Qual obsessivo, ruminei em torno da aquisição deste registo.
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(DG 00289 477 6384)
De um lado, movido por uma assumida snobeira, acho que um cd clássico que figura entre os top 10 - da Alemanha, no caso - deve ter feito inúmeras concessões!
Recordo que, à excepção dos registos de La Bartoli - cujo elevado valor artístico ninguém ousa discutir -, os demais cd´s constantes das listas de top 10 - Os Três Tenores, inclusive - são imposições do marketing, cedendo obviamente ao gosto fácil e duvidoso.
Quanto à qualidade artística, o melhor é não falarmos...
Pois bem, sem surpresas, Netrebko é um produto do marketing, mau grado as suas inquestionáveis qualidades - sendo que a beleza é uma delas...
A gananciosa DG encontrou na fogosa e bela jovem russa um filão. A rapariga, deslumbrada, vai a todas. Está-se mesmo a ver que, dentro de cinco anos - mais coisa, menos coisa -, vai perder o piu, qual Gheorghiu, qual Theodossiou.
Bom, nas minhas hesitações em torno do presente registo de Anna Netrebko deparei ainda com a altaneira DIAPASON - que a menospreza, claro está -, e com a GRAMMOPHONE - que a enaltece, sem surpresa.
Fui-me a ele - o mesmo é dizer, comprei a álbum Russian Arias -, pois que a critica me esclarecera, como é bom de ver!
A minha apreciação é curta.
Tecnicamente, creio que Netrebko está mais disciplinada. A voz é inquestionavelmente bela, o timbre é quente e cativante.
Trata-se de um belo exemplo de soprano lírico: voz elegante e graciosa, assaz límpida - mas não em demasia (Schwarzkopf, Fleming, Te Kenawa, por exemplo) -, com cor, emoção e - acima de tudo - libido. Acresce a tudo isto uma evidente tendência coloratura...
Já no domínio artístico, a coisa não brilha tanto.
Negar que Anna Netrebko tem talento dramático é do domínio da pura negação - vide La Traviata, onde a intérprete si impõe pela interpretação, em detrimento de uma vocalização insegura e mal apoiada.
Ainda assim, no que a este artigo concerne, com pesar, deparamos com uma neutralidade emocional a dramática desconcertantes: a melancolia, a tristeza e a perda soam ao mesmo, sem modulações de espécie alguma!
Sublinho não se tratar de falta de talento artístico, mas sim de neutralidade absoluta, que roça o autismo puro!
Diria, em síntese, que a bela Netrebko nos brinda, neste cd, com uma belíssima voz - segura e firme -, enquanto nos desilude despudoradamente com uma (des)encarnação dramática flagrante.
Para quem há muito ansiava por consagrar um registo integralmente à ópera russa...
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(DG 00289 477 6384)
De um lado, movido por uma assumida snobeira, acho que um cd clássico que figura entre os top 10 - da Alemanha, no caso - deve ter feito inúmeras concessões!
Recordo que, à excepção dos registos de La Bartoli - cujo elevado valor artístico ninguém ousa discutir -, os demais cd´s constantes das listas de top 10 - Os Três Tenores, inclusive - são imposições do marketing, cedendo obviamente ao gosto fácil e duvidoso.
Quanto à qualidade artística, o melhor é não falarmos...
Pois bem, sem surpresas, Netrebko é um produto do marketing, mau grado as suas inquestionáveis qualidades - sendo que a beleza é uma delas...
A gananciosa DG encontrou na fogosa e bela jovem russa um filão. A rapariga, deslumbrada, vai a todas. Está-se mesmo a ver que, dentro de cinco anos - mais coisa, menos coisa -, vai perder o piu, qual Gheorghiu, qual Theodossiou.
Bom, nas minhas hesitações em torno do presente registo de Anna Netrebko deparei ainda com a altaneira DIAPASON - que a menospreza, claro está -, e com a GRAMMOPHONE - que a enaltece, sem surpresa.
