse timbre negro,cavernoso,grave,de que falam?será que dei agora um pontapé na gramática?...... :)
A linguagem simples ajuda muito aos pouco entendedores,como eu,obrigado Dissoluto pelo singelo comentário.

portasabertascadeirasaosoco disse...

" Prosaicamente: agudo ágil e penetrante, com robustez dramática e volume, ossia o mais machão dos tenores ;-) "

Um galo,quer você dizer?!
Agudo ágil....ah pois,aí acho que o Hvorostovsky já não entra.

Il Dissoluto Punito disse...

Portas,

O Hvorostovsky é uma barítono - voz média à mi chemin entre o agudo (tenor) e o grave (baixo). Got it?! :)

portasabertascadeirasaosoco disse...

Com essa é que me lixou,nunca pensei que Hvorostovsky fosse um barítono,com aquele vozeirão enorme,....bem....é porque é!não pesco mesmo nada do assunto!abraços Disssoluto

Il Dissoluto Punito disse...

Portas,

Marimbe-se para as classificações! A arte é para ser degustada, creio...

O que interessa, verdadeiramente, é que Hvorostovsky é um dos grandes, um iluminado. O resto é palha :)

Hugo Santos disse...

Caro Raul,

como referi num comentário a um texto anterior, o facto de as categorias vocais não serem herméticas dificulta uma catalogação que, por vezes, tenho necessidade de efectuar como ponto de referência quando procuro avaliar um intérprete.

De entre os nomes que mencionou temos o "tenorino" Juan Diego Florez e o tenor ligeiro Luigi Alva. Embora partilhem algum reportório (Rossini), o primeiro destaca-se pela facilidade nos agudos que o segundo nunca possuiu. Florez é igualmente superior na execução das "fioriture". Por seu turno, Luigi Alva possui um timbre mais redondo, ao passo que a voz de Florez é algo nasalada.

A Luigi Alva acrescento o nome de Tito Schipa, um "tenore di grazia" tal como o nosso Tomaz Alcaide. Contudo, ao assumir papéis como o Werther, por exemplo, Schipa afasta-se de Alva e aproxima-se dos tenores líricos tais como Alfredo Kraus, Alain Vanzo, Giuseppe Di Stefano e Jose Carreras. Instrumentos diversos e diferentes percursos, pese embora a característica lírica da voz, comum a todos.

Chegados à categoria "lírico-spinto" encontramos os nomes de Beniamino Gigli, Carlo Bergonzi, Placido Domingo e Jussi Bjorling. Quatro intérpretes que habitaram com igual segurança o território mais lírico e o "spinto", ou seja, aquele que requer maior volume e robustez de emissão, aliado a uma determinada flexibilidade e brilho na região aguda (que nem todos possuem).

Mario Del Monaco e Franco Corelli são dois tenores que podemos considerar dramáticos ou "di forza". Timbres mais escuros mas igualmente brilhantes, com um volume vocal imenso mas menor flexibilidade. O "heldentenor" é a variação germânica do tenor dramático. Aqui misturam-se quer os instrumentos mais heróicos (Melchior, Windgassen) como os baritonais (Vinay).

Concluo, reiterando o que afirmei no início deste texto. Por mais que, tal como acabei de fazer, se tentem blindar as tipologias vocais, a voz humana é assaz única para se submeter a uma rotulagem a toda a prova.

Anónimo disse...

Caro Hugo,
Há tanto para comentar no que acaba de dizer e que no fundo está tudo muito claro e bem aristotélico e, ao mesmo tempo, a fugir a isso. Falando dos peruanos Alva e Florez, com reportório semelhante, mas mais abrangente o último (I Puritani) pelas razões que muito bem referiu. Só queria fazer aqui o elogio de Luigi Alva que poucas lições teve do passado e que tão grande intérprete foi de alguns papéis como o Almaviva (não conheço melhor), Don Ottavio e Fenton ombreando, por direito próprio, com os melhores cantores do mundo e em gravações entre as melhores que existem.
A minha arrumação fugiu de epítetos, pelas possibilidades que faz o Gigli cantar o Radamés e muito bem, estando longe de o ser, e achar que o Bjorling é um Radamés natural. Talvez eu esteja equivocado.
Também nunca tive dúvidas de arrumar na mesma gaveta o del Monaco e o Corelli e chamá-los tenores dramáticos, embora o faça de uma forma genérica e, por isso, inclua o Vickers e o Vinay, todos Otelos, mas mais com a intenção de não deixar entrar outros para a prateleira, nomeadamente o Domingo. Sobre o di Stefano há muito para dizer, pois sempre achei que a sua extraordinária voz podia abranger papéis mais dramáticos, como o próprio Otelo.
RAUL

Queria acrescentar que o seu texto sobre os tenores é uma síntese muito lúcida.
RAUL

portasabertascadeirasaosoco disse...

Eu já li tudo o que escreveram,e de tudo entendi um pouco.Umas coisas fazem-me confusão,outras nem tanto.Normal,não estou ao nível do conhecimento tecnico.Mas,falando de prazer,pois aí devo dizer que os meu favoritos sao o Mário Lanza e o Del Monaco.Dizer porquê é que já é mais difícil :)

Il Dissoluto Punito disse...

Portas,

O homem, marimbe-se para a técnica :) A técnica é um ponto de somenos, neste capítulo do gosto!!! Oiça o que lhe apraz!

portasabertascadeirasaosoco disse...

ok,vou-me marimbar então :)
prazer 1 técnica 0 (ao intervalo)

J. Ildefonso. disse...

Excelente comentário Hugo.

portasabertascadeirasaosoco disse...

Eu não sei se é spinto ou meio spinto,ou mezzo spinto,mas que me dá um grandessíssimo prazer ouvir o Lanza a cantar "funiculi funiculá",lá isso dá,sobretudo quando estou a lavar a loiça :))))
se não experimentaram ainda,deveriam!concilia técnica com prazer na perfeição :)

Anónimo disse...

O "funiculi, funicula" chega para o Portas e a lavar a louça é perfeito. Para quê a ópera? Ele até confunde tenores com barítonos.
Fechadurasecadeirasdedescanso

portasabertascadeirasaosoco disse...

" Ele até confunde tenores com barítonos. "
caro anónimo,retire o " con " ,gosto mais :)))