quinta-feira, 30 de julho de 2009

Herbert


Se méritos dignos de referência há, neste Otello, inevitavelmente os mesmos prendem-se com a direcção divina de Von Karajan, a par da prestação da sumptuosa Filarmónica de Viena – a minha orquestra de eleição, desde há muito. Pelas razões descritas, não hesito em designar esta interpretação de Otello pelo nome próprio de Von Karajan, ossia Herbert.

Von Karajan e a Wiener Philharmoniker proporcionam a leitura orquestral de Otello mais impressionante que conheço (e privo com cerca de uma dezena, de Furtwängler a Toscanini, de Serafin a Solti): dramática, poética, fina e grandiosa. A prestação da orquestra – das cordas, particularmente -, é o que se sabe: um verdadeiro milagre, na afinação, profundidade e imensa poesia que desenham.

Relativamente aos intérpretes, "a coisa pia" de outro modo.

Del Monaco foi o protagonista de Otello dos idos 1950 e inícios da década de 1960. Há envergadura dramática na sua interpretação e spinto a rodos. Falta-lhe volume, sobretudo. O timbre é belo e heróico, mas um tanto magro.

A Desdemona de Tebaldi peca por uma discreta insegurança, própria da época da carreira do grande soprano. Dócil e elegante, Tebaldi compõe uma Dedemona convencional.

Protti é um Jago inespecífico, insuficientemente perverso e intriguista. Gobbi – anos depois – veio a criar o Jago supremo, sob a batuta de Serafin: corrosivo e maligno, de uma perversão diabólica.

Pese embora a prestação e limitações dos solistas, o acto III desta interpretação transpira drama e calor teatral, servido por vozes de assinalável qualidade - vide os confrontos Otello / Desdemona e Iago / Otello.

Caso o leitor procure o melhor Otello orquestral, este é o seu objecto de desejo. Se pretende um conjunto de solistas de grande envergadura dramática e teatral, Vickers será o protagonista – ou Vinay, ou ainda Domingo -, Studer a Desdemona de eleição – a par de Freni, Scotto ou Rysanek – e Gobbi – como disse, sem sombra de rival – o maior Jago da discografia.

Por Karajan, indubitavelmente.

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(4/5)

1 comentário:

Raul disse...

Este Otelo, como já referi noutro comentário, é fabuloso, mas nada pode substituir a versão de Toscanini, que conheceu Verdi e estava na orquestra na estreia mundial. Toscanini "bate" Karajan, no ritmo - uma espécie de nervosismo constante -, no acompanhamento do diálogo Iago-Roderigo e nesse momento único que é o concertante final do terceiro acto.
Sem a menor dúvida: Tito Gobbi é o Iago ideal no que de pérfido tem a personagem, mas Giuseppe Valdengo não o é menos e Giuseppe Taddei reúne à perfídia, a brutalidade e a voz, que tem mais que Tito Gobbi.
Cada época teve o seu Otelo: Tamagno, o criador, Martinelli, Vinay, del Monaco, Vickers e Domingo. Jon Vickers em entrevista dizia que ele seguia a linha Vinay e o Domingo a do del Monaco. Nada mais verdade. Para mim o momento mais oteleano é o "Dio! mi potevi scagliar" e aí o Vinay dirigido pelo Toscanini não tem rival.