sábado, 9 de dezembro de 2006

Aida abre a temporada em Milão

A Era Lissner no alla Scala segue triunfal!

A temporada milanesa abriu a 7 de Dezembro, como é tradição, com uma nova produção de Aïda, a cargo de Zeffirelli.

Embora Aïda esteja longe de constituir uma página incontornável da lírica - verdiana ou outra, note-se! -, tem uma carga simbólica tremenda em Itália. Recentemente, uma amiga romana confessou-me conhecer melhor a Marcha Triunfal do que o hino italiano...
E está tudo dito! Dito isto, não admira a escolha desta ópera para iniciar a saison.

Já no que toca ao encenador, a coisa pia mais fininho! Considero o trabalho de Franco Zeffirelli tão hiper - realista quanto piroso, tão grandioso quanto megalómano! Que o Met não passe sem ele, não admira... O mesmo não se poderá dizer dos italianos, cujo sentido estético é bem mais elevado.

Quanto ao elenco, adivinha-se um notável Radamés, a cargo de Alagna, que parece transitar para o registo spinto, depois de uma extraordinária carreira de tenor lírico - Werther, Rodolfo, Fausto, Mario Cavaradossi, etc.
Escrevam o que vos digo: aos 50 anos ainda vai dar cartas como Otello! É esperar para ver.

Já a Aïda de Urmana me faz hesitar... A intérprete lituana - cujas Kundry (Met 1999) e Judith (Châtelet 1999) me inebriaram - ainda não se definiu, quanto ao registo dominante da sua voz, saltitando entre mezzo e soprano.


(cena de Aïda, Teatro alla Scala - 7 de Dezembro de 2006 -, com Roberto Alagna e Violeta Urmana)

Enfim, divagações de quem não pode estar presente. A verdade é bem esta...

16 comentários:

Anónimo disse...

Na verdade a Aida vive muito de fenómenos que não são do canto puro e que a leva à tradição da "Grand Opéra". A música é média no Primeiro, Segundo e Quarto Acto, com a inspiradíssima "Celeste Aida" e a vigorosa "Ritorna Vincitori", que separa as águas na definição da voz do soprano, pondo de fora todos os sopranos líricos que não tenham a capacidade de colorir dramaticamente a voz ou não tenham uns graves aceitáveis. O Terceiro é ópera verdiana no seu melhor explorando toda o sensualismo exótico que aquele Oriente despertava nos europeus depois das campanhas napeoleónicas.
A voz da Viorica Urmana, é bem verdade, anda em indefinição. Eu vi-a na Eboli e vocalmente não era uma Eboli, ou seja, um mezzo; eu vi o dvd da gala da reabertura da Ópera de Viena, cantando todo o terceiro acto da Aida e não era a voz a que nos habituaram as grandes Aidas dos últimos decénios. Do elenco imagino a prestação de Carlos Guelfi, que tem a voz que eu idealizo para o Amonasro.
Quanto à encenação, João, eu serei "piroso" assim como o são os melhores críticos de ópera da Gramophone John Steane e Alan Blyth). Este tipo de encenação é aquela que aprecio, desde que não caia em hiperrealismo, tipo Fidélio com a Matilla. E bato palmas pelo "tradicionalismo" do Scala, que não embarca nas decepadas cabeças de líderes religiosos do Idomeneu, num mundo estranho à ópera. Vivemos uma certa tirania dos encenadores, para gozo de não muitas pessoas. Eu, agora, só compro dvds onde as ideias do encenador não me "tiranizem" a visualização do espectáculo. Para isso compro un cd. Só espero que o pessoal se farte e tenha um retorno revigorante às origens.
Raul

Anónimo disse...

E o Roberto Alagna já não está lá. Perante a reacção negativa (apupos, pelo menos)e mal-educada, a meu ver, do público milanese, como é seu costume, vivendo épocas passadas, o tenor pura e simplesmente deixou o palco no fim da Celeste Aida na segunda récita. Um pouco exagerado e não se faz isso a quem esteve ali e não teve essa reacção. Se abandonasse no fim da récita, eu compreenderia, porque sou contra a este tipo de reacções, pois trata-se de uma interpretação de que não se gosta, mas não de um embuste. Os Alagnas, feitos à pressa, estão mal habituados e são gente que está espalhando antipatia.
Raul
Raul

Anónimo disse...

