O discurso da compositora finlandesa Kaija Saariaho assume contornos políticos, no sentido em que reivindica um espaço de criação musical da e para a fêmea. Nele, há um tom reivindicativo: a igualdade.
(Kaija Saariaho)
Nutro pouco simpatia pelo feminismo e seus sucedâneos, devo advertir.
A verdade é que a criação – seja ela qual for – é avessa a quotas!
Por ocasião da estreia de Adriana Mater (ópera de Saariaho, estreada em Paris, em 2006), tive ocasião de proceder a uma leitura psicanalítica do libreto da mesma ópera, que reproduzo, em excerto:
«Subjacente aos acontecimentos descritos, em tom literário, é óbvio o confronto entre poderes: Adriana-fémea-mãe, estóica, por via do sacrifício(?!) e do amor maternal(?!), mulher determinada, ainda que dorida (opta por dar vida (?!) a um filho, gerado na sequência de uma violação), contrasta com a destituição de simbólica fálica de Tsargo-homem-pai (alcoólico, velho e cego, ainda que militar, outrora), figura por demais frágil.
Desde logo, Yonas surge como um projecto narcísico, fruto de um desejo exclusivo de Adriana que, sozinha, faz uma escolha: ter um filho dela, só.
A forclusão do paterno é por demais evidente!
Mas a coisa não fica por aqui...
No futuro, prosseguindo a lógica narcísica da «heroína», Yonas será investido como um prolongamento de si mesma; materialização omnipresente do ódio, o jovem tem um mandato inexorável: o parricídio.
O desejo da morte de Tsargo condensa, em simultâneo, a aspiração omnipotente de Adriana, que assim triunfa heroicamente sobre o masculino - paterno e se vinga, por interposta pessoa... sem sujar as mãos!
Adriana fêmea - mãe (re)triunfa sobre o masculino - pai / filho!
Caro leitor, lamento a brutalidade das minhas considerações...
A verdade, verdadeira - na minha óptica, claro está! - é que esta criação lírica assenta num libreto que desvirtua o masculino / paterno - identificado com a brutalidade e a guerra -, enaltecendo o virtuosismo de uma maternidade omnipotente e gloriosa, que se oculta sob o manto diáfano dos bons valores.
Adriana Mater é, para mim, a versão das «produções independentes» (leia-se, filhos-sem-pai), que as novelas brasileiras dos idos anos 1980 propagandearam, despudoradamente, diante de um público escandalosamente acrítico.»
Posto isto, caro e fiel leitor, Kaija Saariaho responde à dita hegemonia masculina (?!) com uma reivindicação feminista perigosa, dado que se encontra encoberta por um discurso manifesto doirado, que oculta uma dinâmica viscosa: a apologia da fêmea em clima de desvirtuação do masculino.
Esta e outras lamentáveis expressões dão actualidade à famigerada formulação freudiana de inveja do pénis.
(Kaija Saariaho)
Nutro pouco simpatia pelo feminismo e seus sucedâneos, devo advertir.
A verdade é que a criação – seja ela qual for – é avessa a quotas!
Por ocasião da estreia de Adriana Mater (ópera de Saariaho, estreada em Paris, em 2006), tive ocasião de proceder a uma leitura psicanalítica do libreto da mesma ópera, que reproduzo, em excerto:
«Subjacente aos acontecimentos descritos, em tom literário, é óbvio o confronto entre poderes: Adriana-fémea-mãe, estóica, por via do sacrifício(?!) e do amor maternal(?!), mulher determinada, ainda que dorida (opta por dar vida (?!) a um filho, gerado na sequência de uma violação), contrasta com a destituição de simbólica fálica de Tsargo-homem-pai (alcoólico, velho e cego, ainda que militar, outrora), figura por demais frágil.
Desde logo, Yonas surge como um projecto narcísico, fruto de um desejo exclusivo de Adriana que, sozinha, faz uma escolha: ter um filho dela, só.
A forclusão do paterno é por demais evidente!
Mas a coisa não fica por aqui...
No futuro, prosseguindo a lógica narcísica da «heroína», Yonas será investido como um prolongamento de si mesma; materialização omnipresente do ódio, o jovem tem um mandato inexorável: o parricídio.
O desejo da morte de Tsargo condensa, em simultâneo, a aspiração omnipotente de Adriana, que assim triunfa heroicamente sobre o masculino - paterno e se vinga, por interposta pessoa... sem sujar as mãos!
Adriana fêmea - mãe (re)triunfa sobre o masculino - pai / filho!
Caro leitor, lamento a brutalidade das minhas considerações...
A verdade, verdadeira - na minha óptica, claro está! - é que esta criação lírica assenta num libreto que desvirtua o masculino / paterno - identificado com a brutalidade e a guerra -, enaltecendo o virtuosismo de uma maternidade omnipotente e gloriosa, que se oculta sob o manto diáfano dos bons valores.
Adriana Mater é, para mim, a versão das «produções independentes» (leia-se, filhos-sem-pai), que as novelas brasileiras dos idos anos 1980 propagandearam, despudoradamente, diante de um público escandalosamente acrítico.»
Posto isto, caro e fiel leitor, Kaija Saariaho responde à dita hegemonia masculina (?!) com uma reivindicação feminista perigosa, dado que se encontra encoberta por um discurso manifesto doirado, que oculta uma dinâmica viscosa: a apologia da fêmea em clima de desvirtuação do masculino.
Esta e outras lamentáveis expressões dão actualidade à famigerada formulação freudiana de inveja do pénis.
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