sábado, 10 de outubro de 2009

Met opening night V : Tosca (September 2009) - Bondy e a sua Tosca

Tenho apreciado muitíssimo a profusão de comentários desencadeados pela questão espinhosa da mise-en-scène. E tudo começou pelo debate que opõe - a meu ver... - o conservadorismo / Zeffirelli à ousadia / Bondy.

Inevitavelmente, há gostos para os extremos, bem como para os pontos intermédios.

Pessoalmente, aprecio a ousadia, embora não tolere a patetice. Gosto de uma boa montagem realista, ma non troppo! Zeffirelli é um dos meus ódios de estimação. Esta é uma questão incontornável. Como Bondy, considero que Franco Zeffirelli é a prima-do-mestre-de-obras - sendo que Visconti é a obra-prima.

Depois do que por estas bandas tem sido dito a respeito da première de Tosca (
d'après Bondy), ora em cena no Met, eis uma singela explicação do encenador:

«Personne n'est choqué que Scarpia soit un tortionnaire sanguinaire, mais, en revanche, qu'il s'adonne à la débauche, comme il est dit dans la pièce originelle de Victorien Sardou, cela ne passe pas. On prend Tosca pour un mythe alors que c'est un thriller à forte charge sadique et érotique.»

Et voilà, rien que ça!

A questão é que o Scarpia de Bondy funde o sadismo com a sexualidade, explicitando-a. E muito bem, pois o verdadeiro sadismo tem as suas raízes na sexualidade, psiquicamente falando.

Bondy acendeu o rastilho dos fantasma sado-masoquistas do público e - claro está - a coisa deu para o torto! Se Scarpia fosse apenas um grande malvado, outro galo cantaria...

16 comentários:

Raul disse...

Profusão de Comentários !!! Será um bocado exagerado, não ?

J Idefonso. disse...

Pois é verdade. Se calhar se o João der a notiçia, que só marginalmente tem a ver com ópera, quee o Alagna e Georghiu se vão divorciar chovem comentários e pelo meio alguns abusos e ofensas. Afinal se calhar o público não é assim tão erudito!

Raul disse...

João Ildefono,
Também não estou de acordo com esse teu juízo no que toca a este blogue. Mesmo nada de acordo.

J. Ildefonso. disse...

Tens todo o direito em discordar. O que eu quero dizer é que parecem ser os assuntos menos inportantes que despertam mais polémica quando por exemplo a encenação da Tosca do Met que me parece ser algo pertinente que pode suscitar comentarios interessantes sobre os objectivos das encenações e sobre o que o público deseja ver em cena não parece suscitar grande interesse.

blogger disse...

eu não tenho nenhuma ideia de uma encenação do Bondy. Já do Zeffy tenho algumas. se calhar isso também quer dizer alguma coisa só por si só, não sei. Eu cá gosto de uma coisa que impressione a vista, acho que é quase que ópera visual,mas também gosto de coisas mais vanguardistas desde que inteligentes. quanto a esta encenação do Met, das poucas imagens que vi não me parecem nada chocantes. Se calhar os americanos ficaram foi entediados de ver um palco tao grande desperdiçado.

Hugo Santos disse...

De acordo, caro blogger. A Tosca de Bondy não me parece nada por aí além no capítulo vanguardismo.

Nuno Pássaro disse...

Por falar em "vanguardismo", no Ornitologia desta semana há uma entrevista ao Graham Vick sobre a conclusão (e o futuro) do Anel de Lisboa.

Anónimo disse...

Alguém me explica a "grande" diferença entre Visconti e Zeffirelli ?
Raul

Anónimo disse...

Raul

Eu não conheço as encenações de ópera do Visconti, só por descrições e fotografias, ao contrário das do Zefirelli que já vi ao vivo e em video. Conheço também a cinematografia de ambos e acho que é possível estabelecer um paralelo entre encenação de ópera e filme. Em suma, em termos de cinematografia a diferença é basicamente entre o "modelo" e a cópia. Não acho que o Zefirelli tenha um estilo pessoal acho que é uma réplica empobrecida do Viscontti e de outros contemporâneos com alguns contornos católicos arcaicos e conservadores politicamente.
A nível de encenação de ópera o Zefirelli é bastante competente mas muito banal e primário. Conta bem uma história mas parece em parte ser alheio à motivação dos personagens e perder-se em pormenores meramente decorativos que para além do óbvio nada acrescentam à encenação. O Viscontti não sei, mas dizem que era muito bom e bastante inovador e se me for licito trazer os seus filmes para a argumentação de encenação de ópera terá sido detalhado onde o outro é decorativo, subtil onde o outro é explicito, secundário onde o Zefirelli é primário.

Anónimo disse...

