sábado, 7 de março de 2009

I Capuleti e i Montecchi - Covent Garden


(Anna Netrebko e Elina Garanca)

Netrebko e Garanca pertencem à faixa mais pop da lírica contemporânea, lado a lado com Villazón, Schrott e quejandos.

Como não sou snob, tolero o mainstream, lírico ou outro.


Diga-se o que se disser, a soprano russa, bem como a mezzo lituana, são excelsas cantoras e intérpretes exímias. Netrebko, sobretudo, conta já com registos de excepção (La Traviata e Manon, entre muitos outros), não tendo rival à altura no domínio lirico spinto (Dessay é um bocadinho menos esbelta… Ciofi mais banal, Swenson mais entradota, and so on!).

Anna Netrebko e Elina Garanca actuam em conjunto há um bom par de anos, tendo retomado a estreita colaboração na temporada passado, em Viena, em I Capuleti e i Montecchi (Bellini), que a DG se prontificou a eternizar. Entrementes, o Royal Opera House – Covent Garden retoma uma antiga encenação da mesma ópera, sendo o elenco da dita encabeçado pela tórrida russa e esbelta lituana.

Uma vez mais, Londres marca pontos em território lírico – depois do fabuloso O Navio Fantasma e do magnífico Doctor Atomic -, merecendo entusiásticas críticas, que unanimemente sublinham a excelência das prestações da dupla eslava.

Perhaps they wouldn't score straight tens with those who insist on the purest bel canto style: neither of them being native Italian (Garanca is Latvian, Netrebko Russian), their articulation and colouring of the text is imprecise. Netrebko lacks a firm trill, and Garanca's lowest register is relatively weak. But what fabulously healthy voices they both have, and how thrillingly they wield them, through melancholy aria, dramatic declamation and warmly blended duet.

Garanca's Romeo, looking good in principal-boy wig and tights, is a creature of swaggering bravado, vibrant in tone and confident in style. The audience rightly went wild for her. Netrebko presents a Juliet of naivete and ardour, her fearless spirit reflected in red-blooded singing irradiated by some ethereally floated top notes. You don't look to Netrebko for subtleties of interpretation –­ she's not a sensitive musician – but there's a passion and commitment in her artistry which charges her with electric star quality.»


«Bellini's un-Shakespearean take on Romeo and Juliet essentially forms a vehicle for Anna Netrebko as Giulietta, and while it is difficult to imagine the role better acted or sung, this doesn't give us Netrebko at her best.

The problem is Bellini's, not hers. For all his interest in the female psyche, this is ultimately a work about men. Romeo, rather than Giulietta, carries the dramatic and musical weight. The tragic irony lies not only in the fact that the lovers must fall victim to factionalism, but that Romeo rejects conciliation with his political enemy and Giulietta's fiance, Tebaldo, despite mutual acknowledgement that they are united by desire for the same woman.

Giulietta, in comparison, is viewed almost simplistically: she is conflicted and put upon - and that's about it. Netrebko is at her most devastating in roles like Violetta and Susanna, in which moral probing is allied with emotional complexity. Here, she has little to do except be continuously desperate, though she does it wonderfully - fluttering round the stage like some wounded bird, and filling the air with cries of longing and despair.

Her Romeo is mezzo-of-the-moment Elina Garanc...#711;a, whose voice twines rapturously round Netrebko's, and is all tight-lipped contempt when dealing with Dario Schmunck's Tebaldo. Mark Elder's conducting is persuasive, though Pizzi's Renaissance staging, a stately affair that looked old when it was new, does neither the work nor the performers any favours.»


