segunda-feira, 15 de junho de 2009

O Ocaso de Elektra


(DG 00440 073 4111)

O interesse deste registo é, eminentemente, histórico. Nele, Nilsson – a maior protagonista de Elektra (R.Strauss) do século – despede-se do papel titular da mesma ópera, no palco do Met, uma das suas residências predilectas. Ladeia-a uma das mais fabulosas Crisótemis de sempre, a extraordinária Rysanek.

À época, Nilsson contava com mais de 60 primaveras. Dito isto, aparentemente, pouco haverá a acrescentar...

Birgit Nilsson inicia a récita titubeante, com indisfarçáveis problemas de afinação. Pouco-a-pouco, à medida que a voz aquece, a soprano recupera o controlo sobre a dita, obviamente endurecida e com falta de flexibilidade. O folgo, a pujança e o volume vocais mantêm-se intactos. A interpretação permanece lendária, apesar de certos tiques histriónicos que, pessoalmente, dispenso – o olhar esbugalhado, por "dá cá aquela palha", a mímica exagerada. O reconhecimento de Oreste é mítico, pela carga e dinamismo teatral.

Rysanek permanece modelar, tanto na voz, como na leitura dramática da personagem – infinitamente feminina, dilacerada, pueril e de uma fragilidade graciosa. Ao vê-la em cena, ninguém adivinha o combate que Leonie travava com 39º de febre assassinos!

Termino com três referências adicionais: Levine, pela majestosa direcção orquestral, de uma imensidão e grandiosidade asfixiates, McIntyre (Orestes), pelo vigor físico e espessura interpretativa, e Dunn (Clitemnestra), artisticamente irrepreensível, perfeitamente à altura das treme
ndas Nilsson e Rysanek

O resto é da ordem do banal - encenação inclusive.


Caso o leitor procure a Elektra em dvd da minha eleição, ei-la, com Rysanek no papel titular... Divina!
________
* * * * *
(4/5)

17 comentários:

mr. LG disse...

Dissoluto,
100% de acordo.
1ª opção para DVD a ELEKTRA de Bohm com as Exmas. Sras. Donas (Oh, lá,lá!! :-) ) Rysanek e Varnay, com Ligendza, Fischer-Dieskau e Greindl a acompanhar
2ª opção esta aqui apresentada, sem dúvida nenhuma.
Só se esqueceu o meu caro Dissoluto de referir que neste DVD em causa, o final e (acho que) o 1º dos Extras são à volta de 20 mins. de estrondosos aplausos que fazem a alegria e histerismo do público (me Including!... ;-)) ) e a glória perene do Met que se alimenta de récitas como esta.
Aplausos de milhares de pessoas, num teatro com capacidade para essas tantas milhares… e dizemos nós que nos States são todos uma cambada de novos ricos !!??... Tomáramos nós… :_(
… e isto apesar de ouvir muita mediocridade de vozes que por lá andam no Met. Digo isto baseando-me naquilo que se ouve nas transmissões da Rádio. Vozes que são delirantemente aplaudidas… mas isso já é outro Post e outro assunto a debater em ocasião própria.
Tomara Kaufmann, Groissbock, Pape, e Garancas… e Gheorghius… e Netrebkos… chegarem à provecta idade destas Sras. Nilsson e Rysanek e fazerem um espectáculo da categoria que este DVD apresenta… apesar de tudo aquilo que apresentou como drawbacks deste mesmo.
All the Best.
Do seu,
LG

P.S.3ª opçao DVD: Marton, Fassbaender, Studer, King, Abbado, Wiener StaatsOper.
4ª opção: à espera de DVD do Liceo de Barcelona com Deborah Polaski (apesar de tudo… :-/…), Eva Marton, e, acho que, Sebastian Weigle a dirigir. Quando estive na Gulbenkian a assistir à ELEKTRA Versão de Concerto, perguntei a Madame Polaski se tal DVD iria sair no futuro. Nem a diva sabia se tal lançamento algum dia irá acontecer… :-/

Anónimo disse...

Tenho esta gravação desde o tempo dos lasersdisc. O João lembra-se de eu lhe perguntar neste blogue se conseguia arranjar um leitor de lasers, para eu lhe emprestar o disco ?
Sim, a gravação vale pelo "animal de palco", que é a Nilsson. Logo no início, antes mesmo de entrar para o monólogo em que evoca Agamemnon, ela entra e sai mostrando o seu "nojo" pela situação de Argos. A "facies" impressiona. Vocalmente começa com pouca potência, mas para o fim ela começa a surgir aos poucos. Mas a presença é total e assim imaginamos a Elektra vingativa, desonrada, humilhada da casa dos Atridas, vendo Argos nas mãos do asqueroso Egisto. A Ryzanek está fabulosa vocalmente e a cena final entre ambas é avassaladora, sem palavras. A Klytmnestra da Dunn não acho nada de especial e o McIntyre, embora vocalmente irrepreensível, a figura é um bocado canastrona. O maestro Levine apresenta talvez uma das suas melhores interpretações.
Embora exista a excepcional gravação da Ryzanek, Varnay,..., acho a aquisição deste dvd imprescindível, por causa da presença da melhor Elektra de todos os tempos, como o João referiu.
Raul

José Quintela Soares disse...