Fui-me a ele - o mesmo é dizer, comprei a álbum Russian Arias -, pois que a critica me esclarecera, como é bom de ver!
A minha apreciação é curta.
Tecnicamente, creio que Netrebko está mais disciplinada. A voz é inquestionavelmente bela, o timbre é quente e cativante.
Trata-se de um belo exemplo de soprano lírico: voz elegante e graciosa, assaz límpida - mas não em demasia (Schwarzkopf, Fleming, Te Kenawa, por exemplo) -, com cor, emoção e - acima de tudo - libido. Acresce a tudo isto uma evidente tendência coloratura...
Já no domínio artístico, a coisa não brilha tanto.
Negar que Anna Netrebko tem talento dramático é do domínio da pura negação - vide La Traviata, onde a intérprete si impõe pela interpretação, em detrimento de uma vocalização insegura e mal apoiada.
Ainda assim, no que a este artigo concerne, com pesar, deparamos com uma neutralidade emocional a dramática desconcertantes: a melancolia, a tristeza e a perda soam ao mesmo, sem modulações de espécie alguma!
Sublinho não se tratar de falta de talento artístico, mas sim de neutralidade absoluta, que roça o autismo puro!
Diria, em síntese, que a bela Netrebko nos brinda, neste cd, com uma belíssima voz - segura e firme -, enquanto nos desilude despudoradamente com uma (des)encarnação dramática flagrante.
Para quem há muito ansiava por consagrar um registo integralmente à ópera russa...
9 comentários:
Ouvi fugazmente o c.d. em questão no posto de escuta da FNAC e concordo com a apreciação do João.
Uma voz bonita, uma técnica apreciável e uma seleção imaginativa de reportório fazem um bom c.d. mas não um c.d. notável:-))) Falta a emoção e a capacidade de diferenciação para tornar as leituras relevantes num mercado tão saturado de boas gravações clássicas. De enalteçer no entanto a escolha de repertório onde é nítido que a cantora de sente muito mais à vontade e sai mais valorizada do que no reportório Italiano. Mas realmente a "cena da carta" do Eugene Oneguin, talvez a única obra prima absoluta da seleção apresentada, está ainda além das capacidades expressiva da cantora.
J. Ildefonso.
E uma pergunta a ambos. Tirando a cena da carta, há alguma coisa que em termos musicais, sobretudo melódicos mereça a compra do cd ? Porque eu de canção eslava já tenho a minha conta.
Raul
Sinceramente até acho que sim a não ser que o Raúl já tenha muito do que é aqui cantado. Para além da referida "cena da carta" é basicamente Rymsky Korsakov, Prokofiev e canções com arranjos orquestrais do Rackmaninof.... deve estar tudo mal escrito mas o Raúl percebe e desculpar-me-a.
J. Ildefonso.
Amigo Raúl.
Ouvi novamente o c.d. em questão e sinceramente acho que não desmereçe a minha prateleira de c.d.'s.... acho que o vou comprar. Mais que não seja porque não quero morrer estupido e quero poder saber do que toda a gente fala:-))))
J. Ildefonso.
Amigo J. Ildefonso,
Não sei, melodias russas, música vocal do Prokofiev,...mmm,...não sei, não.
Raul
Mas para além da "cena da carta2 domesmo compositor temtambéma Iolanta e o Oprnik e a menina da neve do Rymsky Korsakov..... Veja comatenção Raúl não se precipite.
J.Ildefonso.
João,
Pois é... A cena de cartas é de uma neutralidade frustrante :-(((
Raul,
Vale pela beleza do timbre e pelo calor da voz! Quanto ao resto, nada de novo!
Concordo com suas colocações sobre Ana Netrebko. Ela é uma mulher linda, uma voz belíssima, bem colocada, mas ainda não preparada para determinados desafios operísticos - sobretudo os papéis de belcanto que exigem virtuosismo bem seguro.
PS: Tenho medo de ela resolver gravar Norma.
Já ouviu Gheorghiu cantar "In questa Regia"? É de chorar (de tristeza e de vergonha).
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