«Me, I’m backing the combustible pairing of Anna Netrebko and Elina Garanca whose charismatic presence, vocal and physical, lends a whole new ring to the phrase “star-crossed”. Never mind the Shakespeare, feel the vocal style. There’s a stylist in the pit, too – Mark Elder – and for all his somewhat thankless task of driving Bellini’s bouncy martial toe-tappers and keeping tabs on the plethora of off-stage band effects (nothing like over-killing a novelty), he is a vital part here of moulding those accompanied recitatives and sensitively shadowing the subtle rubatos of the vocal embellishments. He and the orchestra did a great job and I should single out, as did Bellini, the horn, cello, and clarinet obbligati which so evocatively enhance the mood of their respective interludes.

But the real drama, such as it is, emerges between the vocal chords of our two stars. Netrebko pretty much had Giulietta, the reluctant bride, sewn up here. There were a couple of notes that didn’t quite land, odd phrases that didn’t quite sustain, but for the most part she was riveting. Her glorious entrance aria “Oh! Quante volte” was blessed with a limpid legato and an ability to meld her lovelorn sighs into the portamento. No one should underestimate the technique (and courage) required to sustain the musical line to meaningful effect – there really is nowhere to hide; and those transfixing attacks above the stave where the sound instantly evaporates to a mere thread of sound – they are an essential part of the bel canto soprano’s armoury and Netrebko makes real capital of them.

Equally impressive was Elina Garanca’s Romeo. Her fabulous instrument is evenly and amply produced throughout the range and there isn’t a note of it that Bellini doesn’t deploy to thrilling effect. But, of course, it is in the union of these well-matched voices where the opera really comes into its own – those moments where Bellini silences his orchestra and the vocal caresses are relished a capella. How startling is that unison passage at the end of act one – a great vocal allegory for so near and yet so far.»


Os mais desafortunados e pobresinhos ma non troppo poderão regozijar-se com a prestação da dupla de sonho, captada em Viena, como disse, na temporada 2007 – 2008.

Eis a face da dita cuja:



Os mencionados "desafortunados e pobresinhos ma non troppo" – categorias que apenas conheço de ouvir falar – terão de aguardar escassos dias! A saída deste desejável I Capuleti e i Montecchi está prevista para muito breve, cá no burgo.

16 comentários:

Ricardo disse...

Perdi esta récita por uma semana, e odeio-me profundamente por isso :)

Um amigo meu teve a sorte de ver a récita da passada 3ª feira e disse, muito simplesmente, que foi das melhores noites de ópera da sua vida.

Será que os senhores da Gulbenkian ainda não se lembraram que trazer cá a senhora Netrebko para um concerto de árias ou uma ópera qualquer em versão concerto é absolutamente imperativo? Não venham com a desculpa que mainsteam... a Bartoli vestida de sevilhana foi considerada uma "artista séria" e teve direito a recital-Malibran wannabe. A Gheorghiu também já por cá andou a tentar convencer-nos a todos que é um lírico spinto, quando a voz é um bom lírico, e também é mainstream. Não se compreende que ainda não tenhamos tido a Netrebko cá... Digam-lhe que Portugal é um país quentinho :P

Anónimo disse...

Estou com o Ricardo. Tragam a Netrebko a Portugal. Espero que não se repita o que se passou com a Price: nunca a tivemos em Portugal.

Anónimo disse...

...e de gostos muito provincianos e que não vale a pena atirar pérolas a porcos!!! :-@ ...

Anónimo disse...

Poderia sentir-me tentado a comprar o c.d. DG dos Capuleti e Montecchi, ópera de que gosto muito apesar das suas "falhas" que bem vistas as coisas não são vistosas e não impedem o usufruto desta belissima partitura, se não tivesse já a versão kasarova/Mei que é excelente, sem dúvida nenhuma a melhor gravação Bellini das últimas décadas. Seja como for esta última gravação apresenta muito potencial mais do que não seja por ter cantoras a cantar papeis que valorizam as suas caracteristicas vocais da melhor maneira, o que é cada vez mais raro.

Anónimo disse...

João Ildefonso,
A frase " versão kasarova/Mei que é excelente, sem dúvida nenhuma a melhor gravação Bellini das últimas décadas " é tipo frase-Jorge Calado!!!