O problema é que não suporto delírios de encenadores. Se o Visconti é melhor do que Zeffirelli, muito bem e até acho natural. Il Senso, Rocco e os seus irmãos, O Leopardo, Os Malditos são filmes que possuo venero e confesso que do Zefirelli não me vem nenhum à memória que eu venere. Mas se me perguntarem se prefiro o início do segundo acto da Tosca do Zefirelli na antiquada encenação para a Callas no Covent Garden ou as orgias bondyanas do Met, eu escolho sem hesitar a primeira opção. O nome do encenador até me interessa pouco, embora devamos saber o seu nome, como diz o nosso caro e sapiente Hugo Santos, para sabermos como evitá-lo.
Raul

J. Ildefonso. disse...

Não conheço bem o tarabalho do Bondy acho que só conheço o D. Carlos que é bastante bonito e competente, alguns pormenores à parte, mas que também não é genial. Da nova Tosca a avaliar pelas descrições e fotografias não me parece nem chocante nem irreverente. Pareçe mais uma encenação conservadora, realista e descritiva com guarda roupa e cenários modernos se bem que inspirados no periodo histórico. Nada de novo. A orgia do Scarpia não me choca minimamente se bem que ache superfulo e que banaliza o personagem. É muito mais interessante um Scarpia recalcado! Bem vistas as coisas será muito mais original e inovadora a Tosca que vimos no TNSC.

Hugo Santos disse...

Raul,

vexa-me com essa do sapiente :)

Il Dissoluto Punito disse...

Raul,

O Visconti é grandioso, subtil e passou à história - vide O Leopardo, Senso, Rocco, Belissima, Ludwig and so on. O Zeffirelli é apenas megalómano, mas banal. O primeiro é a obra-prima. O segundo é uma réplica...

Anónimo disse...

João,
Conheço muito bem a obra do Visconti e é um muito grande e pertence a uma geração dominada, para mim, por Fellini. Sobre o Zeffirelli não sou eu que o vou defender como realizador de cinema, pois nem me lembro de nenhum filme dele.
Rosselini, Visconti, Antonioni, Lattuada, ... todos geniais. A seguir coloco o conjunto de filmes italianos que possuo e uma classificação que atribuo:
I Bambini ci Guardano ( The children are watching us ), 1944 ( **** )
Roma, cittá aperta ( Roma, Cidade Aberta ), 1945 ( **** )
Sciuscià ( Shoeshine ), 1946 ( *** )
Ladri di Biciclette (Ladrões de Bicicletas ), 1948 ( **** )
L´ Amore, 1948 ( **** )
Cronaca di un amore ( Story of a Love Affair ), 1950 ( ** )
Stromboli ( Stromboli ), 1950 ( *** )
Guardi e Ladri, ( Polícias e Ladrões ),1951 ( *** )
Lo Sceicco Bianco ( O Xeique Branco ), 1952 ( **** )
Umberto D, 1952 ( *** )
I Vitelloni, 1953 ( *** )
La Srada, 1954 ( **** )
Viaggio in Italia, 1954. ( ** )
Le Amiche ( As Amigas ), 1955 ( *** )
Le Notte di Cabiria ( As Noites de Cabiria ), 1957 ( ***** )
Il Grido, 1957 ( ** )
La Dolce Vita, 1959 ( ***** )
Il Generale Della Rovere, 1959 ( *** )
Kapo, 1959 ( *** )
La Notte ( A Noite ), 1960 ( **** )
Rocco i Suoi Fratelli ( Rocco e os seus irmãos ), 1960 ( **** )
Divorzio alla italiana ( Divórcio à italiana ), 1961 ( *** )
L’ Eclisse ( O Eclipse ), 1962 ( ** )
Mamma Rosa, 1962 ( ** )
Mafioso, 1962 ( *** )
Il Gattopartdo ( O Leopardo ), 1963 ( ***** )
I Manni sulla Citá ( Hands over the city ), 1963
Sedotta Abandonatta ( Seduzida e Abandonada ), 1964 ( **** )
Giulieta degli Spiritti ( Julieta e os Espíritos ), 1965 ( ** )
Per qualche dollaro in più ( For a few dollars more ), 1965 ( *** )
Os Malditos, 1969 ( *** )
Medea ( Medeia ), 1969 ( **** )
Il Decameron ( O Decameron ), 1970 ( * )
Il Conformista, 1970 ( ** )
Death in Venice ( Morte em Veneza ), 1971 ( *** )
Roma ( Roma ), 1972 ( ** )
Amore e Anarchia ( Amor e Anarquia ), 1973 ( *** )
Il Fiore delle mille e una notte ( Noites Árabes ), 1974 ( **** )
Professione: Reportere ( The Passenger ), 1975 ( ** )
Novecento ( 1900 ), 1976 ( **** )
Padre Padrone ( Padre Padrone ), 1977 ( *** )
L’ Albero degli Zoccoli ( A Árvore dos Tamancos ), 1978 ( ***** )
Christo se è fermato a Eboli ( Cristo parou em Eboli ), 1979 ( **** )
La Luna, 1979 ( *** )
La Citta delle Donne ( A Cidade das mulheres ), 1981 ( *** )
E la nave va ( O Navio ), 1983 ( **** )
Nuovo Cinema Paradiso ( Cinema Paraíso ), 1988 ( ***** )
Mediterraneo ( Mediterrâneo ), 1991 ( ** )
Il Postino ( O Correio de Pablo Neruda ), 1994 ( ***** )
Melena, 2000 ( **** )
La Stanza del Figlio ( O Quarto do Filho ), 2001 ( ** )
La Meglio Gioventú ( A Melhor Juventude ), 2003 ( ***** ) 52
RAUL

Il Dissoluto Punito disse...

Raul,

Como é possível... apenas 2 estrelas a O Quarto do Filho?! Achei o filme soberbo!!!!

Anónimo disse...

O João é pai, eu não sou. É uma história bonita, muito previsível, um bocado lamechas, boas interpretações, mas mais não encontrei.
Raul