(Angelika Kirchschlager)
Angelika Kirchschlager e Orquestra Gulbenkian, com direcção de L. Foster: De Viena até à Broadway
1 de Dezembro de 2011
Angelika Kirchschlager é um mezzo-soprano lírico, dotado de grande versatilidade interpretativa e cénica. Possui uma voz clara e límpida, fina e graciosa, abordando papéis tão dispares como os travestis handelianos, mozarteanos e straussiano, os buffos da operetta da sua Viena, os puramente líricos, ou ainda – pasme-se!, a Carmen, aspiração suma de qualquer mezzo-soprano. De permeio, faz ainda uma perninha no musical, seja via Kurt Weill, Bernstein, ou Cole Porter! Se seguir as pisadas da grande Von Otter – La Camaleónica –, ainda encerra a carreira a interpretar êxitos pop dos eighties…
Aos 47 anos, Kirchschlager encontra-se no auge da sua carreira. A figura – esbelta e elegante – ajuda um tanto, é certo! O cabelo esvoaça livremente, o corpo gracioso entrelaça-se com a música, enchendo o olho do espectador… A voz é uma bênção, cuidada, firme e (quase) sempre bem apoiada.
O programa contava com trechos de operetta vienense e francesa, uma pitada de Carmen, terminando com excertos de musicais da Broadway. Bem ajustado às suas qualidades expressivas e histriónicas, dir-se-ia.
Angelika Kirchschlager está como peixe na água, no que se refere à operetta. Faz a festa, lança os foguetes e apanha as canas, cantando e dançando pelo caminho! Domina os quesitos desta arte buffa: mímica expressiva e rica, frenesim constante, sendo bastante convincente nos momentos mais poéticos, que convocam certo recolhimento (“Mein Lippen…” e “Im Chambre séparée”).
Saltita, de seguida, para a Carmen, inundando-a de sensualidade e brilho!
Nos duetos – “Belle nuit” e “A boy like that” – é magnificamente acompanhada (Patrycja Gabrel), acusando aqui e ali alguma fadiga, particularmente visível na respiração menos dominada.
Encerra com chave de ouro – Kurt Weill e Cole Porter -, oferecendo uma September song terna e doce…
Quanto a Foster, recomenda-se mais contenção! A orquestra, maioritariamente em fortíssimo, abafou as vozes e o ritmo proposto enfermava de excessiva aceleração! Ainda assim, a Suite de Porgy and Bess evidenciou harmonia e brilho.
Mais rica e versátil do que a graciosa Angelika, na actualidade, não há ;-)
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* * * * *
(5/5)
Aos 47 anos, Kirchschlager encontra-se no auge da sua carreira. A figura – esbelta e elegante – ajuda um tanto, é certo! O cabelo esvoaça livremente, o corpo gracioso entrelaça-se com a música, enchendo o olho do espectador… A voz é uma bênção, cuidada, firme e (quase) sempre bem apoiada.
O programa contava com trechos de operetta vienense e francesa, uma pitada de Carmen, terminando com excertos de musicais da Broadway. Bem ajustado às suas qualidades expressivas e histriónicas, dir-se-ia.
Angelika Kirchschlager está como peixe na água, no que se refere à operetta. Faz a festa, lança os foguetes e apanha as canas, cantando e dançando pelo caminho! Domina os quesitos desta arte buffa: mímica expressiva e rica, frenesim constante, sendo bastante convincente nos momentos mais poéticos, que convocam certo recolhimento (“Mein Lippen…” e “Im Chambre séparée”).
Saltita, de seguida, para a Carmen, inundando-a de sensualidade e brilho!
Nos duetos – “Belle nuit” e “A boy like that” – é magnificamente acompanhada (Patrycja Gabrel), acusando aqui e ali alguma fadiga, particularmente visível na respiração menos dominada.