Anónimo disse...

Até pode ser o que é um pouco assustador! Mas ponderando bem... realmente bem pode ser. Aliás depois da Suterland também não têm aparecido muitas gravações de Bellini que possem ser consideradas exemplares talvez excepto a Gruberova/Baltsa exactamente na mesma ópera por isso também não será um título tão "absoluto" como poderia parecer... o Tancredi da mesma dupla também é muito bom mas aí existe a competição da Poodles/Sumi Jo na Naxos. Quero muito ouvir a Cioffi na Straniera mas cada vez é mais dificil encontrar as edições da Opera Rara em Lisboa e terei de esperar até ter oportunidade de viajar.

Anónimo disse...

João Ildefonso,
Pensando bem, acho que tens razão. Também tenho a versão Guberova / Baltsa e gosto muito.
Um abraço
Raul

Anónimo disse...

Caro Raul:
Se tanto J. Ildefonso como J. Calado tiverem frases daquele género, tanto melhor: têm o seu direito… acho eu!
Se J. Calado disser que “a versão Tosca/di sabata/ callas/gobbi/di stefano/emi é excelente, e sem dúvida nenhuma a melhor gravação da Tosca das últimas décadas " (meio século, diga-se de passagem) acho que a maioria dos melómanos e CDs aficionados concordaria plenamente.
Não é por ser J. Calado, que vamos continuar a bater mais no ceguinho (passo a expressão… e espero não estar a ultrapassar o limite “moderação de comentários” porque não estou a ofender ninguém que o seja, sendo até é uma expressão bem popular e plenamente integrada no Português corrente).
Cada um tem direito à sua opinião, sendo quem seja, acho eu… e J. Ildefonso não tem que ficar assustado e traumatizado com afirmações daquele género porque não vai contra as regras básicas do Português escrito e falado, mesmo “sendo do tipo J. Calado”. É a sua opinião, e de outros, e respeite-se!!...
P.S. Quanto a I Capuleti e i Montecchi só tenho a versão Covent Garden muti/gruberova/baltsa/howell/emi por muitos considerada de muito bom calibre e já com décadas atrás das costas… eu e as eternas pretéritas!... ;-))
Mas, confesso, nunca mais lá voltei. Esta Ópera belliniana nunca me encantou assim tanto... só a Ária de Romeo do 1º acto “Lieto del dolce incarco- Ascolta. Se Romeo t´uccise un figlio” me ficou no cérebro… e cantada por B. Fassbaender num velho recital da etiqueta Orfeo já datado da eterna década de 80.
É só.
Mr. LG

Anónimo disse...

Mr. LG.
Você leva muito a sério certos tipo de comentários entre amigos e o seu humor é muito diferente do meu. Há quem diga que nada mais separa duas culturas do que a comida e o humor e eu inclino-me para que esta também separa as pessoas. Vou continuar a "chatear" o João Ildefonso o Ricardo e outros, esperando que eles também me chateiem, e não vou mudar a minha maneira de fazer comentários, mesmo que Mr. LG não esteja de acordo.

Hugo Santos disse...

Eu continua a dizer que os meus Capuletos e Montéquios são igualmente da EMI mas com o par Beverly Sills/Janet Baker. A presença de Nicolai Gedda também não incomoda nada...

Anónimo disse...