Concordo em absoluto.
Mesmo com uma Nilsson em fim de carreira, a interpretação é fabulosa, e o registo fica para a posteridade.
Daqueles dvd que ninguém dispensa.

blogger disse...

vou colocar então no basket no amazon!

Hugo Santos disse...

Em registo vídeo, julgo que a presente gravação e a com Rysanek no papel titular não encontram rival. Dada a unanimidade de opiniões, talvez seja possível afirmar que quem possuir ambas não necessitará de adquirir qualquer gravação adicional neste suporte.

Hugo Santos disse...

Sem querer ser incoerente, uma outra gravação vídeo que importaria comercializar seria o filme com Gladys Kuchta, Regina Resnik e Ingrid Bjoner dirigidas por Leopold Ludwig em Hamburgo no ano de 1969.

mr. LG disse...

Caro Hugo Santos:
100% de acordo consigo.
Sempre gostaria de ver uma reabilitação dessa soprano strauss-wagneriana que foi a americana Gladys Kuchta (1923-1998). Chegava mesmo a ser a stand-up oficial de Birgit Nilsson e acho que cantou algumas récitas do Tristan e fez a Brunnhilde do Ring de, nada mais nada menos, que das encenações de um Sr. chamado Wieland Wagner para esse não menos teatro que é a Meca de Wagner: Bayreuth. Isto, obviamente, nos idos de 60s es…
Perante o marasmo vocal strauss-wagneriano de hoje (Eu sei, Dissoluto… ai e tal porque a Nina Stemme… :-/ ;-)) ) chamar-lhe-iamos um figo… :-)
All the best.
LG

Anónimo disse...

Caro Hugo,
Gladys Kuchta foi uma grande Elektra, mostrando muito o lado "selvagem" da personagenm. Mas o "must" da edição seria a grande Regine Resnik, a perfeita Klytemnestra, que eu tive o privilégio de ver, também como encenadora, no São Carlos neste papel que a imortalizou. A voz já estava um pouco decadente , mas ainda havia muito da glória passada. A Bjolner, a minha primeira Brunilde em Lisboa, era uma wagneriana de gema e também uma excelente Elektra como o provam os excertos que circulam no Youtubo contendo o confronto mãe-filha com a Varnay. Por curiosidade mórbida, estas duas cantoras morreram no mesmo dia.
Voltando ainda à grande Resnik, essa cantora-actriz total, existem cenas no youtube desta gravação com a Kuchta.
Quanta à gravação que existe aí da Marton e que eu possuí, é melhor olhar para o lado. A Marton tem a voz em cacos, a Fassbinder é uma decepção, monótona,cantando baixo,..., e escapa a radiosa Studer, a única razão para ter o dvd.
RAUL

Hugo Santos disse...

Caro Raul,

a Resnik é daquelas intérpretes capazes de tornar interessante até uma lista de supermercado. Outra do mesmo calibre e que também deu cartas na Klytemnestra era a Marta Modl.

Retomando a Regina Resnik, eu julgo que cantou a Klytemnestra por duas vezes no São Carlos: em 1971 com Inge Borkh e Teresa Kubiak e em 1977 com a Danica Mastilovic e novamente Kubiak. Recordo este aspecto pelo facto de, a dada altura, me ter apercebido de a produção e elenco de 1971 serem os mesmos de uma gravação que possuo, editada pela Mondo Musica, de uma récita ao vivo no La Fenice de Veneza datada de 15 de Dezembro desse ano. Pese embora no crepúsculo da carreira, a Inge Borkh consegue ainda dominar o papel vocalmente. Até o carácter forçado dos agudos no monólogo conferem-lhe uma dimensão tormentosa adicional.

Para finalizar, gostaria de partilhar do seu gosto (e do mr. LG) pela Gladys Kuchta e, sobretudo, pela Ingrid Bjoner, muito "querida" pelo seu timbre entre o "jugendlich" e o dramático "à la" Nilsson.

mr. LG disse...

