quinta-feira, 2 de junho de 2005

Arabella, de R. Strauss II - (mais) detalhes...

Mas, afinal, de que trata Arabella ?
Trata-se da história de uma família vienense, burguesa e decadentíssima, à beira da ruína financeira.

O pai, Waldner, um jogador inveterado, e a mãe, Adelaide, mulher calculista, disposta a tudo para se salvar da bancarrota, têm duas filhas: Arabella e Zdenka.

Arabella constitui um investimento que urge rentabilizar, pouco mais do que um troféu, que deve sacrificar a vida sentimental, afectiva e amorosa, casando, por interesse, com um homem abastado, que sustente os vícios e veleidades da insana família; Zdenka, a irmã mais nova, não é menos sacrificada: dado que não pode investir nesta jovem, como fizera em Arabella, a família optou por travesti-la ! Zdenka, oficialmente é Zdenko, o irmão da protagonista da ópera, instrumento auxiliar da família no urdido projecto de salvação.

Juntem-se a estas personagens duas figuras masculinas - Mandryka, rico proprietário croata e futuro marido de Arabella, e Matteo, que aspira a conquistar a protagonista, sem sucesso, resignando-se a desposar Zdenka, por nela reconhecer empenho, amor e devoção - e está a trama completa !
Arabella casa com Mandryka, por amor... Voilà !



Não tenho pruridos em assumir o fascínio que sobre mim exerce a ópera de Richard Strauss...
Como definir a minha admiração por La Mattila, expoente máximo do fulgor lírico, representante absoluta do erotismo vocal...

Há alguns anos que as minhas férias (quase) são ditadas pela agenda desta genial interprete...

A Arabella de Karita Mattila, o Mandryka de Thomas Hampson a Zdenka de Barbara Bonney e, last but not least, a direcção musical do deslumbrante Christoph von Dohnányi (straussiano supremo...), levaram-me a Paris, a minha segunda (?) cidade...

Qualquer um dos três interpretes mantém com o Théâtre du Châtelet - teatro que se encontra na dependência da autarquia parisience - uma relação de grande proximidade. São inúmeros os recitais que, qualquer um dos três, aí ofereceu.
Mas, históricas... bom, históricas são as encarnações operáticas de Hampson como protagonista de Hamlet, de Ambroise Thomas, ou como Rodrigue (Don Carlos), de Mattila como Desdemona, Jenufa ou Elisabeth de Valois (do mesmo Don Carlos, encenado por Luc Bondy, que o dvd imortalizou... - NVC ARTS 0630 ? 16318-2)...

Esta produção de Arabella, que o Châtelet retomou, data de 2002; supostamente, a reprise contaria com o mesmo elenco ! Quis o destino que assim não fosse... Lá iremos !

Imaginei, de antemão, uma récita oleada, trabalhada pelo tempo, amadurecida pelos invulgares talentos reunidos.

A escassos minutos do início da récita, a direcção do Châtelet anunciou uma última alteração... Bonney, vitimada por uma laringite, seria substituída por Corinna Mologni, jovem soprano milaneza, assaz familiarizada com o repertório de soprano ligeiro e lírico.

Entretanto, já todos sabíamos da substituição de von Dohnányi - que adoecera ainda durante os ensaios - por Günter Neuhold, maestro alemão relativamente experimentado em Strauss, tendo inclusive dirigido na Bastilha, em 2004, as récitas da célebre nova produção de Capriccio, que contou com Fleming na pele de protagonista.

(ainda continua...)

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