sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Louise e as liberdades da encenação...




Em Estrasburgo, estreia a Louise (Charpentier) d'après V. Boussard:

«Le metteur en scène Vincent Boussard remporte son pari en modernisant ce «roman musical» de Charpentier.

Créé à l'Opéra-Comique le 2 février 1900, Louise, de Gustave Charpentier, incarne la quintessence d'un certain naturalisme musical. Ouvriers, maraîchers, rempailleurs et autres chiffonniers sont les protagonistes de ce «roman musical» qui, sous prétexte d'une idylle entre la couturière Louise et le poète Julien, entendait décrire le Paris populaire à l'aube du XXe siècle. C'est pourquoi - à l'instar des chansons de Damia, des premiers romans de Morand ou du Duvivier de La Belle Équipe - Louise est étroitement lié à son temps, et n'a de valeur réelle qu'en ce qu'il est daté.

Sortir l'œuvre de son contexte et la moderniser sans pour autant l'ancrer dans le temps était un pari délicat. Il est globalement remporté par le metteur en scène Vincent Boussard, lequel s'est concentré sur les personnages en gommant toute référence au pittoresque parisien. Certes, cela resserre l'intrigue sur des rôles à la psychologie assez sommaire (le livret de Charpentier est globalement tarte), et les scènes «de genre» sont étrangement décalées. Pigalle a remplacé Montmartre et le petit peuple de Paris a fait place à des escouades de junkies, clochards, poivrots et paumés de tout poil.

Dès l'instant qu'on admet le parti pris, on y adhère sans gêne. Après un premier tableau plutôt bancal, on se laisse prendre par cette Louise inattendue, dont les qualités scéniques vont croissant jusqu'à la fin du spectacle.

On le voit : l'œuvre est donc prise «au sérieux». C'est bien ainsi que l'entend le chef Patrick Fournillier, visiblement épris de cette partition et soucieux d'en exhiber les qualités symphoniques et les nombreuses richesses orchestrales, quitte à verser dans le grandiloquent.

Un travail qui ne va d'ailleurs pas sans une tendance à oublier les chanteurs, lesquels doivent parfois crier pour se faire entendre. La Louise de Nataliya Kovalova et le Julien de Calin Bratescu semblent ainsi souvent obligés de forcer la voix. S'ils sont scéniquement crédibles, ils en perdent toute nuance et leur français devient incompréhensible. On n'en dira pas de même de Marie-Ange Todorovitch, parfaite en mère de Louise. Quant au père, incarné par Philippe Rouillon, il est le vainqueur de la partie : diction, musicalité, puissance, noblesse, tout est là. Avec lui, ce rôle transcende les âges pour atteindre la véritable humanité.»

nota: o bold - a essência do artigo, que versa sobre a liberdade da encenação - é a da minha autoria.

8 comentários:

Gus On Earth disse...

Gosto muito da "Louise". Sim, gosto muito deste Charpentier, apesar de gostar mais do outro, ligeiramente mais antigo. Mas claro, cada macaco no seu galho.
Acho que a "Louise", um pouco como "La Bohème" presta-se a bastantes liberdades de encenação e a uma relativa mise-en-scène do drama nos tempos modernos. Só conheço/ouvi aquela versão com o Domingo e a Cotrubas e gostei muitíssimo.

Raul disse...

É incrível mas desta ópera só conheço a famosíssima Depuis le jour. As duas melhores interpretaões que conheço são a Callas ao vivo de meados de 50 e a Fleming na Gala Levine, onde tem a melhor prestação do espectãculo. Quanto à ária propriamente dita, gosto muito e muito.
Mr. Gus, como vai a Cotrubas?

J. Ildefonso. disse...

Também eu só conheço a aria em questão mas as minhas preferências vão para a Freni pela frescura e imediatez expressiva e para a Caballé pela beleza timbrica.

Gus On Earth disse...

Caro Raul,
a Cotrubas nesta interpretação ia muitíssimo bem, do que me lembro. Achei que fundia bastante bem com a voz de Domingo. Por incrível que pareça, nunca ouvi nem a Callas nem a Fleming como Louises. Uma falta!

Hugo Santos disse...

A gravação Cotrubas/Domingo será, porventura, a referência no que à ópera de Gustave Charpentier concerne. Além desta, refiro dois registos adicionais: Sills/Gedda (EMI) e Lott/Pruett (Erato). Todas foram gravadas num espaço temporal próximo: 1976, 1977 e 1983.

Raul disse...

Ildefonsíssimo,
A Freni no Depuis le jour !!!´Não estou nada a ver. A Caballé eu tenho e é muitíssimo boa, mas aquelas que eu referi são insuperáveis e convido todos os que me lêem a ouví-las. Tu conheces as ditas, as da Callas e da Fleming ? Se não conheces, eu quando voltar em Janeiro trago-as e ouvimo-las assim como a grande Freni.
Um abraço

J. Ildefonso. disse...

Não nunca ouvi a Callas nessa aria. A Fleming também não mas deve ser estupendo com a voz tão cremosa. A Freni numa gravação dos anos 60 está fantástica muito fresca e directa. A gravação da Caballé é dos anos 70 e é muito bela mas não funciona tão bem.

mr. LG disse...

O meu único encontro com a LOUISE foi há 2 anos atrás, com uma CD box que me foi emprestada por uma amiga minha: a versão Sylvain Cambreling F. Lott/ J. Pruett/R. Gorr/ E. Blanc 1983 La Monnaie (acho eu...), numa velha edição da Erato Disques/Warner; daquelas que vinham ainda com o Libretto, como deve de ser!!! ;-)
Versão muito mal amada pelos críticos da praça àqueles tempos dos Eighties, mas para quem nunca a tinha escutado, gostei muito!! :-) não sei porquê tanto desprezo, ao tempo, por esta versão… :-?
Ópera maior de inícios de 1900, que não se justifica estar tão arredada das temporadas dos Teatros Líricos de maior nomeada.
LG