Caro Hugo Santos,
Também gostaria muito de saber se existem gravações (piratas!!... só pode!) de Gladys Kuchta em Bayreuth cantando ou a Brunnhilde ou a Isolde sob a direcção de um novíssimo Lorin Maazel, Karl Bohm e/ou Berislav Klobucar nos idos de 68 e 69. Tive que ir ali aos meus catrapázios que vão ganhando pó na estante para verificar com certidão os anos em que Kuchta cantou em Bayreuth ;-))
Entretanto…
http://www.youtube.com/watch?v=nXuPpiKGctM

Ainda nestes recentíssimos Posts, ninguém referiu outra versão de gloriosa referência para uma ELEKTRA como deve de ser nas nossas estantes… que, como todos nós sabemos, têm que ser várias…
Modl (cá está ela, Hugo Santos, e tem toda a razão :-))/Varnay/Hillebrecht/Waechter (um wink ao nosso censor D. Giovanni de serviço, ossia, o nosso Dissoluto Punito ;-) ), King, Karajan, Salzburg/Agosto de 64 editado pela ORFEO há muitos anos já. Infelizmente ou felizmente, andei por outras Elektras e…esqueci-me de voltar a esta que vai ganhando pó na minha estante... só para variar :-/ Tenho ver se a revisito o mais urgentemente possível…
É que, sabem, aquelas ELEKTRAS CATASTRÓFICAS ou SEMI-CATASTRÓFICAS do Maggio Musicale Fiorentino dirigidas por Mitropoulos em 1950 (51?) e por SINOPOLI Wiener Philarmoniker para a DG “ELECTRIFICARAM-ME” Um pouco… ;-D
All the best for all the people out there :-)
LG

Anónimo disse...

Caro Hugo,
A Elektra que vi foi a de 1977 com a Mastilovic (grande cantora). Em 1971 estive meio ano ausente em Luanda, bem longe da música de Strauss.
Quanto à Modl, ela é talvez a mais atormentada e lúgubre das rainhas, pelo menos na versão Karajan, onde eu, talvez contra o mundo, não aprecio particularmente a protagonista (Varnay).
Mas a Inge Borkh é outra coisa. Também ela um animal de palco, uma quase besta enfurecida. Sem os melismas da Nilsson, esta grande cantora-actriz, junta-se às belíssimas, física e vocalmente falando, Jean Madeira e Lisa della Cazza, para sob a batuta do grego Mitropoulos, participar na mais verdadeira das Elektras. Logo nos compassos iniciais (arrepiantes) entramos no universo sofocliano da tragédia grega, tão genialmente servido pela música de Strauss. Esta gravação era uma das que levaria para ilha deserta dado gostar tanto desta ópera e dadas as minhas afinidades com o tema, pois estudei-o muito. A gravação em questão, que recomendo vivamente, é:
Mitropoulos: Borkh, Madeira, della Casa, Bohme, Lorenz (2 CD, 1957)
Opera D´Oro OPD-1190
Raul

Hugo Santos disse...

Caro Raul,

essa gravação que menciona é imperdível. Afigura-se como um abismo ao qual é árduo resistir. Mitropoulos é, sem dúvida, um grande straussiano.

Caro mr. LG,

é curioso referir esse registo com Modl e Varnay em Salzburgo dirigidas por Karajan pois, no ano seguinte, as mesmas intérpretes apresentaram-se em São Carlos numa Elektra que me dizem ter ficado para os anais do teatro. A 21 e 24 de Janeiro de 1965, sob a direcção de George Sebastian, do elenco faziam ainda parte a interessante Liane Synek (Crisótemis), James Harper (Egisto) e Heinz Borst (Orestes).
Sobre a Gladys Kuchta, eu tenho-a na Senta (Buenos Aires, 1965), na Farberin (Viena, 1964 e Buenos Aires, 1965), na Brunnhilde e Sieglinde (Met, 1961/62 e Bayreuth, 1968/69), na Elektra (Hamburgo, 1969) e na Isolda (Buenos Aires, 1963). A questão é localizar as todas estas gravações. Não faço ideia onde as terei colocado.

Anónimo disse...

Todos ao Salão Nobre ver o "Dido e Eneas". Encenação de Carlos Avilez?!?!?! Mas quem é este arrivista a encenador? Sempre se vê e ouve cada uma. O Hugo irá por certo adorar, veja o elenco e atente lá se não há quem o faça suspirar.
Cumprimentos a este disederato de amantes da Lírica.

Hugo Santos disse...

Caro Raul(?),

confesso não ter percebido. Talvez se me puder esclarecer.

Anónimo disse...

Não, não sou eu.
Raul

Hugo Santos disse...

Nesse caso, as minhas desculpas, Raul.

mr. LG disse...

Caro Hugo,
afinal, areditando no que me diz há uns consideráveis registos de Gladys Kuchta... e eu que pensava que havia bem menos.
Afinal sempre há a Brunnhilde de Bayreuth em 68 ou 69? :-) Boa notícia que me dá :-) não fazia mesmo ideia; para mim era só uma hipótese
... e tem isso tudo??... :-)) lucky you ;-))
All the best.
LG