Encerra com chave de ouro – Kurt Weill e Cole Porter -, oferecendo uma September song terna e doce…
Quanto a Foster, recomenda-se mais contenção! A orquestra, maioritariamente em fortíssimo, abafou as vozes e o ritmo proposto enfermava de excessiva aceleração! Ainda assim, a Suite de Porgy and Bess evidenciou harmonia e brilho.
Mais rica e versátil do que a graciosa Angelika, na actualidade, não há ;-)
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4 comentários:
Assisti, no dia 2 de Dezembro, ao concerto de Angelika Kischschlager na Fundação Calouste Gulbenkian.
Concordando que se trata de uma artista dotada de grande versatilidade e com inegáveis qualidades interpretativas, julgo que, pelo menos no espectáculo a que assisti, evidenciou limitações que não me permitem ser muito entusiástico nos encómios à sua prestação.
Trata-se de uma mezzo lírico-ligeiro, com uma voz “pequena”, com pouco volume nos diversos registos, agudos débeis (considerando os limites da sua tessitura) e um registo médio e grave que não aguenta o confronto com o acompanhamento de uma orquestra sinfónica no pleno dos seus instrumentistas. Não se trata, neste caso, na minha opinião, de um problema que tenha a ver exclusivamente com as escolhas dinâmicas do maestro, mas com as características vocais da cantora.
Não duvido que a sua voz “graciosa” e as suas reconhecidas qualidades histriónicas se evidenciem em salas de menor dimensão, num recital de canto e piano ou com o acompanhamento de conjuntos instrumentais menos pesados a que estará habituada.
Porém, numa sala como o Grande Auditório e com uma orquestra sinfónica na totalidade dos seus elementos, a voz de Angelika Kischschlager pura e simplesmente não tem volume nem projecção suficiente para se fazer ouvir.
Julgo não ter – ainda – problemas auditivos – e asseguro que na fila 9, da 2.ª Plateia, a voz não chegava, sendo quase imperceptíveis os textos de A boy like that, September Song ou de So in love, o que me fez quase desejar que tivesse sido utilizado um microfone – o que, não duvido, seria considerado por muitos suprema heresia! – de forma a poder deleitar-me com a voz ( que mal se ouvia), com os textos e com o reconhecido sentido interpretativo da cantora.
Quanto a Patrycja Gabrel, não ouvi nada que mereça destaque (e, por isso, o “magnífico" acompanhamento escapou à minha percepção).
Em suma, um ameno e agradável concerto de fim de tarde, certamente simpático, mas que não fica para a história.
Esta a minha modesta opinião.
Com a qual, suponho, não concordarão, com toda a legitimidade, os muitos que, assistindo ao mesmo concerto do dia 2, aplaudiram freneticamente e gritaram “bravo” (mal) ou “brava” (melhor).
Caro Hugo, foi um concerto que muito me entusiasmou, não ao ponto de considerar a prestação da Senhora "brava". Mais, não creio que a dita senhora seja um mezzo-ligeiro! Aliás, do seu repertório, apenas consta um papel dessa categoria, Rosina.
Quanto ao público, não ouvi, nem bravos, nem bravas! Sugiro que explique ao povo que "bravo" é masculino, "brava", feminino e "bravi", plural.
Caro Dissoluto
Sou o “anónimo” das 15:32 e não me chamo Hugo, mas sim Jorge.
Sigo de há muito e com grande interesse o seu blog.
Classifiquei a voz da Angelika Kischschlager como mezzo lírico-ligeiro (e não ligeiro) não em função de qualquer propensão – que não terá - para o reportório virtuosístico e coloratura, mas sim pela sua leveza e pelo timbre claro, com pouco metal. Aceito sem dificuldade, que não se trata, pois, de um “mezzosoprano leggero”
Quanto aos “bravos”, “bravas” e “bravi”, dispenso-me de dar explicações ao público, pois o Dissoluto, melhor do que eu, tem à sua disposição, para esse efeito, se o pretender, este magnífico blog.
Um abraço.
Jorge,
Sorry... Pensei tratar-se do Hugo...
Foi à Petibon? E ao Max Raabe?
Um abraço para si ;-)D
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