É sempre excessivo cair nesse tipo de comentários "o melhor" mas realmente o exemplo do Mr. LG é sugestivo e realmente poderá ser universalmente considerado verdadeiro. Quanto ao mérito dos Capuleti e Montechi discordo totalmente pois considero-a uma obra inspirada e com muito merito. Os duetos Romeo/Giulietta são lindissimos e toda a obra é muito bem construida num "crescendo" de tensão e inspiração invejável. Basta pensar no último acto onde a Kasarova expressa com tanta propiedade aquele elemento clássico no seu último recitativo antes do desfecho. Acrescento que a versão referida para além de ser excelentemente dirigida é completa com o bónus do final do Vacai, muito belo mas bastante convencional e a aria de Romeo "Se Romeeo t'uccise um figlio" com ornamentações (delirantes e muito pouco apropiadas ao contexto) do Rossini. É uma gravação que tenho ouvido muito regularmente na última década. Se isso tiver interesse para alguém. Querido Raúl gosto muito quando embirra comigo e se o deixar de fazer vou achar que está zangado!

Anónimo disse...

caro Raul:
Mande sempre! Ninguém lhe disse o contrário. :-)
A propósito: detesto cozido à portuguesa.
All the best.
Mr. LG

Anónimo disse...

Hugo,
Você que parece ser um um coleccionador hábil de gravações, quero transmitir-lhe a minha admiração pela primeira gravação (1931) da Gioconda, que conta com a presença de uma das melhores vozes italianas que me foi dado ouvir: Gianina Arangi-Lombardi: tem tudo o que a Cerquetti tem e ainda um pouco mais de substância vocal. Ouvi-la é uma experiência fascinante. E a gravação na Naxos é muito aceitável. O elenco conta ainda com a presença da grande Stignani.

Hugo Santos disse...

Raul, muito obrigado pelo elogio. Se soubesse as centenas de gravações que tenho a acumularem-se pela casa, ainda por ouvir, sentir-se-ia impotente face a uma tarefa de dimensões tão homéricas.
Em relação à Gioconda, a minha grande pena é que todos esses intérpretes não tivessem sido gravados em melhores condições técnicas. Outro exemplo que me vem à memória é a Aida com a Dusolina Gianini e a Minghini-Cattaneo e as gravações com a Lina Bruna Rasa, talvez a minha favorita desse período juntamente com a Claudia Muzio e a Mafalda Favero.

Anónimo disse...

Hugo,
É fantástico ! Não posso fazer de anónimo, pois reconhecem-me por baixo das palavras.
Todos os nomes que fala são grandes.
A Mafalda Favero, se não estou em erro, tenho-a no dueto das cerejas com o Schippa. Muito boa, mas é pouco, até porque não gosto muito da música.
Infelizmente nunca ouvi nada a Dusolina Gianini, mas só tenho ouvido as máximas referências.
A Bruna Rasa tenho-a na gravação histórica da Cavellaria dirigida pelo próprio Mascagni de quem era a Santuzza preferida. É o Verismo levado ao extremo. Gosto, mas tem a voz um bocado ácida.
Guardo para o fim a Claudia Muzio de que tenho um cd de árias. Não há palavras para descrever tão maravilhosa voz. Por exemplo, nunca ouvi tão bom Addio del passato, nem a Callas. Tudo o que ela canta é tocado pela sua voz seguríssima, cheia, cristalina, com um jogo claro-escuro e acima de tudo com um timbre italiano de uma beleza em nada inferior à Tebaldi. Em suma, uma das vozes mais lindas que houve no século XX.

Hugo Santos disse...

A Lina Bruna Rasa cantava quase tudo na chamada voz de peito. É ouvi-la na Cavalleria e no Andrea Chenier. Impressionante. Relativamente à Dusolina Gianini, além da mencionada Aida, a Naxos Historical lançou um concerto da Bell Telephone Hour efectuado em São Francisco em finais dos anos 40. Apesar da frescura vocal se ter perdido, as capacidades estão lá quase todas e a qualidade sonora é óptima para a época. A Mafalda Favero pode encontrá-la numa Adriana Lecouvreur com o Nicola Filacuridi e a Elena Nicolai gravada em 1949. Como nunca ouvi este registo, não lhe posso afiançar do nível sonoro. No entanto, é de esperar uma qualidade mais elevada face às outras gravações da diva.

P.S. A sua prosa é inconfundível. :)