Aparentemente também em Salsburg depois de falhar os agudos do Fausto, em versão de concerto, abandonou o palco.... não sem antes ensaiar a nota várias vezes sem orquestra nem nada até a conseguir emitir!

J. Ildefonso.

P.S.- A esposa nem sequer chegou a cantar... adoeçeu como habitual..... cancelou o D. Carlos para 2008 porque diz que o papel da Isabel de valois já é adequado à sua condição vocal! Concordo plenamente.....

J. Ildefonso.

Anónimo disse...

Ele é um bom tenor, sem dúvida, mas está muito aquem, por exemplo, de um Carreras. Ela, que acertadamente não se acha Elisabeth (a culpa é de quem pensou nela), é melhor de que ele.
Raul

Anónimo disse...

Eu gosto da Violeta Urmana desde que a ouvi há muito tempo atrás numa gravação do Oberto. Apesar da cantora se mostrar insatisfeita com o seu desempenho também gostei da sua Azucena na gravação do Trovador do Mutti. Aliás um Trovador revolucionário pelo Romantismo e delicadeza das interpretações que ouço com regularidade. A Eboli de Amesterdão também me agradou. Bem cantada e o timbre é interessante se bem que para mim Eboli é sinónimo de Verret.

J. Ildefonso.

Anónimo disse...

Eu tenho o Oberto com a Urmana e também gosto muito da sua interpretação.
Eu fui a Amesterdão ver essa Eboli, que me pareceu um soprano, mas foi nessa récita que eu conheci pela primeira vez o Villazon, cuja voz me hipnotizou.
Quanto às Ebolis, há mais e, a meu ver, tão boas como a Verrett, cantora que eu adoro: a Bumbry (Decca, Solti), a Simionato (DG, Karajan, Salzburgo), a Cossoto (2ªversão do Cristoff), e a referência, Ebe Stignani na gravação da Cetra.

Raul

Anónimo disse...

Eu gostei muito do Alagna do inicio de carreira, a Bhoeme e o Romeu e Julieta com a Vaduva, a Traviata com a Fabricinni, o Rigoletto com a Rost e acima de tudo o Elixir com a Devia. Obviamente o D. Carlos. Agora muito menos.....

J. Ildefonso.

Anónimo disse...

O DVD do Romeu e Julieta com a Vaduva é "total", com voz, juventude, carácter,..,, mas a Vaduva nem sei se ainda é melhor.
Raul

Anónimo disse...

Foi uma cantora que deapareçeu completamente não foi?

J.

Anónimo disse...

Não sei, mas vou estar atento.
Raul

Anónimo disse...

E o Trovador do Corelli e da Tucci o Raúl conheçe? O Corelli está igual a si própio... isto é em explendida forma... e a Tucci "coitada" faz o que pode mas acaba por não se sair nada mal.

J. Ildefonso.

Anónimo disse...

Sim, ouvi-o há muito tempo e não tenho a gravação. Eu gosto do timbre do Merril e gosto muito dele em Verdi (Renato, Germont, Amonasro, Ford). Já não me lembro da interpretação da Tucci. Seguramente que o Corelli e a Simionato são a razão de aquirir a gravação.
Raul

Anónimo disse...

Sobre a Vaduva já fui ao Yahoo e já está nas master classes e nos concertos. Este ano cantou o Don Carlo em Atenas. Só espero que não seja o pagem ou a Voz Celestial (estou a ser mauzinho :)Não me parece nenhum apogeu.
Raul

Il Dissoluto Punito disse...

Raul e João,

Via a Vaduva, em 1999, na Bastilha, com o Lopardo, na La Bohème... Triunfal, triunfal!!!

Il Dissoluto Punito disse...

Raul,

Eu não acho que as encenações do alla Scalla sejam pirosas! Têm um toque realista que nada tem que ver com o realismo opulento e megalómano do Met. Mas, que o Zeffirelli é um piroso, é!!!
Quanto a encenações à antiga, nada contra! Muito menos no que toca às encenaçõe modernas! Há espaço para tudo, desde que de bom gosto ;-)))

Anónimo disse...

A Vaduva eu 1999 já foi no século passado :)
Raul