As controvérsias em torno da mítica figura de Herr Von Karajan nunca me entusiasmaram particularmente.
Pessoalmente, admiro-o pelas interpretações da década de 1950 - Mozart (As Bodas de Fígaro, Così Fan Tutte e Die Zauberflöte), Strauss (Der Rosenkavalier e Ariadne auf Naxos) e Verdi (Il Trovatore e Falstaff), para não mencionar a incontornável Lucia di Berlin, - todas chez EMI.
De cor, recordo o Der Ring, Salome e Boris Godunov, de inícios dos anos 1970, sem esquecer as suas puccinianas La Bohème e Tosca.
Evidentemente, há ainda as inúmeras integrais das sinfonias de Beethoven, and so on...
Em finais da década de 1970, inícios de 1980, perto do ocaso, começou a titubear - vide Don Giovanni (DG), porventura o mais vergonhoso que conheço.
Este artigo do El Pais constitui um interessante, isento e neutro balanço da sua carreira. Detive-me, sobretudo, nesta passagem (o bold é da minha responsabilidade):
«El pasado nazi de Karajan no es secundario, aunque no fue de los que cometieron holocaustos. No hay ninguna sospecha de que cometiera crímenes raciales, y su carrera en el Reich sufrió a partir de 1942 cuando se casó con una rica heredera de ascendencia parcialmente judía. Lo que adquirió de los nazis fue un sistema de valores que aplicó a la inocente e ineficaz industria de la música a partir de 1945 de forma despiadada e implacable. Demostró que la música era, sobre todo, cuestión de poder. Muchos se sintieron, y permanecen, impresionados.»
Como recorda outro artigo - vide Le Figaro -, Von Karajan era um poseur, com uma inflacção egóica tipicamente narcísica:
«Fasciné par l’image, Herbert von Karajan portait un grand intérêt à la télévision. Celle-ci le lui rend bien, qui multiplie les hommages au chef d’orchestre à l’occasion du centenaire de sa naissance. À commencer par Arte qui lui consacre toute une soirée avec, en ouverture, le concert anniversaire de l’Orchestre philharmonique de Berlin, qu’il dirigea pendant trente-quatre ans, donné à Vienne en janvier dernier.»
A meu ver, a música deve-lhe muito. O resto é folclore...
6 comentários:
Como já deixei transparecer em anteriores comentários sou um incondicional de Karajan. Ópera italiana,a que gravou, R. Strauss, Tchaikowsky, Brahms, assim de repente, no seu conjunto é a minha escolha. Em Beethoven, Mahler, Wagner, Mozart está entre os melhores, embora aqui e acolá eu prefira Furtwangler, Klemperer ou Toscanini. Quanto ao Narcisismo, se queremos procurar um que me irrita profundamente é o imortal Requiem de Verdi com o melhor quarteto interpretativo de que há memória (Price, Cossoto, Pavarotti, Ghiaurov)e onde a câmara filmadora o foca constantemente, mesmo quando os solistas estão a cantar.
Raul
TENHO A MESMA OPINIÃO. É AS VEZES CONSTRANGEDORA A IDOLATRIA DA CÂMARA EM RELAÇÃO ELE.
EWALDO
À lista de obras primas juntaria, não sei se concorda, a Madame Butterfly na gravação que fez em 1974.
De resto concordo consigo, eu até nem simpatizo muito com ele mas o seu génio é incontestável. Foi sem margem para dúvidas um dos grandes maestros do século XX. O resto é mesmo folclore.
Fernando,
Desconheço a Butterfly de que fala - será com a Freni & Domingo? Não é, definitivamente, uma obra incontornável, a meu ver, apesar de tudo o que contém de interessante
Sim exacto, com a Freni e com Plácido Domingo. Eu pessoalmente gosto muito dessa gravação. Incontornável? Bem, não sei. Admito que não oiço suficiente ópera para conhecer a fundo todas as gravações dessa peça. Das que conheço é a que prefiro ... Mas já que estamos a falar disto e obviamente "off topic" Karajan qual é a versão que prefere?
Fernando,
Não me fiz explicar: o que não é incontornável é a peça em questão, para mim! A Madama Butterfly, como disse e repito, não me leva muito longe...
Enviar um comentário